terça-feira, 1 de setembro de 2015

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

CHOVE-NOS NO FUTURO E NA ALMA

O Setembro despediu-se com um dia de chuva que só deixou aparecer o Sol ao fim da tarde, como se apenas nos quisesse dizer olá, com as mesclas de um azul lavado que abriram após a passagem das nuvens. 


Naturalmente, a primeira trovoada forte provocou um corte na energia eléctrica e as estradas, de Norte a Sul, responderam com os acidentes do costume. 
Num concelho bem ordenado como aquele em que vivo, os esgotos rejubilaram e foi um ver de tampas soltas e repuxos aqui e acolá. 

Pelo menos não temos o que estranhar. 


Infelizmente também os meus pais sofreram com a intempérie. É que desde que um restaurante vizinho fez obras no Verão passado, parece que uma boa parte das águas escorrem para o quintal dos meus progenitores. 
Hoje, entraram-lhes por uma despensa exterior e pela cozinha. 

E o curioso é que ninguém parece ser responsável. 
Tribunal com eles? 

Pois, permanece a sensação de impotência. 



Coisa que não afecta a Matilde enquanto estudante. 

A aula do dia já teve muitos exercícios com grafismos sabiamente entremeados com desenhos. 

A minha filha disse que foi a primeira a oferecer-se para ir fazer exercícios no quadro. 
Foi com toda a naturalidade que descreveu quão bem se saiu. 



A escola portuguesa é que permanece no limbo do delírio. 

No ensino superior contesta-se o valor das propinas. Berram os alunos e indignam-se os Professores. Uns não querem pagar e os outros não querem receber. Mas todos clamam por mais dinheiro e condições. No final, uns querem os canudos e os outros ordenados chorudos. Estamos nas caudas da produtividade e da produção e uso das ciências. 

Não é a reforma do ensino que é necessária, no nosso país. 
Urge que se crie um bom sistema educativo entre nós, com dinheiros públicos, pois claro, estamos a falar de criar excelências e de deixar que, à partida, as condições que os mais pobres encontrem não lhes cerceiem outros destinos que não os da repetição da história. 
Há que forçar as Universidades, os Politécnicos e o Superior, em geral, a produzirem ciência e conhecimento e a formarem pessoas sabedoras e competentes nas áreas respectivas, capazes de se integrarem na economia ou de transmitirem essas informações através do professorado. 
Com isso poder-se-á exigir que os níveis inferiores de ensino habilitem os alunos a poder escolher e aprender uma profissão ou a prosseguirem os estudos se esse for o seu desejo e as capacidades individuais o permitirem. 


Será que há alguém com garra para tanto? 

Quem mais ganha com a ignorância? 
Pois é essa gente que dispararia em peso sobre quem quer que erguesse a espinha com tais intenções.



Em Portugal inventou-se um novo género jornalístico. 
Depois da notícia, da crónica, da reportagem, do artigo de opinião, da mesa redonda, do roteiro disto e daquilo e das promoções, temos uma série de peritos, qual deles o mais zeloso, no sniperismo que manifesta e materializa a liberdade de expressão no reino do homo maniatábilis. Consiste muito simplesmente em falar de; eles lá sabem como. 



Não tenham dúvidas. Há que pôr o Irão em sentido em face dos intentos de levar por diante um programa nuclear. 

Se transigirmos agora, um milímetro que seja, mais tarde choraremos o apocalipse. 



Deus nos perdoe tanta cegueira. 


Alhos Vedros 
  30/09/2003

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