Uma Revista que se pretende livre, tendo até a liberdade de o não ser. Livre na divisa, imprevisível na senha. Este "Estudo Geral", também virado à participação local, lembra a fundação do "Estudo Geral" em Portugal, lá longe no ido século XIII, por D. Dinis, "o plantador das naus a haver", como lhe chama Fernando Pessoa em "Mensagem". Coordenação de Edição: Luís Santos.
segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016
domingo, 28 de fevereiro de 2016
FALANDO DE MUDANÇA
Abdul Cadre
Dizia o outro, certamente
carregadinho de razão, que todo o mundo é composto de mudança,[1]
mas eu não sei se ele também tinha em conta as mudanças que nada mudam e os
feitios empedernidos daqueles indefectíveis das aparências, que dizem amiúde «a
mim ninguém muda» ou, na versão mais popular, «a mim ninguém me vira». Face a
isto, bem andava um outro que não se cansava de dizer que só os burros é que
não mudam.
A capacidade de mudar, não só
de opinião, mas sobretudo de comportamento e de vida, insere-se no mais comum
dos processos de renovação do pensar e do agir, das estações, do tempo, da
natureza. Tem sobremaneira a ver com aquilo que é mais evidente no
comportamento daqueles que vivem de propósito: o entusiasmo, que não devemos
confundir com o seu aspecto patológico, que é a paixão, que se alimenta da
angústia, ao passo que o grande combustível do entusiasmo é a alegria.
Mudar depende da experiência
e «a experiência, que é madre das cousas, nos desengana e de toda a dúvida
nos tira»[2]. E experiência não é aquilo que se repete até nos
tornarmos hábeis, é o que se acumula em discernimento e em ponderação à medida
que nos desenganamos. Ser ligeiro, volúvel, mudar por mudar, não é mudar, é
mundanar.
De opinião se mude quando de
razão e experiência se use. «Quem nunca altera a sua opinião é como a
água parada e começa a criar répteis no espírito».[3]
«Uma criatura de nervos modernos, de inteligência sem cortinas, de
sensibilidade acordada, tem a obrigação cerebral de mudar de opinião e de
certeza várias vezes no mesmo dia»[4].
Experiência, entusiasmo e
alegria são valores comportamentais de muito difícil uso nos tempos que correm,
tão dados à infantilidade das pequenas satisfações efémeras, aos «gadgets»
proporcionados pelas novas tecnologias, que são precisamente para nos
infantilizar que servem; infantis sem a candura das crianças, sem capacidade
para nos maravilharmos. Se aqui houver entusiasmo, não será o de quem aprende a
jogar ao berlinde, mas tão-só o de quem quer colher a vantagem de ter um
abafador.
Talvez surja o riso – pode
bem ser! – mas como um sucedâneo da alegria, apenas para uso externo.
A mudança corrente é a da
margarina com sabor a manteiga e dos pozinhos de perlimpimpim em água salobra
como sumo de qualquer coisa que o rótulo diz, mentindo. Esta é a mudança
corrente, a mudança dos que não mudam, dos que consomem ordeiramente o que se
lhes manda que consumam.
E vem o da cantiga e diz:
«Para melhor está bem, está bem, para pior já basta assim» e logo os burros
espetam as suas enormes orelhas, mas não escutam; se ouvem, não entendem…
[2] Esmeraldo de Situ Orbis (cerca de 1507), obra do cosmógrafo Duarte Pacheco Pereira, dedicada a D. Manuel I. A palavra Esmeraldo é um anagrama em latim partir do nome de Manuel (Emanuel) e Duarte (Eduardus). «De Situ Orbis» significa «dos sítios da Terra.
[3] William Blake.
[4] Fernando Pessoa.
sábado, 27 de fevereiro de 2016
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016
A nova face da exaltação da morte
Renan Springer
de Freitas
Professor de
Sociologia na Universidade Federal de Minas Gerais - Brasil
Em 13 de
setembro de 1997 um jovem de 18 anos foi abatido ao invadir, portando um rifle,
uma área militar de acesso restrito na fronteira entre Israel e o Líbano, sob
controle de Israel. Nessa mesma data seu pai, Hassan Nasrallah, o líder do
grupo xiita Hezbollah, se dirigiu a uma plateia de centenas (ou talvez
milhares) de pessoas (conforme se vê no vídeo cujo link de acesso é http://www.youtube.com/watch?v=HalvZUHlenU) para dizer, sem verter uma única lágrima, que se
sentia “orgulhoso” por Alá tê-lo incluído entre aqueles que têm um mártir na
família. Antes ele se sentia envergonhado perante os pais de outros mártires,
mas, agora, graças à “generosidade de Alá”, ele também era o pai de um mártir.
Disse ainda que seu filho adentrou a área militar “voluntariamente e sabendo
bem o que estava fazendo”. Ele agiu como um “verdadeiro mujahideen”
(combatente islâmico). Sua morte não significava, por isso, uma vitória do
inimigo, mas “uma vitória e uma honra” para o Hezbollah. O exemplo de seu
filho, ele conclui, deverá ser ensinado às gerações futuras.
A ideia de que um “verdadeiro” combatente é aquele
que não sobrevive é sem precedentes, e parece ser característica de um
“mujahideen”. Assim, quando a guerra da Bósnia terminou todos os
combatentes estrangeiros tiveram que deixar o país, recebendo ordens para
fazê-lo em 1996. Em vez de celebrarem o fim da guerra e a oportunidade de
voltarem em segurança para casa, como o faz qualquer combatente, de qualquer
época, os “mujahideen” lamentaram e choraram. Eles esperavam morrer
como mártir e, naquele momento, essa chance lhes foi tirada, conforme consta no
sítio http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/07/150704_bosnia_jihadismo_mu_cc.
A
chave para entender uma novidade dessa natureza não me parece estar no
islamismo, mas em uma tradição peculiarmente alemã de desdém pelo senso comum e
pelos objetivos da vida humana tal como vistos pelo senso comum. Conforme
ensinou Leo Strauss, em uma Conferência proferida em 1942 sob o título “German
Nihilism”, essa tradição, sedimentada ao longo do séc. XIX, elevava as virtudes
militares a um patamar superior de dignidade. No período entre guerras ela
ganhou muitas porta vozes, dentre os quais se destaca Ernst Jünger, um
combatente alemão na I Guerra que sobreviveu a nada menos que catorze
ferimentos, cinco dos quais resultantes de tiros de fuzil. Para ele, um homem
que jamais enfrentou o perigo da morte em um combate está em falta com sua
própria condição de homem. A exaltação da morte tal como se dá entre os
mujahideen me parece, sobretudo, uma radicalização dessa concepção desenvolvida
na Alemanha entre guerras. Eu diria, sem ter espaço aqui para desenvolver, que
é uma versão xiita, ou talvez islâmica, do niilismo alemão.
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apontamento sociológico,
Renan Springer
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016
“Em Bicos De Pé No Templo Da Alma”
Penetro apressado nos templos da Alma Algo me diz para ter calma Entro meio insípido em bicos de pé Tento evitar qualquer barulho Vou quase a pairar Ando o mais suavemente possível Avanço no silêncio possível Deixo-me de propósito ser visível aos Supremos Grandes Mestres Nem um pedaço que seja de pó esvoaça à minha passagem A poeira resta assente resvés ao chão Há como que uma aura sagrada no ar Nada de ímpio me acompanha Chego a ouvir o singelo barulho da pureza Algo de misterioso me projecta Sinto a mão invisível do saber bater-me nas costas O impulso empurra-me firme para diante Meio em corrida deixo-me carregar pelo entusiasmo envolvente Milagres perseguem-me e formam-me a espessa aura Vou protegido pelas circunstâncias e pelos bons augúrios Subo as escadas da temperança Inicio-me uma quantidade de vezes a cada passagem Atravesso indelevelmente fronteiras do invisível para o aqui e agora Faço o caminho inverso e vice-versa… Impele-me a força de vontade e a esperança juntas… Escrito em Luanda, Angola, a 23 de Fevereiro de 2016, por Manuel (D’Angola) de Sousa, em Homenagem ao todos os Rotários/Rotarianos do Mundo e ao Rotary Internacional, que hoje comemorou 111 Anos de Filantropia e de Existência, desde sua fundação em Chicago… Parabéns a todos os Clubes Rotários da Terra, sobretudo, por todo o bom e incansável trabalho que têm feito em prol daqueles nossos semelhantes que, tanto têm necessitado de carinho, ajuda e amor, Mundialmente…
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016
Poema da Semana
ÉVORA - Cidade Museu
Convido os meus
amigos a uma visita a esta histórica cidade alentejana e ali se deixar
conduzir ao passado no autocarro do tempo.
Para ver aqui neste link:
http://www.euclidescavaco.com/Poemas_Ilustrados/Evora_Cidade_Museu/index.htm
http://www.euclidescavaco.com/Poemas_Ilustrados/Evora_Cidade_Museu/index.htm
terça-feira, 23 de fevereiro de 2016
O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA
Fim-de-semana com chuva persistente e trovoada como solista. Ontem à noite, no regresso a casa, na Ponte Vasco da Gama, impressionavam os rasgões luminosos sobre Alcochete.
Mas aquilo que pareciam vir a ser dois dias de gato em sofá, acabaram com saídas de som e imagem.
Esta tarde toda a família rumou ao Centro Cultural de Belém para vermos a World Press Photo que à semelhança das exposições anteriores, mais uma vez ilustrou como os media mundiais se desdobram numa narrativa das desgraça e da infelicidade.
Chocou-me particularmente o instante do disparo com que um rebelde abateu um homem suspeito de roubar uma ventoinha.
O caminho da paz ainda é tão longo e complicado.
Em contrapartida, o serão de Sábado teve a magia de um concerto de Jonh Cale.
Uau! Duas horas repartidas entre sonoridades planantes que nos faziam sentir numa viagem entre as estrelas e aquele rock’rol com sotaque americano em que a melodia nos levava a balançar o corpo nas cadeiras.
Histórias de solidão e desejos, sonhos e contos de amor, harmonias sublimemente interpretadas por quem sempre procurou distinguir-se por cultivar uma atitude.
E a memória dos Velvet, ainda presente, como que assinalando que, mesmo na sequência de rupturas, os percursos humanos são cumulativos.
We want more! We want more! We want more!
Pena foi que o encore tenha sido tão só o “Aleluia” de Leonard Cohen, ao piano.
“-Ó pai! Abotoa-me o carapuço.” –Disse a Matilde, à saída do pavilhão da piscina, quando uma rajada de vento lhe descobriu os cabelos. Devo ter transmitido uma qualquer admiração a respeito do verbo e o pardalito ripostou em acto contínuo: “-Sim, este carapuço é abotoante, não vez que tem aí um abotoador?” –Apontando a presilha aderente que permite ajustar o capucho à medida do rosto.
Será que se perdeu o juízo e a decência?
Então um telejornal da TVI não transmitiu uma praxe que envolveu aquilo que seriam, se consumados, actos sexuais não consentidos?
Será que só pararemos na recuperação integral do circo romano?
E no meio da palhaçada que predomina na vida pública, depois do governo ter nomeado um homem saído da administração da Portucel para tutelar as florestas, a SONAE nega ter pedido tratamento especial para reforçar a sua posição naquele potentado da produção de papel.
Lá longe, na Universidade da Califórnia, no âmbito de um doutoramento sobre genética da longevidade, o biólogo português Nuno Arantes de Oliveira conseguiu prolongar a vida de um verme de quinze a vinte dias para mais de cento e oitenta o que, à escala humana, seria o equivalente a prolongar uma vivência média de setenta e cinco para seiscentos e setenta e cinco anos.
Se bem que ainda sem aplicações ou desenvolvimentos imediatos – o que, em minha opinião, abona a favor do Autor – estes estudos podem vir a subsidiar investigação no domínio do controle de doenças como a Parkinson, Alzheimer ou a osteoporose.
Estão a ver como nós somos tão bons como os melhores quando nos libertamos da canga partidocrática que nos sufoca?
Felizmente, neste caso, o cientista regressou ao país e, para bem de nós, para se lançar no mercado empresarial de biotecnologia. (1)
Trata-se da economia do futuro, aquela que caracterizará os novos países do primeiro mundo e, se queremos lá estar, é com gente desta que poderemos aspirar a tanto.
Um exemplo a destacar e, por parte das nossas autoridades, quer políticas, quer universitárias, a incentivar; mas essas têm mais com que se preocupar, é claro.
Ontem tivemos a festa benfiquista que inaugurou um novo estádio de futebol construído em tempo recorde – dois anos – e que, a todos os níveis, passa a ser o melhor do país e um dos eleitos a nível europeu e mundial.
Voltarei a falar neste assunto.
Por hoje ofereço-me à leitura
que a chuva continua a fazer ondular os reflexos luminosos nas poças de um solo saturado.
Alhos Vedros
26/10/2003
NOTA
(1) Firmino, Teresa, UM INVESTIGADOR, DUAS EMPRESAS DE BIOTECNOLOGIA, p. 37
CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
Firmino, Teresa, UM INVESTIGADOR, DUAS EMPRESAS DE BIOTECNOLOGIA, In “Público”, nº. 4964, de 24/10/2003
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016
REAL... IRREAL... SURREAL... (172)
Zé Povinho, Bordalo Pinheiro, 1882 Album das Glórias, n.º 32 |
"Um povo imbecilizado e
resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta
de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma
rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as
orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se
lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que
eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência
como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio
escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula,não descriminando
já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que,
honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e
sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à
falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam,
entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis
no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de
cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente,
tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da
Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem
planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico
e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro
como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso,
pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma
sala de jantar."
Guerra Junqueiro, 1896.
Selecção de António Tapadinhas
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016
PEQUENO APONTAMENTO SOBRE FILOSOFIA COM CRIANÇAS
Se me
perguntassem diretamente o que é a Filosofia para Crianças responderia: “é o método de aprender a pensar”, o que
parece um contrassenso, uma vez que todos nós pensamos e o ato de pensar é uma
competência natural em todo o ser humano. Descartes na famosa obra Discurso do
método afirmou a este propósito que “o
bom senso é o bem mais bem distribuído”, uma vez que todo o ser humano é um
animal racional. No entanto, pensar bem e argumentar em conformidade é algo que
se pode treinar, desde a infância.
A Filosofia para/com
Crianças surge com o filósofo e pedagogo
norte- americano, Matthew Lipman que, nos finais da década de 60, enquanto
professor da universidade, chegou à conclusão que os seus alunos não sabiam
pensar, pela forma incoerente e, por isso mesmo, ineficaz, que acompanhava as
reivindicações estudantis que floresciam naquela época (FIGUEIROA REGO, M.J.).
Surgiu então uma metodologia designada por Filosofia com Crianças. O próprio autor
criou Manuais e escreveu histórias que serviram e servem de base para a
reflexão. A Pimpa, por exemplo é um
conjunto de pequenas histórias que refletem a vivência de crianças, o seu
dia-a-dia e as escolhas que têm de fazer e que as convidam a refletir.
A filosofia com crianças não é mais do que uma metodologia do pensar,
melhor dizendo, do pensamento crítico e interventivo. Sendo assim, iniciou-se desde
essa data e até hoje a divulgação e a prática desta metodologia, com objetivos
específicos, a saber:
- Desenvolver competências argumentativas (logos no sentido grego do termo,
como pensamento e palavra);
- Estimular o pensamento crítico e interventivo;
- Fomentar a criatividade;
- Respeito pelas opiniões do outo (escuta ativa).
Perante um texto, forma mais ortodoxa, ou a partir de uma simples imagem,
os jovens são convidados a realizar uma “leitura
partilhada”, seguida de uma Agenda
conjunta, na qual se levantam temas / problema, que culmina num debate
reflexivo. Cada um por sua vez, sem interromper o outro (escuta ativa e
respeito pela opinião do outro), vai-se construindo um caminho comum. Desta
forma os mais pequenos que nunca tiveram contacto com os autores da filosofia
discutem sobre assuntos tais como a amizade, certo/errado, agir bem /agir mal,
entre outros. Desta forma e se sem dar conta entram no mundo da reflexão, por
outras palavras, treinam o pensamento que lhes foi dado naturalmente, mas que
carece de treino. Tal como o corpo precisa de exercício, também a mente precisa
de se exercitar. Sem se dar conta entram nas reflexões mais profundas tratadas
nos clássicos, tais como a beleza do Banquete, a moral kantiana e os temas da
liberdade, sempre, claro, tendo em conta o seu nível etário.
O professor ou facilitador, à maneira socrática, conduz os pequenos
interlocutores para o diálogo, para a partilha e para a reflexão em ambiente
confortável, democrático e propício à descoberta. Daí que a designação correta
será “Filosofia com Crianças”, porque são elas que constroem a aula, com a
supervisão do professor. A aula é devolvida ao jovem e é ele (em grupo)
percorre os caminhos da descoberta filosófica. O adulto apenas pergunta e com
as perguntas/questões leva os jovens para os trilhos da reflexão sobre
problemas, muitas vezes do quotidiano, outras vezes sobre temas mais profundos,
desde a ética até à metafísica. Tanto se discute sobre a legitimidade de
roubar, como da existência de Deus e da alma. E tudo isto é possível com
crianças pequenas em início da escolaridade.
A minha experiência nesta área diz-me que é a hora de começar efetivamente
nas escolas e que a formação de professores poderia considerar esta opção nos
estágios profissionais.
Para quem defende, como Piaget
defendia, que a filosofia é coisa do pensamento formal, ficaria deveras
maravilhado com a capacidade de abstração, crítica e de intervenção das
crianças de pouca idade.
Já existem muitas experiências em Portugal, no Brasil e em outros países da
Europa e com excelentes resultados. Algumas escolas implementaram no primeiro
ciclo esta metodologia, que pode ser alargada até ao 9º Ano. Consta que
chegados ao ensino secundário estes alunos estão “lançados na arte de pensar” e
mais aptos e motivados para aprender. Par além do simples treino do pensar,
desenvolvem-se competências no domínio da ética, do civismo e da argumentação
crítica.
Luís
Mourinha
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Filosofia para Crianças,
Luís Mourinha
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016
ETNOGRAFAR a ARTE de RUA (XVIII) Graffitar a Literatura
Graffitis fotografados por Luís Souta, 2015.
Cascais, Travessa do Visconde da Luz
«O meu país é o que o mar não quer
é o pescador cuspido à praia à luz do dia
pois a areia cresceu e o povo em vão requer
curvado o que de fronte erguida já lhe pertencia»
(Ruy Belo, “Morte ao meio-dia” in Todos os Poemas, 2000: 364)
Estes graffitis pintados, em duas paredes contíguas, por Youth, no âmbito do Muraliza 2014, constituem uma homenagem gráfica à vila piscatória de Cascais. Raul Brandão refere-a no livro quase centenário (1923) Os Pescadores, no capítulo “Lisboa, Setúbal, Sesimbra e Caparica” (pp. 173-189). A edição dos Estúdios Cor (1973, 227 p.) abre com o “auto-retrato” do autor:
«Este tipo esgalgado e seco,
já ruço,
que dorme nas eiras
ou sonha acordado pelos caminhos
sou eu.
e falo alto sozinho,
envolto na nuvem
que me envolve e impregna.
Que força me guia
e impele até à morte?»
Eugénio de Andrade complementa, na sua deslumbrante prosa poética, este retrato no capítulo que lhe dedica – “Quase uma glosa” – em Afluentes do silêncio (Porto: Ed. Inova, 3ª edição, Abril de 1974, pp. 125-129):
«Os olhos tinha-os azuis, de uma azul que nunca destingiu. Uns olhos que consumiu a sonhar. Sonhava impenitentemente porque, à sua roda, tudo morria à míngua de autenticidade. Isto lhe doía. Isto lhe doía mais do que a pobreza dos pescadores (…) De Raul Brandão (…) se poderia dizer (…) gastou-se a sonhar. Alguns dos seus sonhos são ainda os nossos – eis porque está tão vivo no nosso coração.»
Exemplo desta actualidade, foi-nos dado pelo realizador Manoel de Oliveira quando estreou, no Festival de Veneza de 2012, o filme O Gebo e a Sombra, baseado na obra homónima de Raul Brandão (1923).
Os Pescadores, dedicado por Raul Brandão (1867-1930) «à memória de meu avô, morto no mar», é um percurso, ao longo da costa portuguesa, iniciado no local onde nasceu (Foz do Douro), em Abril de 1920, e concluído em Sagres, em Agosto de 1922. Brandão percorre as nossas múltiplas comunidades piscatórias descrevendo, com pormenor e detalhe, os seus diferentes tipos de barcos, de redes, de artes de pesca e, com «um certo exagero emocional tão seu característico», a vida daquela gente pobre e sofrida.
«Este homem é de instinto comunista. Se um adoece, os outros ganham-lhe o pão: recebe o seu quinhão inteiro. Se morre, sustentam-lhe a viúva e os filhos, entregando-lhe o ganho que ele tinha em vida. Dão ao hospital e ao asilo uma parte do pescado. Toda a gente tem direito a ir ao mar – toda a gente tem direito à vida. Vai quem aparece, desde que seja marítimo. Acontece que o barco leva hoje quarenta homens e leva vinte amanhã… O produto das artes é dividido em quinhões iguais pela companha. A pesca do anzol é uma espécie de cooperativa e a barca quase dos pescadores. (p. 181)
Raul Brandão deu-nos conta de uma outra viagem marítima, desta vez pelos arquipélagos da Madeira e dos Açores (na companhia, entre outros, de Vitorino Nemésio), que decorreu entre 8 de Junho e «a noite de 29 de Agosto [de 1924] passo-a no tombadilho, sempre à espera numa sofreguidão de luz – e toda a noite é de trágica tempestade. No convés, só vejo negrume agitando-se num clamor. Mas de manhã a borrasca aplaca-se dentro da bacia de Cascais»
Quando este livro – As Ilhas Desconhecidas. Notas e paisagens (1926) – foi reeditado pela Quetzal (2011, 205 p.), Gustavo Rubim, numa curta e interessante recensão (“Antropologia impura”, Público-Ípsilon, 29/04/11, p. 50), destacou esta vertente antropológica de Raul Brandão:
«Trata-se, admito, duma modalidade impura de antropologia, muito embora Brandão não se esqueça de observar tudo o que um bom etnógrafo deve observar: economia, religião, ritos funerários, modos de habitação, vida familiar, relação com o ambiente, linguagem, etc. Não admira: a antropologia foi sempre impura ou, por outras palavras, foi sempre (continua a ser) literária.»
Luís Souta
Nota do Editor: Para ampliar as fotografias basta clicar em cima.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016
LUSOFONIA ECONOMIA E MERCADO
Um Desafio aos Grupos
económicos do Espaço lusófono
Por António Justo
Num tempo em que a Europa se encontra em grande crise e as
suas potências procuram beneficiar da sua posição económico-geográfica para
proteger e fomentar os seus vizinhos mais próximos em detrimento dos países da
periferia e benfeitorizando também as suas relações económicas com as suas
antigas colónias, seria de grande oportunidade uma união de esforços em todo o
território lusófono, não só no sentido do fomento de projectos culturais comuns
mas especialmente na elaboração e fomento de um espaço económico comum que
privilegie o parceiro lusófono tal como as potências privilegiam os seus
parceiros imediatos.
Só em conjunto se conseguirá reagir contra o neocolonialismo
das multinacionais das grandes potências interessadas em criar estruturas de
dependência tecnológica e económica que amarram os países indefesos aos seus
mercados e às suas condições. Disto deveriam estar conscientes os países do
espaço lusófono. Um pensamento criativo conjunto, em termos de concepção e
projeto futuro, podê-los-ia possibilitar passos alargados no sentido de superar
o colonialismo económico das grandes potências, bem como o encalhe em
nacionalismos fechados que uma História lúcida já não permite.
Sem tabus, seria óbvio fazerem-se reviver ideais formulados
nos tempos do regime de Salazar – necessariamente adaptados às realidades dos
países lusófonos actuais - e ver o que ele tinha realmente de visionário a
nível de afirmação das antigas “províncias ultramarinas” como parte de um
espaço económico comum, numa consciência de complementaridade.
Já no regime de Salazar se concebia a ideia de uma
confederação do espaço de multiculturalidade e interculturalidade
afro-luso-brasileira correspondente a um mercado comum a beneficiar do mercado
europeu: „A formação
de um grande e de um só mercado, assegurando a um tempo a comunhão de todos os
territórios nacionais sem qualquer diminuição, bem ao contrário, da autonomia
de cada um, rasgará horizontes tão vastos que neles caberá a igualdade efectiva
de condições, seja qual for o chão português onde labutem, a quantos vivam para
criação da riqueza nacional. „In http://eurohspot.fcsh.unl.pt/site/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=391 Não se perca tempo nem se continue a
adiar a História com aconteceu no regime de Salazar e aconteceu especialmente
no regime do 25 de Abril.
Numa altura
em que a economia Portuguesa ainda se encontrava ligada às províncias
ultramarinas portuguesas e à EFTA, entre 1960 e 1973 o rendimento nacional por
habitante crescia a uma média superior a 6,5% ao ano! "Nos anos 60 e até
1973 teve lugar, provavelmente, o mais rápido período de crescimento económico
da nossa História, traduzido na industrialização, na expansão do turismo, no
comércio com a EFTA, no desenvolvimento dos sectores financeiros, investimento
estrangeiro e grandes projectos de infra-estruturas. Em consequência, os
indicadores de rendimentos e consumo acompanham essa evolução, reforçados ainda
pelas remessas de emigrantes", constata a SEDES.
A EU (Zona Euro) beneficiou as infraestruturas portuguesas
(autoestradas) mas destruiu a agricultura e as pescas e promoveu a
desindustrialização do país. As mesmas consequências sofrerão países emergentes
(como os do espaço lusófono) que verão as suas economias confrontadas e
dominadas pelas multinacionais e amarrados a tratados comerciais e de investimentos
internacionais do tipo TTIP que favorecem as grandes potências interessadas em
mercados para exportação ou para fortalecimento das suas empresas.
O espaço da Lusofonia é extraordinariamente rico em recursos
naturais, humanos e culturais e um excelente exemplo de interculturalidade.
Urge portanto, na luta selectiva dos mais fortes, a união de forças no sentido
da solidariedade construtiva entre os países mais fracos para não deixarem
definir o seu futuro da economia pelos outros, que a exemplo dos bancos vivem
bem dos “juros” que os clientes têm de pagar ad infinitum. Facto é que o tempo
das economias nacionais já faz parte do passado; não se pode deixar a
determinação do futuro ser só determinada pelo consumo e o lucro.
Portugal deveria estar muito interessado, como membro do
grande mercado da zona euro, em favorecer o fortalecimento da economia e do
intercâmbio da imigração lusófona no espaço europeu. A grandeza de um tal
espaço e da população ofereceria a base necessária à formação de grandes grupos
económicos com capacidade de concorrerem com os tradicionais grupos das
multinacionais que hoje dominam. O espaço intercultural lusófono poderia
tornar-se num exemplo de economia social do mercado.
Um tal projecto implicaria a formação de grupos de trabalho
ad hoc (redes de técnicos e especialistas) a nível dos ministérios da economia
e dos grandes empresários e Bancos dos diferentes Estados da lusofonia. Neste
sentido deveriam trabalhar também as universidades de todo o espaço lusófono
preparando o caminho com pesquizas, trabalhos de doutoramento e o intercâmbio
na aplicação, no lugar, de um saber conectado e de orientação lusófona.
António
da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo http://antonio-justo.eu/?p=3480
terça-feira, 16 de fevereiro de 2016
O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA
Ainda que simples, a liberdade só se materializa na complexidade.
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016
REAL... IRREAL... SURREAL... (171)
Caim ou Hitler no Inferno, George Grosz, 1944 Óleo sobre Tela, 99x124 cm |
Revolução
Pena que as revoluções
não as façam os tiranos
se fariam bem em ordem
durariam menos anos
liberdade sairia
como verba de orçamento
e se houvesse qualquer saldo
se inventava suplemento
pagamento em dia certo
daria para isto aquilo
o que sobrasse guardado
de todo o assalto a silo
mas o que falta aos tiranos
é só imaginação
e o jeito na circunstância
é mesmo a revolução.
Agostinho da Silva, in 'Poemas'
não as façam os tiranos
se fariam bem em ordem
durariam menos anos
liberdade sairia
como verba de orçamento
e se houvesse qualquer saldo
se inventava suplemento
pagamento em dia certo
daria para isto aquilo
o que sobrasse guardado
de todo o assalto a silo
mas o que falta aos tiranos
é só imaginação
e o jeito na circunstância
é mesmo a revolução.
Agostinho da Silva, in 'Poemas'
Selecção de António Tapadinhas
sábado, 13 de fevereiro de 2016
Pela voz
de George Agostinho Baptista da Silva
Me fiz gente se é que sou
em Barca d'Alva do Douro
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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016
DATAS DAS SESSÕES DE APRESENTAÇÃO
DIVULGAÇÃO DAS SESSÕES DE APRESENTAÇÃO DO LIVRO SOBRE AGOSTINHO DA SILVA
Depois de comunicação feita no Colóquio Internacional Agostinho da Silva, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com o título de “O pensamento ecuménico de Agostinho da Silva”, as próximas serão:
- 11/3, ás 21,30h, na Biblioteca Municipal de Alhos Vedros, apresentação de Luís Gomes e intervenção de António Tapadinhas (integrado no "Ciclo Agostinho da Silva nos 30 anos do Aniversário da CACAV" dinamizado pelo Círculo de Animação Cultural de Alhos Vedros).
- 19/3, ás 16h, na Casa Bocage, em Setúbal (Rua Edmond Bartissol, n.º 12), apresentação de Paulo Borges e moderação de Maurícia Teles (organização da Associação Agostinho da Silva).
- 2/4, ás 15,30h, na Associação Raio de Luz, em Sampaio, Sesimbra, apresentação de Pedro Martins (aqui, a apresentação integra-se num Encontro mais alargado que conta também com uma conferência sobre a poesia de Agostinho, de Risoleta Pinto Pedro, e um recital dos Jograis U-Tópico), organização do Gabinete de Estudos Agostinho da Silva.
- 21/4, ás 18h, na Livraria Barata, Avenida de Roma, 11, em Lisboa, integrado no Ciclo "As Artes da Misteriosofia", organização de Maria Azenha, Pedro Martins e Risoleta Pedro. O Programa completo desta sessão, neste Ciclo, é o seguinte: Espiritualidade e Educação em Agostinho da Silva (Luís Santos); Sampaio Bruno e os Cavaleiros do Amor (Miguel Real); textos declamados (Maria Azenha).
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016
Fisális
por Miguel Boieiro
Há uma boa dúzia de anos trouxe de
Ponta Delgada uma compota de frutos que, de todo, desconhecia. Não eram araçás,
esses conhecia-os eu bem, pois o saudoso ti Manel das Doze fez o favor de me
trazer da Terceira, dois pequenos araceiros para plantar no quintal. Enquanto
não geou, o que aconteceu durante sucessivos invernos, fomo-nos deliciando com
essa espécie de goiaba selvagem.
O tal frasco de compota tinha uma
etiqueta que dizia “doce de capucha”. E sabem que andei um ror de tempo sem
conhecer o que era aquilo. Por burrice, sem dúvida, pois com tantos amigos
açorianos, nunca os indaguei sobre tal matéria. Agora já sei. Afinal a
“capucha” é vocábulo das ilhas para “fisális”, aquele frutinho, hoje tão em
moda nos estabelecimentos “gourmets”. Contudo, alquequenge tem sido, desde
há séculos, o nome vulgar atribuído a esta interessante solanácea, que consta
na maior parte dos tratados de fitoterapia. Depois de muito hesitar, resolvi
titular este artigo por “fisális”, já que se trata da designação atualmente
mais difundida. E compreende-se porquê: é deveras bastante mais fácil de
pronunciar.
A Physalis alkekengi L é uma planta anual da família das Solanaceae que cresce espontaneamente
nos campos de cultivo, figurando, muitas vezes, como espécie ornamental.
Nos Açores, e não só, esta
herbácea é quase infestante, pois reproduz-se com excessiva facilidade.
Julga-se que ela veio da América do Sul, mais propriamente da Colômbia, país em
as produções atingem razoável valor comercial.
Pode chegar aos 60 cm de altura, preferindo
solos calcários até à altitude de 1500 metros . O seu caule é erecto, anguloso,
ligeiramente pubescente e, amiúde, ramificado. As folhas apresentam-se aos
pares e são grandes, alternas, ovais-pontiagudas e pecioladas. As flores,
solitárias, formam um pequeno cálice e são hermafroditas (na mesma flor
encontram-se órgãos masculinos e femininos) e esbranquiçadas. Finalmente, os
frutos, globulosos, mais pequenos do que cerejas, são amarelos ou alaranjados.
Por vezes, fazem lembrar uma gema do ovo em miniatura. Encontram-se
revestidos de uma membrana verde que, pouco a pouco, vai ficando cor de palha e
quase transparente, quando o fruto amadurece. Esta característica determina que
o alquequenje seja também conhecido como “planta das lanternas chinesas” ou
“bexiga de cão”.
Quimicamente, refere-se um
princípio ativo que é a fisalina.
Possui também vitamina C, ácido cítrico, ácido málico, glícidos, pectinas e
carotenos, para além de alcalóides, como é apanágio de, praticamente, todas as
solanáceas.
Entre as suas propriedades,
conta-se a de ser depurativa, diurética, emoliente, expectorante, febrífuga e
sedativa.
Em fitoterapia, utilizam-se as
folhas, essencialmente para aplicações externas, e os frutos. Estes podem
consumir-se frescos, secos ou em pó.
Fleury de la Roche , em “Las Plantas
Bienhechoras” (versão em castelhano), recomenda a cataplasma das folhas frescas
esmagadas para aliviar as inflamações e a infusão de 50 g dos frutos secos num
litro de água, para cálculos renais, hidropisia, gota e entorpecimentos
viscerais.
Por sua vez, Abdelhaï Sijelmassi,
em “Les Plantes Médicinales du Maroc”, advoga que os doentes com taxas elevadas
de ácido úrico devem beber três chávenas por dia da decocção de 20 g de bagas
secas fervidas num litro de água.
O mesmo autor aconselha prudência
quando se ingere os frutos frescos, pormenorizando que não se devem comer mais
do que trinta bagas por dia e jamais verdes.
A precaução deverá ser maior nos
países tropicais, visto que vegetam espontaneamente cerca de meia centena de
espécies “physalis”, sendo algumas bastante tóxicas.
Porém, entre nós, europeus, os
sumarentos frutos da espécie “alkekengi” são apreciadíssimos em saladas de
frutas e pastelaria, tendo um sabor agridoce muito delicado.
AGOSTINHO DA SILVA: PENSADOR UNIVERSAL DO TEMPO PRESENTE
Comemoram-se,
a 13 de Fevereiro de 2016, 110 anos do nascimento de Agostinho da Silva e a sua
memória e a fecundidade do seu pensamento e obra não cessam de se tornar mais
vivas. É já um lugar comum reconhecer que Agostinho da Silva anteviu há cerca
de meio século temas, questões e desafios cruciais da crise do mundo
contemporâneo, para os quais apontou soluções e caminhos que, com toda a sua
problematicidade, não deixam de ser hoje muito pertinentes.
Agostinho foi um pensador original de todas as experiências fundamentais do ser humano, desde a espiritualidade e a religião até à política. Além disso, foi um tradutor criativo, poeta e escritor de elevado nível, um educador activo na criação de múltiplos centros de estudos e universidades.
A sua obra de vida, escrita e pensamento transmite-nos uma poderosa visão alternativa aos rumos ainda dominantes, mas cada vez mais críticos, do paradigma globalizado de consciência e de civilização. Agostinho é o visionário de um outro mundo possível à escala planetária, radicado numa espiritualidade emancipadora da consciência, no diálogo compreensivo e fraterno entre religiões e culturas, aberto a crentes e descrentes, na transcensão de velhos modelos e antinomias pedagógicas, políticas, económicas e sociais e numa abertura amorosa do humano a todos os seres vivos e à Terra.
Agostinho pensa também o papel mediador que na criação desse mundo podemos ter, cada um de nós e as culturas portuguesa, lusófona e ibero-americanas, em diálogo e cooperação fraternos com todos os povos e culturas.
É assim o momento de repensar Agostinho crítica e criativamente, quer o seu pensamento propriamente dito, quer as vias que a partir dele, das suas fontes e das suas questões se abrem para uma melhor compreensão do tempo presente que ajude a superar a crise que hoje somos. É este o objectivo deste Colóquio Internacional, que reúne especialistas dos estudos agostinianos e uma nova geração de jovens investigadores, numa abordagem multidisciplinar que abra caminhos novos para uma melhor compreensão da complexidade e fecundidade do pensamento e obra agostinianos.
Programa do Colóquio Internacional
Agostinho foi um pensador original de todas as experiências fundamentais do ser humano, desde a espiritualidade e a religião até à política. Além disso, foi um tradutor criativo, poeta e escritor de elevado nível, um educador activo na criação de múltiplos centros de estudos e universidades.
A sua obra de vida, escrita e pensamento transmite-nos uma poderosa visão alternativa aos rumos ainda dominantes, mas cada vez mais críticos, do paradigma globalizado de consciência e de civilização. Agostinho é o visionário de um outro mundo possível à escala planetária, radicado numa espiritualidade emancipadora da consciência, no diálogo compreensivo e fraterno entre religiões e culturas, aberto a crentes e descrentes, na transcensão de velhos modelos e antinomias pedagógicas, políticas, económicas e sociais e numa abertura amorosa do humano a todos os seres vivos e à Terra.
Agostinho pensa também o papel mediador que na criação desse mundo podemos ter, cada um de nós e as culturas portuguesa, lusófona e ibero-americanas, em diálogo e cooperação fraternos com todos os povos e culturas.
É assim o momento de repensar Agostinho crítica e criativamente, quer o seu pensamento propriamente dito, quer as vias que a partir dele, das suas fontes e das suas questões se abrem para uma melhor compreensão do tempo presente que ajude a superar a crise que hoje somos. É este o objectivo deste Colóquio Internacional, que reúne especialistas dos estudos agostinianos e uma nova geração de jovens investigadores, numa abordagem multidisciplinar que abra caminhos novos para uma melhor compreensão da complexidade e fecundidade do pensamento e obra agostinianos.
Programa do Colóquio Internacional
AGOSTINHO DA SILVA: PENSADOR UNIVERSAL DO TEMPO PRESENTE
16 e 17 de fevereiro de 2016, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Anfiteatro III, Entrada Livre
PROGRAMA
Iº DIA – 16 DE FEVEREIRO
09h30 – Abertura do Colóquio, por Paulo Borges e Miguel Real
09h45 – Sessão 1 (Espiritualidade e Religião I) Moderação: Fabrizio Boscaglia
09h45 – Luís Santos, O pensamento ecuménico de Agostinho da Silva
10h05 – Manuele Masini, A Idade do Espírito: uma leitura de Agostinho da Silva à luz de Gioacchino da Fiore
10h25 – Annabela Rita, "No espelho d'água da vida" (evocação)
10h45 Debate
11h15 – Intervalo
11h30 – Sessão 2 (Do Passado ao Futuro) Moderação: Paulo Borges
11h30 – Adelina Andrês, A Humanidade de Agostinho, um Presente que Passado e Futuro oferecem para desfrutar
11h50 – Carlos Carranca, Agostinho – um ponto de vista
12h10 – José Eduardo Reis, Agostinho da Silva e a tomada de consciência do alimento: convergências com posições doutrinais de Amílcar de Sousa, presidente da Sociedade Vegetariana do Porto do primeiro quartel do século XX, e com a dimensão ética dos “food studies”
12h30 – João Rodil, Cumprir Agostinho
12h50 – Debate
13h20 – Almoço livre
14h45 – Sessão 3 (Educação e Criatividade) Moderação: Giancarlo de Aguiar
14h45 – Amândio Silva, Agostinho e a Universidade
15h05 – Maurícia Teles, Liberdade, Amor e Criatividade, em Agostinho da Silva
15h25 – Risoleta P. Pedro, O fingimento poético em Agostinho da Silva – máscara, ficção e verosimilhança
15h45 – Debate
16h15 – Intervalo
16h30 – Sessão 4 (Espiritualidade e Religião II) Moderação: Dirk-Michael Hennrich
16h30 – Fabrizio Boscaglia, Agostinho da Silva e o Islão
16h50 – Pedro Martins, Agostinho da Silva, o marrano do Divino
17h10 – Paulo Borges, Espírito Santo, Zen e o novo paradigma da consciência em Agostinho da Silva
17h30 – Debate
18h00 – Intervalo
18h15 – José Adelino Maltez, Agostinho. Da aldeia à república universal (Moderação: Paulo Borges)
18h45 – Encerramento do Iº dia
IIº DIA – 17 DE FEVEREIRO
9h30 – Sessão 5 (Filosofia e Pensamento I) Moderação: Dirk-Michael Hennrich
9h30 – Carlos Silva [lido por Paulo Borges], Efeméride do pensar (e não Agostinho da Silva efémero) – Uma cisma cartesiana
9h50 – Sofia A. Carvalho, O terrível mistério de Diotima: considerações sobre ascese e imaginação em Agostinho da Silva e Friedrich Hölderlin
10h10 – Maria Celeste Natário e Maria Luísa Malato, Conversa com Diotima: Do Estrangeiro em Agostinho ao Estrangeiro em Albert Camus
10h30 – Rui Lopo e Felipe Delfim Santos, Agostinho da Silva e Delfim Santos: uma correspondência cultural e filosófica
10h50 – Debate
11h20 – Intervalo
11h35 – Sessão 6 (Espiritualidade e Religião III) Moderação: Giancarlo de Aguiar
11h35 – Pedro Teixeira da Mota, Agostinho da Silva e a Tradição Espiritual Portuguesa
11h55 – José Manuel Anacleto, Agostinho da Silva e a liberdade radical
12h15 – Manuel Gandra, A Terceira Revelação
12h35 – Debate
13h05 – Almoço livre
14h30 – Sessão 7 (Lusofonia e Brasil) Moderação: Fabrizio Boscaglia
14h30 – Giancarlo de Aguiar, A Cultura Indígena do Brasil nos ensaios de Agostinho da Silva
14h50 – Dirk-Michael Hennrich, Reflexão à margem da ‘Teoria do Brasil’ : Um meio século depois
15h10 – Renato Epifânio, Em diálogo com Agostinho da Silva: repensar a Lusofonia no século XXI
15h30 – Debate
16h00 – Intervalo
16h15 – Sessão 8 (Filosofia e Pensamento II) Moderação: Paulo Borges
16h15 – Pedro Vistas, “Antes teor que teorema”: do amor pela sabedoria à Sabedoria do Amor
16h35 – Miguel Real, Agostinho da Silva e o Providencialismo Português do Século XX
16h55 – António Braz Teixeira, Para uma visão de conjunto do pensamento filosófico de Agostinho da Silva
17h15 – Debate
17h45 – Intervalo
18h00 – Miguel Real, Apresentação do livro Agostinho da Silva. Uma Antologia Temática e Cronológica (org. Paulo Borges), 3ª edição, Âncora Editora (Moderação: Fabrizio Boscaglia)
18h20 – Conferência de Encerramento: Eduardo Lourenço, Filosofia e Profetismo (Moderação: Paulo Borges)
Comissão Científica
Paulo Borges
Miguel Real
Comissão Organizadora
Paulo Borges
Fabrizio Boscaglia
Dirk Henrich
Entrada Livre
Anfiteatro III
Metro: Cidade Universitária
Organização: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa
Apoios: Associação Agostinho da Silva / Círculo do Entre-Ser
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