sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Palácio da Comenda - Quinta da Comenda, Arrábida

por Fernanda Gil

                                                                                                                                                                                                                PALÁCIO DA COMENDA

Há coisas que nos acompanham ao longo da vida no nosso mundo dos sonhos - é o caso do Palácio da Comenda.

Erguendo-se altivo numa encosta da Arrábida, olhando sobre o Sado, Albarquel e Setúbal, e para a serra no outro (as primeiras 3 fotos do álbum não são minhas, obviamente, foram retiradas da net), sempre me lembro de frases como: "ali é que eu gostava de morar"; "quando me sair o euromilhões compro aquela casa"... e hoje, quando finalmente lá entrei senti um aperto no coração pelo estado em que o encontrei, ao mesmo tempo que me maravilhava com a forma espantosa como cada canto daquela casa foi aproveitada, como seja de onde for que olhemos, uma janela, uma varanda, o jardim, a vista é sempre soberba...

HISTÓRIA

A história da Quinta da Comenda remonta à época romana, segundo aponta o memorando técnico com base nos vestígios encontrados na região.  Aliás, revela o documento que na serra da Arrábida existem ainda vestígios de "numerosas cetárias", tanques retangulares destinados à salga de peixe e marisco.

Bem mais tarde havia de aqui nascer a torre de vigia de Mouguelas (cariz medieval), sendo então conhecida como Comenda de Monguelas,  e já no século XIX uma primeira casa de habitação, construída sobre a própria estrutura abaluartada da Plataforma de São João.

Na sua edição de 18 de Março de 1877, o jornal Gazeta Setubalense informava: “Esteve quinta-feira nesta cidade o sr. Conde Armand, distinto diplomata, ministro da França em Lisboa. S. Exª foi visitar a pitoresca propriedade que possui no sítio da Comenda.” A dita propriedade estava na posse do francês Armand desde o início de Março de 1872 por compra que este fizera a Henrique Maria Albino, morador em Beja, por “cinco contos de réis”. Ernest  Armand, viúvo, era o representante do governo francês em Lisboa. Em 1870, alugara o Palácio de Santos para aí instalar a Legação francesa, imóvel que o governo francês acabaria por comprar em 1909, aí mantendo a sua representação, mesmo depois que a Legação foi elevada ao nível de Embaixada em 1948.

Armand, Abel Henri George, faleceu no final de Abril de 1919, passando a propriedade para os herdeiros – a esposa, Condessa de Armand, Françoise de Brantes, e cinco filhos. Mais tarde, em 1952, o registo da propriedade era feito em nome da Sociedade Agrícola da Quinta da Comenda de Mouguelas, constituída pelos descendentes de Abel George.

No Verão de 1965, a Casa da Quinta da Comenda, em plena serra da Arrábida, recebia dois dos seus mais ilustres visitantes. Lee Radziwill, irmã de Jacqueline Kennedy, viúva do presidente norte-americano J.F. Kennedy, e o seu inseparável amigo, o escritor Truman Capote. Era habitual a família Armand ceder a casa - conhecida como Palácio da Comenda - a personalidades ilustres do círculo da melhor aristocracia europeia e portuguesa. Afinal, a quinta estava debruçada sobre uma das "melhores costas mediterrânicas", comparada à época com a Sardenha ou a Côte d"Azur, mas com a vantagem de oferecer os mesmos esplendores estivais num ambiente "muito mais pacato e tranquilo".
Nos anos 80, a Quinta da Comenda seria adquirida por António Xavier de Lima, que, em conversa com o jornal O Setubalense, publicada na edição de 17 de Abril de 1989, dizia: “Enquanto a Comenda for minha, nenhuma árvore será derrubada”. Com efeito, uma das apostas levadas a cabo pelo Conde Armand no início do século XX foi o da riqueza da flora, quer pela preservação das espécies existentes, quer pela plantação de outras – Henrique das Neves chamava a atenção no seu artigo para o parque que o Conde pretendia construir e para uma plantação “de cerca de 1000 pés de palmeira” que tinha visto a cerca de um quilómetro da residência da Comenda.

O Palácio é composto por cinco pisos, tendo sido alvo de diversas intervenções de beneficiação, tanto a nível da fachada, como do interior. Todos os pisos estão ligados verticalmente por duas escadarias, uma de serviço que corre todos os pisos, e outra de ligação entre o 1º Piso e o 2º Piso, ligando a área social aos quartos privativos.

Rés-do-chão
No piso térreo do Palácio está instalada a cozinha, totalmente equipada, bem como área destinada à recepção, casa da caldeira, diversos quartos, quartos para arrumos, dois WC’s e um elevador de ligação às cozinhas entre o R/C e o 1º piso.
1º Piso
No primeiro piso existe o hall de recepção, com azulejos pintados à mão e tecto em madeira, três salões com tectos trabalhados, lareira e varanda com vista para o mar, uma suíte com três quartos com lareira e WC privativo, um WC comum e a escadaria em madeira de acesso ao piso superior, onde estão os quartos.
2º Piso
No segundo piso estão instalados seis quartos com WC e uma suíte com dois quartos, uma lareira e um WC duplo.
3º Piso
No terceiro piso existem dez assoalhadas e dois WC`S.
4º Piso
Miradouro - existe um salão que assume a função de miradouro, proporcionada uma vista magnífica.
Praia Privativa.

Actualmente, a Casa da Quinta da Comenda, conhecido como Palácio da Comenda, na Serra da Arrábida, está em fase de classificação do edifício como Imóvel de Interesse Municipal.
A proposta da Câmara Municipal de Setúbal  alerta que a Casa da Quinta da Comenda, além de obras “descaracterizadoras, mas completamente reversíveis”, após a transferência da propriedade nos anos 80 da família Armand para António Xavier de Lima, entrou, desde a morte deste, num “processo de abandono e degradação que se considera urgente reverter”.

Fontes: Câmara Municipal de Setúbal, João Reis Ribeiro, Outros                                                                                                                

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