sábado, 14 de agosto de 2010

O Largo da Graça

Segundo a "Chronica del Rei D. Joam I de boa memória. Terceira parte em que se contam a Tomada de Ceuta" (Lisboa, 1644), escrita por Gomes Eanes de Zurara em 1450, a autorização do rei para a conquista de Ceuta, primeiríssima etapa da expansão ultramarina portuguesa, foi dada aqui em Alhos Vedros, no Palácio da Graça(?), onde D. João I se refugiou durante o período de nojo pelo falecimento de sua mulher, a rainha D. Filipa de Lencastre, que sucumbira perante a terrível peste que terá assolado o país e dizimado uma parte muito significativa da população.

Aqui vieram os príncipes irmãos, Duarte, Pedro, Henrique, João e Fernando, e talvez também a princesa Isabel, a ínclita geração, conversar com Senhor, seu pai, sobre os planos para a tomada de Ceuta. Como é sabido, o infante D. Henrique foi o principal impulsionador dos descobrimentos portugueses.

Tudo terá decorrido, então, ali entre o Largo da Graça e a Quinta da Graça, a meio caminho quando se vai para a Quinta do Império (não confundir com Quinto Império), dizíamos, Largo da Graça onde, eventualmente, terá nascido ainda um nosso respeitado conterrâneo e contemporâneo, o Sr. Mário da Graça, e terá vivido o avô de um nosso companheiro de “Estudo Geral”, extraordinário escritor e pessoa de admirável cultura. Foi ali também que em criança, depois de atravessado o dito Largo de mão dada com a avó Aura, comprávamos o leite extraído directamente da teta da vaca, não sem que a Dona Albertina, a fazendeira, nos oferecesse um copinho do precioso(?) líquido ainda quentinho.

Naturalmente que tudo isto não tem mais que um significado simbólico para o nosso “Estudo”. Foi aqui como podia ser noutro lugar qualquer... Mas não foi. E a verdade é que, à sombra disso o Largo da Graça fez, e continua a fazer, história. Ainda hoje quando pensamos na força que a Língua Portuguesa granjeou nestes últimos séculos e naquilo que ela vai fazendo, esperemos, pelo bem dos mundos, não podemos deixar de achar Graça ao facto da sua expansão ter passado por aqui, lugar onde os nossos avós viveram.

E quando dizemos os nossos avós estamos, evidentemente, a generalizar.

Luís Santos

2 comentários:

Nadia disse...

Luís,

Parabéns pelo ensaio. Como sempre, mesmo em prosa o seu texto é um poema.

Um abraço brasileiro.

Nádia(sidewí)Chaia

lui santos disse...

Nadia, que bom ter escrito. Fico feliz por receber notícias suas. Mande-nos notícias da sua Casa de Cultura, ou outras. O Estudo Geral gostava de saber do que se passa por aí. Um abraço brasileiro dos de cá. Obrigado.