quinta-feira, 23 de junho de 2011

d´Arte - Conversas na Galeria XLIII


II - O castelo já tomou o protagonismo monumental do quadro. A montanha onde se ergue está com as cores necessárias para que a sensação visual transmitida pela banda dos ocres, conduza naturalmente às cores do céu e ao volume constituído pelo conjunto fortificação e estalagem. Todo o terreno circundante está preparado para receber os verdes que desenham a paisagem.


No primeiro plano, utilizei quantidades generosas de Burnt Sienna, Terrakota e Yellow Ochre, como base para “plantar” a vegetação que povoa os campos tratados. Os pequenos volumes das casas e os caminhos que cortam a paisagem vão servir de guias para conduzir o itinerário do olhar do espectador. Em caso de necessidade, criarei pequenos pontos de interesse com o destaque que será dado aos tufos de plantas.
Começa a afirmar-se uma sequência de tons que constroem a coerência plástica da natureza transformada, mas não atraiçoada.
Tenho resistido à tentação de começar já a aplicar os tons verdes: vou deixá-los para mais tarde, quando toda a tela estiver coberta de cor, para assim poder controlar o resultado final.

4 comentários:

luis santos disse...

Muito boas as palavras. Entendida a pintura na forma amiúde como vai crescendo, pincelada após pincelada, a paciente escolha das vistas, a maneira como se olha de soslaio para a tela, a suspenção dos verdes para que tudo fique perfeito, em tudo nos faz parecer os cuidados que se têm na maneira como se veste um filho, ou um neto. É que se está mesmo a ver que o guardião de tão deslumbrante castelo é o anjo Rafael, nome de pintor, pois claro.

Luís F. de A. Gomes disse...

E assim se vai fazendo a poesia pelas imagens a que as cores dão forma e as ideias que suscitam.

Os castelos que sempre foram atalaias de maior porte e, por isso, usual e habitualmente foram edificados nos pontos mais altos, sugerem-nos, ou, para ser mais certo, pelo menos a mim,sempre sugeriram o domínio do alto, são em conformidade passíveis de serem tomados pela alegoria do domínio do alto que temos dentro de nós. Por estarem no alto que propicia a largueza dos horizontes, recordam-nos que esse mesmo alto que todos podem encontrar dentro de si, é, afinal, nada mais, nada menos que aquele que implica a largueza dos horizontes da alma, o ser capaz de ver o outro, perceber-lhe a semelhança e assim criar as bases de um pensamento ético que tão necessário se revela nestes tempos tão conturbados de que somos testemunhas.

Precisamos de desenvolver novas linhas de pensamento que hão-de exigir e criar o quadro mental de uma outra sociedade mais humana, em que o homem seja homem e não um número ou um indicador de valor e, nessa medida, esse pensamento ético será a base de todos os outros.

Continua pois a tua pintura que, à medida que for crescendo e se embelezando, na proporção do belo que nos der a ver, deixará a margem de belo que poderemos usufruir naquilo que nos leva a pensar.

Precisamos de desenvolver pensamento ético, repito e esta tua pintura é pois um convite para isso.

Admiremos e reflictamos, então; se trabalhar dá saúde e faz crescer, como diz o povo, dartear eleva e traz felicidade.

Venham de lá as imagens dos próximos capítulos.

Aquele abraço, companheiro
Luís

A.Tapadinhas disse...

Bela alegoria que criaste com essa comparação entre a maneira como se veste a tela de cores e se pinta a roupa dos entes queridos.

Cézanne dizia que a força dos quadros que pintava residia na perenidade das pedras que não se vêem e no entanto sustentam as montanhas, as casas e as árvores, como o esqueleto do homem.

Quando "plantar" as minhas árvores quero que seja num terreno fértil...

Abraço,
António

A.Tapadinhas disse...

Luís F. de A. Gomes: Como te disse no anterior comentário, este castelo é, para mim, especial pela importância que teve na minha formação.

Os castelos, serão tudo isso que descreves com tanta propriedade, mas este, em especial, é o sítio, "enquanto tudo isso acontecer, e o mais que se não diz por ser verdade,
enquanto for preciso lutar até ao desespero da agonia,"
para o pintor escrever
com tinta pura
nos muros do castelo:

Abaixo o mistério da pintura!

Abraço,
António