Uma Revista que se pretende livre, tendo até a liberdade de o não ser. Livre na divisa, imprevisível na senha. Este "Estudo Geral", também virado à participação local, lembra a fundação do "Estudo Geral" em Portugal, lá longe no ido século XIII, por D. Dinis, "o plantador das naus a haver", como lhe chama Fernando Pessoa em "Mensagem". Coordenação de Edição: Luís Santos.
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
d´Arte – Conversas na Galeria XVI
Favela 2711 Autor António Tapadinhas
Acrílico sobre Tela 100x110cm
(clique sobre a imagem)
No espaço de tempo em que concluí Favela 1511 e Favela 2711, a situação tornou-se explosiva nas favelas do Rio de Janeiro.
Leio no DN:
Dezenas de tanques cercaram o Complexo do Alemão, na região norte do Rio de Janeiro, na véspera da derradeira investida militar, ontem, na área. Madrugada de vigília. Medo e psicologia de guerra. De um lado, moradores da comunidade em pânico, resguardados em casa. De outro, criminosos escondidos e armados a engendrar uma forma de fintar o cerco policial de 2600 homens: polícia militar, civil, federal e soldados do Exército e da Marinha, contra o Comando Vermelho, a maior facção criminosa do Rio. Desde domingo são 38 mortos e 80 veículos queimados.
Leio mensagens de apoio a esta acção.
Leio de Marcello Salles, jornalista:
O povo brasileiro não deve se deixar iludir pela operação casada entre governo do Rio e corporações de mídia. Não se pode vencer o tráfico de drogas nas favelas, nem com tanques de guerra, nem mesmo com bombas atômicas. Por um motivo muito simples: os donos do negócio não estão lá.
Leio mensagens de apoio a esta crónica.
Leio que o filme português, “Complexo – Universo Paralelo”, rodado no Complexo do Alemão, foi vencedor na categoria, Melhor Filme Internacional Direitos Humanos, do Artivist Film Festival, em Hollywood, Los Angeles.
Leio que, Diaky Diaz, fundador e produtor executivo do festival, afirmou que "com a urbanização a aumentar em todo o globo, mais e mais pessoas vivem em grandes guetos. Filmes como este permitem-nos realmente olhar para essas zonas com compaixão e forçar-nos a reflectir sobre o que podemos fazer para tornar melhor a vida dos nossos semelhantes".
É um óptimo destino para uma obra de arte: ajudar a reflectir!
Eu procuro fazê-lo com as minhas obras! Não é por acaso que esta tem como cores dominantes as da bandeira do Brasil!
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10 comentários:
O "Complexo do Alemão" são um conjunto de urbanizações, daí "Complexo" que em português BR significa multiplo.
O Complexo do Alemão, não é um Gueto.
Existem muitas formas de habitar no "CdA", desde o mais básico, até casas confortáveis, melhores do que muitas cá.
O tráfico de droga, faz com que o "CdA" passe a ser uma zona problemática no Rio.
A droga é um conceito lato ainda no Brasil.
Tanto é considerada a canabis droga, como o crack e a cocaina.
Enquanto a canabis for iquivalente à cocaína e ao crack no Brasil e no mundo, as situações de caos aumentarão.
A dependência física que dá a cocaina o crack e a heroina, são fatores de adição que fazem que a necessidade de obtenção dessas drogas como paliativos analgésicos de quem as consome, não as obtendo se transformem em fatores de transformação das personalidades dos usuários de tais drogas.
Em meios extremamente pobres, a dependência dessas drogas torna crianças em assassinos.
A expectativa de vida de drogados é em muitos casos nas favelas de viver até aos 18 anos.
A solução será a decisão do Estado do Rio e do Distrito federal, em Brasília legalizarem a canabis, para que a "bandidage" não trafique "drogas" não aditivas, como é o caso da canabis.
Se o tráfico de drogas for cingido a drogas aditivas, todo o processo de repressão dos narcotraficantes se tornará mais fácil.
O resto vem por acréscimo e a minha amiga Súelen que vive no complexo do Alemão e trabalha no projeto Maré, vai concerteza estar mais descansada se isso se concretizar.
L+G
É isso mesmo que é o dartear, toma lá e reflecte e isto sem menosprezo pela arte que se faz sem outro sem fim que ela própria, a arte pela arte, como é vulgar dizer-se e naturalmente sem corroborarmos o exagero da arte panfletária de que o realismo socialismo foi -apenas permanece, na sua ortodoxia e residualmente, na Coreia do Norte- o máximo expoente e ainda sem nos esquecermos que nesses parâmetros da arte politicamente empenhada e militante, por exemplo na literatura que é o âmbito de que posso falar com maior segurança, grandes mestres produziram obras maiores foram executadas como são os casos de uma "Mãe" do Gorki, Máximo ou esse épico fantástico que são "Os Subterrâneos da Liberdade" do Jorge Amado, para considerar um dos imortais da nossa língua portuguesa. Ainda assim, tenho para mim que os artistas enquanto artífices do intelecto, terão sempre de encarar o compromisso ético de reflectirem sobre as viariadas facetas que dão alma à Humanidade e, nessa medida, convidarem ao pensamento aquele que se debruce sobre os seus trabalhos, sejam, neste particular, no domínio da pintura ou, no igualmente referido quadrante da literatura.
É isso, o que faz falta é dartear a malta e mais uma vez o conseguiste.
E a prová-lo está o comentário que o Luís Guerreiro deixou, substante e também ele rico de pontas de conversa, justamente a um dos níveis de limbo desta tea de relações sociais que materializam o mundo em que vivemos.
Ao que parece, a apetência para usar o que genericamente poderemos desginar por drogas, é algo normal na nossa espécie. Provavelmente terá a ver com a propensão para o onirismo que é tão vulgar entre os humanos e nessa dimensão, não vejo como aquelas possam ser erradicadas, como é objectivo para certas doenças; diria que havendo quem queira consumir drogas, elas terão necessariamente que ser produzidas. Sinceramente, não descortino como se possa resolver esta equação.
É a relagumentação do acesso ao seu uso que dessa forma deveria ser profundamente equacionado e estudado. A prática só poderá assentar na metodoliga das experimentações controladas. Até aqui sou capaz de chegar.
Contudo já não serei capaz das certezas que o nosso amigo expressa quanto à legalização da cannabis e das consequências que apresenta. Teríamos que experimentar para ver e tirarmos ilacções fundamentadas.
Mas, por muito parodoxal que pareça, vou mais longe do que ele.
(continua)
Sem estar aqui a defender a legalização das drogas duras, até porque repito que não terei dados bastantes para uma opinião minimamente sólida, parece-me básico fazer uma pergunta: quem ganha com a produção e o comércio das drogas e das duras em particular?
Da maneira que as coisas se passam na actualidade, não diria que fossem os consumidores e muito menos as populações e os estados, de uma maneira geral; só mesmo os traficantes e... Aqui muito haveria para esmiuçar.
De qualquer modo, é esta pergunta que me deixa a perturbante interrogação se não faria sentido uma discussão séria e, lá está, estudos rigorosos e até mesmo experiências técnica e cientificamente controladas, em torno da possibilidade de legalização e regulamentação do uso de drogas de modo a que pudesse supervisionar e ordenar os circuitos de produção e comercialização de tais produtos.
Sinceramente admito que posso até estar a defender uma ideia, por estes ou aqueles motivos, totalmente isenta de sentido, prosaicamente, um grande disparate. Com efeito, confesso que tenho consciência de que isso poderia ser uma caixa de pandora para as bases de vida, tal como as conhecemos e vivemos na civilização que é a nossa.
Mas é conhecida a correlação gráfica entre, por exemplo, áreas de conflito bélico e o tráfico ilícito daquelas que funciona como uma das fontes de financiamento de guerras e grupos terroristas. Da mesma maneira que aquele anda normalmente associado a outras actividades criminosas, como, só para dar um exemplo, as redes internacionais de prostituição.
Seria interessante reflectir sobre este problema em termos morais e éticos.
Já quanto à favela chamo sempre a atenção que esta nada teve a ver na génese com este tipo de problemas e por lá não vivem apenas os bandidos que por todas elas são sempre uma pequena minoria entre os habitantes. Não são só as casas boas e se é verdade que por lá vegeta muito bicho ruim, tem também muita gente boa.
Importa perceber isso para entender aquela espécie de teoria do peixe na água, o guerrilheiro submerso no mar que é o povo que levou à lógica daqueles traficantes que se instalam por entre tamanha pobreza. A tragédia é que estes escudam numa cultura de terror que impõem à sua volta e com isso transformaram o morro na incubadora das maiores desgração que hoje é e que, nas palavras cruas mas certeiras do Luís, "(...)torna crianças em assassinos."
E novamente a tua pintura a incentivar-nos aos exercícios da mente.
Aquele abraço, companheiro
Luís
O meu conceito sobre "Drogas" está não no seu poder psicotrópico, isso tem a ver com as caractrísticas de cada substância e as caractrísticas de cada indíviduo também.
Substâncias que me podem deixar melancólico, podem deixar outro eufórico.
O poder de adição é apenas ao que me cinjo, não a sua atual legalidade.
Dentro dessa categorização, ponho as Metanfetaminas, a heroina, o Crack e a Cocaína no mesmo pacote, como as drogas mais aditivas.
O Álcool o Tabaco e o Café logo a seguir.
A Canabis e derivados não têm poder de adição, a qualquer momento se pode parar de cosumir a Canabis. Curiosamente é o Tabaco que misturado no Haxixe por exemplo, que faz alguns utentes consumirem depois tabaco.
A legalização da Canabis tem apenas a ver em dar uma resposta lógica ao problema do narcotráfico e dimensionar um mercado de Drogas recreativas.
Não há uma moral neste projeto, apenas a certeza de que se se legalizar a substância mais consumida no Brasil, isso gera receita, além de acabar com 90% do narcotráfico.
Exemplos como o da Holanda onde a comercialização da Canabis é legal provam que esse é o caminho certo.
O banditismo aliado ao uso de drogas não tem efeito nos utilizadores de Canabis, não se vê ninguém a ir assaltar depois de fumar uma ganza.
L+G
L+G 1 e 2: Admiro a consciência que tens dos problemas que afectam parte do Brasil e mais concretamente do Rio.
Agradeço a tua partilha neste espaço. Parece-me que se justificava uma maior audiência, para as tuas opiniões.
Mas, nem sempre a quantidade conta: esta tem a melhor qualidade!
Abraço,
António
Luís: Se tivesse dúvidas sobre o poema cantiga
"A cantiga é uma arma
eu não sabia
tudo depende da bala
e da pontaria
Tudo depende da raiva
e da alegria
a cantiga é uma arma
e eu não sabia"
ficariam desfeitas!
A Arte despoleta o nosso desejo de sermos melhores e desperta a vontade de lutarmos para atingir esse objectivo!
Abraço amigo,
António
No complexo do Alemão
uma legião inteira de soldados
conseguiu expulsar todos os drogados,
deu na televisão.
Droga não havia, já se sabia
Traficantes?
Coitados dos elefantes, só de marfim.
Ainda assim, varreu-se o grupo que estava armado para outro lado.
E pobreza, não havia de certeza.
No complexo do Alemão
vi um político a fugir com as calças na mão,
porra,
que grande falta de educação.
Caracteristícas de carácter e não "caractrísticas", é claro.
Saudações,
L+G
Lucas Rosa: Poema interessante, com contido humor...
Não resisto a fazer uma pergunta:
E o político tinha cuecas?
:)
Abraço,
António
Tinha, sujas. Ou seja, lavado por fora, mas sujo por dentro. Sem querer generalizar, naturalmente...
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