sexta-feira, 13 de setembro de 2013



TOMÁS JORGE (Tomás Jorge Vieira da Cruz) (1928, Luanda – 2009, Lisboa)

“Filho de peixe sabe nadar…”. Provérbio apropriado não só porque o seu pai foi Tomaz Vieira da Cruz, mas também. Dedicado ao pai poeta, o filho escreveu assim: “Na posteridade basta que digam / Autor de… / Sem mais qualquer fantasia. / Depois quem quiser / que procure a Obra e leia e releia. / Esta maneira simples / é a homenagem maior / por não haver maior.”.

Luandense, nascido em 1928, Tomás Jorge dividiu o seu tempo entre Angola e Portugal desde 1970. Integrou em 1950 o movimento literário lançado por Viriato da Cruz “Vamos Descobrir Angola!” motivo pelo qual foi detido várias vezes pela PIDE. É membro fundador da UEA/União de Escritores Angolanos. Tendo publicado apenas um livro de poesia (“Areal”, 1961) foi juntando o que escrevia ao longo dos anos. É assim que aparece uma segunda obra: “TALAMUNGONGO!... “OLHA O MUNDO!...” – 50 ANOS DE POESIA (ANTOLOGIA)”, publicado pela editora angolana Kilombelombe, numa edição comemorativa do 30º aniversário da República Popular de Angola, com belíssimas ilustrações de Carlos Ferreira.

Das dezenas de poemas que constituem este livro retive um que me parece muito belo e evocativo para todos os que amam Angola e, muito particularmente, Luanda. Foi publicado em 1953 no jornal “Diário de Luanda”.

GAJAJA

Fruto pálido, empaludado…
Cereja dos trópicos
de cor desmaiada.
Luanda:
- onde estão as tuas gajajeiras
que a troco dos seus frutos
pedradas eu lançava,
pedradas que magoavam
- pedradas de criança!
Por certo que foram destroçadas,
sepultadas
em teus alicerces
da Brito Godins
e de todas as Ingombotas,
tal como os frondosos cajueiros.
Vi hoje uma gajajeira já quase morta.
Havia pedras a seu lado,
areia e cimento
e um buraco longo, rodopiando,
fazendo quadrados,
rectângulos, quadrados…
Se a minha fortuna não fosse feita de sonhos,
compraria aquele terreno.
A copa da gajajeira
seria o meu chapéu,
a umbela dos dias quentes
e das noites de luar e de cacimbo.
Luanda:
- onde é que estão as nossas gajajeiras?
Essas gajajeiras que me davam
as gajajas da minha infância
os frutos da minha vadiagem!
Eu atirei pedradas!
Mas tu, Luanda,
o que fizeste delas?


Tomás Lima Coelho


2 comentários:

luis santos disse...


Tomás, Obrigado. Muito bom mais uma vez. Uma pergunta: o que significa a palavra gajaja?

Abraço.

Tomás disse...

A gajaja é um fruto. Outrora era muito comum em Luanda, mas parece que, com o tempo, foi desaparecendo. A árvore que o produz era muitas vezes usada como ornamentação nas ruas.