Uma Esperança no Desespero
António
Justo
Foi
inaugurada em Berlim (dia12.09) uma clínica para mulheres genitalmente
mutiladas. É o primeiro hospital na Europa dedicado a mulheres a quem foi
decepado o clítoris (ablação).
Na Europa há
milhares de mulheres vítimas desta conduta desumana. São mulheres oriundas de
África e de países islâmicos. A criação da clínica deve-se à iniciativa “Desert
Flower Center” da activista dos direitos humanos Waris Dirie, a quem, aos cinco
anos, extirpam o clitóris e os pequenos lábios da vagina. Waris Dirie ficou
internacionalmente conhecida devido ao seu famoso livro “Flor do Deserto”.
Foi nomeada
Embaixadora da ONU contra a mutilação genital feminina. Já conseguiu que 15
países africanos penalizassem a mutilação feminina.
Waris
Dirie sente-se a “defensora das seis mil meninas que, dia a dia são mutiladas.
Nada é pior que urinar e menstruar por uma abertura do tamanho de uma ervilha.” Oriunda da Somália, com 13 anos
fugiu através do deserto para escapar ao casamento com um homem de 60 anos, com
quem o pai a queria obrigar a casar como quarta esposa, em troca de 5
camelos.
Em nome dos
costumes culturais, a opressão da mulher continua a ser aceite. Os homens querem-na submissa e pura!
Costumes, como o da ablação, são usados como preventivo contra qualquer
possível tentação. Opta-se por ter sexo com mulheres a sofrer do que lhes
permitir a liberdade do gozo. As mulheres são transformadas em terra cativa à
disposição do homem, preparadas para serem vitimadas no altar da liberdade
masculina. Parece poder constatar-se que na barbaridade sadista a honra do
homem brilha mais quando polida pela dor da mulher.
O desamparo a
que o mundo secular e religioso continua a votar a mulher conduz todo o ser
consciente ao abandono, a um estado de angústia. Necessitamos uma ética
humanista que coloque a mulher e o homem no centro do humano sem privilegiar
nenhum dos seus polos.
António da
Cunha Duarte Justo
2 comentários:
É um longo e sinuoso caminho, esse, o de a Humanidade voltar a ver na mulher apenas na sua qualidade de ser humano que participa no quotidiano e reprodução do grupo e não no valor de uma mercadoria a que a noção de propriedade acabou por a reduzir nos tecidos sociais das sociedades produtoras que se foram alastrando pelo planeta e, com isso, generalizando essa condição para as mulheres.
Em boa parte, a conquista da civilização moderna em que vivemos foi acompanhando – e pelo fenómeno sendo impulsionada – o lento processo de visibilização do papel feminino nas sociedades do Ocidente e, com isso, se foi abrindo uma brecha – as sociedades matriarcais e poliândricos, ao que tudo indica, sempre foram minoritários ao longo da nossa História, enquanto espécie – nesse mapa negro da subjugação das mulheres aos homens.
Aliás, nem sei se em boa medida, estas práticas sociais entre populações islamizadas, não terão mais a ver com essa relação de poder social que se pretende manter a favor da metade masculina, do que com quaisquer preceitos religiosos propriamente ditos ou, tão só, práticas deles decorrentes.
Passos como o Professor António Justo descreve, são tijolinhos fundamentais para o edifício da paz entre os homens e o apoio que aqui lhes dá com a lucidez de sempre, um bonito contributo para que aqueles vão adquirindo consistência.
Muito obrigado por mais esta leitura de prazer de primordial importância na difícil caminhada pela afirmação da dignidade da pessoa humana.
Luís Gomes
Sim, caro Director Luís Gomes!
Também sou do seu parecer! A religião é uma expressão antropológica, sociológica e até geográfica duma necessidade expressa num tempo. Originariamente é um grito de libertação que não pode ser reduzido e limitado apenas a um momento cultural-temporal. A liberdade é uma aquisição a fazer-se continuamente porque nunca assegurada!
Este é a sua nobre tarefa que vejo tão bem documentada neste Estudo Geral
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