quinta-feira, 30 de setembro de 2010

d´Arte - Conversas na Galeria V


Outono Óleo sobre Platex 15x15cm
Autor António Tapadinhas
(clique sobre a imagem para ver pormenores)

A mais popular obra de Vivaldi é "As quatro Estações", em que o compositor expressa musicalmente, de uma forma simples, directa e descritiva a natureza. O Outono (clic) estação da queda das folhas, é um concerto em fá maior para violino, cordas e cravo. Tem os três andamentos dos outros concertos e pela mesma ordem: “Vindima”, allegro, a bebedeira causada pelo vinho, adágio molto, e no último, o trepidante ritmo da caça, obviamente allegro, menos para o veado, que é morto!
Diz-se que o Outono é uma estação calma, de meias-tintas. Tal como acontece com o veado, também as folhas ao morrer não me deixam indiferente: mostram com a violência das suas cores, o seu protesto pela morte que adivinham! E como são eloquentes!
Quando morrer quero ter cores assim!

2 comentários:

Luís F. de A. Gomes disse...

Sempre gostei de ver o efeito daquelas pinturas impressionistas a que a distância certa permite ver a imagem que, ao perto, nos aparece desfocada numa mescla de cores informes.
Apesar de nada ter a ver com esse efeito, foi justamente dos impressionistas que me lembrei ao ver a pintura do Porto e agora, com esta, uma vez mais se repetiu essa sensação.
É engraçado e eu explico.
O que se passa ou passou é que me pareceu estar perante uma espécie de impressionismo das sensações quer dizer, as cores que usas, para além das imagens que representam, dão-nos a impressão de vermos mais que isso, o todo, no primeiro caso, do lugar, neste particular, da época, que constitui a nossa memória desses espaços, sejam físicos ou temporais. No primeiro exemplo, disse-te que aquelas colorações caracterizavam bem o espírito da cidade, se assim se pode falar e com este, o mesmo consegues para esta estação do ano.
Parte das minhas raízes são serranas, de onde vieram a mãe e avós de minha mãe e como ainda por lá cirandam tias e primos e os laços se têm mantido a salvo dos anos e das distâncias, é outro dos territórios de Portugal que conheço bem e ao longo de toda a revolução solar. E se todas as estações têm os seus encantos, o Outono cativa pelas lágrimas que das árvores acastanham cumes e marrecas e, pranteadas, amarelecem os chãos. É um espectáculo digno de se gozar, até das meditações que nos incute. E foi ele que a tua pintura me desvendou, com as suas sugestões coloridas que me induziram as lembranças reconstruídas que referi.
Vadiei novamente pelas veredas e vales abrigados onde a luz coada das tardes se traduz nas sombras alongadas em que sobressaem esses sinais que a ascensão do frio logo cobrirá por uma larga pincelada de branco, sujo de veios da mistura com a terra, aqui e ali pintalgado de pretos e escuros a que aquela deixou com a cabeça de fora.
É a arte como alimento dos sentidos, outro sublime que distingue o homem que não se resigna à simples condição de hommo mercadoria. Lá está, é no dartear que está a elevação.

Aquele abraço, companheiro
Luís

A.Tapadinhas disse...

Suponho, para não dizer, tenho a certeza, que os meus pensamentos são fluentes e se encadeiam como as cerejas nas palavras ditas ou pensadas.

Tenho notado em ti que o que escreves, sai tão fluente e correcto como os pensamentos... Como se tivesses um gravador para dar-te o tempo que necessitas, para o escreveres. Não sei (tu saberás) como se consegue fazer essa espécie de magia... O teu treino de escritor, as tuas aptidões naturais ou... tudo junto!

Os meus pensamentos são demasiado céleres para eu os conseguir materializar... até em palavras...
Talvez por isso, eu tente falar com a minha pintura.

Mais do que as tuas palavras...
como gostei de ler os teus pensamentos!

Aquele abraço,
António