sábado, 30 de abril de 2011

2ª CONVOCATÓRIA XVI COLÓQUIO 30 SET - 5 OUT 2011

1. HOMENAGEM CONTRA O ESQUECIMENTO:
Convidados 2011:DANIEL DE SÁ, EDUARDO BETTENCOURT PINTO E VASCO PEREIRA DA COSTA
1.1. Autores lusófonos (açorianos) esquecidos
1.2. Outros Autores lusófonos esquecidos

2. LUSOFONIA E SANTA MARIA
2.1. A ILHA-MÃE: HOMENAGEM AO MICAELENSE MAIS MARIENSE (DANIEL DE SÁ)
2.2. OUTROS AUTORES MARIENSES

3. O Estado da LUSOFONIA:
3.1. Português como Língua de Identidade e Criação;
3.2. Diversidade da Língua Portuguesa;
3.3. Português nos Media e no Ciberespaço;
3.4. Português como Língua de Ciência;
3.5. Ensino do Português
3.6 Português nos Grandes Espaços (LINGUÍSTICOS, ECONÓMICOS, ETC)

4. TRADUÇÃO
4.1. Tradução de autores portugueses no estrangeiro.
4.2. Tradutores e autores portugueses
4.3. Tradução Monocultural e intercultural
4.4 Tecnologias e Tradutologia

J. CHRYS CHRYSTELLO, Presidente da Direção, COLÓQUIOS DA LUSOFONIA (AICL, Associação [Internacional]
Colóquios da Lusofonia) - NIPC 509663133
Sede: Rua da Igreja 6, Lomba da Maia S. Miguel, Açores, Portugal / www.lusofonias.net
Contactos: (+351) 296446940, (+351) 919287816/ 916755675 Faxe eletrónico:+(00) 18153013682/(00)16305631902
Correio eletrónico: lusofonia.aicl@gmail.com / lusofoniazores@gmail.com /
Blogue: http://coloquioslusofonia.blogspot.com/

Colóquio Internacional Nietzsche, Pessoa, Freud - 3, 4 e 5 de Maio


Informam-se todos os interessados que se encontram abertas as inscrições para o Colóquio Internacional Nietzsche, Pessoa e Freud. O Colóquio terá lugar nos dias 3 (Universidade de Lisboa - Faculdade de Letras), 4 (Universidade Nova de Lisboa - FCSH) e 5 (Fundação Calouste Gulbenkian) de Maio de 2011 e contará com a presença de conferencistas nacionais e internacionais.

No decorrer do Colóquio será apresentado o nº3 da revista Cultura ENTRE Culturas, dedicado a Fernando Pessoa (com um caderno de 72 páginas com inéditos), bem como os livros Olhares Europeus sobre Fernando Pessoa (org. Paulo Borges), O Teatro da Vacuidade ou a impossibilidade de ser eu (Paulo Borges) e Fernando Pessoa e Nietzsche: o pensamento da pluralidade (Nuno Ribeiro).

Para mais informações, ver o link:
http://conferencenietzschepessoafreud.blogspot.com/

--
«Something in me was born before the stars / And saw the sun begin from far away.»
- Fernando Pessoa, 35 Sonnets, XXIV.

arevistaentre.blogspot.com
www.pauloborges.net

sexta-feira, 29 de abril de 2011

A Ásia recebeu os Colóquios da Lusofonia numa ponte entre os Açores e Macau

Macau Revisitado
Por Chrys Chrystello*


Normalmente, o oriente veste-se de magia para os ocidentais e Macau acaba por ser mais esotérico ainda nas conceções que dele se fazem fruto de autores inúmeros que dele fizeram a sua base terrena. Foi com estas premissas em mente que um grupo de cerca de quarenta pessoas partiu de vários pontos do mundo para o 15 colóquio da lusofonia. Para muitos seria um batismo enorme intercontinental e intercultural, para outros apenas um regresso – mais ou menos adiado – a uma terra que partilharam com sonhos e projetos vários. Tratava-se do mais ambicioso de todos os colóquios depois da ida ao Brasil em 2010 graças à generosidade do alto patrocínio do Instituto Politécnico de Macau (IPM) que não só apoiava a deslocação de uma comitiva de 17 membros como ainda apoiou a estadia e alimentação dos restantes oradores e seus acompanhantes num gesto magnânimo raramente visto nestes dias em que todos clamam crise para se escusarem a apoios culturais.
A longa viagem começada pelas 12 horas de dia 9 em Ponta Delgada terminaria em Macau pelas 16.00 horas locais de dia 11 (08.00 PDL) para um grupo de 31 viandantes que se juntaram em Lisboa. Sem perdas de bagagem foram recebidos pelos representantes do IPM e transportados ao luxuoso Hotel onde iriamos ficar durante os dez dias seguintes a escassos metros do IPM.
Na manhã seguinte teve inicio com toda a pompa e circunstância o 15º colóquio por entre espetáculos musicais que incluíam danças e cantares portugueses interpretados por jovens chineses aprendizes de português há uns meros seis meses ou menos. Seguia-se uma demonstração do cancioneiro Açoriano preenchido pelas mágicas mãos da pianista Ana Paula Andrade do Conservatório Regional de Ponta Delgada acompanhada da jovem e promissora soprano Raquel Machado. Depois das sessões iniciais dedicadas ao AO 1990 e outros temas, houve uma pausa para visionar um documentário sobre o quase extinto patuá de Macau seguida do primeiro banquete, oferecido pelo IPM, com laivos de corte imperial chinesa: 15 pratos e seis entradas, deixando a maior parte dos presentes de olhos e estômagos plenos de imagens e sabores. Momentos inesquecíveis na memória de muitos e a deixar antever o grau de hospitalidade oriental e seus protocolos rígidos a que todos automaticamente aderiram sem custo. Nessa noite já todos diziam que iria ser difícil igualar esta receção e as muitas honrarias que eram conferidas aos 48 participantes.
O segundo dia começou com o calor habitual 24-29 °C e a humidade elevada fazendo crer que a ilha de São Miguel nos Açores era um lugar seco. Esta manhã era destinada ao roteiro cultural pela Macau antiga em homenagem a Henrique de Senna Fernandes e teve o seu início no Jardim Camões onde junto á lendária gruta se declamou poesia de Macau, Galiza, Brasil, África, Açores, etc…Depois, foi a visita ao excelente Museu de Macau e seus percursos paralelos entre Portugal e Macau, à reprodução dos modos de vida, das fachadas de casa típicas da construção luso-macaense, e a obrigatória visita às Portas do Cerco, esse ex-líbris que o fogo quase consumiu na totalidade há mais de 200 anos. A visita terminava na Livraria Portuguesa onde se visitaram edições de obras de autores macaenses antes de prosseguir para um banquete português com caldo verde, bolos de bacalhau, entre outras iguarias, oferecido pela Fundação Macau no restaurante Pinnochio’s da Taipa ora remodelado e com três andares em vez do andar térreo que se lhe conhecia na década de 1970. As sessões da tarde foram de dicadas a autores macaenses e a África antes de prosseguir na Livraria Portuguesa onde os três autores convidados (Vasco Pereira da Costa, Anabela Mimoso e Chrys Chrystello) iriam apresentar os seus novos livros. A sessão começaria com uma homenagem curta ao seu dono, o jornalista Ricardo Pinto, pela colaboração dada a um programa mítico da rádio TDM em 1980 (o uísque e a cola, de Chrys Chrystello). Curtas apresentações, mais algumas entrevistas e lá estavam todos de abalada para o Forte de Mong Há onde se situa a Pousada do mesmo nome e onde seria teria lugar o banquete oferecido pelo Instituto de Formação Turística, sendo os convivas as cobaias escolhidas para os mil e um deliciosos pratos confecionados pelos alunos. A manhã do terceiro dia de sessões foi totalmente dedicada a autores macaenses, interrompida para mais um banquete e, de tarde, seguia-se a sessão plenária dedicada à Literatura e Açorianidade onde se homenageava Vasco Pereira da Costa, com a presença do editor convidado e do autor da diáspora, Eduardo Bettencourt Pinto (Canadá). Terminada esta sessão foi a comitiva e seu séquito de debandada para o Instituto Internacional de Macau onde se iria celebrar um protocolo dos Colóquios seguida de uma palestra do ex-governador Garcia Leandro e de um banquete ao ar livre de comida macaense típica. No último dia de manhã houve textos dedicados a Macau e Açores estabelecendo as pontes que este colóquio se destinava a construir entre as insularidades da lusofonia afastadas continentes e oceanos. Ao almoço um banquete oferecido pela Direção dos Serviços de Turismo no luxuoso novo Hotel Lisboa Grand de Stanley Ho. Era a altura de correr de volta para o IPM e celebrar um Memorando de Entendimento entre os colóquios e o patrocinador deste evento, com a presença de todos os convidados e de cerca de vinte membros da comunicação social, com a habitual troca de presentes e as formalidades protocolares habituais. Seguiu-se depois a última sessão antecedendo as conclusões do colóquio eivadas de agradecimentos e da promessa de regresso em 2012, por entre promessas de lutar contra a extinção dos crioulos locais. Por fim, o toque mágico de um espetáculo de viagem pelo mundo lusófono, percurso musical com atuações de representantes de várias zonas geográficas da lusofonia, da Índia a África e Ásia, com passagem obrigatória pelos Açores. Terminava assim de forma sublime e mágica o colóquio deixando lágrimas nalguns dos presentes desejosos de voltarem uns e outros ansiosos por se fixarem em Macau. Os três dias seguintes por conta de cada um foram dedicados a visitar Zuhai na China, as ilhas da Taipa e Coloane depois de compras de souvenirs nas “Mariazinhas” e antecedendo o último dia dedicado a explorar à vol d’oiseau essa enorme metrópole que é Hong Kong.
Dos luxos e iguarias não falaremos aqui pois a imagem de profissionalismo e rigor cientifico foi o que mais marcou este 15º colóquio que o IPM coorganizou. Começou já a contagem decrescente de 18 meses para o regresso à cidade que foi do Santo Nome de Deus e que, dez anos após o regresso à pátria chinesa, fervilha de vida e de progresso.

Fotos em https://picasaweb.google.com/LUSOFONIA.AICL/Fotosmacau2011#

* Diretor da AICL (Associação Internacional dos Colóquios da Lusofonia) e Presidente da Comissão Executiva dos Colóquios.

NB: O 15º colóquio teve o alto Patrocínio do Instituto Politécnico de Macau NÃO SÓ À COMITIVA OFICIAL COMO AOS RESTANTES ORADORES E SEUS ACOMPANHANTES, BEM COMO OS APOIOS DA CÂMARA MUNICIPAL DA LAGOA (AÇORES), DA PRESIDÊNCIA DO GOVERNO REGIONAL DOS AÇORES E DA SUA DIREÇÃO REGIONAL DAS COMUNIDADES, BEM COMO DOS PATROCINADORES LOCAIS: IIM (INSTITUTO INTERNACIONAL DE MACAU), FUNDAÇÃO MACAU, GABINETE DE APOIO AO SECRETARIADO PERMANENTE DO FÓRUM PARA A COOPERAÇÃO ECONÓMICA E COMERCIAL ENTRE A CHINA E OS PAÍSES DE LINGUA PORTUGUESA, DIREÇÃO DOS SERVIÇOS DE TURISMO DE MACAU, INSTITUTO DE FORMAÇÃO TURÍSTICA DE MACAU, PUBLICAÇÕES ADELIAÇOR (AÇORES).

quinta-feira, 28 de abril de 2011

d´Arte - Conversas na Galeria XXXV


Cerrados - Açores Autor António Tapadinhas
Óleo sobre Tela 100x100cm

O Arquipélago dos Açores é constituído por nove ilhas, situadas em pleno Oceano Atlântico, que dizem ser vestígios da lendária Atlântida. Olhando os contrastes das costas, os rochedos vertiginosos a mergulharem no oceano, as montanhas e os vales, com a sua exuberante vegetação, as lagoas nas crateras de vulcões extintos, os géisers, as nascentes de água quente, tendo ao lado, outra com água gélida, não custa a acreditar na lenda do mítico continente.
Sendo o contraste uma regra, até os campos carinhosamente cultivados, estão divididos em pequenos cerrados feitos com as rochas vulcânicas vitrificadas que a população chama de bagacinas, com o toque de beleza que é a inveja dos continentais: as hortênsias azuis.
Uma estadia no continente e as belas flores vão mudando de cor e passam para um cor-de-rosa choque…
Tem a ver com a acidez ou alcalinidade das terras, dizem os especialistas.
O engraçado é que nós invejamos o azul dos Açores e eles invejam o nosso cor-de-rosa…

terça-feira, 26 de abril de 2011

Jorge de Capadócia

Na outra semana jantei com o meu amigo Jorge. Fomos juntos ao vegetariano. E atirou ele:

"O pessoal come demais. Já reparaste que bastava eliminar a carne e o peixe, ao pequeno almoço e ao jantar, para reduzir para mais de metade o sacrifício animal?"

"E como podia eu deixar de concordar?!"

Passada a ponte pascal reencontro o meu amigo:

" - Olá Jorge, e então?"

" - Permanência no exercício, persistência no serviço, vigilância no silêncio e fé na Vida. A vida não é para adiar."

luis santos

"Jorge sentou praça na cavalaria e eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia..." de Jorge Ben por Caetano Veloso (OUVIR AQUI)

FACES

INFORMAÇÃO



Robertinho chegou atrasado e desalmado, nem respondendo ao reparo da irmã sobre não ter mudado de terno.
Desceu as escadas que davam acesso a um jardim cheio de árvores e sombras frondosas, perfumes e piares de aves, mas não fez o costumeiro galanteio à namorada, assim como não atendeu ao conselho de um dos convivas para que provasse a delícia de lagosta que o Francis aprontara.
A um general reformado que de uma roda de chalaça lhe acenou e atirou um dixote sobre uma fusão partidária, limitou-se a sorrir e a responder-lhe com a mão direita.
-Arapoã. –Exclamou ao chegar junto do outro, simultaneamente agarrando-lhe o braço e levando-o a deslocar-se um pouco, para fora de um círculo gargalhante face a uma anedota a respeito de um deputado qualquer. Chegou-lhe os lábios ao ouvido: -Temos que tirar a grana do económico. Hoje no congresso, me garantiram com tôda á cérrteza que vai rébentár por um desses dias.



Petrópolis, 11 de Agosto de 1995

domingo, 24 de abril de 2011

25 de Abril uma Estação na Via popular / O Povo a acordar é Inverno a passar

Um ar de Abril assome às ruas da nação
Num misto de vozes, gestos e cores, o povo unido
Marcha em filas ao ritmo da canção
Do quartel militar prás casernas do partido



“O povo unido jamais será vencido”…, gritava a cidade ao ritmo da marcha. ” Grândola Vila Morena…” cantava o povo que, por momentos, descobria as cores da vida nos passos da liberdade ao ritmo ordenado da canção. A alegria da união dançava nos corações. Era o Portugal colorido a vibrar.

No campo da pátria cheirava a Abril e as cores do arco-íris deslizavam, despreocupadas, pelas ruas. Era festa, a festa do povo a florir em cravos, rosas e papoilas. Um fluir de cores e vozes a acenar na pátria em flor. Por um momento, se acaba a noite; a esperança acorda; no alfobre do povo, brilha o dia.

O vermelho escuro, do sangue derramado no ultramar, ressurge e corre agora nos cravos das ruas a acenar. A vida pula na praça a cantar. Um misto de vozes e ritmos de paradas e de marchas populares ressoa cavo nos altos das colinas da cidade. É o sentimento de cores e vozes das ruas baixas nos altos a ecoar.

Quem gritava, cantava e acenava, aspirava a tornar-se povo mas o ritmo dos altos altifalantes “revolucionários” só conhecia população a acomodar!

Depressa o entardecer bate à porta do povo. O dia sem noite findou. A diferença voltou! Ao longe, logo se ouvem os clarinetes do toque a recolher às casernas dos partidos. A liberdade fica agora apiada ao ritmo da marcha dos partidos. No arame farpado do pensamento, o povo dividido, canta já desafinado. O dia acabou. É hora de recolher.

Nos andores dos revolucionários de Abril continuam a passar figuras de sorriso redondo a insuflar-se do sorriso e da ária duma população a definhar num gesto sonolento e amarelo. A foicinha da revolução ceifou-lhe as cores. Portugal de farda parda. O povo veste agora a cor do momento.

Os zangados de ontem tornaram-se nos contentes de hoje! À custa de novas zangas, novas opressões.

Mudar de filas, é ordem do dia, é a ordem da revolução! No andor da televisão, só os contentes acenam a sua cor, que não o colorido da nação. Continuam a fita do corta fitas na finta à nação.

O sol de Abril perdeu-se no nevoeiro da estação. A colonização, lá fora, acabou, mas, cá dentro, há muito que começou.


Portugal empardecido, na m- -da
A marcar passo, à direita e à esquerda,
Um povo a alinhar-se, sem contemplação,
No sentido da contra-revolução!

Tu, meu 25 de Abril
Meu filho incógnito
Já ninguém te quer
Tu, 25 de Abril,
Festa da fraternidade
Tu, meu Portugal, por fazer


António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com
www.antonio-justo.eu

sábado, 23 de abril de 2011

ÁRVORES CIDADÃS

DISPERSOS XI / 2011

Há árvores que viram nascer e acompanharam sucessivas gerações e gerações de conterrâneos nossos de qualquer parte.
Foram, são, tão presentes nas nossas vidas (embora por vezes pareçamos não reparar nelas), integram a arquitectura dos espaços que ajudam a organizar e humanizar, que quase lhes poderíamos dar um nome.
Para aquela, Maria, Cristina, Celeste ou Isabel, para aqueloutra Luís, Paulo, Pedro ou Manel. São seres, árvores, que adoptámos como nossos tornando-os membros da família global a que pertencemos.
São as árvores cidadãs e deveriam contar mais, merecer de todos maior atenção e respeito.
Até pela generosidade que as caracteriza e com que nos brindam.

mj
08.março.2011


A música das árvores, foto de lucas rosa (ver aqui)

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Do alto da ladeira da minha infância


Sozinha, seguindo o trajeto das minhas memórias, subi lentamente a ladeira, ainda calçada com as pedras da minha infância. O som das pegadas era o mesmo que as outras gerações haviam ouvido igualmente: cadente e abafado, lembrando que estavam ali para todo o sempre.


Depois de tantos anos de ausência, voltar àquele sitio era como voltar a um tempo passado, agora silencioso, onde as pessoas que ali pela mão me levaram não mais existiam. Era como ver um palco iluminado, porém sem atores, mas que ainda assim me emocionava só de ser visto.


Vez por outra um carro passava, obrigando-me a escolher a calçada estreita, em certos pontos, quase inexistente. O meio-fio, em vala, de cimento, tinha como função drenar as águas que a natureza despejava.


Na subida íngreme, quando o fôlego faltava, parava por uns instantes para respirar normalmente. Mas ao chegar ao alto da ladeira, a visão da paisagem da Horta debruçada sobre a baía, o porto e o imponente Pico à frente, fez todo o esforço valer a pena. Ao redor redescobria o portal do Colégio Santo Antonio, onde aprendi as primeiras letras, a casa do leão, onde vivi a minha infância, a canadinha que hoje é uma estrada, o muro em pedra escura, a rua do Cemitério... Lá em cima da ladeira, no Alto da Boa Vista, nos dias de sol, a visão é deslumbrante. Emergindo do mar, como um gigante negro em forma de montanha, quase sempre coberto com um chapéu de largas abas brancas, rendado pela Madalena... o Pico reina. Céu e mar disputam qual deles tem o azul mais bonito e brilhante. As casas de janelas verdes, caiadas de puro branco, com seus telhados de argila avermelhada, a Torre do Relógio, pontiaguda, solitária no meio de um Jardim, verdes pinheiros gigantes, azuis hortênsias. No mar, a marina plena de embarcações aventureiras, coloridas, tudo me fez sentir tão pequena, tão insignificante, perante tanta beleza. Sentei-me numa mureta que contornava o caminho. E fiquei ali, parada, quieta, cismada, sentindo a brisa do mar, respirando devagar, até que tudo desapareceu de minha cabeça, e eu diluída na natureza, sumi, como se só ela existisse naquele lugar, naquele momento. Voltei à realidade com o barulho que um grupo de jovens turistas fazia ao incursionar pelas estradas da ilha. Despertada, voltei ao Hotel, no centro da cidade. O tempo urgia e ainda não havia arrumado as malas. Na manhã seguinte peguei o avião para casa, do lado de lá do mar oceano, para onde o destino me levou ainda criança um dia.


Fotos: Arquivo pessoal.

Maria Eduarda Fagundes

Uberaba, 04/04/2011

quinta-feira, 21 de abril de 2011

d´Arte - Conversas na Galeria XXXIV


Sem Título 2 Autor António Tapadinhas
Óleo sobre Tela 100x100cm

Para ler com esta música.
Quem já passou por grandes provações sabe que é necessário viver cada momento como se fosse o último. Isso é impossível quando somos muito jovens; essa é uma idade em que somos imortais. Depois de tudo desabar há sempre alguém que já foi feliz - o optimista!
Esta embarcação tem os vestígios das tempestades a que sobreviveu, com as cicatrizes que são o seu testemunho irrefutável. As cores primárias com que está pintada dão-lhe um forte impacto visual, que é reforçado pelas generosas camadas de tinta, aplicadas com espátula.
Decidi não manifestar a minha opinião sobre as criativas sugestões apresentadas, para não influenciar quem quiser dar um título a este quadro.
Ao contrário do que infelizmente acontece na vida real, demasiadas vezes, aqui há uma segunda oportunidade para todos.
Vamos aproveitá-la?! Tristezas não pagam ao FMI!
Carpe Diem!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Dissabor


Se o dissabor

trincar o caminho

espantando os espantalhos


pássaros dos espaços

vagos: voo sem sentido

no rasante

à presa. Desfaço

as malas e recoloco

a roupa na estante


instante ao gosto de fixar

o destino: voo em espaços

universais da dor.


Ciclo


Feito mortal

na forma com que se apresenta

explode vidas



carrega e hospeda

a infinitude



na morte desconsidera

o corpo: entrega à decomposição

a carcaça



e sobrevive em lembranças.



Pedro Du Bois, inéditos

terça-feira, 19 de abril de 2011

FACES

FAVELA BRAVA


“-A bala é minha. Me deixa comer, seu filho da puta.” –Gritou empurrando o outro com a asa esquerda, batendo simultaneamente a palma descalça junto de um enlameado de água suja, com o que uma galinha preta saiu espavorida debaixo de uma ruína de madeira.

No dia em que Dedinhos Moles foi morto pela polícia, a notícia correu célere e, no morro, ninguém lhe chorou a sorte.


“-É melhor assim.”


“-Esse hóme era um doido várridão.”


“-Ele era sanguinolento.”


“-Tu tava aí. Ele passava e não ia cum a tua cára e ele te dava um tiro só porque não ia cum à tua cára.”


“-Esses neguinho aí. Tu tá vendo? Têm a mão aleijada. Sabe porrquê? Os garôto andavam roubando por aí, coisa pequeninina, sem importância, mas como o cára não queria que incomodassem a sua bôca di fumo, aí ele baleou eles, como castigo e exemplo pár’ós outro.”


“-O qui é qui você pensa qui é um cára qui corta as orelha e à língua de um sujeito e as espeta num pau, bem no meio da favela?”


“-Nem as garôta qu’êli tchinha…”


Ninguém apareceu a reclamar o cadáver de Dedinhos Moles.


“-Beato Salú era diferênte. O cára andava ná rua, no meio das péssôôa. E era amigo dá gárôtáda, dava sempre coisas p’rá êlis. Os minino gostavam dêli. E era bom p’rás péssôa sim senhor. Págáva rêmédio, empréstáva dinhéro, coisas assim… Às veze, traziam camião cheio di comida e davam p’ró povo ái. Às pessôa até qui respeitavam êli. Más á polícia deu mão nêli. Foi um outro cára qui o dénunciou. O cára qui tinha ficado com á bôca di fumo áo Beato Salú quando êli têvi di fugir p’rá Báhia. Os policiau cercaram a casa, o Beato résistiu e êlis mátaram êli. Coitado do Beato Salú.”


Parati, 13 de Agosto de 1995

domingo, 17 de abril de 2011

A DÍVIDA INTERNA DO NOSSO ABASTARDAMENTO

Vendas Novas, 4 de Abril de 2011

SEMPRE tive – e de certo que o defeito é meu – dificuldade em entender como podem dizer-se coisas tão absurdas como «pode mudar-se de carro, de mulher e até de nacionalidade, mas não se muda de clube»

Ora, Mário Soares costuma dizer que só os burros é que não mudam. Será por isso que não se muda de clube?

Os craques futebolísticos, que de burro têm pouco, quando chegam da América do Sul, dizem sempre ser do clube que os contrata desde pequeninos e partem invariavelmente para as europas mais bem pagantes logo que surgem as ridentes oportunidades de acréscimos de euros. «Yo non soy tonto», dizem eles então. E dizem bem. Mal, ficam os fiéis na esclerose que os toma (parece que sem cura, pelo que afirmam).

Numa campanha eleitoral de um certo clube – chamemos-lhe de Miau – dizia o candidato que se tornaria presidente: «sabem como vivemos lá em casa o nosso Miau?» Depois de uns segundos de suspense concluiu: «como uma seita». Ora aí está!

Uma figura pública foi ainda mais longe, declarando: «nunca tive por nenhum dos meus maridos o amor que tenho pelo Miau».

O fenómeno clubístico em Portugal (e também nos outros países que sofreram ditaduras prolongadas) é, no mínimo, esquizóide; não se gosta do clube da terra, gosta-se do clube que tenha características imperiais, num desejo doentio de que todos os outros sejam exterminados. Sequelas, sequelas...

Quando, no princípio dos anos oitenta, Desmond Morris, o celebrado autor de «O Macaco Nu», publicou «A Tribo do Futebol», a inocência que ainda nos restava não nos permitiu sequer um sorriso benevolente, pois há muito, especialmente nos meios «do contra», se criticava a coisa. No tempo da outra senhora versejava-se: «Fátima, Fados e Bola são a única distracção dum povo que pede esmola».

Entretanto, o Fado aperaltou-se, despiu-se de desgraças, saiu das tabernas e atirou-se ao mundo com vontade de crescer e amealhar; Fátima esmoreceu e toda a religiosidade e sofrimento se transferiram para o fundamentalismo das tribos aguerridas que se esgatanham e sangram nos ofícios religiosos das suas catedrais ruidosas e assustadoras, instigadas pelos inquisidores e sacerdotes de serviço.

Quando vejo os guerreiros ululantes destas tribos de primitivos actuais com as suas achas de guerra e os seus slogans injuriosos, todo eu me arrepio.

Em termos de ódio irredutível à diferença e de desejo incontido de anular o outro, é mais compreensível – embora igualmente inaceitável – o da Al-Qaeda do que aquele que é exprimido pelas tribos cavernícolas dessa coisa a que chamam desporto-rei, mas que de desporto pouco tem e, de realeza, só as coroas que embolsam craques, penduras e aves de agoiro.

E tivemos de pagar helicópteros e batalhões armados até aos dentes, para evitar que a Líbia se instalasse em Lisboa!

A dívida externa sobe, o deficit das contas públicas apodrece, mas as tribos são indiferentes a tais somenos: espumam de raiva e arrogância entre berros, ameaças e agressões, permitindo-se algumas das suas tropas de choque – oficialmente diz-se claques! – ostentar símbolos e cores nazistas,

Entre os berros – e quem não berra não é dos nossos – o palavrão democratizou-se de tal forma que quem com olhos de etólogo olhasse de fora diria que finalmente se atingira a igualitarização de doutores, engenheiros e trolhas como se toda a vida se desenrolasse numa imensa taberna.


Abdul Cadre

Entre-Existir Project (ou, A ARTE DE VIVER)

Tanto quanto nos parece, somos nascidos no espaço certo, no tempo certo, que por boas razões tantas vezes nos unimos, constituindo uma frente comum única, sobretudo artística, e que logo é também religiosa, cultural e política, com uma potencial extraordinária leveza...

O que de mais interessante poderá advir no entre-existindo é o potenciar do desenvolvimento artístico, do processo criativo, que se ajuste a necessidades particulares em estudos gerais.

Há liberdade e libertação,
há ocupação criativa em vez de trabalhos forçados,
desfrute comunitário no lugar de serviço político fracionário,
construção de um ideal em troca de insegurança individual,
e, em vez, de só televisão a cores, iluminação das vias interiores.
Mas ainda há mais...

Será que se pode dar "um passo em frente..." ENTRE tanta gente?

Pela arte de viver, em paz, apostando numa evolução sensata, não nos esquecendo nunca da criança que em nós nasceu, como representação simbólica daquilo que nos é mais Sagrado.

luis santos

sábado, 16 de abril de 2011

Plantas aquáticas vitórias-régias

plantas aquáticas vitórias-régias, no Parque Ecológico Janauary, Manaus, Amazónia, Brasil. Fotos de Hidemberg Alves da Frota

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Interligação de Universos (14)

……………. fala-me sobre a sorte e azar.

- Os Universos dançam e comungam numa simultaneidade que não permitem o uso de terminologias não adequadas para o padrão vibratório em que se encontram. O vosso vocabulário utiliza palavras compatíveis com a dimensão em que vos encontrais e que, usando a vossa linguagem verbal se pode chamar primária. Essas duas palavras sorte e azar revelam a ignorância em que vos encontrais neste momento. Como pode haver sorte e azar numa dança energética em que tudo é resultado de causa e efeito? Toda a acção desencadeia no mesmo nível uma reacção, não previsível no espaço e no tempo. Chegastes a este belo planeta com todo o potencial para a Cocriação, mas ao focalizardes as vossas acções no mundo externo baseadas no vosso ego contribuístes para o aparecimento da dor e do sofrimento. Isolando-vos criaste a vossa verdade relativa e o surgimento de sons verbais de baixa densidade como a sorte e o azar. Coarctastes-vos da vossa Totalidade. Cada um de vós tem dentro de si um espaço aberto, um Caminho que vos conduzirá à Criatividade, fazendo despertar os potenciais energéticos que eliminarão os vossos limites. Entrareis então numa sintonia vibratória multidimensional em que até a própria comunicação verbal será um marco ultrapassado.

António Alfacinha

quinta-feira, 14 de abril de 2011

d´Arte - Conversas na Galeria XXXIII


Sem Título I Autor António Tapadinhas
Óleo sobre Tela 100x100cm

O Nome das Coisas
Cada vez dou mais importância ao título das minhas obras. Nesta série que tenho estado a mostrar, como nunca foram formalmente expostas, ainda não pensei seriamente nos títulos que lhes devia dar. Se um nome influencia a vida duma pessoa, acho que também terá a sua importância para uma obra de arte.
As duas peças que irei apresentar, ainda não têm título. São pormenores de embarcações no estaleiro, com sinais de corrosão, que estão a ser preparadas para calafetagem e pintura.
Vamos experimentar? Qual o título adequado para esta?
Aguardo sugestões...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

TERRITÓRIOS DE SOLIDÃO

É o mundo a fechar-se
no centro de um mim
emparedando a alma
no medo de se ser assaltado.

Marcar por traços a passagem dos dias
sem curiosidade de espreitar por cima do muro.
É uma luz que se apaga ao começo da noite,
distância
que não confronta nem sequer se contesta.

Solidão,
é escutar o som do cabelo a crescer
até cobrir o corpo todo
e ter em cada mão um copo para se brindar ao que seja.

Solidão,
é um olhar que já não procura
num tempo sem emoção
e quando já sem chama e apagada
a lenha se torna carvão.

Solidão …
(podemos começar outra vez)
solidão é,
sob um céu rutilante de estrelas
sentir um adeus
de velas no mar.


mj
03 Abril, 2011

(escrito a propósito de um “trabalho de casa” da Comunidade de Leitores da Escola Aberta Agostinho da Silva, sobre o tema da solidão, aquando da leitura e discussão colectiva da obra “Cem Anos de Solidão” de Gabriel Garcia Marquez.)

terça-feira, 12 de abril de 2011

FACES

HOMEM DE LAMPIÃO

Meu avô foi Meia Leca, braço direito de Lampião, quem o chamou desse jeito e a quem foi fiel até à hora da morte.

Cumpriu dezanove anos de cadeia e quando saiu, sem qualquer hipótese de reatar o cangaço, arranjou trabalho como funcionário público numa cidadezinha de Pernambuco e aí veio a retirar-se, velho e cansado, com o sonho de um dia poder possuir um fusquinha para ir à pesca e dar umas passeatas com a sua terceira mulher.


Os cangaceiros lutavam contra as injustiças dos donos da terra e matavam e roubavam para castigarem os ricos e darem aos pobres.


Eu não, eu não quero saber dessas questões. Eu roubo para viver e porque não estou para ser escravo de ninguém. A certas horas do dia, pelos lados da ilha de Santo António, há sempre algum relógio ou outras coisas prontas a escorregarem para as minhas mãos.


Às vezes até parece que fico rico e sempre que isso acontece, tenho namoradas.


Há outros como eu e uma vez por outra fazemos assaltos em bando. Mas eu prefiro andar só, ainda é cedo para ter uma quadrilha e aqui no Recife ninguém é amigo.


Eu não quero ser como o meu avô Zeferino, o Meia Leca que foi braço direito de Lampião e ali vai morrendo, reduzido a pescarias e ao sonho de ter um fusca.


Eu quero mais e quero-o para mim e não me interessa que por causa disso não chegue tão longe como o velho. Afinal que valor pode ter esta vida? Eu não quero saber dessas coisas de justiça e injustiça. Eu roubo aos ricos porque são eles que têm valores e dinheiro e eu não. E se eu mato algum é porque isso me dá raiva.

Recife, 6 de Agosto de 1995

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Corpo (314)

contra a pedra quente
o lugar do corpo junto
ao rio no meio da floresta
é aí que procuro o mel

no campo tudo faço
para te encontrar flor
silvestre e difícil
como quem olha uma ave

escrevo assim o
primeiro tronco
entre os cones da lua

josegil

domingo, 10 de abril de 2011

Amo a liberdade, por isso deixo livre tudo que tenho... Se voltar é porque conquistei, se não, é porque nunca possuí!

Eduardo Espírito Santo

Vidas Lusófonas

O escritor
MANUEL DA FONSECA http://www.vidaslusofonas.pt/manuelfonseca.htm
diz a JOÃO MACHADO:
- A vida é o mais imaginoso dos autores...

Depois instala-se em VIDAS LUSÓFONAS http://www.vidaslusofonas.pt/
onde já moram 138.

Naquela casa tudo está a acontecer,
cada vida / cada conto.
Por isso já recebeu
mais de 23,1 milhões de visitas.

sábado, 9 de abril de 2011

O Tráfico de Seres Humanos é um problema à escala mundial

O tráfico de seres humanos não é somente um problema brasileiro, mas um fenômeno mundial que tem sido vivenciado por milhões de pessoas de diferentes lugares do mundo, muitos deles originários de países de língua portuguesa.

Essas pessoas ficam submetidas a trabalhos forçados para gerar lucros aos grupos de exploradores.

No Brasil o tráfico de seres humanos se encontra como a terceira maior fonte de renda gerada pelo tráfico. Perdendo somente para o tráfico de armas e drogas.

Dentre as principais vítimas, estão jovens em situação de grande vulnerabilidade, marcado por diversos problemas sociais, como falta de acesso a educação e condições dignas de sobrevivência. Muitos deles são aliciados, seduzidos pela possibilidade de melhorar as suas condições de vida.

Tráfico de seres humanos é o ato de transferir, alojar, raptar ou coagir através da força pessoas de uma localidade para outra podendo ser dentro ou fora do país, de maneira legal ou ilegal, voluntariamente ou não.A finalidade é para exploração do trabalho seja a serviço de redes internacionais de exploração sexual, da mão-de-obra escrava ou remoção de órgãos.

O medo que as vítimas sentem de fugir ou de denunciar o que está acontecendo são as principais razões para que o número total destas vítimas ainda seja desconhecido.

Este crime pode tomar diferentes formas, em combinações secretas com outros procedimentos ilegais: exploração infanto-juvenil, conflitos civis, trabalho forçado, pedofilia, migração ilegal e prostituição sob coerção. Especialistas chamam este crime de escravidão contemporânea.

O tráfico de seres humanos afecta todas as regiões do mundo e gera dezenas de biliões de dólares em lucros para os criminosos. É muito difícil avaliar a real dimensão deste crime, pois tem lugar clandestinamente e muitas vezes não chega a ser identificado como tal.

Quais são os países mais afectados?

O tráfico humano afecta todos os países do mundo, que podem actuar como países de origem, de trânsito, de destino ou mesmo como uma combinação entre eles. O tráfico ocorre muitas vezes entre países menos desenvolvidos e países mais desenvolvidos.
Em Portugal, desde 2008, já se identificaram vítimas provenientes dos seguintes países de origem:
Brasil
Moçambique
Argélia
Nigéria
Marrocos
Ucrânia
Roménia
Bulgária
Colômbia
Croácia
Itália

Países de trânsito:
Áustria
Itália
Espanha
França

Não feches os olhos a esta realidade! Tu podes ter um papel ativo. Denuncia.

Para saberes mais sobre tráfico de seres humanos em diferentes países e regiões do mundo,
• Consulta o Relatório Global da UNODC sobre Tráfico de Pessoas para conhecer a situação mundial
• Consulta o Relatório Anual sobre Tráfico de Seres Humanos 2009 para conhecer a situação nacional
. Para mais informações, por favor visita o site do Observatório do Tráfico de Seres Humanos.
. Conhece ainda os locais onde as vítimas poderão estar a ser exploradas e os países mais afetados.

Vê as ligações sugeridas para consulta no http://www.portalseguranca.gov.pt/index.php?option=com_content&view=section&layout=categorymaiblog&id=37&idh=350&Itemid=291

Consulta também as informações no http://feministactual.wordpress.com/category/trafico-humano/
http://www.onu-brasil.org.br/view_news.php?id=508
http://www.observatoriodeseguranca.org/relatorios/trafico
http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJ0A9BD4F5ITEMID894216FA4EA2427D987142B31FF7815CPTBRNN.htm

Denuncia!

Margarida Castro 04.04.11
Pela Democracia Participativa em língua portuguesa

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Exporádico 2005

Lembram-se do Exporádico

(as minhas desculpas a quem está alheio a este evento que decorreu em Alhos Vedros)

Trata-se de uma iniciativa que decorreu pela 1ª vez em 1998 e continuou esporadicamente nos anos de 1999, 2001 e 2005 com o intuito de promover a criação artística, contribuindo para uma postura diferente perante as várias áreas de criação, exibindo obras de escultuta, pintura, instalação, artes de palco até à própria caracterização do espaço e ambientes musicais.

Na última exposição estiveram patentes 200 obras de 50 artistas, dentro das áreas de pintura, escultura, fotografia e instalação, assim como várias companhias de teatro, um monólogo, dança contemporânea e música jazz e espiritual.

FOTO -TÖRY-espectáculo multidisciplinar (pintura, poesia e música) retirado do Livro de Poesia de José Beiramar

Correpé - Foto: Carlos Batista

quinta-feira, 7 de abril de 2011

d´Arte - Conversas na Galeria


Gonzos Autor António Tapadinhas
Óleo sobre Tela 100x100cm

Da viagem que descrevi ao cemitério, melhor, ao talho dos navios, porque lá se esquartejam os seus cadáveres, sobraram mais algumas fotografias que transformei em telas, sem grande êxito em termos de reconhecimento da sua qualidade artística ou outra, por exemplo, comercial: não vendi nenhuma! O interessante nesta, quando a estava a pintar, é que o sol entrou pela janela do meu estúdio, projectando a sombra dos caixilhos e fazendo clarões que me indignaram, ao princípio. Olhando melhor, gostei do que estava a ver e pintei os reflexos da minha janela nos pedaços de ferro corroído daquele navio. Não sei quem disse aquela coisa horrível de “se não puderes vencer os teus inimigos, junta-te a eles”, mas foi o que eu fiz! Só que, neste caso, o meu inimigo era o Sol!
Este inimigo, junto-o aos meus melhores amigos!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

D. QUIXOTE

Correpé

D. Quixote

Técnica mista s/papel camisolita 30x42cm
clique em cima para ampliar

Manifesto das escritoras e escritores em língua galega

Asociación de escritores en lingua galega

"pelo direito de viver e sonhar o futuro em galego"

Ouça AQUI

terça-feira, 5 de abril de 2011

FACES

A EMPREGADA DOMÉSTICA

-É irmã do Zé, daquele empregado que fomos buscar ontem à noite. –Disse ele de imediato, enquanto ziguezagueava veloz entre a corrida automobilística que é o trânsito no Rio de Janeiro. –O meu braço direito. Interrompeu-se para fazer uma ultrapassagem interior na curva que introduz a marginal do Leblon. Questão de segundos, nem espaço deu para uma colherada. -Mas a Jussára é minha empregada mas tu não tá vendo nada, cara. Ela não é uma qualquer. A mulher aí escreve e estuda por ela própria. –Olhando-me em velocidade proporcional à do automóvel, como a certificar-se da expressão da minha reacção às suas palavras. Ele mantinha o seu sorriso de rosto franzido que o caracterizava na forma de contactar o vulgo. Continuava disposto a narrar: -Inclusivé, ela escreve peças de teatro e já encenou e apresentou algumas delas. Coisa simples, claro, coisa de clube de bairro, de parróóquia. Mas também já ganhou dinhero com as peças. Ela escreve a peça, arranja os actores e encena e depois ela vende às escolas. Vai junto da directoria, faz um trato que nem precisa ser assim muito formal nem nada e aí ela apresenta a peça e cobra os bilhetes. Paga uma taxa à escola e aos actores e o resto fica com ele. Ela é muito esperta. –Voltando a encarar-me num instante de recta desobstruída. –Até já teve de representár. Um dia uma actriz teve um problema, não pôde aparecer e ela a substituiu na hora. -E conseguiu? –Intrometeu-se a Luísa, debruçada entre os dois bancos da frente. -Claro que conseguiu. E foi bem na hora. Mas é a cara que escreve os textos. Ela sabe aquilo que os actores têm que dizer. E como é ela que encena também sabe como eles têm que dizer. Aí ela tomou o lugar da outra e a coisa deu certo. Estava prolífico e parecia adivinhar-me os pensamentos. -Eles são quatro irmãos. O Zé e mais três garotas. As outras são bonitinhas, a Jussára até que nem tanto. Mas é por causa dos problemas que ela tem com a saúde. Por isso ela tem a pele e os dentes estragados e é magrinha. Mas até que nem vivem assim muito mal não. Para o padrão dos pobres brasileiros, especialmente aqui no Rio de Janeiro… Mas eles são todos muito nervosos e têm aqueles tiques. Você reparou? Aqueles gestos que o Zé faz com o queixo. Eles são todos assim. E são gagos. A Jussára, por exemplo, tem que andar medicamentada. Eu é que pago. Se não ela não tinha como se tratár e podia ter um atáque de epilepsia. Mas é boa moça. É boa gente. Eu pago um ordenadão de mil e duzentos reais ao Zé, mas eles sabem dar valor. Aquilo é gente que veio da favela, meu irmão. Eles agora moram ali em Jacarepagua mas nem sempre foi assim. Quando vieram par’o Rio foram viver bem pertinho onde eu tenho a minha empresa no mercado. Foram para casa de um tio materno, na favela do môrro do alemão. Vinham fugidos do padrasto. O pai morreu quando eles eram pequenos e aí a mãe arrumou um outro cara. Mas o homem batia-lhes e se a mãe os defendia ela também levava. O cara andava sempre em cima das mocitas e chegou até a tentar estrupár todas três. E sabe o qu’é qu’êles fizeram? Os garotos, o Zé tinha aí os seus quinze anos e as irmãs são mais novas, eles contrataram um sujeito p’rá matar ele. Só que o cara deu um tiro nele mas o bicho estava com sorte e não morreu. Foi parar ao hospital mas salvou-se. E os garotos tiveram que dizer à mãe e fugiram todos par’ó Rio de Janeiro. O facto de não ser hora de ponta permitia conciliar a história com a condução de um veículo rápido. Passávamos o aterro do Flamengo quando ele concluiu: -Mas é por isso que a Jussára tem muitos problemas com os nervos e com a saúde e é por isso que ela não consegue outros empregos melhores. Ela às vezes pega um trote e está uns dias sem trabalhar e aí ela perde o emprego. Não consegue segurá-lo. Mas ela não é parva não.

Rio de Janeiro, 10 de Agosto de 1995

segunda-feira, 4 de abril de 2011

ENTRE

Boa acção
Revelação:
Canas da Índia, bambú
plantadas aqui, de lá
para lá da linguagem
e das letras
sem tempo, quase sem vida
nem nada.
Um silêncio cheio
um instante que se acendeu

Não faz sentido a ausência
Não vale a pena o cansaço


Março/Abril.2011
Luis Santos

domingo, 3 de abril de 2011

Dispersos - VIII / 2011

Transcendência,
Imanência,
Recepção,
Recepção,
Imanência,
Transcendência.

Que caminho tão longo
Mas termina já ali
A distância exacta que decorre
Donde vim, até aqui.

MJ
07.março.2011


Árvores de Luz, Foto de Lucas Rosa (in, A terra das mil árvores e outros tantos poemas)

sábado, 2 de abril de 2011

Chega!

Fernanda Leite Bião(*)

Chega de escravidão velada
Com seu sorriso perverso
Conquistam-nos os passos e laços

Chega de vida sem vida!
Olhar cansado e parado
Vidrado somente na mídia

Chega de corre-corre sem riso
Abre e fecha de livros
Sem argumentos e sentidos

Clamo da vida sossego!
Para que eu me entenda direito
Sem medo da friagem dos tempos

Calor que corre nas veias!
Quero respirar de fato
E sentir a brisa dos ventos.
Chega!


(*)Psicóloga e Orientadora Profissional. Bacharela em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Psicóloga da Bem Viver Psicólogos Associados. Psicóloga voluntária do Núcleo de Apoio Psicológico aos Vigilantes Vítimas de Violência no Trabalho (NAPSI), vinculado ao Sindicato dos Vigilantes de Minas Gerais (SEESVEMG). Professora de Psicologia do Centro Técnico Bom Pastor. E-mail: fernandabiao@hotmail.com.