TOMÁS JORGE (Tomás Jorge Vieira da Cruz) (1928, Luanda – 2009,
Lisboa)
“Filho de peixe sabe
nadar…”. Provérbio apropriado não só porque o
seu pai foi Tomaz Vieira da Cruz, mas também. Dedicado ao pai poeta, o filho escreveu
assim: “Na posteridade basta que digam / Autor de…
/ Sem mais qualquer fantasia. / Depois quem quiser / que procure a Obra e leia
e releia. / Esta maneira simples / é a homenagem maior / por não haver maior.”.
Luandense, nascido em
1928, Tomás Jorge dividiu o seu tempo entre Angola e Portugal desde 1970.
Integrou em 1950 o movimento literário lançado por Viriato da Cruz “Vamos
Descobrir Angola!” motivo pelo qual foi detido várias vezes pela PIDE. É membro
fundador da UEA/União de Escritores Angolanos. Tendo publicado apenas um livro
de poesia (“Areal”, 1961) foi juntando o que escrevia ao longo dos anos. É
assim que aparece uma segunda obra: “TALAMUNGONGO!... “OLHA O MUNDO!...” – 50
ANOS DE POESIA (ANTOLOGIA)”, publicado pela editora angolana Kilombelombe, numa
edição comemorativa do 30º aniversário da República Popular de Angola, com
belíssimas ilustrações de Carlos Ferreira.
Das dezenas de poemas
que constituem este livro retive um que me parece muito belo e evocativo para
todos os que amam Angola e, muito particularmente, Luanda. Foi publicado em
1953 no jornal “Diário de Luanda”.
GAJAJA
Fruto pálido,
empaludado…
Cereja dos trópicos
de cor desmaiada.
Luanda:
- onde estão as tuas
gajajeiras
que a troco dos seus
frutos
pedradas eu lançava,
pedradas que magoavam
- pedradas de criança!
Por certo que foram
destroçadas,
sepultadas
em teus alicerces
da Brito Godins
e de todas as
Ingombotas,
tal como os frondosos
cajueiros.
Vi hoje uma gajajeira
já quase morta.
Havia pedras a seu
lado,
areia e cimento
e um buraco longo,
rodopiando,
fazendo quadrados,
rectângulos, quadrados…
Se a minha fortuna não
fosse feita de sonhos,
compraria aquele
terreno.
A copa da gajajeira
seria o meu chapéu,
a umbela dos dias
quentes
e das noites de luar e
de cacimbo.
Luanda:
- onde é que estão as
nossas gajajeiras?
Essas gajajeiras que me
davam
as gajajas da minha
infância
os frutos da minha
vadiagem!
Eu atirei pedradas!
Mas tu, Luanda,
o que fizeste delas?
Tomás Lima Coelho
2 comentários:
Tomás, Obrigado. Muito bom mais uma vez. Uma pergunta: o que significa a palavra gajaja?
Abraço.
A gajaja é um fruto. Outrora era muito comum em Luanda, mas parece que, com o tempo, foi desaparecendo. A árvore que o produz era muitas vezes usada como ornamentação nas ruas.
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