por Margarida Castro"pelo diálogo inter-religioso: o desafio do nosso tempo"A comemoração dos 1300 anos da chegada do general árabe Al-Tariq à Península Ibérica, é um acontecimento de importância histórica de enormes proporções culturais. Convem relembrar um pouco da história dessa época e que explica a cultura do dialogo inter religioso que prevalece.
Djabal al-Tariq (também conhecido como Tarif abu Zara) deveria ser muito mais conhecido do que é. Isto porque, este general Árabe foi um dos maiores conquistadores de toda a Idade Média. Seu nome não chega a rivalizar com o de um Carlos Mango, ou com o de um Justiniano, mas seus feitos retrataram bem o poderio militar Islâmico no primeiro quarto do século VIII.
Mas o que fez este general de tão importante? Bem, para nos situarmos na História deste homem, devemos nos lembrar que no final do governo de Abd al-Malik (685 – 705), os Berberes foram finalmente submetidos e convertidos ao Islã. Assim sendo, no início do governo de Al-Walid (705 – 715), serviram de braços para Musa ibn Nuçair, governador da Ifríqiya (região do norte da África, a oeste do Egito), em sua expansão rumo ao Maghreb (região onde hoje se situa o Marrocos). Entre 705 e 708, o governador realizou com sucesso esta expansão e, através dela, atingiu o oceano Atlântico.
Com a invasão Muçulmana de 711, e a derrota de Roderico ( Rodrigo)-rei Visigodo- em Guadalete, a única resistência gótica séria, foi feita em Mérida. Com a sua queda todo o noroeste foi submetido. Tropas Berberes ( povos oriundos do Norte de África) foram colocadas no centro de Portugal e Galiza., mas com a revolta dos Berberes e a grande fome na região (740 - 750), estas foram evacuadas.
Braga foi abandonada, mas a população rural aí permaneceu ou foi depois restaurada. Quando ‘Abd ´ar-Rahmän I criou a dinastia Umayyad em Córdova (756), houve alguma resistência no oeste, e talvez tenha colocado algumas tropas Berberes em Mérida e Coimbra. Lisboa foi independente por alguns anos ( cerca de 805).
Por essa época, a conquista do norte da África estava consolidada pelos Árabes e o governador de Ceuta, Juliano ( o conde Julião dos cronistas), que outrora fora fiel ao monarca Visigodo havia cedido seu apoio aos Árabes (apesar de ser Cristão). Mas por quê? O rei Witza, da Hispania, tinha morrido e não foi permitido ao seu filho, Áquila, assumir o trono; os nobres Visigóticos elegeram Rodrigo, para o trono. Segundo Juliano disse aos Árabes, ele odiava Rodrigo, pois este havia desonrado sua filha ( lenda não provada ) , por isso, queria vê-lo derrotado e humilhado.
Os Árabes, que já vinham atacando, por meio de navios, as costas da Espanha há muito tempo, viram nessa inimizade sua chance para invadir e anexar a região que eles conheciam como al-Andalus. Em Junho de 711, Musa ibn Nuçair, o governador do norte da África, enviou à Hispania um exército composto por cem cavaleiros, quatrocentos guerreiros e sete mil Berberes. Os navios para o ataque foram fornecidos por Juliano, governador Visigótico de Ceuta.
Rapidamente, os Muçulmanos tomaram a cidade de Algeciras e os rochedos da costa (hoje conhecidos como Rochedo de Gibraltar). Depois disso, marcharam para Córdoba. O rei da Espanha, Roderico, estava ocupado combatendo os Vascónios, no norte, e demorou certo tempo para conseguir mobilizar seus exércitos para combater os invasores. Enquanto as tropas reais não chegavam, Djabal al-Tariq assolava o sul da península.
Enfim, em 19 de Julho de 711, o Rei Roderico finalmente alcançou a região onde os Árabes estavam e a batalha iniciou-se. Esta iria durar sete dias, ou seja, até o dia 26 e ser decidida pela inteligência do general Árabe.
Numericamente superiores e providos da motivação de defenderem seus domínios, os Visigodos estavam a ponto de derrotar os Árabes. Foi quando o General Al Tariq convidou dois irmãos do Rei Witza (o Rei que havia morrido), e fez com eles um pacto: se estes desertassem com suas tropas, seriam poupados e recompensados.
Sendo assim, no dia 26, dia do combate derradeiro, as duas principais frentes da cavalaria Visigótica debandaram e os flancos do exército Hispano ficaram desguarnecidos. Avisados de antemão que isso iria ocorrer, os Muçulmanos atacaram pelos flancos e trucidaram a infantaria Visigótica. Foi um massacre no qual tombou, inclusive, Roderico.
Ficando sem rei, a Hispania não conseguiu reagrupar-se para a defesa e, sendo assim, em dois meses, Tariq havia conquistado totalmente o sul da Hispania e preparava-se para marchar em direcção ao centro.
Musa, na África, ao saber dos sucessos de seu general, reuniu um exército e desembarcou na costa leste da Hispania, formando agora duas frentes de invasão Muçulmana que atacavam a península.
Os nobres Visigóticos que não tinham sido subornados pelos Mouros (nome pelo qual os Europeus, chamavam os Islâmicos), começaram a ser exterminados e, ao procurarem auxílio nas cidades, não eram bem recebidos, pois os Judeus (que dominavam o comércio e, sendo assim, a vida urbana) estavam cansados das perseguições Cristãs impostas a eles pelos Visigodos e preferiam a liberdade de culto (mediante o pagamento de impostos) oferecida pelos conquistadores.
Dessa forma, os partidários de Rodrigo, agora sob o comando de Pelágio, foram isolar-se nas montanhas do extremo norte da Hispania, onde, devido ao posicionamento estratégico, esperavam resistir ao extermínio da mesma maneira que os Bascos vinham fazendo contra eles. Formou-se assim, o primeiro dos Reinos Hispânicos pós-conquista Árabe: o Reino de Astúrias.
Entre 711 e 714, os dois generais Árabes conquistaram toda a Hispania, excepto o Reino das Astúrias, que devido à sua localização de difícil acesso, pode resistir e se tornar, mais tarde, no século IX, o berço da Reconquista da Hispania, reconquista esta que teve o apoio, militar e financeiro, de Carlos Magno (pelo menos em sua fase embrionária).
Quanto ao Genetal Tariq, foi mais um dos conquistadores esquecidos de nossa História, só não foi totalmente esquecida porque, em homenagem a ele, foi erigida uma cidade (na parte Europeia do estreito), e esta cidade foi baptizada com seu nome, cujas corruptelas futuras tornaram Gibraltar (djabal al-tariq), o mesmo nome com o qual foram rebaptizadas as Colunas de Hércules, pois, se no passado o Semi-Deus havia afastado os perigosos Berberes da Europa por meio da separação dos dois continentes, agora, um general (que nada tinha de Semi-Deus conseguia quebrar a vontade dele e impor a sua, em outras palavras, o Islão ganhava terreno dentro da Cristandade.
Pouco depois, o governador árabe da África, Mouça-ibn-Nokair, sabedor do êxito de Tarik, desembarcou na Espanha, acompanhado de seu exército. E em menos de dois anos efetuou a conquista de quase toda a Península Ibérica. Em 713, na cidade de Toledo, proclamou o califa de Damasco, Omar II (717-720), soberano de todos os territórios conquistados.
No primeiro momento, judeus, cristãos e muçulmanos conviveram em harmonia. Os muçulmanos encontraram nos israelitas auxílio para a administração e para o comércio, e assim as comunidades judaicas foram fortalecidas. O ambiente de tolerância que se instaurou possibilitou um florescimento cultural, científico e econômico. O hebraico ressurgiu como língua literária e academias rabínicas foram fundadas nas cidades de Córdoba e Lucena.
Fontes:- www.brasilsefarad.com/joomla/index.php?option=com_content&view=article&id=97&Itemid=60
- portugalhistoria.blogspot.com/