terça-feira, 29 de novembro de 2016

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

LÁ SE FOI A CONSTITUIÇÃO

O regime democrático está bloqueado. As alternativas são muito simplesmente mais do mesmo. Na medida em que o estado de direito está completamente estiolado, a liberdade de informação condicionada que está pelos interesses dos grupos mais poderosos, ouso dizer que a democracia acabou, entre nós. O que se passar daqui para a frente será um embuste, a farsa que visa permitir apenas a continuidade do usufruto dos cabedais e prebendas que o poder oferece. Até que a situação expluda, seguramente na rua, seja sob que forma for e daí se passe a um estado mais ou menos policiado ou a uma nova tentativa de organizar a sociedade democraticamente. 


Foi esta a tragédia que o salazarismo nos legou. 
Uma população mal formada, deficientemente iletrada e sem grandes hábitos de autonomia perante os poderes. 



Apesar das tardes serenas com que o fim de Outono nos presenteia, quando a luz vence o cinzento da névoa deixa que o azul da água do estuário brilhe diante do verde que percorre a outra margem. 



A Matilde está agora a ensaiar uma peça em que vai participar no contexto das suas aulas de catequese. 

A miúda tem hoje uma agenda cheia. 
Depois da natação, ao fim da manhã, logo, após o jantar, ainda irá apresentar um esquema no sarau de ginástica, na “Vélhinha”. 

É engraçado de ver como este meu amorzinho, tão propenso à brincadeira e sempre disposta para uma boa gargalhada, leva a sério as suas obrigações que procura cumprir com zelo, para além de manifestamente sentir-se orgulhosa quando o faz bem. 

Meandros da felicidade. 



E a cimeira de Bruxelas não aprovou a constituição europeia.
Por isso não virá mal ao mundo. 


Quanto a mim, há ainda um longo caminho a percorrer antes que os povos europeus se possam unir através de uma constituição. 
Continuo a achar preferível a via dos pequenos passos que mesmo perante a realidade do euro, está longe de esgotada no plano meramente económico. Pois é por aí que os nossos governantes deveriam prosseguir, aprofundar o mercado único e as relações sociais que a partir daí se estabelecem, bem como deixar que a livre circulação de pessoas e bens se sedimente e produza a mistura entre populações distintas. Quando for normal iniciar a escolaridade em Alhos Vedros, fazer a Universidade em Londres e ir trabalhar para Helsínquia, então estou certo que os europeus estarão prontos para uma constituição. Até lá, não seria mau de todo se se fossem lançando as bases de um estado de direito comum e ainda as de uma política externa igualmente comum e de umas forças armadas da União. 



Bem, por hoje termino. 
No serão da noute, lá irei eu cumprir o papel de repórter fotográfico. 


 Alhos Vedros 
  13/12/2003

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