por Miguel Boieiro
Quando o Governo decidiu aderir à CEE que hoje se chama União
Europeia, os portugueses foram aliciados com subsídios destinados a ações de
formação, à construção de autoestradas e pontes, à modernização (ou extinção)
de setores industriais e agrícolas … Algumas fortunas e escândalos, fruto de
jogadas habilidosas, começaram a surgir por essa altura e, como se sabe, têm
vindo a fazer escola até hoje. No tocante à agricultura, o dinheiro servia até
para arrancar olivais e vinhedos e vedar propriedades. Ora um dos citados
subsídios destinava-se ao cultivo do girassol. Os agricultores recebiam à
cabeça as verbas para as semeaduras apresentando prova das áreas a ocupar e
mais nada. Lançada a semente à terra, terminava o processo. O dinheiro estava
ganho e nem sequer era preciso fazer as colheitas. Alguém mais espirituoso
apelidou o lucrativo negócio de girassídio
(girassol + subsídio).
Estes episódios burlescos ou, se quisermos de burlões,
vieram-me à mente quando, no verão de 2015, observei nas proximidades da costa
adriática italiana extensos campos de girassol, não sei se cofinanciados, ou
não. O certo é que se encontravam bem cuidados e que a recolha das respetivas
hastes florais já secas era feita mecanicamente.
O girassol, ou seja, o Helianthus
annuus, (do grego helio que quer
dizer sol e anthos que significa flor)
pertence à família das Asteráceas ou Compostas. Como se depreende da designação,
o seu ciclo é anual. Diga-se de passagem que o género Helianthus engloba para cima de 60 espécies. De resto, toda a gente
conhece a característica peculiar do girassol – ao longo do dia as suas enormes
flores rodam sempre na direção do astro-rei. Essa curiosa propriedade
denomina-se heliotropismo.
Trata-se de uma herbácea de caule ereto e grosso que pode
chegar a 3 metros de altura. As suas grandes folhas cordiformes são ásperas,
opostas e pecioladas. As flores, hermafroditas, de amarelo dourado, podem
atingir 70 cm de diâmetro. As sementes, produzidas em grande quantidade no centro
dos capítulos florais, formam aquénios.
O girassol é oriundo do continente americano, tendo chegado à
Europa para alindar os jardins como vistosa planta ornamental. Só mais tarde se
detetaram as excelsas virtudes das suas sementes. Elas são riquíssimas em óleo
(numa percentagem que quase chega aos 50%) contendo ácidos gordos insaturados,
especialmente linoleico e oleico, ómega 6, ómega 9, magnésio, cálcio, ferro,
fósforo, potássio, vitamina B1 e vitamina E (apenas o germe de trigo tem maior
concentração de vitamina E).
Aponta-se como principais propriedades do girassol as
seguintes: antigripal, expectorante, diurética, estimulante, estomacal, febrífuga,
anti nevrálgica, cardiotónica, hidratante, antioxidante, vulnerária.
O óleo é utilizado na alimentação e em farmacologia, sendo
mais valioso se for obtido por prensagem a frio. Exerce ação favorável sobre o
crescimento e desenvolvimento das crianças, as doenças pulmonares, o
colesterol, a hipertensão, o paludismo, os gases intestinais, a diarreia, as
enxaquecas, as dores de garganta, as febres intermitentes, as úlceras e
escoriações.
Se bem que o mais importante sejam as sementes, também as
folhas, os caules tenros e os capítulos florais integram a medicina popular em
várias regiões do mundo, para combater a tuberculose, outros problemas com os
pulmões e a malária, através de tisanas (uma colher de sopa da planta seca para
uma chávena de água, devendo ferver durante 5 minutos).
O “chá” das sementes torradas prepara-se fervendo durante 10
minutos uma colher de sopa das ditas num litro de água. Devem-se tomar 4
chávenas por dia.
As sementes têm uma notável utilização em culinária no
fabrico do pão, nos flocos “muesli”, nos iogurtes, nas saladas, etc.
No entanto, é o óleo alimentar que detém a primazia devido ao
seu grande valor nutritivo, sendo um bom substituto do azeite. Em farmacologia
é usado para hidratar a pele e o cabelo, preparar unguentos e emplastros para
as dores reumáticas, tratar a arteriosclerose, fazer descer o nível do mau
colesterol e da diabetes.
Em agricultura biológica é deveras importante a missão das
flores do girassol, atraindo polinizadores e facultando néctar às abelhas para
produzir mel de excelente qualidade. Note-se ainda que as folhas do girassol
inibem o desenvolvimento das plantas daninhas (alelopatia).
A homeopatia integra o girassol no seu leque de florais, atribuindo-lhe
a ampliação da autoestima, o sucesso, a sorte e a felicidade dos pacientes.
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