Uma Revista que se pretende livre, tendo até a liberdade de o não ser. Livre na divisa, imprevisível na senha. Este "Estudo Geral", também virado à participação local, lembra a fundação do "Estudo Geral" em Portugal, lá longe no ido século XIII, por D. Dinis, "o plantador das naus a haver", como lhe chama Fernando Pessoa em "Mensagem". Coordenação de Edição: Luís Santos.
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
d´Arte – Conversas na Galeria XVII
Favela 0512 Díptico Autor António Tapadinhas
Acrílico sobre 2 telas de 60x40cm
(clique sobre a imagem)
O meu amigo, Luís Santos, escreveu:
Morro acima cruzes, muitas cruzes. Feitas de pau. Como aquelas que se vêem em muitos cemitérios. No tombo dos mais frágeis o sonoro revela o ruído compassado de uma intermitente arma de guerra, como se de um sapateado se tratasse.
No meio do morro nasceu uma flor. E nasceu uma criança que se apaixona pela flor. É um pé de laranja lima.
Porque será que o morro está mais amarelado de um lado? Pela luz do sol, pela rotação do planeta. A indestrutível lei da natureza. Não fossem as sombras.
Respondi-lhe:
No alto do morro, nas favelas
nascem pés de laranja lima,
não nascem facas ou fuzis!
O sol que brilha nas janelas
aquece as sombras e a dor,
num bairro alegre ou tristonho.
Com ele fica a esperança
de quem nunca desanima
e acredita no sonho!
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2 comentários:
Esse teu amigo diz com cada coisa...
Hoje, por dentro dos tons rosados, vamos entrar. Torneamos as ruas caóticas do lugar e penetramos no interior até hà pouco impenetrável. Depois, como se sabe, veio o exército. Lugares estreitos, labirinto de casas, telhados de zinco. As partes exteriores carecem de pintura e as crianças lançam os seus barquinhos de papel nos regos de água que se formaram com as lavagens de louça suja, entre detritos vários, e misturam-se com a água da chuva. Morro abaixo tudo escorre. A imaginada rede de esgotos é o impossível projecto. Há candeeiros a petróleo e luz da vela, e às vezes não há. As famílias são geralmente extensas e o salário mínimo não dá para mais do que um pão e um pacote de leite por dia, diziam-nos há uns anos quando olhávamos a favela da Rossinha. Quinhentas mil pessoas. Rodopia-se numa economia paralela onde tudo vale para ser possível sobreviver, mas é muito difícil escapar ileso por muito tempo. Alimentamos o poema que ergue o sonho e a esperança entre nós e nossos irmãos e sentimos que enquanto houver alguém para libertar estamos todos presos. Somos todos Um.
Ontem, perguntávamos a um amigo como estavam todos, a família, as crianças. "Tudo bem. Ansiosas as crianças", respondeu. "Mas eu não gosto desta quadra", acrescentou, "é muito triste ver que enquanto alguns fazem a festa há tanta gente sem nada".
Valem muito os Abraços.
Feliz Natal a todos!
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