sexta-feira, 2 de outubro de 2015

A Azeitona


por António Alfacinha


De bandeja na mão colocava a bica, bem cheia, e o queque em cima da mesa. Ao mesmo tempo espreitava o titulo do livro que ela lia, “ Tristeza não se procura “. Achava estranho, pois o ultimo que ela tinha lido era “ Melancolia, não és sábia “. Os seus olhos percorreram a figura da jovem. Cabelos pretos, ondulados, olhos verdes, demasiado verdes. Expressão triste. Não lhe sabendo o nome, resolveu dar-lhe um, Azeitona, porque não, era o que mais condizia, e só ele saberia. Imaginava-a em seus braços, e aí seria azeitoninha. 
A tristeza, talvez alguma paixão perdida, ou estado de alma passageiro.
Enquanto aguardava no balcão os pedidos dos clientes, olhava-a e apreciava aquelas pernas cruzadas, talvez como a sua vida.
Saía sempre sem o chamar para pagar, e lá estavam as moedas, um euro e meio, como era habitual.
Deixou de aparecer, estranhou-lhe a ausência, talvez umas férias ou uma pequena doença.
Sentia falta daquela Azeitona, que nunca falava. Lentamente o tempo ia passando e apagando a sua imagem.
Um dia, um comentário de uma cliente chamando a atenção para uma fotografia que vinha no jornal, como sendo de alguém conhecido, foi espreitar e reconheceu-a,era ela, a sua azeitoninha. Por cima da foto, um título que talvez não fosse de todo surpresa. Tinha resolvido “ partir “ de sua livre vontade. Angustiado olhou, olhou para a mesa onde ela costumava sentar-se e estava ocupada com uma jovem de acabara de entrar, que olhando para ele fez-lhe sinal que se aproximasse para ser atendida. Pediu-lhe então uma bica e um queque. Achou estranho a coincidência do pedido, e olhou para o título do livro que a jovem tinha colocado em cima da mesa, “ Azeitonas, somos muitas “.

1 comentário:

luis santos disse...


Dizem que, a verdade é como o azeite... são precisas sempre muitas azeitonas. Abç.