Uma Revista que se pretende livre, tendo até a liberdade de o não ser. Livre na divisa, imprevisível na senha. Este "Estudo Geral", também virado à participação local, lembra a fundação do "Estudo Geral" em Portugal, lá longe no ido século XIII, por D. Dinis, "o plantador das naus a haver", como lhe chama Fernando Pessoa em "Mensagem". Coordenação de Edição: Luís Santos.
domingo, 27 de junho de 2010
Generalidades
Nos últimos anos do século passado, fruto do desenvolvimento das sociedades humanas, preparávamo-nos para melhores níveis de qualidade de vida. O desenvolvimento da ciência e da técnica permitiam-nos sonhar com o controle da explosão demográfica, com a eliminação da pobreza, com uma redução substancial do número de horas de trabalho.
Sobretudo nos países mais desenvolvidos, mas um pouco por todo o mundo, fomos assistindo a um extraordinário incremento da protecção social, desenvolveu-se a saúde, aumentou-se a esperança média de vida, tentou-se eliminar, ou pelo menos, reduzir o trabalho infantil. O grande desenvolvimento das novas tecnologias e, de alguma forma, a substituição do homem pela máquina, indiciavam um mundo mais livre, onde o lazer e a criatividade se oporiam a um mundo de grande dependência face ao processo produtivo.
A ruína dos socialismos a leste, a queda do muro de Berlim e uma consequente maior democratização do mundo, foram vistas associadas a essa vitória das liberdades essenciais. O liberalismo assumiu-se, então, como o sistema político de excelência, tudo justificado pela vitória na "guerra fria" dos aliados ocidentais.
Mas, afinal, a grande supremacia acalentada pelas democracias ocidentais era mais frágil do que parecia. A crise económica depressa se fez anunciar. O capitalismo financeiro com facilidade se instalou nos centros de poder e o desenvolvimento social a que fomos assistindo, sobretudo, na segunda metade do século XX, depressa começou a ser atacado.
Regressou o fantasma do equilíbrio demográfico, agora revelado, no ocidente, pela diminuição das taxas de natalidade e consequente envelhecimento das populações. O sistema de segurança social é posto em causa. O desemprego atinge uma percentagem que há muito não se via. Torna-se necessário trabalhar mais, produzir mais, competir mais, exportar mais, porque se destruíram as finanças públicas e, mesmo assim não chega, porque as potências emergentes (China, Brasil…) desenvolvem-se a um ritmo que ameaça a hegemonia ocidental e com facilidade nos ganham nas trocas comerciais, mesmo com a Organização Mundial do Comércio a dificultar-lhes a manobra.
E, nisto tudo, onde ficarão os grandes desequilíbrios ecológicos, as alterações climáticas, o esgotamento de recursos do planeta, a devastação florestal, a poluição dos rios e dos mares, a enorme acumulação de lixos vários, os direitos humanos, os direitos dos animais, a necessidade de uma alimentação saudável, de uma calma mental, de uma filosofia justa e, delírio dos delírios, o merecimento de conquistar a Vida para lá da morte?
O mundo está em rápida mudança, o debate está em aberto. Uma maior consciência cívica é necessária. A participação dos cidadãos é fundamental. O espírito democrático precisa substanciar-se. A organização política precisa de se merecer. Precisamos de saber sentar-nos a uma mesma mesa e aprender a conversar em vez de discutir.
É por isso que esta nossa parte do Estudo Geral aposta num espírito plural onde todos caibam. E se aprendemos com profetas e ascetas, com Cristo e Buda, que é o amor altruísta, o amor ao próximo, o que mais interessa, como podíamos nós trocar o geral pelo particular.
Luís Santos
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11 comentários:
Tanta conversa para chegarmos ao que interessa: às pessoas!
Números, estatísticas, é a maneira de mentir que se aprende em escolas com professores que não ensinam o mais importante: o amor, o respeito pelo próximo! O mal é que há poucos professores como os que mencionas...
Com Margarida Castro, Abdul Cadre, Paulo Borges, os elementos do Estudo Geral..., vamos conseguir deixar um mundo melhor para os nossos filhos...
Uma brisa aqui, pode causar um furacão no outro lado do mundo!
Abraço,
António
Nós, por enquanto, salvaguardando algumas honrosas excepções, não conversamos, discutimos.
Sem con-versar, a grunhir, não chegamos lá. Os conhecimentos e os números também fazem parte. Tudo faz parte.
Até mesmo os que nos ensinam a secundarizar o pensamento, a parar o pensamento, revelam-no através da conversa... chamam-lhe meditação analítica.
Resumindo, diria que estamos de acordo.
Faltou o abraço, mas vai já de seguida.
De facto, quando começamos a pensar em possíveis soluções para os inúmeros e complexos problemas que se colocam às sociedades, com facilidade nos sentimos impotentes para, com o pouco tempo de que dispomos,tentarmos obstar à sua acção trituradora e desiquilibradora.
É claro que tudo poderia ser fácil, mais fácil, se outras premissas estivessem no lugar de comando. Mas, não estão !
Não há contudo que desanimar.
Se não podemos mudar o mundo, tentemos ir-nos mudando a nós.
Primeiro um, depois um pequeno grupo, uma pequena rua de uma pequena vila de um pequeno país, ....
Quer dizer, creio que no fundo estamos de acordo sobre aquilo a que somos chamados e as possibilidades que temos portanto, mãos à obra, pés ao caminho, vamos andando.
abraços
croca
Manuel João:
Obrigado pelas tuas palavras. Estou de acordo: Devemos tentar potenciar ao máximo a forma como nos organizamos para viver, de forma a conseguirmos o melhor possível para todos.
Simultaneamente, também tenho a ideia que, face ao poder da natureza, somos um bicho com muitas limitações.
Mas talvez seja possível sintonizarmo-nos com ela para aceder à fonte primordial. E se não puder ser aqui que seja noutro lado.
Tentaremos estar disponíveis para ajudar no que for preciso.
Logo, é importante saber o que é preciso. E nós disso sabemos pouco. Mas pode ser que quando formos grandes, que é a mesma coisa que quando fomos pequenos, lá consigamos chegar.
Abraço Geral
Estimado amigo Luís Santos,
Tomei a liberdade de convidar os leitores do meu blog
"Temáticas Espirituais" a realizarem a leitura atenta
do seu artigo "Generalidades":
http://tematicasespirituais.wordpress.com/2010/06/29/ode-a-consciencia-civica-planetaria/
Com meus melhores e muito cordiais cumprimentos, bem como
felicitações pela oportuna e fecunda reflexão.
Estimado Amigo Hidemberg,
Agradeço a sua atenção às "generalidades". A sua generosidade já mereceu a reflexão.
Cordias Cumprimentos.
Estimado amigo Luis,
Iniciei, agora há pouco, o desenvolvimento de blog relativo a Relações Internacionais:
http://tematicasglobais.wordpress.com/
Caso seja possível, peço sua permissão para inaugurar tal blog
com o seu artigo Generalidades (mencionando autor e o link
do Estudo Geral).
Com meus melhores cumprimentos,
H.
Caro Hidemberg
Pode utilizar como quiser.
Obrigado pela atenção.
Pois é. Também penso que era muito importante e ajudava quase de certeza muitos dos nossos problemas era, como disseste Luís, que houve-se mais conversa do que discução.
Acredito que seja muito dificil que duas pessoas com ideias contrarias uma á outra consigam conversar passivamente sem entrar na discução.
Talvez esta seja uma das maiores causas dos problemas que existem no mundo em que possívelmente os senhores do mundo segundo o seu ego, a suas honras, o medo brutal de cair no ridículo etc. poem em causa o valor que a humanidade tanto tem.
Comcordo plenamente que se cada pessoa fizesse uma pequena coisa positiva para ajudar o mundo a evoluir de maneira saudavel, talvez ele fosse um pouco melhor ou a vida se tornasse menos dura de roer.
Estamos no caminho certo siga lá estudar o que de geral existe no mundo ehehehehe :-)))))
Um grande abraço com fraternidade
Diogo Correia
Amigo Diogo
Muito Obrigado.
Preciosas as tuas palavras.
Tenhamos esperança que o nosso Estudo nos Ajude a todos.
Grande Abraço.
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