quarta-feira, 8 de junho de 2011

Genealogia da região da vila de Alhos Vedros

Entre os temas preferenciais do espaço dialogos_lusofonos está a genealogia. Mas esta temática, como aliás outras, não pode ir muito adiante sem um esforço conjunto. A desejada troca de informação, no espaço dialogos_lusofonos, não é tão dinâmica como seria desejável ! Mas vamos em frente. Julgo importante o que fazemos. É positivo saber que o grupo dialogos_lusofonos já é referência para todos os que se interessam pelos objetivos do espaço de virtual.

Vamos hoje abordar a genealogia da região da vila de Alhos Vedros e porque “vedro”, do latim Vetulu, significa “antigo”, pode-se concluir da antiguidade daquela povoação do concelho de Moita, na margem sul do Tejo. Comecemos por lembrar que foram grandes as modificações introduzidas na " outra banda", por Dom Manuel I, nos século XV-XVI, que alterou as fontes do tempo de Dom João II, que praticamente não mais existem.

A importância de Alhos Vedros no contexto é confirmada em 1514, ao ser a terceira localidade da região (depois de Palmela e Almada) a receber o chamado Foral Novo, atribuído por D. Manuel. Segundo os registros históricos, Dom Manuel I fez desaparecer o antigo Concelho de “Riba Tejo” que incluía Alhos Vedros, Almada, Sesimbra e Palmela, criando então o concelho tardo medieval de Alhos Vedros, que era composto por varias freguesias - Palhais, Telha, Verderenas, Barreiro, Lavradio, Moita, Martim Afonso e Sarilhos- e duas Vilas sede de Concelho, em simultâneo. Estas eram São Lourenço de Alhos Vedros e Sabonha/Saboya.

Posteriormente, ainda no século XVI, Alhos Vedros foi desmembrada e viu duas de suas freguesias florescerem: Barreiro e Montijo(Aldeia Galega do Ribatejo) , reduzindo seu patrimônio. E devido a uma evolução demográfica desfavorável, a vila de Alhos Vedros perdeu influência a partir de meados do século XVI e do século XVII.
Na vila de Alhos Vedros permanecem vestígios de uma história de ilustres famílias. que encerram em si a dimensão de um passado Cito o moinho de maré do cais de Alhos Vedros, integrado no Palácio dos Condes de São Payo, que remonta aos inícios do século XVIII e foi propriedade da família Tristão Mendonça Furtado, os fidalgos da "Casa da Cova".Outros registros da importância do povoado, são a Igreja de S. Lourenço, a Igreja da Santa Casa da Misericórdia e o Pelourinho.
As genealogias da “outra banda”, uma região não muito "estimada pelos cultores da genealogia", não foi muito desenvolvida, porque poucos se interessaram em estudar as famílias e a sua importância histórica. O estudo da genealogia destas famílias não é talvez muito atraente! Até mesmo os descendentes de famílias da margem sul, não assumem grande orgulho, exceto em alguns casos geográficos, como Azeitão, Palmela, Setúbal e Alcochete.

Mas voltando à genealogia de Alhos Vedros e região, segundo um texto que lemos, o Afonso de Albuquerque tinha um Morgado em Alhos Vedros e em Azeitão, a sua ascendência varonil detinha o Senhorio da Vila de Alhos Vedros há gerações. Os Mendonças Furtado (Alhos Vedros e Lavradio), Matos de Cáceres, Matos Cabral, Pereiras Galvão, Carcome e Figueiroa, Figueira, Milheiro, Pizarro,Palmeiro, Correia Pato, Correia de Lacerda, Coelho de Melo, Gama e Meira, todos destas Vilas da outra banda,vários ramos de Sousas, os de Gaspar de Sousa (de Alhos Vedros), os Sousas (Araújo) Morgados do Montijo em Aldeia Galega do Ribatejo, os Sousa do Calhariz, os Sousa de Benavente, os Pimenteis e Pachecos de Aldeia Galega do Ribatejo, os Varela de Seabra, Perdigões, Leão de Pedrosa, Alcaides, todos da mesma Vila de Aldeia Galega do Ribatejo (atual Montijo), Lencastres, Quevedos e Vasconcelos, Mirandas Henriques, Cunhas, Farias, entre tantos outros de Palmela e Setúbal.

Esperamos que esta pequena conversa sobre famílias de Alhos Vedros, com múltiplas ligações ao Brasil dos Brasis, motive e desenvolva a cooperação e a troca de informação.

Fonte consultada: João Gaspar in http://www.geneall.net/P/forum_msg.php?id=224147

Margarida Castro
05.06.11

7 comentários:

Luís F. de A. Gomes disse...

Viva Margarida,

Sou natural de Alhos Vedros e tanto as famílias do pai e da mãe de meu pai há muitas gerações que aqui nasceram, viveram e morreram. Não sei se os seus nomes chegaram a essas terras brasileiras, embora saiba que muitos daqui saíram e se espalharam pelas sete partidas do mundo; os Gomes, os Pessoas, os Marques, se por aqui têm sempre deixado sementes, também seguramente terão dado origem a histórias familiares em outras latitudes. Mantenho contacto com alguns desses primos, mas desconheço se terei alguns nesse continente e devo acrescentar que não fossem os conhecimentos das gerações anteriores no interior dessa minha construção familiar, poderia dizer que sou completamente ignorante neste tema das genealogias que aqui nos trás.

Não saberei portanto aquilatar a existência de nomes familiares que, saídos de Alhos Vedros, se tenham espalhado por terras brasileiras. Mas não me espantaria muito se assim tivesse sido. Afinal, o Brasil, tem muito de um Portugal que não mais voltou e, se me permite, registo duas curiosidades que muito me impressionaram nas minhas experiências nesse país continente de que também me considero cidadão, mesmo não tendo nacionalidade e muito menos passaporte. Ainda que nada tenham a ver com o assunto que a senhora aborda, creio darem uma imagem do quanto a alma e a cultura portuguesa são um dos substractos fundamentais desse país exemplo de mundo.

A primeira curiosidade prende-se com aquilo que talvez me tenha causado maior impressão. Refiro o facto de ter convivido e conversado com populações Bororo com nenhum outro instrumento linguístico que não a minha língua materna, o português. Essa foi para mim uma experiência inesquecível, é certo, mas humanamente desconcertante; é que não se trata falar apenas com indivíduos de uma outra terra distante, trata-se de conseguir comunicar com populações de outro patamar civilizacional, se assim se pode falar, numa língua que afinal é a base da minha própria identidade. Isto é algo impressionante e que diz muito não só da influência cultural portuguesa naquilo que é o Brasil moderno, como ainda mais da montra humana que lhe dá forma.

(cont.)

Luís F. de A. Gomes disse...

A segunda curiosidade foi um episódio que se passou em Ouro Preto e que eu já estive para contar num outro texto que uma outra amiga aqui publicou há algum tempo.
Não sendo cristão e como tal não possuindo qualquer educação em tal domínio, apesar de naturalmente conhecer a Igreja Matriz de Alhos Vedros desde muito novinho, nunca fui capaz de entender a simbologia das pinturas que lhe decoram o tecto da nave principal e como nunca senti qualquer necessidade de o saber e a minha curiosidade jamais apontou para esse sentido, recordo uma vez em que um amigo me perguntou qual o significado de um determinado sinal daquela obra de arte. Estávamos no intervalo de um recital de música de câmara e como eu não fui capaz de o esclarecer e ali não tínhamos a quem e como perguntar, acabado o sarau e porque o meu amigo tinha que regressar a casa sem demora, ambos ficámos na ignorância daquela matéria.

Pois em Ouro Preto, certa ocasião em que ali passei alguns dias com as minhas filhas, quis com elas visitar aquela que, entre as muitas igrejas que ali fazem um património único e inigualável, dá pelo nome de Igreja de São Lourenço.
"-Não é engraçado que a Igreja de Alhos Vedros também se chame de São Lourenço?" -Terei eu lançado como incentivo para a visita.

E não é que foi lá, em Ouro Preto, no outro lado do mundo, a muitas horas de fuso horário do lugar onde vivo que um caboclo me encantou com a história do suplício de São Lourenço, assando numa grelha enquanto ironizava com os seus algozes para que o virassem para o outro pois já estava bem assado de um lado?
E o símbolo que tanto eu como o meu amigo não tínhamos conseguido identificar, sequer avançado com a mais leve das interpretações para o mesmo, lá estava naquela igreja de Ouro Preto, também ela dedicada a São Lourenço, o padroeiro de Alhos Vedros, uma pequena localidade da margem sul do estuário Tejo, esse rio multilingue que só desagua no outro lado do Atlântico. O símbolo, dizia, era precisamente a grelha do martírio.

Pois bem, se daqui partiram famílias para esse Brasil do meu coração, então direi que, na bagagem da alm,a daqui também levaram os seus santos.

Não é tão bonito que eu tenha vindo a conhecer um pouco mais do sítio onde nasci quando estava alhures, à distância do outro lado do mundo?

Resta-me desejar-lhe muita paz e saúde
Luís

Estudo Geral disse...

A Margarida teve a gentileza de introduzir algumas alterações ao texto inicial, deixando-o ainda mais rico e completo.

Este texto constitui, a nosso ver, uma colaboração preciosa para os estudos de história local que tem vindo a ser desenvolvidos. Aqui ficam, por isso, os nossos agradecimentos à autora.

Igualmente não podemos deixar de agradecer a extraordinária colaboração que a Margarida Castro, coordenadora dos Diálogos Lusófonos, tem dado a este nosso Estudo conferindo-lhe uma saúde de todo desejável.

Anónimo disse...

Olá Luís,

Interessante essa experiência sua com os Índios Bororo. Em Uberaba(Antiga Farinha Podre), no Triângulo Mineiro, em Minas Gerais, vivem alguns! No livro de Luís A.B.Lourenço,A Oeste das Minas: Escravos, índios e homens livres numa fronteira oitocentista – Triângulo Mineiro,1750 – 1861.Uberlândia,2005, podemos ler sobre o papel dos Bororo e dos Bandeirantes no avanço do povoamento do sertão por brancos. Diz o autor:“Os aldeamentos da Farinha Podre provavelmente se organizavam da forma estabelecida pelo Regulamento paulista de 1727, que propunha a direção de um padre jesuíta, nomeado Protetor dos Índios, um Administrador e um Governador dos Índios, estes últimos seculares.”8 No caso dos aldeamentos do Triângulo Mineiro, o Protetor dos Índios era, até o período que aqui nos interessa, José de Castilho e o administrador do aldeamento de Rio das Pedras era Antônio Pires de Campos. Pode-se notar, deste modo, que a administração era feita em conjunto por jesuítas e seculares, ocasionando inúmeros conflitos."
Aprendemos com o intercâmbio entre os povos a nossa história! Saudações, Margarida

Margarida disse...

Cari Luís Gomes,
Assuntos para comentar não faltam!E voltando à conversa sobre a genealogia de Alhos Vedros, reparei que um governador do Estado do Maranhão,Brasil, em 1757,era um Mendonça Furtado. Seria de Alhos Vedros? Enfim uma pista para os pesquisadores da história das famílias!
No livro "Índios e criadores
A situação dos craôs na área pastoril do Tocantins" de Julio Cezar Melatti, pode ler-se:
' ...o próprio "Diretório" de 1757, promulgado pelo governador do Estado do Maranhão (esse documento, assinado em 3 de maio de 1757, no Pará, por Francisco Xavier de Mendonça Furtado, governador e capitão-geral do Estado do Maranhão, acha-se transcrito em pé-de-página em Silva, 1833, pp. 78-112), e pouco depois sancionado pelo rei de Portugal, embora tirasse os índios de toda direção temporal dos missionários, proibisse sua escravidão em qualquer circunstância, deixasse a eles o privilégio de governarem segundo as normas portuguesas suas próprias aldeias, agora elevadas à categoria de lugares e vilas, concedia, entretanto, aos particulares o direito de requisitarem até metade dos grupos indígenas assim aldeados para trabalhar nas tarefas de que tivessem necessidade, segundo o pagamento de salário. '
Considero que ler livros pode-nos dar indicações importantes no estudo da genealogia.Este é um exemplo.É claro que precisamos de aprofundar mais. Por exemplo qual a genealogia deste Francisco Xavier de Mendonça Furtado? Natural de onde?
Fica aqui o desafio.
Saudações, Margarida

Anónimo disse...

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João Aldeia disse...

A frase "Dom Manuel I fez desaparecer o antigo Concelho de “Riba Tejo” que incluía Alhos Vedros, Almada, Sesimbra e Palmela" parece dar a entender que, até ao reinado de D. Manuel, Sesimbra não existia como concelho autónomo, o que não me parece exacto: pelo menos desde D. Dinis (mas até talvez antes) que Sesimbra tem essa autonomia.