terça-feira, 8 de setembro de 2015

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

CHUVA

Se não fosse atroz, o espectáculo a que estamos a assistir na sociedade portuguesa seria uma vergonha. 

Até o Presidente da República, em cerimónia pública, se presta ao papel de enviar recados e críticas veladas a um juiz e a um tribunal. 
Este é o nível de descaramento a que chegou a farsa daqueles que hipotecaram o país aos interesses de certos poderes mais ou menos identificados e visíveis e que no presente, vendo uma fresta na blindagem das respectivas protecções, se movimentam com todo o vigor das represálias no contra-ataque com que pretendem pôr-se a salvo e, para tanto, não hesitarão em, se preciso for, alterar as regras do jogo a meio da partida. 
Ai que bons foram os dias do consulado de Cunha Rodrigues. Aquilo sim, foram tempos de imparcialidade, tanto se condenavam figurões como um Costa Freire – chegou a ser secretário de estado da saúde, lembram-se? – como se absolviam inocentes como Pedro Caldeira, ou se possibilitava que prescrevessem casos como os do Aquaparque. Nem se colocavam esses problemas das prisões preventivas ou das escutas telefónicas; estava no cárcere quem a ele pertencia e eram escutados aqueles que o mereciam. Que diacho, em poucas palavras, ainda havia respeito por um homem de bem. 
É pois esta justiça que se pede; de outra forma como comentar o silêncio de todos os que entram neste coro que Sua Excelência, o Senhor Presidente, teve a bondade de louvar perante – este sim, estrondosamente escandaloso – o resultado do julgamento dos supostos membros das FP 25 de Abril, suspeitos dos mais variados crimes em que se incluíram vários homicídios, processo esse em que apenas aqueles que se arrependeram foram condenados? 
O bastonário da ordem dos advogados veio logo a terreiro enaltecer a coragem da mais alta figura e voltou à carga com as suas propostas que agora versam sobre colocar a judiciária na dependência do ministério público. É claro que são os mais fracos que terão a ganhar com as alterações que causídico afanosamente propõe. Estão a ver a generosidade. 
E no meio da palhaçada até se fala de garantismo – estamos a falar dos direitos dos arguidos – no que apenas nos conseguiremos interrogar sobre se só agora terá sido descoberto ou necessário. 

Estado de direito em Portugal? 
Evidentemente; o dos poderosos se protegerem e garantirem a impunidade. 


E para mostrar que lá vamos nós no bom caminho, a prioridade que se evidencia é a dos serviços de fronteira no combate ao crime organizado em torno da imigração ilegal. 



Também Pacheco Pereira que tão crítico tem sido com Paulo Portas, nada disse sobre a presença de Humberto Fini no congresso do CDS, onde teve oportunidade para botar discurso, no encerramento, antes do presidente do partido. 
Ora bem, o homem é um democrata convicto. 



É engraçado o entusiasmo com que a Matilde conversa com a irmã e a Beatriz das trivialidades do dia a dia escolar. 

Como eu riu cá dentro do peito ao testemunhar estes momentos. 


Cá para mim ela estaria desejosa que isto acontecesse. A Luísa partilha a minha opinião. 

A sua auto-estima deve ter subido uns furos. 



Pois a nossa missão de pais 
também é atentar nestes sinais 

e saber orientar os ímpetos para que se sedimentem em comportamentos habituais. 

O carinho é o primeiro conselheiro nessa tarefa. 



Em Israel, três colonos foram condenados a penas de prisão de quinze e doze anos pelo crime de terem colocado uma bomba numa escola palestiniana. O tribunal deu como provado o acto e o grau de profissionalismo com que o mesmo foi perpetrado. 

Estamos mesmo a ver uma justiça destas no lado contrário, não estamos? 



Hoje o dia esteve pardacento e húmido. 
De manhã houveram os chuviscos próprios dos restícios da borrasca de ontem. 



A aula foi preenchida com desenhos e o colorir de figuras em fichas que a Professora distribuiu. 



Agora chove a cântaros. 
Hora de nos deixarmos dormir sobre o embalo salpicado das bátegas nas persianas. 


Alhos Vedros 
   01/10/2003

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