Pintura de Luís Delgado (óleo sobre tela)
PELO
SONHO QUE FICOU, VOU.
No
sonho tinha tudo do que precisava. Tudo tão deslumbrante e intenso que acordado
o sonhado ainda lembrava. Não lembrava de tudo mas tudo o que precisava estaria
lá já que o estado de felicidade era total.
Havia
uma fogueira e tinha uma roda de gente que cantava e dançava. O riso brincava nos
rostos e os olhares encontravam-se. Iluminavam-se em milagres de luz de espelhos
frente a espelhos. No sonho, o projectado misturava-se com o vivenciado. O
sonho tornava-se real e o real tornava-se sonho.
Foi
assim que se entoou em coro a ária popular que escutara no Alvito e que, por
sobre o dedilhar das violas campaniças, cantava assim.
“Venho
da ilha dos vidros
da
praia dos diamantes
ando
no mundo perdido
pelos
teus olhos brilhantes
pelos
teus olhos brilhantes
pelo
teu rosto de prata
ter
amores não me custa
deixá-los
é que me mata.
Quero
cantar ser alegre
que
a tristeza nada tem
ainda
não vi a tristeza
dar
de comer a ninguém.
O
sol é que alegra o dia
pela
manhã quando nasce
ai
de nós o que seria
se
o sol um dia faltasse.
Venho
da ilha dos vidros
da
praia dos diamantes
ando
no mundo perdido
pelos
teus olhos brilhantes
pelos
teus olhos brilhantes
pelo
teu rosto de prata
ter
amores não me custa
deixá-los
é que me mata.“(*)
(*) – do cancioneiro popular.
Não
havia medos. Isso sentia-se. Nos olhares serenos, nos gestos confiantes. E a
paisagem,… Deus meu. Havia planícies que se elevavam até formarem montanhas,
que a seguir desciam para sombras frescas de vales. Ouviam-se sons de água
correndo. E por todos esses caminhos pessoas caminhavam. Em grupo ou sozinhas. Havia
muita cor. Havia paz, harmonia e de toda essa (i) realidade os propósitos
nasciam.
Não
sei, ou não consigo contar, tudo o que ali havia, o que sei e pretendo
partilhar é que nada está perdido e, acredito, caminhamos, mesmo se através da
noite, para ver nascer esse dia.
Manuel João Croca
Foto: Edgar Cantante
4 comentários:
Deste nosso miradouro, vislumbramos pela palavra e pela imagem, a beleza que pode ter as coisas simples que nos rodeiam...
Obrigado aos que nos ajudam a abrir os olhos...
Abraço,
António
Viva António.
Andamos pr'aqui, entre o vivido e o sonhado, a ver se conseguimos encontrar o melhor caminho para desaguar.
Abraço.
Manuel João
Quase inacreditável, estamos vivos!
Por certo que sim, Luís.
Abraço.
Manuel João
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