segunda-feira, 12 de outubro de 2015

REAL... IRREAL... SURREAL... (153)

Pétalas Efémeras, Autor António Tapadinhas, 1997
Óleo sobre Platex 
Germino tanta vez no sono
como a árvore germina sob o solo as raízes,
e nos ramos os gomos que rebentarão em flor
Germina a noite sob o sono que não durmo
em vigília constante
A chuva densa dança sobre os rios
que crescem
e germinam em rápidos apressados
na ânsia de fazer sal e sol,
ao desaguar no sono revoltado
dos meus oceanos
E escrevo com a força do fogo e da água
Nas cachoeiras distantes
ergo o poema na substância das pedras
Cimento a palavra no caminho prestes a fazer
No cansaço do dia
quando o fogo acende a noite
nos sulcos deixados pelas lágrimas ao anoitecer,
o sol espera o sal do saber
plantado em sementeira estranha
A lavra rasga o peito na embriaguez da noite
e os barcos imóveis
anunciam nas asas dos pássaros
o fim da primavera efémera

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Alvaro Giesta in Um Arbusto no Olhar
Selecção de António Tappadinhas

1 comentário:

MJC disse...

Belo, belo conjunto.

Abraço aos dois.

Manuel João Croca