quinta-feira, 9 de junho de 2011

d´Arte - Conversas na Galeria XLI



Convite para um Café Autor António Tapadinhas
Óleo sobre Tela 80x100cm

Esta tela está em Zambujeira do Mar, num monte alentejano que pertence a um grande amigo.
De vez em quando, passo uns dias no monte para fazermos grandes (ás vezes pequenas, mas não é o mais importante) pescarias na foz do rio Mira, ou nas praias da costa alentejana. No monte, sento-me numa cadeira com fundo de palha, semelhante à que tenho na tela, frente a frente, separados por uma mesa. Porque aquele lugar na cadeira, não está vazio: Vincent Van Gogh está lá sentado. Eu vejo-o, com os seus cabelos e barba vermelhos, o seu rosto anguloso com rugas bem vincadas e, sobretudo, os seus penetrantes olhos verdes a dizer-me ... não me atrevo a dizer o quê....
Faz agora um ano que estive em Amesterdão e passei um dia na casa do Mestre, no Van Gogh Museum. Esta obra foi feita em sua homenagem. Faço a todos um convite irrecusável:
Vamos beber um café com Vincent?

4 comentários:

luis santos disse...

Curioso, o Vincent sentado em ambiência de tonalidades absolutamente portuguesas, sentado no paredão da falésia da Zambujeira com olhar perdido num incrível sol prestes a iniciar a descida rumo à linha do horizonte. Nas costas uma seara alentejana, treluzente em ondas de calor do Verão. E, ao lado, o Jorge Palma, desavergonhadamente bêbado, envolto num dos seus magníficos poemas: "Ai, Portugal, Portugal, tiveste muita carta para bater, quem joga tem de aprender a perder, que a sorte nunca vem só quando bate à nossa porta. Gastaste a vida na batota, e agora trazes o desgosto às coostas, não se pode estar direito quando se tem a espinha torta..."

Para que o convite seja completo só falta avançar com a proposta de data, sítio e hora.

Quanto ao café que seja Delta. Mas Monte Mayor, branco, fresquinho, também é bom. Digamos que aproveitamos o Vicent e fazemos uma pequenina homenagem ao Nabeiro.

tchin, tchin, Saúde.

Luís F. de A. Gomes disse...

Vamos, pois claro e à saúde de um homem que nos delírios da sua Arte inventou a luz de uma região com o arranjo das suas cores quase pessoais; ele, que em vida apenas vendeu uma pintura, fosse hoje e tivesse a perspectiva de um Wharol, seguramente correria a registar a patente daquelas mas, sendo o que foi, provavelmente continuaria a criar sem outro propósito para lá disso mesmo, criar que em seu génio se tratou de criar o belo.

Os céus nocturnos de El Greco são os mesmos que ainda hoje -pese embora a poluição luminosa que lhes atenua a intensidade- podemos admirar no centro peninsular, pelo Outono, quando a Lua esplendorosa empalidece sob véus de nuvens em que se projecta ao jeito de um halo que se vai arroxeando pela distância do centro.
Wermeer, por sua vez, tinha uma câmara fotográfica nos olhos e conseguiu pintar a luz como ninguém, a mesma que ainda hoje a influência do mar leva às vastas planuras dos Países Baixos.

Já quanto ao Mestre Vincent, como já disse, desde a primeira vez que na National Gallery vi algumas das suas obras, logo fiquei com essa ideia de ele ter inventado a luz, uma luz, provavelmente A que o guiava, a luz dos seus quadros.

Pois bem, é o que tu igualmente consegues com esta tua peça a que deste uma luz, a que tu conseguiste criar, tal qual o Mestre que homenageias, com a harmonia das cores que usaste para eterniar um momento.

Enquanto reeinvenção do mundo, a Arte permite-nos reflectir sobre ele.

Com o Vincent, falaríamos então do absurdo em que consiste a vida dos esmagados que, afinal, foi uma das perplexidades que o levaram a desenhar e depois a pintura que, numa palavra, o encaminharam para o futuro e a eternidade da pintura.

Aquele abraço, companheiro
Luís

A.Tapadinhas disse...

Bastas vezes estive durante horas no paredão da falésia de Zambujeira, não rodeado de pincéis, não a pensar nos destinos marinheiros deste país-barco que se afunda, mais depressa do que uma jangada de pedra, mas rodeado de canas de pesca, o tal instrumento que tem na ponta um anzol e na outra um idiota...

Na minha idade, mais importante do que o café é a companhia... Vamos a ele!

Abraço,
António

A.Tapadinhas disse...

Luis F. de A. Gomes: Tens razão! Se Einstein inventou não sei o quê sobre a relatividade, com fórmulas complicadas que ele, por ser génio, colocou ao alcance dos mortais, metendo ao barulho a massa, a energia e a luz, numa mistura tão explosiva que resultou na bomba atómica, o barba ruiva, não menos génio, fingindo que usava tintas conseguiu capturar a luz e modelá-la a seu bel-prazer, criando bombas atómicas, de que todos se afastaram no seu tempo (menos o seu irmão) mas que continuam a rebentar nas carteiras das instituições que as pretendem, provando que a massa de um corpo é uma medida do seu conteúdo de energia/dinheiro.

Preciso de um café!

Abraço,
António