Uma Revista que se pretende livre, tendo até a liberdade de o não ser. Livre na divisa, imprevisível na senha. Este "Estudo Geral", também virado à participação local, lembra a fundação do "Estudo Geral" em Portugal, lá longe no ido século XIII, por D. Dinis, "o plantador das naus a haver", como lhe chama Fernando Pessoa em "Mensagem". Coordenação de Edição: Luís Santos.
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
d´Arte - Conversas na Galeria III
Ying-Yang Acrílico sobre Tela Díptico 100x60x2 cm
Para melhor compreensão desta obra é necessário ter a noção do que significam estas palavras.
Segundo a concepção oriental, o universo era uno e sem movimento, até se ter cindido em duas espirais de energia, com dois princípios opostos, mas complementares entre si: Ying, o elemento feminino e Yang, o elemento masculino. Estes dois elementos primordiais são essenciais para manter o equilíbrio dinâmico do universo e são um conceito tão puro que se pode aplicar a qualquer coisa. Ying é escuridão e Yang é luz, Ying é lua e Yang é sol, Ying é água e Yang é fogo... Tudo que existe contém estes dois princípios, portanto qualquer discriminação entre eles não faz qualquer sentido, porque um não existe sem o outro.
Esta obra foi criada para duas pessoas especiais (Ying e Yang) que habitavam um certo espaço. As suas cores reflectem a energia vital que uma sala de grandes proporções, com paredes brancas, precisa para tornar o ambiente acolhedor, caloroso, luxuoso, festivo... As suas dimensões foram estudadas para evitar que, em conjunto com o dinamismo das cores, se tornasse demasiado absorvente e dominadora.
Depois de analisar estes aspectos mais conceptuais, a execução foi simples.
Numa tela, Ying, estendi o amarelo, na outra, Yang, o vermelho. Reservei espaços iguais nas extremidades esquerda e direita, bem como na parte superior de cada uma das telas. A seguir pintei o vermelho sobre o amarelo, tendo o cuidado de deixar respirar esta cor, ou seja, deixar o observador sentir o amarelo, mesmo nas zonas cobertas pelo vermelho. Na outra parte do díptico, devido ao fraco poder de cobertura do amarelo, foi necessário adicionar um pouco de branco de titânio. Para compensar esta perda de intensidade, misturei um pouco de amarelo mais intenso.
Esta obra é um elo de ligação entre estas duas pessoas, independentemente da distância que as separar...
Deixo a interpretação dos outros símbolos para a vossa fértil e criativa imaginação!
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6 comentários:
Parabéns, está magnífica a pintura e "mucho caliente". É fogo que arde sem se ver. O princípio único das leis do Universo. Uma filosofia que encontra correspondência directa no arroz integral... E a serpente que no Oriente é o oposto da dentadinha na maça. Aqui o bem e o mal coexistem e, afinal, tudo está certo, diria Lao-Tsé. Por isso, o vermelho e o amarelo fazem transpirar, mas acabam por ser uma boa purga contra os excessos.
Carpe Diem (ouvimos o Robin Williams dizer no Clube dos Poetas Mortos).
Gosto sempre de olhar as tuas pinturas, antes de ler os textos com que as documentas -naturalmente referindo-me àquelas que tens editado aqui e no teu blogue pessoas.
Por um lado e pelo simples facto de pouco ou nada perceber de tal Arte, sempre gostei de imaginar sobre as criações dos pintores, umas vezes histórias, outras ideias ou pensamentos, consoante os casos e nunca me preocupei se as interpretações que faço estão de acordo ou vão ao encontro daquelas que o artista tinha em mente ao executar a obra. Sou um observador pelo mero prazer de ver e sentir e não me parece que haja mal por isso.
Neste caso achei curiosa a onda -assim me pareceu, a representação gráfica de uma onda- a preto que pintaste e que logo me sugeriu a ideia de ciclo, pêndulo, altos e baixos, a elevação e a queda, o muito e o pouco, o positivo e o negativo, afinal, também, o Ying e o Yang de que falas e para que as tuas palavras, de facto, remetem.
Mas essas levam-me muito para além da pintura e na medida em que se limitam a narrá-la, poderemos então dizer que se aprofundarmos a só na aparência singela mistura de amarelos e vermelhos que alcançaste, é ela que nos remete obrigatoriamente para esse voo que, no meu caso, fiz por indução da expressão escrita e isso ainda mais abona a favor desta tua tela.
Somos obrigados a pensar como a História da(s) Cultura(s) tem sido feita unilateralmente a partir do Ocidente. Conhecemos mal -provavelmente muito mal, sendo certo que é esse o mau caso pessoal- a História dos outros continentes, de outras civilizações. E é pena, pois haveriam certamente muitos ensinamentos que poderíamos obter a partir de outras referências de pensamento.
Quando pensei na ideia de onda, seguiu-se-lhe de imediato a de pêndulo e com ela lembrei-me uma velha sabedoria que se desenvolveu justamente no contexto deste sistema de pensamento que incorpora as noções explicativas de Yng e Yang. A vida, em geral e a da Humanidade em particular, aqui entendida como a percurso vital de cada um, é uma permanente tensão entre esse movimento pendular, ora alternando entre períodos positivos, naturalmente ligados a tempos e energias criadoras e, no outro polo do movimento, períodos negativos, por sua vez expressão de tempos negativos e palco de energias destruidoras.
Há muito de verdade neste silogismo filosófico e se o formos dissecando, vemos que tem inesperadas potencialidades para nos servir de lanterna na compreensão do que nos envolve e até melhor encontrarmos a atitude e o comportamento mais adequado às contingências em que levamos a nossa existência. É, digamos, material de suporte filosófico para, por exemplo, reflexões de índole ética e é por isso que é pena vivermos ainda num estado de nevoeiro perante a História das Ideias em outras parcelas civilizacionais da Terra.
É pois para tanto que a tua pintura chama a atenção e temos que dizer que não é pouco.
E aí implica ainda um outro salto mais ou menos maravilhoso.
Afinal, foi essa multiplicidade civilizacional que deu à Humanidade a capacidade de se adaptar a todos os climas e paisagens terrestres -que outra espécie o conseguiu na Era Geológica em que vivemos?
Não deveria assim encantar-nos uma tal diversidade?
É que vista do espaço, como hoje os humanos já o conseguem fazer, a Terra é uma ilha que, ao contrário das que tem, é por enquanto a única que temos com condições para habitarmos. Isso faz de nós vizinhos de bairros e até de aldeias diferentes, é certo, mas vizinhos, por muito que ainda demoremos a chegar ao outro lado da ínsula.
Onde nos poderá levar tal pensamento?...
E assim se darteou hoje, para que se perceba que há coisas que nos elevam, tal qual o faz esta tua peça que, presumo, guardarás na tua colecção pessoal.
Aquele abraço, companheiro
Luís
Esta magnífica pintura remeteu-me logo para uma visão grafica, em que o traço que divide a tela na vertical considerei-o como o eixo do y(segundo a as regras da matmática) que por coincidencia é a primeira letra destes dois polos de que falas Ying e yang.
Logo a seguir olhei a serpente e continuei a pensar nela fazendo parte desse mesmo gráfico, em que ela representa a ferquencia de energia do ser humano. E como se pode ver ela faz dois Us separados por esse eixo, em que o primeiro U é muito mais denso que o segundo dando ao Ying uma energia mais grave e ao Yang uma energia mais aguda, pois a curvatura deste é muito menor.
Gostei da ideia de um dos lados ser amarelo com traços de vermelho, e do outro o vermelho com traços de amarelo, como se no Ying houvesse um pouco de Yang e no Yang houvesse um pouco de Ying. Pode-se dizer também que no homem há um pouco de mulher, e na mulher há um pouco de homem.
Interpreto tambem que: o que num polo há do polo o polo oposto é a matéria que sufecinte para se atrairem entre si, pois desde pequeno que ouço dizer que os opostos se atraiem.
Parabens por esta bela pintura
Um forte abraço
Luis: Este teu comentário é "very hot".
:)
Vejamos: cada uma das tuas frases, contém um princípio, uma lei, um mandamento.
Aquele que mais me agrada está em latim: Carpe Diem!
É isso que procuro fazer. Também tu, nesta galeria de Poetas Vivos, bem vivos!
Namasté!
António
Luís: A partir de uma pintura abstracta é mais fácil dividir as opiniões sobre o seu significado.
Já apresentei uma pintura abstracta, em que pedi para os observadores me dizerem o que viam ou o que eu queria significar. Como podes calcular, as respostas foram muito diversificadas e, algumas, bastante criativas.
No teu caso, até com a pintura, "Flamingos no Rosário" (gosto mais de Pássaros-de-Fogo), bastante concreta, portanto, conseguiste arranjar-lhe um valor, um significado que ultrapassou tudo o que eu tinha pensado.
Fico com a ideia que os criadores (escritores, pintores...), para fazerem o seu trabalho para a posteridade, e não para o momento, devem fazê-lo com um máximo de seriedade. Conseguido esse propósito, os observadores interessados conseguirão encontrar nessa obra significados que nem o próprio criador sonharia...
...e ainda bem que assim é! Os Pintassilgos... são a prova!
Abraço,
António
Diogo Correia: Se te deres ao trabalho de ler a resposta ao comentário anterior, verás que não me surpreende a pluralidade de respostas e estímulos que me são transmitdos, quando comentam uma obra mais ou menos abstracta. Pelo contrário! Para mim, é muito enriquecedora a diversidade, como na natureza a biodiversidade é sinal de vitalidade.
A atracção dos contrários está em todo o lado...
...e o Mundo seria outro, se esta lei fosse esquecida!
Abraço,
António
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