sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Livros d'África




                        INÁCIO REBELO DE ANDRADE  

Nasceu no Huambo, Angola, em 1935. Em 1950 parte para Portugal para terminar o Curso de Regentes Agrícolas, em Santarém. Regressa a Angola em 1956 para trabalhar na Junta de Exportação de Cereais e posteriormente no Instituto de Investigação Agronómica da Chianga, Huambo. Retoma os estudos em 1965 e licencia-se em Agronomia iniciando a carreira docente na Universidade de Luanda. Viria a doutorar-se em Engenharia Agronómica, já em Lisboa, prosseguindo a carreira na Universidade de Évora onde atinge o topo da carreira como Presidente do Conselho Científico da Universidade a partir de 1993.
Com Ernesto Lara Filho, irmão da poetisa Alda Lara, fundou no Huambo a “Colecção Bailundo”, no rasto e à imagem do que faziam já Leonel Cosme e Garibaldino de Andrade com a “Colecção Imbondeiro”, no Lubango.
Da sua amizade com o cronista e poeta Ernesto Lara Filho nasceu uma das mais belas obras que tenho lido sobre a saudade: “SAUDADES DO HUAMBO”, publicado pela Pendor em 1994.
“Dói mexer no passado. Mas dói não apenas por se sentir saudades e guardar lembranças (umas boas, outras más), mas sobretudo por se não estar realmente lá, por se não se poderem aproveitar as oportunidades perdidas, por se não ter já a ingenuidade de acreditar no que não haveria de vir.

A obra é um relato emotivo sobre as peripécias e dificuldades (financeiras e políticas) dos primeiros lançamentos das obras de autores como Alda Lara, o próprio Ernesto Lara Filho ou o poeta cabo-verdiano Onésimo da Silveira. Mas é sobretudo sobre a personalidade de Ernesto Lara Filho, cujo génio rimava com boémio, simbiose que o transformou no maior cronista angolano de sempre, é em nome de uma profunda e recíproca amizade que o Autor se debruça.
No final, para além da pungente saudade expressa em todo o livro, fica, talvez, o mais belo epitáfio que a um amigo se pode dedicar:
“Como gostava de poder contar com pormenor como o meu Amigo passou os últimos anos da sua existência, como vibrou com a independência da sua Pátria, que sentimentos de exaltação (ou, se calhar, de desilusão) experimentou no seu coração, que madrugadas de esperanças esperou ver surgir um dia. Como gostava de poder contar tudo isso! Mas não posso, porque eu não estive lá, porque quis mesmo não estar lá, porque não voltei para tirar tudo a limpo…
Soube por alguém que o fim chegou numa noite de 1977, na Avenida da Granja, em Nova Lisboa: não quando o catuítuí cantava nas pitangueiras, nas mangueiras ou nas papaeiras, mas quando a má sina o vitimou, lhe cortou o bico e lhe quebrou as asas. Foi então que a ave ferida deixou de voar e se enrolou a “morrer de dor”.
No seu enterro não tocou o N’Gola Ritmos; o seu caixão não foi levado no maximbombo da linha do Cemitério; ninguém tocou a Cidralha nem convidou a Marcha dos Invejados; ninguém declamou versos até enrouquecer – e tudo isso talvez porque a guerra rondava perto e a morte de um poeta era igual a tantas outras…”

E não há maneira de não me comover quando releio isto, porque o poeta “deixou de voar”…

Catuituí – pequena ave canora
N’Gola Ritmos – grupo musical angolano em voga nos anos 50/60
Machimbombo – autocarro
Cidralha – canção carnavalesca
Marcha dos Invejados – grupo carnavalesco de Luanda


Tomás Lima Coelho


1 comentário:

Unknown disse...

Estou a me interessar pela Cultura de Angola, neste momento tenho em mão o poema quando eu morrer de Ernesto Lara, do qual farei análise literário para o curso de Letras da FOCCA - FACULDADE DE OLINDA - PERNAMBUCO - BRASIL.
Estou a registrar os nomes dos autores e suas obras para mais tarde lê-las. Penso até em trazer ag para cá para vender em minha loja e divulgá-los.
Por ora devo dizer que sou um escritor (desconhecido ainda) brasileiro.