INÁCIO REBELO DE ANDRADE
Nasceu no Huambo,
Angola, em 1935. Em 1950 parte para Portugal para terminar o Curso de Regentes
Agrícolas, em Santarém. Regressa a Angola em 1956 para trabalhar na Junta de
Exportação de Cereais e posteriormente no Instituto de Investigação Agronómica da
Chianga, Huambo. Retoma os estudos em 1965 e licencia-se em Agronomia iniciando
a carreira docente na Universidade de Luanda. Viria a doutorar-se em Engenharia
Agronómica, já em Lisboa, prosseguindo a carreira na Universidade de Évora onde
atinge o topo da carreira como Presidente do Conselho Científico da
Universidade a partir de 1993.
Com Ernesto Lara Filho,
irmão da poetisa Alda Lara, fundou no Huambo a “Colecção Bailundo”, no rasto e
à imagem do que faziam já Leonel Cosme e Garibaldino de Andrade com a “Colecção
Imbondeiro”, no Lubango.
Da sua amizade com o cronista
e poeta Ernesto Lara Filho nasceu uma das mais belas obras que tenho lido sobre
a saudade: “SAUDADES DO HUAMBO”, publicado pela Pendor em 1994.
“Dói mexer no passado.
Mas dói não apenas por se sentir saudades e guardar lembranças (umas boas,
outras más), mas sobretudo por se não estar realmente lá, por se não se poderem
aproveitar as oportunidades perdidas, por se não ter já a ingenuidade de
acreditar no que não haveria de vir.
A obra é um relato
emotivo sobre as peripécias e dificuldades (financeiras e políticas) dos
primeiros lançamentos das obras de autores como Alda Lara, o próprio Ernesto
Lara Filho ou o poeta cabo-verdiano Onésimo da Silveira. Mas é sobretudo sobre
a personalidade de Ernesto Lara Filho, cujo génio rimava com boémio, simbiose
que o transformou no maior cronista angolano de sempre, é em nome de uma
profunda e recíproca amizade que o Autor se debruça.
No final, para além da
pungente saudade expressa em todo o livro, fica, talvez, o mais belo epitáfio
que a um amigo se pode dedicar:
“Como gostava de poder
contar com pormenor como o meu Amigo passou os últimos anos da sua existência,
como vibrou com a independência da sua Pátria, que sentimentos de exaltação
(ou, se calhar, de desilusão) experimentou no seu coração, que madrugadas de
esperanças esperou ver surgir um dia. Como gostava de poder contar tudo isso!
Mas não posso, porque eu não estive lá, porque quis mesmo não estar lá, porque
não voltei para tirar tudo a limpo…
Soube por alguém que o
fim chegou numa noite de 1977, na Avenida da Granja, em Nova Lisboa: não quando
o catuítuí cantava nas pitangueiras, nas mangueiras ou nas papaeiras, mas
quando a má sina o vitimou, lhe cortou o bico e lhe quebrou as asas. Foi então
que a ave ferida deixou de voar e se enrolou a “morrer de dor”.
No seu enterro não
tocou o N’Gola Ritmos; o seu caixão não foi levado no maximbombo da linha do
Cemitério; ninguém tocou a Cidralha nem convidou a Marcha dos Invejados;
ninguém declamou versos até enrouquecer – e tudo isso talvez porque a guerra
rondava perto e a morte de um poeta era igual a tantas outras…”
E não há maneira de não
me comover quando releio isto, porque o poeta “deixou de voar”…
Catuituí – pequena ave canora
N’Gola Ritmos – grupo musical angolano em voga nos
anos 50/60
Machimbombo – autocarro
Cidralha – canção carnavalesca
Marcha dos Invejados – grupo carnavalesco de Luanda
Tomás Lima Coelho
1 comentário:
Estou a me interessar pela Cultura de Angola, neste momento tenho em mão o poema quando eu morrer de Ernesto Lara, do qual farei análise literário para o curso de Letras da FOCCA - FACULDADE DE OLINDA - PERNAMBUCO - BRASIL.
Estou a registrar os nomes dos autores e suas obras para mais tarde lê-las. Penso até em trazer ag para cá para vender em minha loja e divulgá-los.
Por ora devo dizer que sou um escritor (desconhecido ainda) brasileiro.
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