terça-feira, 13 de outubro de 2015

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

OS AMIGOS DO ALHEIO 

Catalina Pestana, a actual Provedora da Casa Pia de Lisboa, diz que o país não está preparado para o terramoto que se avizinha com o processo de abuso e exploração sexual de crianças que tanta tinta já fez escorrer. 

Vamos ver o que acontece. 

Se isso significasse um tiro no coração de uma das hidras que subjugam o país, só poderíamos desejar que a terra tremesse. 

Talvez depois fosse possível atingir outras máfias. 



E o Ministro do Ensino Superior já tem substituto. 
Será Graça Carvalho, Professora no Técnico e pessoa dada como próxima de Pedro Lince. 
Que me recorde, trata-se da segunda mulher a ocupar uma pasta da área educativa. Oxalá seja mais bem sucedida que a outra, a Drª. Manuela Ferreira Leite, a actual ministra das finanças, quem teve uma passagem pouco mais que má por aquele ministério. Sobretudo, faço votos para que seja alguém capaz de compreender a decisiva importância da educação no mundo actual. 



Livros escolares da Matilde, I 

“Caminhos”, livro relativo ao Estudo do Meio, da autoria de Conceição Dinis e Luís Ferreira, da Porto Editora, em primeira edição e publicado no Porto, em dois mil e três. Trata-se de um exemplar da primeira tiragem. 



Este fim-de-semana, a escola da Matilde e da Margarida foi assaltada. Os larápios levaram materiais e perto de sessenta euros que estavam na gaveta de uma Professora. 

É claro que os amigos do alheio não se preocuparam com o facto de estarem a prejudicar crianças. Outras considerações de justiça social, então, são assuntos de outro planeta. 

Mas é com este vandalismo que nós temos de conviver; pela destruição da cultura de comunidade que um urbanismo desregulado produziu, dificilmente terá uma solução razoável. 

Esperemos que a próxima vez não aconteça. 



“-Olha esta ameixa…” –Disse a Matilde para a mãe, à hora da sobremesa, sorrindo em antecipação das suas próprias palavras. E concluiu após um curto compasso de espera: “-Parece que tem bexigas.” –E destacou as bolinhas amarelas, pintalgadas a vermelho, numa das zonas polares. 

A gargalhada geral manifestou a alegria da família. 



O terrorismo palestiniano nada tem a ver com o problema da pobreza ou miséria do povo, como tão pouco se pode dizer que seja induzido pela ocupação israelita dos territórios que àqueles são reconhecidos ou, especificamente, pelas humilhações e injustiças que esse contacto desigual tenha gerado. 
É claro que isso causa, ou pode causar turbas revoltadas e os impasses políticos que têm impedido a solução do problema são, naturalmente, factores de desespero que, dependendo da cultura de quem por ele passa, pode muito facilmente levar à violência. 
Esse é o caldo sociológico em que o terrorismo se expressa e, simultaneamente, é o que leva a que se faça a conexão em causa. 
Mas na verdade não é aquele o único e incontornável caminho para se atingir o objectivo de um estado palestiniano independente e viável; deste modo, aquele propósito impõe-se como álibi para aquelas acções, cujas motivações têm por base um olhar fanático sobre o mundo que tem mais a ver com uma certa visão religiosa do que com quaisquer pressupostos políticos independentes, embora se traduza numa mera questão de poder, do controlo e do exercício do poder. 
Tais actos não têm por consequência nem a prosperidade e o bem estar da população e muito menos a sua liberdade. Em primeiro lugar visam fazer mal a outras gentes e, em segundo lugar, só são praticados pois há quem se sinta no direito de pensar que os palestinianos devem ou têm de viver de uma determinada maneira que, precisamente, é o que está em causa; e tanto as elites religiosas como as políticas convergem nesse desiderato, por ser a única forma que têm para, uma vez alcançada a independência, manterem o poder e os seus privilégios. 
Quando olhamos o processo de paz, aquilo que vemos é o interesse dessas mesmas personagens e organizações em que o mesmo aborte. Isto porque não é aquela a principal preocupação mas sim a manutenção do poder, para o que até a guerra pode ser preferível. 



Por cá, no dia a seguir à comemoração da república, comemoram-se os onze anos da televisão privada. 

A tabloidização no sentido do espreme e deita sangue e da pornografia light que actualmente domina o panorama televisivo privado, estava em germe naquelas programações dos primeiros dias, com estudantes aos saltos e pinotes e apresentadores gritando em saiotes, ou naqueles dramas de comadres que elevaram as Caras Lindas e ao écran levaram vizinhos e vizinhas. Daí ao circo romano, estaria apenas a separação de uma linha. Pena maior é que o principal canal público tenha, em grande parte, ido atrás. 
Mas a informação e certos programas informativos tiveram uma irreverência inicial que poderia ter dado bons frutos. Infelizmente, a lógica do mercado e outras lógicas mais invisíveis foram domando a esperança de um papel cívico e acabaram por impor a censura actual, não de lápis azul, é claro, mas de conversa amena e conselhos de quem sabe dar uma palmadinha no ombro. 

Pena maior é que a imprensa, em geral, tenha acompanhado esse movimento. 



Boa opinião vou eu reforçando a respeito da Professora da Matilde. Tenho para mim que a senhora sabe muito bem o que faz. 
Pouco antes da saída propôs aos meninos a execução de um desenho sobre a escola que consiste no primeiro exercício do livro de Estudo do Meio. Obviamente, nenhum teve tempo de acabar. 
E a Mestra pediu aos alunos que terminassem a tarefa em casa. 

Tenho para mim que o fez de propósito. Assim, os miúdos acabaram por ter um trabalho de casa sem darem por isso. 
A Matilde, por exemplo, entendeu a tarefa como uma finalização do que tinha iniciado na aula e não como um trabalho de casa propriamente dito. 


Escusado será dizer que ao fim da tarde lá estava uma casinha muito feia, pintada a vermelho, na folha do livro. 


Na aula, os alunos fizeram exercícios de grafismos e de imitações das letras vogais. 
Pela amostra, a Matilde saiu-se bem. 
E também fizeram desenhos e a tal pintura ao fim da manhã. 



Ai que noite melosa com os grilos do lado de fora e música da minha infância e adolescência na rádio. 


As oposições pedem a demissão do ministro dos negócios estrangeiros. 


Mas eu prefiro o silêncio da pausa de um cigarro a olhar a Lua. 


 Alhos Vedros 
   06/10/2003

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