domingo, 15 de setembro de 2013



Fim-de-semana de vindimas.

O despertar bem cedo, a azáfama do dia, o calor intenso, chega-se à noite com o corpo um pouco amassado e cansado.
Um ciclo aproxima-se do fim e, a seu tempo, merecerá ser celebrado com o néctar que se serve à mesa.
Depois do podar, do adubar, do sulfatar, do vindimar chega a altura do fermentar.
Quando o processo se concluir e o vinho “estiver cozido”, virá o disfrutar.
Lá para meados de Novembro.

Na natureza é quase sempre assim.
Para se colher é preciso semear, cuidar, acompanhar, desvelar, …
Há os que sabem cuidar melhor e colhem mais, há os que sabem cuidar menos bem e colhem menos.

Depois, recomeça o ciclo outra vez.
E pronto.




Pintura de Luís Delgado; Texto: M.J.Croca




2 comentários:

luis santos disse...


Hoje bebi vinho branco ao almoço, da adega de Pegões. Estava fresquinho, soube-me muito bem. Mas, lembro-me agora que, obcecado com coisas menos dignas, nem pensei nesse primordial processo através do qual aquele precioso líquido ali chegou à mesa. Das mãos que cultivaram, regaram, podaram, colheram a uva... da terra, do sol e da água. Habituamo-nos de tal forma ao repetido gesto que nos esquecemmos da imensa importância das pequenas coisas, por exemplo, da luz que se acende a um simples clique, do abrir da torneira do chuveiro...
Recordo agora também o nome do Restaurante: "Anjos", e mal reparei nas mãos que me serviram a comida. Como é possível, por vezes, prendermo-nos só a coisas menos boas, como foi o caso?
Depois, lembro-me que estava lá uma dona que falava de milagres. Tão significativa dona, um anjo mais!... Obrigado pelo texto e pintura que em fez relembrar a desatenção e desejos de boa pinga.

MJC disse...

Olá Luís, viva!

Há dignidade bastante em beber um branco fresquinho e logo da Adega de Pegões.
Não acho que no trabalho das vindimas que referi exista mais dignidade do que em outras em que as pessoas se ocupam.
Aliás, é das várias actividades que as pessoas desenvolvem que, complementando-se umas com outras, tornam o nosso viver mais fácil e prazeroso.
E, por falar em anjos, confesso que também tive um encontro com um. No meio da azáfama de um dia muito cansativo, reservei um tempinho para ir visitar o meu Pai ao Lar de Idosos. O meu Pai que comemorou recentemente 90 anos está absolutamente imobilizado, entrevado (até a faculdade de falar perdeu), num estado de quase total prostração. Mas, quando o olhar dele nos encontra há sempre qualquer coisa nele que continua a acender-se, como se o olhar se lhe iluminasse por dentro. Foi na luz desse olhar que eu descobri um anjo.
Foi uma presença tão forte que ainda o trago comigo.

Obrigado pelo teu comentário e um abraço.

Manuel João