(2ª. Edição)
I- DE COMO IRÁ SER O MUNDO
1. O MOTE
-Há um problema que poderemos colocar de início e que é o seguinte: qual deverá ser a prática das associações culturais para irem de encontro às necessidades das pessoas, para irem de encontro aos gostos que as pessoas têm, para podermos fazer aquilo que nos dá prazer de fazer? É um problema que hoje se está a pôr, por exemplo, aqui, em Alhos Vedros que tem uma série de colectividades mas que estão a ficar um pouco amorfas em relação às necessidades das próprias pessoas, em relação às necessidades da população. (1)
-E gosto muito que assim seja porque detesto a ideia de que andamos falando uma conferência qualquer, para vir dar às pessoas que podem não estar interessadas no assunto.
Que o interessante é chegar a algum lugar e porem algum problema ou fazerem alguma pergunta e aí como que disparar alguma coisa que dê a conversa.
Porque se não o perigo é de que a pessoa está a pensar num assunto que julga ele que é muito importante e chega a um lugar qualquer em que a coisa não tem importância nenhuma; a importância de outros problemas locais da vida, como ela plenamente for que obrigam a pensar quais seriam as soluções.
E exactamente se põe esse problema do que é verdadeiramente cultura.
2. AFINAL A CULTURA É A NOSSA VIDA
Há muita gente que julga que a cultura é falar francês, dançar bem, ouvir música e ter visitado muitas exposições.
Isso talvez fosse a cultura de outras épocas, mas hoje não. Hoje temos que tomar cultura no sentido geral, mais próximo da vida e bem concreto na vida.
Cultura, no fundo, é qual é a maneira de ser de nós próprios. Exactamente como todos nascemos, nascemos com tais e tais características e o que acontece depois na vida é que ela vai destruindo muitas dessas características e eu costumo dizer, quase todas as pessoas morrem sem nunca terem vivido; viveram uma vida emprestada, viveram a vida dos outros, mas aquela própria, a mensagem que cada um poderia dar diferente da mensagem de qualquer outro?
Assim como nós fisicamente, nos cinco biliões de homens que segundo parece existem no mundo, não há dois iguais por fora, no feitio do nariz ou na cor dos olhos, da mesma maneira não há dois homens iguais por dentro. As pessoas todas são diferentes.
De maneira que a vida certa do mundo inteiro seria que cada um pudesse ter esse espectáculo extraordinário de ver pessoas diferentes à sua volta e não como muitas vezes acontece, sobretudo em pessoas que gostam de mandar nos países, achar que o que importa é tudo ser igual, não haver diferença nenhuma; e quando aparece alguém diferente se ofendem muito, acham que ele está a fugir das regras, está a sair da vida que deve ter.
(continua)
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(1) O Dr. Joaquim Raminhos teve a incumbência de introduzir a sessão.
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