sábado, 31 de maio de 2014

Origem do Português e do Galego


A Língua portuguesa é Irmã gémea do Galego

António Justo

A Academia Brasileira de Letras fez um levantamento sobre a língua portuguesa e verificou que esta tem atualmente cerca de 356 mil unidades lexicais.

A grande riqueza do português provém na sua maioria do latim e do grego e das línguas das tribos ibéricas: galaicos, lusitanos (marcas de origem indo-europeia e miscigenação com os celtas, anterior às invasões romanas), etc. e dos invasores germânicos do séc. V (cerca de 600 palavras de origem germânica) e dos ocupantes mouros (berberes e árabes do séc. VIII que enriqueceram o português com cerca de 600 até mil palavras); com os Descobrimentos o português continuou-se a enriquecer integrando palavras dos novos povos no seu léxico; actualmente a preponderância da cultura anglo-saxónica favorece a integração de palavras inglesas. De notar que o português não só recebeu palavras das culturas com que contactou mas também deixou crioulos e palavras noutras línguas (O japonês também tem cerca de 600 palavras de origem portuguesa).

O galaico-português era o idioma falado nas regiões de Portugal e da Galiza, no Reino de Leão, que devido à divisão política do mesmo espaço geográfico, posteriormente começou a diversificar-se nas línguas portuguesa e galega. A partir do séc. XII a literatura apoderou-se do galaico-português de modo, a o português se diferenciar no século XVI da língua galega, sua irmã gémea.

A língua portuguesa é a evolução do latim que, como língua veicular literária e cultural, se expressava de duas formas: a maneira de falar intelectual (erudita) e a popular; assim, na formação do Português, encontramos a forma clássica - a língua do Lácio falada até uma certa altura e depois mantida pelos eclesiásticos, poetas e prosadores, como veículo da cultura intelectual e por outro lado a forma do latim vulgar que era falada pelo povo e que abandonada a si mesma se ia modificando mais e mais, com um certo acompanhamento do linguajar erudito. O mesmo se dá hoje: distingue-se a maneira de expressar de uma pessoa sem grande formação e uma pessoa formada. Os próprios escritores latinos, que utilizavam a forma clássica, referem também o falar do latim vulgar do povo; os escritores romanos referem-se ao falar do povo com os termos "sermo vulgaris", "cotidianus", "plebeius", "rusticus", etc.

Estas divergências encontram-se ainda hoje nas formas populares e de escrita de qualquer língua a nível fonético, morfológico e por vezes até sintático. A população não consumidora de “alta cultura” usa menos palavras para se exprimir metendo por vezes numa só palavra outros sentidos ou conotações, enquanto a pessoa mais culta recorre, para tal efeito, a maior diferenciação e consequentemente a uma maior gama de palavras.

No território que hoje constitui Portugal e Espanha, já se falavam várias línguas, antes dos invasores latinos chegarem. Entre elas a mais falda era a céltica. O Vasco conseguiu resistir ao latim.

De resto, pelos fins do séc. IV a língua vulgar falada por toda a península era a forma vulgar do latim, o "romanço". Com as invasões dos alanos, suevos e godos e depois dos árabes, o romanço foi enriquecido com palavras novas dos falares dos invasores. A língua, naqueles tempos abandonada a si mesma, sem disciplina gramatical que lhe desse formato evolutivo, decaiu modificando-se segundo as regiões, pois já não havia a administração romana para lhe dar sustentabilidade nem uma regulamentação da língua, a nível suprarregional. Entre os falares surgiu o galego-português que se modificou algo, devido à independência de Portugal alcançada por D. Afonso Henriques e à obrigação do uso do português então “arcaico” ordenado por D. Dinis para os documentos escritos em vez do latim. Assim, temos hoje o idioma português e o galego; a maior diferenciação do galego deu-se a partir do séc. XVI. Embora se possa provar a existência do galego-português no séc. VII (e o português proto-histórico – um latim bárbaro) só a partir do séc. XII surgem textos completos em português notando-se então a influência da literatura sobre ele.

Numa missão civilizadora, os trovadores que cultivavam a poesia e a música por gosto, contribuíram muito como estabilizadores e fomentadores da língua. Ao irem de castelo em castelo espalhavam também ideais e a dignidade da mulher. Os segréis faziam da arte de trovar uma profissão. Os jograis tocavam vários instrumentos e cantavam versos alheios (artistas da boémia). Muito do legado antigo encontra-se nos Cancioneiros Primitivos.

O lirismo galego-português é do mais genuíno e documenta-se como uma poesia de romaria a Santiago de Compostela e nas romarias aos santos. Segundo Celso Ferreira da Cunha deve “considerar-se como obra de síntese de diversas influências, sobretudo da poesia popular e da poesia latino-eclesiástica”. Tinha duas correntes poéticas: a cantiga de amor que denuncia influência estrangeira, e a cantiga de amigo de caracter popular tradicional. Esta é a primeira manifestação genuína do lirismo peninsular.
Um documento importante do português Arcaico é o Testamento de D. Afonso II (1214) que começa assim:” En nome de Deus. Eu rei Don Afonso, pela gracia de Deus, rei de Portugal, sendo sano e saluo, temete o dia da mia morte, a saúde de mia alma e a proe de mia molier, raina Dona Orraca, e de meus filios e de meus uasssalos…”

No português histórico temos a fase arcaica do séc. XII, XIII e XIV (as terminações arcaicas em “om” deram origem às terminações modernas em “ão” e “am”); segue-se a fase de transição do séc. XV e finalmente a fase moderna, com início no séc. XVI até hoje. No séc. XIV e XV introduziram-se na língua muitas palavras do latim erudito e do grego; o séc. XV foi muito profícuo em mestres da língua (Garcia de Resende, Fernão Lopes, Eanes de Zurara, Rui de Pina, Frei João Alves); a língua passa a ter o seu eixo já não em Santiago de Compostela mas em Lisboa; o séc. XVI produziu grandes mestres da língua como Gil Vicente, João de Barros, António Ferreira, mas o maior de todos eles, o grande mestre do português moderno foi Luís de Camões com “Os Lusíadas”. Camões é um grande entre os maiores da literatura mundial, como afirmava já o grande Friedrich von Schiller, grande poeta, filósofo e historiador alemão que trocaria a sua obra pela glória dos Lusíadas de Camões.

No séc. XVI dá-se a grande diferenciação do português em relação ao galego.

António da Cunha Duarte Justo

sexta-feira, 30 de maio de 2014

A Malva


por Miguel Boieiro

Creio bem que toda a gente, mesmo os citadinos, conhece a Malva silvestris L., planta abundante em todas as estações do ano, com grandes folhas palmatilobadas e flores com cinco pétalas separadas, que vão da cor branca à violácea. Por isso, dispenso-me de fazer aturadas descrições botânicas.

Pois a malva é toda boa, desde as raízes, passando pelos caules, as folhas, as flores e os frutos (que os miúdos chamam “queijinhos”). O seu uso não possui quaisquer contraindicações.

A verdade é que, hoje em dia, a facilidade com que se chega à farmácia para o fornecimento de qualquer medicamento de síntese química, enubla completamente o papel, outrora precioso, das plantas nossas amigas, em que a malva estava em primeiríssimo plano. Ficaram, é certo, ditos e provérbios, mas eles parece servirem apenas para brincar: – “Vê lá se também queres que te lave o …com água de malvas!”
Este dito jocoso, ilustra, às mil maravilhas, um dos usos comuns da malva, como anti inflamatória, desinfetante e calmante.

Já na antiga Grécia, a malva, considerada planta sagrada, utilizada de inúmeras formas, servia para combater todas as doenças conhecidas: abcessos, acne, furúnculos, picadas de insetos, hemorróidas, obstipações, inflamações oculares, bronquites, faringites, etc., etc. Aliás, Hipócrates, o chamado pai de medicina, recomendava-a como componente, em praticamente todos os preparados.

A malva pertence à família das Malváceas (outra espécie valiosa desta família é a alteia que, a seu tempo, analisaremos) e é uma herbácea bienal, ou mesmo perene que medra em caminhos, baldios e lixeiras onde existem solos porosos, ricos em azoto. Se as condições forem as ideais, ultrapassa facilmente o meio metro de altura.

Na sua constituição química sobressaem as mucilagens que possuem virtudes curativas como elementos calmantes, emolientes, desinfetantes e laxativos, para além de taninos, pró vitamina A e vitaminas B1, B2 e C.

Usa-se, quer internamente (infusões e decocções), quer externamente (lavagens, gargarejos, cataplasmas e preparados com substâncias oleosas).

Dizem que uma cataplasma feita à base de malvas produz efeitos quase milagrosos no tratamento de furúnculos.

Com as folhas tenras da malva, a que se juntam hortaliças, confeciona-se (ou confecionava-se) uma sopa muito apreciada, descrita desde remotas eras.

Para terminar, transcrevo, com a devida vénia, as mezinhas que o Dr. Oliveira Feijão prescreve na sua conhecida obra “Medicina pelas Plantas”:

“O infuso das flores (30/1000), adoçado com mel, é usado contra bronquites, tosse, sarampo, escarlatina, varicela, etc. O cozimento da raiz (60/1000) é um bom expectorante, tomado na dose de várias chávenas por dia. O cozimento das folhas (50/1000) emprega-se em clisteres, irrigações vaginais, gargarejos, pensos para feridas, doenças da pele, hemorroidal, etc.”. 

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Alhos Vedros, 500 anos de Foral




Para quando o Museu?

Muito pouco se tem feito pela divulgação do nosso património histórico, nós que temos no Concelho sinais seguros que remontam até próximo do início da formação do país, e por aí fora através dos tempos, insinuando achados que foram revelados pelos nossos arqueólogos de serviço, muito bem liderados pelo amigo António Gonzalez.

Já peca por tardia a inexistência de um núcleo museológico, onde possamos ver ao vivo, a enorme quantidade de testemunhos de que dispomos sobre a nossa história e que têm vindo à tona fruto, sobretudo, de um trabalho de carolice, com fracos apoios financeiros, dos nossos associativistas, políticos, historiadores, arqueólogos, antropólogos, escritores, poetas, entre outros.

Creio que o nosso Concelho deve ser o único no distrito que ainda não tem um espaço museológico condigno. Avançamos com uma sugestão: o espaço mais apropriado para a localização de um futuro núcleo museológico sobre história local será o palacete dos Condes de Sampaio, edifício contíguo ao moinho de maré do cais velho, em Alhos Vedros. Não haverá outro sítio no Concelho onde se respirará com mais força os ecos da nossa história. E até que seria uma ótima solução para evitar a contínua degradação desse nobre espaço antes que, mais uma vez, se faça tarde.

Luís Santos


Nota: Nas fotos a frontaria e as traseiras do Palacete dos Condes de Sampaio

terça-feira, 27 de maio de 2014

VOZ DA ALMA

É um poema feito FADO a que o fadista Mário Jorge
empresta a sua melodiosa voz e que vos apresento
como poema desta semana que poderão ver e ouvir
aqui neste link:

http://www.euclidescavaco.com/Poemas_Ilustrados/Voz_da_Alma/index.htm

As minhas mais cordiais saudações para todos vós

Euclides Cavaco
cavaco@sympatico.ca
www.euclidescavaco.com



segunda-feira, 26 de maio de 2014

REAL... IRREAL... SURREAL... (81)


Rhapsody in Blue, António Tapadinhas
Óleo sobre Tela, 80x100cm


17 de julio de 2009

Quando comecei a ler-te, lembrei-me do dia de ontem em que fui ver (era o último dia) a exposição, no Centro Cultural de Belém, "Arriscar o Real" ou Arriesgar lo Real", una nueva exposición de la Colección Berardo, para investigar el significado de "hacer figura" en la creación contemporánea.

Também lá, em duas instalações, as paredes altas e brancas estavam vazias e o chão branco sobre branco.

Dois conjuntos de lâmpadas fluorescentes coloridas davam um aspecto surreal àquele espaço imenso, propício a todos os sonhos... ou pesadelos!

Numa parede branca podemos imaginar que está escrito tudo o que quisermos...

Abraço.
António

jorge dijo...

18 de julio de 2009

antonio: Cierto, la pared blanca invita a imaginar.

Y segun como este nuestro animo nuestra imaginacion volara hacia los cielos azultapadinhas o hacia los infiernos negros depresion.

Pero tener la casa vacia, con solo lo imprescindible me parece una buena forma de reconocer una nueva vivienda. Cada lugar "pedira" lo que mejor le va.


Troca de ideias com Jorge Nunez, amigo de Barcelona, professor reformado, que ficou doente e que a partir de uma certa altura, não mais comunicou...
O seu blogue era uma janela aberta para a beleza, o saber e a amizade.
Faz-me falta!

António Tapadinhas 

domingo, 25 de maio de 2014



                                                                               18/2014

COMO UMA CANÇÃO PARA CANTAR ?



Cristas de ondas tecidas de linho, acordes de guitarras, cheiro doce de terra -  pasto maduro -  lambida pelo mar, azeite, pão e vinho, caruma de pinheiro recortando a costa.


Povo marinheiro de aventuras vividas e epopeias sonhadas - vislumbres do futuro - tecido no cordame das naus, envolto nos ventos do mar debruçado na amurada, desafiando Adamastores e acasos desconhecidos que te queriam derrotar.

Olhos brilhantes em rostos tisnados de faina e maresia, músculos tensos no trabalho, peitos frementes num afã de chegar mais além e descobrir, conhecer e integrar para que o mundo ficasse mais mundo, ficasse  mais perto e maior.

Rostos talhados em geografia de afectos, língua que se adoça no soletrar do que é nosso: Mãe, Pai, País, arrepio que nos percorre da memória à raiz.

Como foi possível que te deixasses assim domar?
que falta para que num arreganho te ergas de novo e sempre, na construção do devir por que o mundo espera?
Sim, que te falta?

Vocação não, pois que te nasce no ventre e no instinto simples do respirar.


Que te falta então para que sejas ainda mais Povo e me faças ainda mais teu? 
Descrença em quem te (des) governa atraiçoando o destino que uns profetizaram?
Talvez seja hora de te elegeres, te assumires.
Talvez sim, talvez não …
Será legítima a indecisão desde que a in-vontade e o des-querer não sejam a razão.

Talvez seja a hora de partires de novo repartindo-te, por antigos destinos, outras paragens onde se repercuta como um eco a tua velha língua de trovar, África, Brasil, Índias, … mar…
Ou onde desde há muito te reconhecem, te respeitam e acolhem, … Mediterrâneo, mar…
Porquê, para quê então esta fidelidade canina, inferior e continental a uma Europa que não te reconhece nem te respeita?

Porquê se há tantas ondas no mar?


Fotos: Edgar Cantante; Texto: Manuel João Croca

sábado, 24 de maio de 2014

Gualdim





Ela,
quando a vejo
vejo-me por dentro.


Lucas Rosa


sexta-feira, 23 de maio de 2014


CARTA ABERTA

A Sua Excia. o
Presidente da República Portuguesa
Senhor Aníbal Cavaco e Silva


Rio de Janeiro, 14/05/2014

Meu nome: Francisco Gomes de Amorim, português, 82 anos de idade, residente no Rio de Janeiro, Brasil.

Excelentissimo Senhor

Há cerca de dois meses, através do “site” da Presidência da República, mandei uma tele-mensagem solicitando de V. Excia. uma intervenção junto da Secretaria de Estado da Cultura e/ou da Biblioteca Nacional, face à impossiblidade burocrática que me interpuseram de obter meia dúzia de fotocópias de um livro daquela biblioteca.
Tantas foram as complicações e documentação pedidas, parecendo inquérito policial, que não consegui obter as ditas fotocópias.
Venho agora, penhoradamente, agradecer a V. Excia. a sua, certamente, intervenção.
Primeiro porque nem V. Excia, nem ninguém da sua secretaria se dignou acusar a recepção da minha tele-mensagem.
Segundo porque V. Excia., possivelmente por não ter tomado conhecimento, rigorosamente NADA fez.
Terceiro porque passei a entender um pouco melhor, o descaso, ou o desprezo ou ainda os obstáculos a vencer por alguém que ainda “tem o desplante” de se interessar pela cultura portuguesa.
Eu sei, e todos devem saber, que V.Excia não deve ter tempo para ninharias, como a do meu caso, de pedir umas simples fotocópias à Biblioteca Nacional, visto julgar muito mais importante aparecer, sorrindo, a condecorar um ídolo do futebol.
O lamentável de tudo isto é que, simultaneamente, pedi à Sociedade de Geografia de Lisboa outras fotocópias e mais um livro que ali tinham à venda, e dois dias depois eles estavam no correio, já tendo chegado às minhas mãos.
Mas não se preocupe V. Excia. porque um conhecido meu, através de um amigo de um continuo (i. é, empregado subalterno) da Biblioteca, em 24 horas obteve as ditas fotocópias. Pagou-as é evidente. Mas sem burocracias.
E assim, sem que V.Excia. se tivesse incomodado ou preocupado com a cultura portuguesa, um continuo, tal como fazem os soldados e os sargentos nas forças armadas, resolveu o “tão intrincado imbróglio” atropelando a burocracia que tanto ajuda a destruir o pouco de bom que esse país ainda tem.
Tenha V.Excia. muita saúde e deixe os contínuos governarem o país.
Atenciosamente

Francisco Gomes de Amorim



quarta-feira, 21 de maio de 2014

Banho


O banho
envolve
o corpo
em espumas
                 a água retira o excesso
           do dia e recompõe o noturno
           incenso do perfume.

O corpo repete
em rito de coragem
a secagem no suave
contato da toalha.

     A água em filetes sobre o piso
     retém da impureza o dia
                   amedrontado.
 
(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 20 de maio de 2014

Vidas Lusófonas


O rigor histórico não está condenado à prosa de notário,
é possível conviver com as figuras do passado.
Saber o que foi, pode ajudar-nos a talhar o que será. 

Trilhando


em novembro de 1985


arriba a ITAJUIPE (Bahia, Brasil)
e assiste à inauguração do busto do escritor

ADONIAS FILHO

que murmura afagando o bronze:
- É precisa que seja velho...

Em VIDAS LUSÓFONAS, onde já moram 168,
tudo está a acontecer, cada vida / cada conto.
Por isso já recebeu mais de 28,4 milhões de visitas.


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VIDAS LUSÓFONAS no FACEBOOK:
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E-mails de FERNANDO CORREIA DA SILVA:

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segunda-feira, 19 de maio de 2014

REAL... IRREAL... SURREAL... (80)

Gadanheiro, Júlio Pomar,  1945
Óleo sobre Aglomerado 122x83cm


É a hora!

O desencanto floresceu no meu país!
O que foi sonho fundiu em pesadelo!
Calar mais tempo, era traição fazê-lo
Não sobrevive a árvore sem raiz!

O povo somos todos, nascidos em pátrio solo
Não apenas a turba, a plebe explorada,
Capacho dos senhores, que a querem conservada
E a adormecem com música de um só solo!

Neste antro de leões não pode haver cordeiro
Que faça ouvir o seu balir sereno!
Neste festim não come a vaca o feno
Enquanto houver a fava e o centeio!

O sol fica escondido e não levanta!
As palavras ficam mortas na garganta
-“O rei vai nu!”- Ninguém ousa dizer!

Contra a inércia, não nasce em ti a ira?!
Tira os teus pés da estrada da mentira!
Levanta-te e grita… e o dia há-de nascer!

Joaquim Carreira Tapadinhas - Montijo

domingo, 18 de maio de 2014

 
17 / 2014
 
Para o Nuno e a Raquel.
 De como aqui chegámos sabemos, o que temos para a frente convoca a nossa vocação de construtores grávidos de projectos e esperanças.
Que a caminhada possa continuar no sentido do crescimento, na procura do ser mais completo e melhor.
E, se é certo que a construção do individual se faz também com o “outro” , é desejável que o espaço do nós possa acontecer e alargar-se como resultado natural de somas e nunca de subtracções.
O desejo é que, na troca permanente dessa construção, possam encontrar a arte de ser felizes porque a felicidade é o melhor lugar para se frequentar e habitar.
(AQUI ERA PARA FIGURAR UMA FOTO NO NUNO E DA RAQUEL MAS O FOTÓGRAFO "DE SERVIÇO" QUE ME DEVERIA ENVIAR A FOTO FALHOU.)
*
O Nuno e a Raquel casaram-se ontem, sábado, dia 17 de Maio de 2014, na Quinta de S. Gonçalo em Alenquer. Estão apaixonados, são felizes e juntos vão construir uma linda história. Tenho a certeza!!! (às vezes tenho certezas destas.)

sábado, 17 de maio de 2014

“Futuros Vistos Por Canudo”


Cuspo para o ar e fujo a sete pés...
Largo da mão os balões cheio de hélio...
Agarro-me com unhas e dentes à Lua...
Corro do Sol com o rabo entre pernas...
Desapareço no horizonte que se vê ao fundo...

Jogo a moeda ao chão para que alguem a apanhe...
Olho fortuítamente para o futuro sem o advinhar...
Meto-me a tentar auto-ler a sina nas costas de outrem...
Vejo que está tudo escuro e perdido à frente...
Abro o portão e olhos para passar daqui para lá...

Danço com todas as silhuetas que aceitam a dança...
Marco o caminho por onde passo às vezes...
Demarco-me de tudo o que acontece num instante...
Alio-me aos factos aleatórios para triunfar...
Toco flauta de beiços com estes caídos...

Assinalo adeus sem qualquer intenção disso...
Mostro-me todo nu de preconceitos descobertos
Cubro-me de chatices e problemas até à medula
Visto-me de virtudes que nem ao espelho se notam
Abrigo-me em locais desabrigados de tudo o mais...


Escrito em Luanda, Angola, a 15 de Maio de 2014, por Manuel de Sousa, em Comemoração à chegada da Estação do Cacimbo (Em Angola, só temos as Estações do Cacimbo e do Calor, tendo esta ultima uma duração de 9 meses e a primeira, uma duração de 3 meses, ao contrario das Regiões de Clima Temperado, que teem 4 Estações anuais.).

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Um importante contributo para a história de Setúbal



Manuel Henrique Figueira
Munícipe em Palmela
(manuelhenrique@netvisao.pt)
Todo o local é nacional (faz parte de um dado nacional) e todo o nacional é local (faz parte de um todo mais abrangente, mais global).

Saiu mais um importante contributo para a história de Setúbal, o livro de Albérico Afonso Setúbal sob a Ditadura Militar (1926-1933), que é parte de um projecto mais vasto que visa colmatar a lacuna ainda existente quanto a instrumentos de trabalho de história local.

Inventaria factos do passado «que ficaram e se tornaram noutra coisa», factos que foram a «vida que foi (…) sendo até se tornar a vida que veio depois», como nos diz o autor, decorridos no período de sete anos de duração do regime da Ditadura Militar saído do 28 de Maio de 1926.

O 1.º volume deste projecto – História e Cronologia de Setúbal (1248-1926) −, publicado em 2011, abrange essencialmente o período desde 1249 (data do 1.º foral de Setúbal, antes da qual a história da cidade ainda não se encontra estabelecida) e 1926. Com 336 páginas (incluindo a «Iconografia Setubalense»), está dividido em três partes: «Setúbal Medieval e Moderna», de 15/8/1248 (abertura da igreja de St.ª Maria da Graça) a 15/12/1819 (nascimento de António Maria Eusébio, o poeta popular Calafate ou Cantador de Setúbal); «Setúbal Liberal», de 24/8/1820 (criação de uma «Sociedade Patriótica» angariadora de apoios para o regime liberal) a 10/1910 (greve dos carroceiros locais); «Setúbal Republicana», de 5/10/1910 (incêndio na Câmara e ataque anticlerical à igreja do Coração de Jesus e ao Convento de Brancanes) a 28/5/1926 (notícias do golpe militar e dos salários em atraso dos trabalhadores da Câmara).

Uma introdução-resenha dos factos mais importantes antecede as três partes, estruturando a identidade do período. Termina com uma lista bibliográfica, um índice analítico (sempre útil) e 47 páginas da «Iconografia Setubalense» com reproduções fotográficas de documentos raros.

O 2.º volume, alvo desta análise, inicialmente previsto para abranger a Ditadura Militar e o Estado Novo, acabou por se esgotar na primeira, tal o manancial de informação coligida. De estrutura semelhante à do 1.º volume, a introdução-resenha é mais desenvolvida (77 páginas) e, no final, uma novidade, a biografia do anarquista Jaime Rebelo. Inicia-se com a notícia da organização de um destacamento de forças de Infantaria 11 e de Vendas Novas para interceptarem os revoltosos de Infantaria 33, de Lagos, e termina com o apelo, a 17 de Março, à votação no plebiscito à Constituição de 1933.

Espera-se, portanto, o 3.º volume, sobre os 41 anos da Ditadura Civil de Salazar e Caetano: período conhecido como Estado Novo.

Com este projecto Albérico Afonso continua Almeida Carvalho, Manuel Maria Portela e Peres Claro, mas com um nível de exaustividade, rigor e riqueza de pesquisa das fontes (e informação disponibilizada) sem paralelo com estes autores.

Conhecendo-se a obra publicada por Albérico Afonso no âmbito académico, Salazar e a Escola Técnica (Tese de Mestrado) e A FPA: A Fábrica Leccionada – Aventuras dos tecnocatólicos no Ministério das Corporações (Tese de Doutoramento), ou no âmbito da história local aquando das comemorações do centenário da República, Setúbal: Roteiros Republicanos, entre outros títulos, a qualidade da obra que analiso não nos surpreende.

Sobre a imprescindibilidade deste tipo de instrumentos de consulta, no caso uma cronologia de factos históricos, tomo de empréstimo as palavras de António Nóvoa (adaptadas) aquando da publicação de Imprensa de Educação e Ensino – Repertório Analítico (séculos XIX-XX): «As dificuldades de consulta das publicações periódicas e a percepção da sua importância como fonte para a História (…) [local] tornaram bem nítida a necessidade de organizar instrumentos de identificação e de descrição das revistas e jornais portugueses (…)». Embora Albérico Afonso vá muito além da imprensa local como fonte essencial para o seu trabalho, as entradas da mesma que nos apresenta são fundamentais em si e, ao mesmo tempo, abrem-nos caminhos para outras consultas.

       Sobre o reconhecimento científico da História local, e da sua importância, Clifford Geertz e Michel Foulcaut abriram espaço à modalidade de História escrita a partir de realidades particulares.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Cerrados (1)





Cerrado com Sol

Acrílica sobre madeira
80cmX1,50m

Cristiana Penna de Amaral

2001
Belo Horizonte / BRASIL


Notinha:
As "savanas brasileiras" — o Cerrado e a Caatinga — são uma forma de vegetação que tem diversas variações fisionômicas ao longo das grandes áreas que ocupam do território do país. É uma área zonal, como as savanas da África, e corresponde grosso modo ao Planalto Central.
O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, estendendo-se por uma área de 2.045.064 km² , abrangendo oito estados do Brasil Central: Minas GeraisGoiásTocantinsBahiaMaranhãoMato GrossoMato Grosso do SulPiauí e o Distrito Federal.


segunda-feira, 12 de maio de 2014

REAL... IRREAL... SURREAL... (79)

HISTÓRIA DO AQUEDUTO

Uma nova forma de cantar. O que se canta, como se canta, por que se canta.

O Grupo Coral e Musical Aqueduto actuou pela primeira vez, em 18 Dezembro de 1971, na Sociedade Filarmónica União Agrícola do Pinhal Novo.
Aqueduto em 1971

No programa estavam anunciados, Jorge Letria, Francisco Naia, João Paulo Guerra. Preparado para cantar estava também Zeca Afonso, que foi impedido pela GNR. Jorge Letria, apesar da proibição cantou tudo o que quis.
No Diário de Lisboa, de 24 de Dezembro de 1971, saiu a reportagem. Lá está escrito que “cantar nesta terra é um exercício complicado, que oferece a quem ele se abalança dificuldades sempre crescentes. Se já não é brincadeira nenhuma cantar sozinho, muito mais difícil será ainda cantar em grupo com as indispensáveis bases que o canto colectivo compreensivelmente exige”.
Termina o artigo de uma página, com fotografia, dizendo “Em resumo um Aqueduto das horas livres que se prepara para transformar a música num instrumento útil de comunicação, quando aumenta assustadoramente o número dos que pretendem dificultá-la”.

Foi perto do Moinho de Maré de Alhos Vedros que, durante muitos anos, o AQUEDUTO ensaiou no escritório de Joaquim Afonso Madeira. Não sei se teríamos condições para o voltar a fazer mas, por vezes, dou por mim a pensar que é necessário intervir, porque tudo indica que está a haver o regresso a um passado que julgávamos abolido, para sempre, com o 25 de Abril de 1974.
Afinal a resposta foi dada no passado Sábado: os poemas, as palavras e o som musical inconfundível do Aqueduto, voltaram a soar  no Moinho de Maré de Alhos Vedros. E a participativa assistência que lotou este renovado espaço, numa Noite de Lua Cheia criada pela CACAV, aplaudiu e, mais, colaborou intensamente. Que noite luminosa!

Aqueduto em 2014 (foto J. Estiveira)

Nada se perde no Universo. Os sons que produzimos continuam pelo espaço infinito. Quarenta anos depois, senti esta verdade com uma força que me deixou de lágrimas nos olhos...
...pura felicidade!  

domingo, 11 de maio de 2014


16/2014
 
 
UMA CASA QUE NÃO É SÓ NOSSA
 
 
Quando a gente compreende que este mundo, o planeta, não é nosso e apenas nos foi concedido o privilégio de dele podermos disfrutar em conjunto com todos os outros seres vivos e até inanimados, com as ervas, as flores e as árvores e, também, com todos os outros animais tidos por irracionais, com a água, com o ar, com a terra … mesmo com as pedras, isso atesta a magnífica capacidade da racionalidade se concretizar.
Quando nos habituamos a caminhar com esta ideia em nós e permitimos que ela se entranhe e interiorize, acedemos a uma outra relação que é, a do sentir.
Razão e sentimento fundidos acabam por dispensar muitas palavras e o excesso de ruído.
Juntos ficam mais “próprios” e ao alargarmos a noção de ego ficamos mais apaziguados por mais relativos.
Tenderemos a respeitar mais tudo o resto sem deixarmos de respeitar e ser nós próprios, muito antes pelo contrário.
Princípios fundamentais do respeito e da liberdade e, livres, é como gostamos mais de nos sentir.
 

Foto de Edgar Cantante
Algures na Galiza, Finisterra...