quinta-feira, 30 de junho de 2011

d´Arte - Conversas na Galeria XLIV


Castelo de Palmela (em construção)

III O primeiro objectivo desta sessão foi fazer a cobertura completa da tela com a tinta, duma maneira espontânea, mas controlada. O casario do lado esquerdo foi tratado para salientar os seus volumes, com as suas cores dominantes. As casas dispersas já ficaram integradas na paisagem, como pequenos marcos que conduzem o olhar.
Dediquei especial atenção ao maciço, logo abaixo da estrutura que suporta o castelo, utilizando o mesmo pincel e cores para dar pequenos retoques, com a finalidade de manter a harmonia entre os planos. Para as sombras juntei um pouco de azul ultramarino, enquanto para as partes luminosas misturei o Azo Yellow Deep, que já tinha utilizado para iluminar as casas.
Agora que a estrutura está pronta e unificada com as suas cores de base, parece-me que a tela está pronta para receber as suas cores finais.
E de repente aconteceu... Quase naturalmente, comecei a notar que o perfil do lado direito do Castelo é igual ao da montanha de Sainte-Victoire, aquela suave elevação nos arredores de Aix, que se tornou uma obsessão para Cézanne (e que eu vi, por acaso, quando seguia uma etapa da volta à França), nos seus dez últimos anos de vida. Pintou a montanha em trinta óleos e quarenta e cinco aguarelas: se isto não foi uma obsessão, não sei o que será... Bendita ideia fixa! Com esta fixação criou quadros duma beleza insuperável e lançou as bases da pintura moderna. Para um provinciano de carácter brusco e desconfiado, foi obra! Mas, deixemos o panteão dos imortais e voltemos à terra!
No diálogo dos verdes com os ocres e Burnt Sienna (o tom avermelhado da terra), que estavam já secos na tela, começaram a surgir-me as cores de Cézanne. Cada pedaço da tela, estava tecida com a cor vibrante do ocre amarelo, a contrastar com um verde, ora mais sombrio e possante, ora mais claro e luminoso. O movimento do céu continua descendo pelas escarpas, dissolve-se na luz das árvores, das pedras, da terra...
Aqueles azuis e magentas do canto inferior direito da tela, começaram a ganhar vida própria. Em princípio seriam para ser dissolvidos na terra, simples sombras de árvores que só tinham existência na minha imaginação...
Estou a pensar que não vou ter coragem de os assassinar: parece-me que ganharam o direito de viver...
Os meus amigos, o que acham?
Amanhã, terei de decidir da sua vida ou da sua morte! Já repararam, na força que tem um pintor?

quarta-feira, 29 de junho de 2011

...Tudo isto é Fado

SUFRÁGIOS DE OCASIÃO

QUANDO o marçano estava de abalada, dizia-lhe o Evaristo, seu patrão: «’pere aí, não vai nada, vai é casar com a minha filha, q’é p’r’os outros não se ficarem a rir».

Eis o velho estilo, eis o grande estilo, que esta é a nossa mais empedernida maneira de ser. Não íamos deixar de fora a Política. Ou íamos?

Em plena noite de eleições, lá estavam alguns comentadores encartados a dizer um tanto a medo que Passos Coelho ganhara só um bocadinho, porque no mais tinha sido o Sócrates a perder. Concordo. Bem dizia a Dr.ª Ferreira Leite: quero lá saber quem é que vai ser o próximo primeiro-ministro, o que eu quero é correr com o Sócrates. Este, como toda a gente sabe, secou os desertos, matou o Menino Jesus e levou à ruína a Islândia, a Irlanda, a Grécia, a Espanha, a Itália, a Bélgica e outros que adiante se verão.

Com o que eu não concordo é com os 38,63% de votos naquele que leva a taça, pois que na verdade teve apenas — dos eleitores inscritos — 22,75%. O resto, é má aritmética. Dito de outro modo, só um em cada cinco portugueses é que estava cheiinho de raiva contra o Sócrates; os outros, ou tinham uma raiva pequenina ou gostavam mesmo do homem.

Mas isto tudo, afinal, não interessa nada. O que interessa é que o ponto central da questão é este: era preciso votar em Passos Coelho para o Sócrates não se ficar a rir. De qualquer forma, toda a gente sabe (e quem não sabe suspeita) que tanto faz este como aquele — que nada mandam e apenas obedecem — para que a troikitada nos doa a valer. A troika não pode falhar, tem de dar-nos forte e feio.

Os portugueses bem sabem — não tenho bem a certeza se posso falar em nome dos portugueses — que qualquer aplicabilidade executiva que venha se diferencia apenas como naquele assalto em que o bandido perguntava à senhora a quem ia roubar os brincos: «quer com dor ou sem dor». Como sabem, com dor, vai um pedaço da orelha atrás.

Entretanto — e eu vou aproveitar a promoção — o Belmiro de Azevedo, apoiante interessado e interesseiro de Passos Coelho, para combater a dívida externa, lança a sua campanha de Verão do «wortem» sempre: «compre tudo a um euro por dia, sem juros. Aí, os chineses desatam a rir às gargalhadas, mas mais ri ainda o Pinto Balsemão, na perspectiva de finalmente se acabar com a RTP para que as receitas da publicidade, essa gordura perversa do estado, reverta para quem merece. Tão contente anda e tão atarefado fica a fazer contas aos ganhos esperados que nem tempo teve para ir à reunião deste ano dos bons rapazes do Bilderberg. A fazer fé no Correio da Manhã de 10 do corrente, mandou como seu representante junto daquela prestimosa instituição o conselheiro económico do Dr. Passos Coelho, o Dr. Nogueira Leite

Ai, ai, a nós só nos resta seguir os conselhos do Sr. Presidente da República e regressar aos campos, à lavoura, ser frugais e exemplares. Não sei se isto vai implicar trabalhar de sol a sol, mas cá por mim espero que chova muito, e como não uso brinco, não espero que me digam: quer com dor ou quer sem dor?

Pelo sim pelo não, vou tratar de vender os anéis.

Abdul Cadre

(in, Jornal do Barreiro, 19/6/2001)

terça-feira, 28 de junho de 2011

poemas


Foto de Lucas Rosa

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Reflexão sobre "press release" da ACICO

Recebi um press release da Associação Nacional Armazenistas, Comerciantes e Importadores de Cereais e Oleaginosas (ACICO) sobre os OGm nas rações animais e fiquei preocupada, muito preocupada principalmente na 2ª página onde se fala de uma boa produção de soja para as próximas colheitas, presumo que seja soja GM pois que outra soja haverá a este nível? E depois de uma Europa deficitária em proteína animal para gado também não augura nada de bom com as importações das Américas e Chinas de cereais GM, mas quando falam na EFSA e no LLP (Low Level Presence) para acabar com a política de tolerância zero, à custa de eventos não autorizados mas em processos de aprovação, aí foi o cúmulo!

Estes são os planos futuros para a indústria de ração animal, estão conscientes disto? Como podemos exigir a rotulagem para produtos de origem animal, cujos animais foram alimentados com rações transgénicas? Isto tem de ser aprovado e posto em prática quanto antes! Andamos todos a ser cobaias... Quero produtos de origem animal rotulados e a tolerância zero mantida a todo o custo! O que podemos fazer nós cidadãos para parar este abuso completo?

Para terminar vou referir dois acontecimentos das 2 últimas semanas. O primeiro o rótulo de uma ração para borregos que encontrei aqui numa quinta próxima (concelho de Odemira), de uma família bem pobre, com uma pequena produção de cabras, ovelhas, galinhas e patos.

"RAÇÕES SIAS - Sociedade Industrial Alentejo e Sado, S. A.
Av. Manuel Joaquim Pereira, 69, Tel. 269 508 530 Fax 269 508 539
7565 - 201 ERMIDAS-SADO

O-500 (Pre-Starter Borregos) Alimento Composto Complementar
para borregos lactantes até 15 dias após o desmame (desmame precoce)

Matérias Primas para Alimentação Animal (%): Pag. Soja (28), Milho (20), Cevada (20), Trigo (10), Bolacha (10), Lactosoro (8), Carb Cálcio (3), Cloreto Sódio (0, ?), ...
Milho e soja - geneticamente modificados."

Ou seja estes cabritos (que era o caso) que são vendidos como "cabritos de leite" (porque são muito jovens e a sua carne é muito branca porque os jovens animais são retirados às mães cabras ainda muito pequenos e não vão pastar com elas, porque senão a carne ficava mais escura e perdia valor comercial, só as vêm de manhã e à noite para mamar durante muito pouco tempo) a restaurantes e supermercados, comem 45% de rações transgénicas e nós consumidores não sabemos nada disto!

Desenganem-se também os apreciadores de porco preto que comem bolota todo o dia, porque também estes são alimentados a rações transgénicas em parte da sua alimentação...

A última descoberta foi esta semana quando fui à Cooperativa do Povo de Relíquias e descobri sacos de rações para frangos, da empresa Rações Zêzere (http://www.racoeszezere.com/) com milho e soja transgénicos, não indicava as quantidades mas eram os dois principais componentes...

Conclusão temos toda a cadeia alimentar de origem animal (ovos, leite e derivados, carne) minada com transgénicos, andamos cegos e resignados ou querem fazer-nos de ignorantes? E qual a nossa responsabilidade em deixar que este estado de coisas avance? Não são os consumidores que têm um grande poder de influenciar o que se produz? Ajamos já e sem demora, com cartas e pedidos, reclamações e sugestões, boicotes a produtos enquanto o modo de produção não mudar, enfim, quando atingiremos a massa crítica para que as coisas mudem?

E quanto à ACICO, alguém está em contacto com eles? Era bom...
Preocupada e muito indignada,

Fátima Teixeira

domingo, 26 de junho de 2011

Para a 40ª Feira do Livro de Alhos Vedros

À
Academia Musical e Recreativa 8 de Janeiro
Aos participantes da Feira do Livro


Aqui se expressam uns enormes PARABÉNS pela organização da quadragésima edição da Feira do Livro de Alhos Vedros.

40 Anos, que número tão belo, que idade tão significativa.

40 Anos que, muito provavelmente, fazem da Feira do Livro de Alhos Vedros, a terceira Feira do Livro mais idónea de todo o país, logo a seguir às de Lisboa e Porto, com organização ininterrupta desde 1971. É obra!

Por isso, esta Feira do Livro não pode deixar de constituir um dos acontecimentos mais valiosos que em muito dignificam as nossas gentes, a nossa terra, a nossa região.

Saliente-se o cuidado com que a Academia tem feito a divulgação do livro, esse bem precioso, meio de troca de saberes e de ampliação de consciências. Porque não é só o livro que importa, é o que lê e a forma como se lê. A necessária literacia que igualmente precisa de se desenvolver.

Por isso, tão importantes são os eventos que vão decorrendo paralelamente à mostra dos livros: as exposições, a música, a dança, o teatro, a poesia, a edição literária.

Por isso, tão importantes as crianças que estão por detrás das bancas, outra das nobres imagens de marca da Feira. Quem senão elas constituem logo à partida a alegria, a luminosidade, a pureza, a brincadeira, a suave cor, que garantem à nossa Feira um sucesso antecipado.

A Feira do Livro de Alhos Vedros tem contribuído de forma exemplar para a identidade cultural e artística da nossa terra, e região, que muito gostamos de ostentar. É também por ela que Alhos Vedros é reconhecidamente considerada como um dos lugares do país em que a dinamização de actividades culturais e artísticas assumem um particular relevo na vida do dia a dia, na atenção que a Vida nos merece, na tentativa de melhoria da qualidade de vida de todos.

Por fim, pedem-nos da Academia para ajudar a fazer uma Feira melhor.

Pensamos que sempre é possível melhorar o que se faz, mesmo quando o que se faz já é de grande valor. Diremos que cuidando um pouco mais de todos os aspetos organizacionais que envolvem a Feira: chamando mais pessoas a colaborar e a dar novas ideias, embelezando mais e mais as bancas dos livros, enriquecendo as Exposições, aumentando a qualidade dos espetáculos de palco.

Duas coisas consideramos urgentes: organizar um concurso literário que distinga anualmente vários escritores durante a Feira; e dar maior visibilidade aos escritores da região que tanta dificuldade têm, por vezes, em mostrar as suas criações.

VIVA A FEIRA DO LIVRO, SEMPRE!!!


Luis Santos


Nota: Testemunho, entre outros, escrito para ser lido nesta edição da Feira a pedido de Leonel Coelho, o organizador-mor. A Feira encerrará no próximo Domingo, 3 de Julho.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

ENCONTROS COM AGOSTINHO

NAMORANDO O AMANHÃ

(2ª. Edição)


I- DE COMO IRÁ SER O MUNDO



1. O MOTE

-Há um problema que poderemos colocar de início e que é o seguinte: qual deverá ser a prática das associações culturais para irem de encontro às necessidades das pessoas, para irem de encontro aos gostos que as pessoas têm, para podermos fazer aquilo que nos dá prazer de fazer? É um problema que hoje se está a pôr, por exemplo, aqui, em Alhos Vedros que tem uma série de colectividades mas que estão a ficar um pouco amorfas em relação às necessidades das próprias pessoas, em relação às necessidades da população. (1)
-E gosto muito que assim seja porque detesto a ideia de que andamos falando uma conferência qualquer, para vir dar às pessoas que podem não estar interessadas no assunto.
Que o interessante é chegar a algum lugar e porem algum problema ou fazerem alguma pergunta e aí como que disparar alguma coisa que dê a conversa.
Porque se não o perigo é de que a pessoa está a pensar num assunto que julga ele que é muito importante e chega a um lugar qualquer em que a coisa não tem importância nenhuma; a importância de outros problemas locais da vida, como ela plenamente for que obrigam a pensar quais seriam as soluções.
E exactamente se põe esse problema do que é verdadeiramente cultura.

2. AFINAL A CULTURA É A NOSSA VIDA

Há muita gente que julga que a cultura é falar francês, dançar bem, ouvir música e ter visitado muitas exposições.
Isso talvez fosse a cultura de outras épocas, mas hoje não. Hoje temos que tomar cultura no sentido geral, mais próximo da vida e bem concreto na vida.
Cultura, no fundo, é qual é a maneira de ser de nós próprios. Exactamente como todos nascemos, nascemos com tais e tais características e o que acontece depois na vida é que ela vai destruindo muitas dessas características e eu costumo dizer, quase todas as pessoas morrem sem nunca terem vivido; viveram uma vida emprestada, viveram a vida dos outros, mas aquela própria, a mensagem que cada um poderia dar diferente da mensagem de qualquer outro?
Assim como nós fisicamente, nos cinco biliões de homens que segundo parece existem no mundo, não há dois iguais por fora, no feitio do nariz ou na cor dos olhos, da mesma maneira não há dois homens iguais por dentro. As pessoas todas são diferentes.
De maneira que a vida certa do mundo inteiro seria que cada um pudesse ter esse espectáculo extraordinário de ver pessoas diferentes à sua volta e não como muitas vezes acontece, sobretudo em pessoas que gostam de mandar nos países, achar que o que importa é tudo ser igual, não haver diferença nenhuma; e quando aparece alguém diferente se ofendem muito, acham que ele está a fugir das regras, está a sair da vida que deve ter.


(continua)


___________

(1) O Dr. Joaquim Raminhos teve a incumbência de introduzir a sessão.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

d´Arte - Conversas na Galeria XLIII


II - O castelo já tomou o protagonismo monumental do quadro. A montanha onde se ergue está com as cores necessárias para que a sensação visual transmitida pela banda dos ocres, conduza naturalmente às cores do céu e ao volume constituído pelo conjunto fortificação e estalagem. Todo o terreno circundante está preparado para receber os verdes que desenham a paisagem.


No primeiro plano, utilizei quantidades generosas de Burnt Sienna, Terrakota e Yellow Ochre, como base para “plantar” a vegetação que povoa os campos tratados. Os pequenos volumes das casas e os caminhos que cortam a paisagem vão servir de guias para conduzir o itinerário do olhar do espectador. Em caso de necessidade, criarei pequenos pontos de interesse com o destaque que será dado aos tufos de plantas.
Começa a afirmar-se uma sequência de tons que constroem a coerência plástica da natureza transformada, mas não atraiçoada.
Tenho resistido à tentação de começar já a aplicar os tons verdes: vou deixá-los para mais tarde, quando toda a tela estiver coberta de cor, para assim poder controlar o resultado final.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Corpo Total 88

(fotografia de ryan mcginley, da série "photographs").

“A lei que me fala e que me leva
a desobedecer-te é outra;
é a lei segundo a qual
toda a vida humana é sagrada”(1)

beijo-te, são de veludo os teus lábios cereja
sobre o mistério da estrela cadente que vai
perder-se no teu colo de uma vida, repouso
no teu rosto num barco sem porto, é onde
a ligeireza do sacerdócio azul eléctrico desta
árvore selvagem que / onde ninguém sabe onde vai
parar a onda vestida que desenha linhas verdes
franciscana, desfolha-me num jeito de não parar
eu também sou do varejar das cerejas dos teus lábios, vem
onde te quero lavar em leite, para eu cheirar
um leve aroma para poder lembrar o corpo da
tua voz, denso como pedras lisas de tanto esfregar

não sou capaz de estar tão perto e tão fora de ti

José Gil

(1) Goethe - divulgação Teatro da Cornucópia - Postal

(http://joseamilcarcapinhagil.blogspot.com)

terça-feira, 21 de junho de 2011

Entre o eu integral e o eu superficial – Uma nova Pedagogia. Problemas nas Relações são Momentos de Desenvolvimento

Uma pessoa, tal como o seu carácter, é mais que a soma dos seus detalhes psicológicos. Ao dizermos ou sentirmos o nosso eu referimo-nos a algo definido como se fosse um produto, algo já acabado e não um processo na realização do ser. O meu eu inclui-me a mim e às minhas circunstâncias. Estas são eu, tu, o outro, o universo e o mistério. A nossa personalidade é formada por um eu profundo integral e por um eu superficial parcial, ou seja um eu luz e um eu treva. O ego é a sombra do eu integral; é como que a sua crusta, a parte opaca da transparência, a sombra duma realidade, mais ou menos oculta, a tudo conectada.

No ego predominam as forças centrípetas enquanto no eu integral reina a harmonia dum universo de forças ordenadas. A relação acontece na tensão entre um eu e um tu para se realizar no nós. No nosso trajecto vivemos a fugir da anonimidade duma massa despersonalizada para através do eu personalizado voltarmos à comunidade dum nós pessoal. É a luta das cores por se diferenciarem do verde da natura para poderem brotar na flor. Somos com e no universo, todo o mundo, a caminho, na procura do “Sol”, num mesmo sistema interligado pelas mesmas leis.

Ao sermos projectados do útero da mãe inicia-se o processo da individuação. No grito original iniciamos uma nova relação com órbitra própria a firmar-se numa nova constelação. Ao ser-nos cortado o cordão umbilical, abandonamos o paraíso na procura de identidade. Começa a marcha a caminho do eu no sentido de realizarmos a ipseidade no todo. Primeiro de gatas, depois amparado e por fim só. Quanto ao desenvolvimento psicológico esse torna-se mais demorado e complicado. Como na natureza nem toda a planta chega a dar flor, o que não torna o seu verde menos esplendoroso. Vale a pena o esforço de ver para lá dele.

O desenvolvimento pressupõe um processo dialéctico exterior numa realidade que ultrapassa a dialéctica (afirmação-contradição, tese-antítese ou a mera síntese). A afirmação da parte contra a parte e deste modo o reagir e a distanciação contra o todo provoca a dor insatisfeita. Doutro modo a fricção do eu no tu seria integrada no desenvolvimento não se cristalizando na dor (culpa, medo). O movimento de separação e aproximação, tal como as ondas e as marés, não são mais que o pulsar do coração com os seus impulsos e pausas, como a alegria e a tristeza, o entusiasmo e a frustração; são momentos duma mesma realidade que nos envolve, define e determina.

A separação que se dá no desenvolvimento cumula na razão, onde o mundo deixa de ser uno como antes (Árvore da sabedoria no paraíso!). Aqui surge o perigo de o intelecto se autonomizar e criar um mundo “ideal” à margem da realidade com forças que não se deixam reduzir a meras leis. Com a caminhada da razão, que agora se acentua, dá-se um processo de diferenciação, de distinção entre um eu e um tu; em função da individuação afirma-se um sujeito contra um objecto, que na realidade, é sujeito numa dinâmica de complementaridade; a dialéctica leva o outro a ser tornado provisoriamente casulo para, assim, o eu se tornar sujeito. O sujeito, ao atingir o seu verdadeiro desenvolvimento, deveria passar a ver o resto da realidade como sujeito e relacionar-se de maneira a reconhecer-lhe tal dignidade (como parte dela/e). (O espírito incarna na matéria e a matéria ganha asas próprias para voar, tal como procura demonstrar o mistério da incarnação e ressurreição e a Trindade realiza). Ao encontrarmo-nos todos num processo de transformação já não tentaremos destruir ou modificar o outro: a minha mudança já provoca a mudança do outro porque a transformação pressupõe relação, relação pessoal mesmo com o mundo inadequadamente considerado “coisa”. Trata-se de superar um pensar unidimensional só com lugar para a parte geométrica da vida, de superar o jogo das escondidas no nicho do intelecto.

Os distúrbios, de que todos sofremos como adultos, provêm dum mundo do pensamento paralelo, criado à margem da realidade orgânica e aos “traumas” que acompanharam o nosso desenvolvimento desde a criança infantil até ao estado de infantil adulto. A princípio agarrados às saias da mãe esperamos dela o amor simbiótico que nos mantinha a ela unidos no seu ventre, o paraíso terreal (muitas vezes a luta posterior não passa duma tentativa por restabelecer o estado simbiótico original: é a luta errada por se satisfazer a “culpa” do “pecado” original). Tal união, porém, não permitiria o desenvolvimento da própria identidade passando, naturalmente, a acentuar-se as forças centrífugas para depois culminarem na ressaca das forças centrípetas (egocêntricas). Segue-se então um caminho de experiências mais ou menos agradáveis, mais ou menos traumáticas que nos levam a andar pelo próprio pé ou a andar agarrados às eternas muletas de situações irreflectidas. A experiência individual cria frustrações e gratificações que mais tarde se podem revelar em sentimento de culpa, em sentimento de inferioridade/superioridade que depois será reafirmado pela vida fora num rescrito comportamental de arrogância ou de timidez. Nesta fase dominam os monólogos interiores e arrazoamentos que não permitem uma descrição adequada da realidade própria nem dos outros. Como não nos encontramos a nós mesmos continuamos a reduzir o outro à qualidade de objecto a ser assimilado ou a ser repelido. Muitos agarram-se desesperadamente ao pescoço da vida na fuga contra o vazio, contra a solidão. Procuram fora o que já se encontra dentro. As muletas das ideias revelam-se depois como poluidoras de paisagens emocionais interiores. É a fase da vida em canteiros de jardim infantil ou no jogo do gato e do rato.

Na infância a harmonia é procurada na mãe enquanto na fase adulta se procura na fusão de dois (polos) sujeitos, na "união conjugal". Aqui encontram-se, a nível psicológico e comportamental, forças contraditórias em ebulição à semelhança do que se dá no desenvolvimento do universo com a sua formação de galáxias e de sistemas como o sistema solar, num jogo de forças que procuram o equilíbrio para depois seguiram o chamamento que pressupõe um novo desequilíbrio; este mantem a ordem viva num sistema de universos a caminho. Egocentrismo (movimento de rotação em torno de si mesmo) e altrocentrismo (movimento de translação em torno do outro) tornam-se condicionantes duma realidade maior. O amor que envolve os dois provoca o movimento aparentemente contraditório. A fixação extrema no ego ou no outro fecha os olhos para a felicidade (equilíbrio), para o amor, fixando-a no amor-próprio, na própria necessidade sem contemplar o sistema. O ego procura então não o outro mas a própria felicidade no outro contradizendo assim a felicidade, que é relação, o momento de equilíbrio (de esquecimento) que já traz em si o momento de desequilíbrio que provoca o desenvolvimento, a vida e não a estagnação. A vida que engloba o outro e a mim a caminho duma maior grandeza. A força centrípeta, o egoísmo exige uma relação de subalternos, quer ter, não quer ser, (ou confunde o ter com o ser) faz de todos seus satélites desprezando a realidade de que também os astros pertencem a estrelas e estas a galáxias, ao serviço duma realização maior. Cada um, tal como o universo, está chamado a seguir um chamamento; encontramo-nos todos a caminho do mistério na realização do amor, que é a energia que mantem todo o ser e todo o universo, unindo o que parece contraditório.

A necessidade do amor infantil (amor necessidade) domina as relações que se tornam por isso insatisfatórias. Cada um, criança traída, acusa no outro, sem saber, a sua mãe que o não acariciou suficientemente ou o considerou apenas seu satélite. Em vez de cada um se assumir aceitando as dores do parto de si mesmo (em processo) deixa-se dominar pelos fantasmas do passado sem reconhecer a realidade das forças próprias e ambientais na sua interdependência e complementaridade. Pior ainda: projecta no outro as próprias deficiências querendo torna-lo a mãe que não teve. Nesta dinâmica, mendigos do amor tornam outros mendigos também. Cada um gira em torno de si mesmo querendo criar os outros à sua imagem e semelhança.

Num processo de desenvolvimento para a maturidade (a nível dos dois) deverá criar-se um espaço para se fazerem as pazes com os “traidores” da infância para que estes não nos atraiçoem no outro. Isto deve ser naturalmente integrado em movimentos consecutivos de ensombramento de si mesmo e de luminosidade do outro e vice-versa; o mesmo se dá de forma inconsciente no ciclo do dia e da noite que pressupõe o reconhecimento da existência dos outros astros na realidade do nós (indivíduos e comunidade). Nesta realidade sentiremos e integraremos em nós não só a desejada acalmia primaveril e veraneia mas também as ventanias outonais que purificarão o nosso ser da folhagem impeditiva da próxima fase de desenvolvimento no sentido do todo.

Na constelação relacional do desenvolvimento também se encontram meteoritos isolados que vivem apenas o sexo à margem do acto criador de interacção. Esta pressupõe amor e este pressupõe a dor, resultada da tensão entre o eu e o outro. A dor é o momento de desequilíbrio que possibilita a evolução. Fugir à dor é negar-se, é negar o outro em si e negar-se a si no outro; não basta procurar, porque o sentido é encontrar-se, encontrar-se como universo a dar à luz. A vida inconsciente, além de viver na fuga e da fuga, luta continuamente com o destino. Falta-lhe a coragem para a felicidade e abdica permanecendo na contradição; esta pode, no máximo, produzir o gozo da fricção mas não a felicidade. Para o egoísta a culpa está nos outros, ele prefere ver a vida passar-lhe ao lado como os vinhateiros atrasados da parábola. Mas também o altruísmo pode ser um egoísmo escondido ou indício dum eu fraco (debilitado). Manter o equilíbrio da balança é a tarefa da vida da pessoa e do universo sempre em movimento.

Eu e tu, os dois somos três a caminho do nós. Eu e tu com o universo numa relação amorosa não dialéctica encontramo-nos num processo de interdependência e afirmação mútua; encontramo-nos todos ao serviço uns dos outros, no seguimento duma força maior: o amor. O momento dialéctico (contradição) é apenas o instante do desequilíbrio num processo maior pendular de desequilíbrio para o equilíbrio, do equilíbrio para o desequilíbrio na realização dum equilíbrio maior. Aqui já não há um com razão e o outro sem ela, agora já não há um perfeito e outro imperfeito, um culpado e o outro inocente. Aqui o intelecto e o coração unem-se para possibilitarem uma visão global integral: a vida toda na própria vida e não uma vida em segunda mão.

Deixa então de haver a autonomia do astro rei e a dependência do satélite para na complementaridade se desenvolver uma nova identidade, a identidade do nós no eu criativo e criador. A felicidade realiza-se em comunidade (Filho pródigo). Somos filhos do amor, fomos feitos de graça para vivermos na graça do amor. Como filhos da terra tornamo-nos no sol da natureza agradecida a abençoar. Resta-nos o agradecimento e a paciência. Somos novos mundos a criar um novo mundo, não podemos parar nem abdicar de nós mesmos nem dos outros.

Para criarmos uma nova maneira de estar no mundo, uma nova maneira de nos relacionarmos nele e com ele teremos de criar uma nova relação amorosa com o outro na realidade do nós numa dinâmica identitária processual do eu-tu-nós: uma relação já não só de diálogo mas de triálogo, à maneira da incarnação e ressurreição numa relação pessoal trinitária na unidade do eu-tu-nós.


António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e pedagogo
antoniocunhajusto@googlemail.com
www.antonio-justo.eu

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A herança islâmica portuguesa

"A presença árabe-muçulmana na Península Ibérica alargou-se por vários séculos e influenciou a civilização portuguesa, no período decisivo em que se definia o seu ser cultural” (Antônio Dias Farinha, 1986)

O povo português assimilou a influência de diversas culturas - romanos, árabes, judeus, visigodos e outras. Vale a pena analisarmos estas heranças para compreendermos a atualidade e o futuro dos povos que conviveram com os portugueses na formação das suas identidades. Foi o que aconteceu por séculos com a presença árabe-muçulmana ma Península Ibérica.

A compreensão desta herança começa pela necessidade de entendermos que a mensagem religiosa do Islão teve como mentor o profeta Maomé, numa transmissão, a partir da escrita e da sua própria interpretação, profundamente basilar à civilização arábico-muçulmana, difundida, ao pormenor, pelos fiéis de Meca, Medina e da região da Arábia Central. A primeira biografia do Profeta é a interminável coleção de importantes tradições, compiladas em Medina por Muhamad Ibne Ishaq. As suas revelações iniciaram-se cerca do século VI da era de Cristo, no vale rochoso de Meca. Um tradicionalista ortodoxo menciona que, ao chegar o momento da Oração, o Profeta, por hábito, saía e dirigia-se para os vales da cidade. A tradição aponta o Anjo Gabriel a anunciar a Maomé que fora escolhido como o enviado de Deus. Alî, filho de Abû Talib, tio do Profeta, fora o primeiro homem de que há notícia a acreditar no enviado do Senhor, rezando com ele e aceitando a sua mensagem.

Quando Maomé faleceu, Árabes, Muçulmanos e Persas, de crença ecumênica e de espírito missionário, disseminaram-se por vastas áreas habitadas, distintas na sua cultura, civilizações herdeiras da cultura clássica, pela qual os islâmicos se deixaram também influenciar. A mutação da capital político-religiosa, primeiro em Medina, depois direcionada a Damasco e ainda a Bagdade, ao longo de dinastias omíadas e abássidas, provoca uma perda da referência de cultura dos primitivos centros islâmicos e de matriz do Islam clássico. Não obstante, a civilização islâmica não deixa de ter todo um conjunto de saberes único e genuíno.

A mentalidade religiosa muçulmana tem um caráter universalista, sem perder a referência às doutrinas de Maomé, valorizando o modelo da Umma, do Islão, da comunidade de crentes, como a organizara e dirigira o Profeta nas cidades de Meca e Medina.

A propósito, escreve Antônio Dias Farinha: o quadro mental do muçulmano forma-se a partir do ensino do Livro Sagrado aos jovens, desde a infância, e da obediência aos mandamentos e deveres religiosos codificados na Sharîà, ou Lei islâmica, aplicada pelos qâdis e respeitada pelos chefes políticos”.(1985)

Na sociedade muçulmana observa-se que os Árabes fixaram-se nas cidades, reunidos em bairros distintos, bairros esses nomeados pelos nomes de cada tribo ou família. Além da própria sociedade islâmica provocar esta antítese, as chefias políticas também refletiam esta oposição cidade/campo.

A arte muçulmana encerra em si um conjunto de manifestações artísticas, correspondentes a diferentes graus de evolução da sua cultura, numa civilização que se expandiu por um vasto território, tendo sido o seu factor de unidade a religião. Desta feita, a arte islâmica em Portugal corresponde a um dado momento da evolução civilizacional muçulmana, interagindo com um povo, cuja cultura era totalmente distinta e, principalmente, atendamos, no setor religioso que comandava a vida de ambos os povos: os Árabes e os Portugueses. Este fato é deveras compreensível, até porque os Muçulmanos entraram no nosso território, com o objetivo de invadi-lo e usurpá-lo aos Visigodos (710-716). Apesar da conflitualidade, a arte foi, de certa maneira, bem aceite e facilmente assimilada pelos moçárabes, deixando os seus vestígios e influências. Como se esperava, a arquitetura (religiosa) islâmica, com a “Reconquista”, foi, em grande parte, cristianizada, destruída e profanada, num impulso vingador contra aqueles que o Islão tinha como infiéis.

O fenômeno cultural islâmico caracteriza-se pela sua assimilação, criação e difusão de determinadas formas artísticas. No campo decorativo, basta atendermos à lindíssima escrita árabe, cujos textos originais eram decalcados na íntegra ou por partes nas paredes, pintadas ou ornamentadas com relevos belíssimos. Tanto bastava para a decoração. Ou ainda com azulejos reproduzindo partes de textos ou com motivos geométricos de belíssimas cores

Um dos mais importantes contributos dos Muçulmanos foi o surgimento de um novo urbanismo e uma outra arquitectura trazidos para a Península Hispânica e, no nosso caso específico, sobretudo para o Centro e Sul.

Entre as cidades portuguesas islamizadas e que ainda, após século sobre séculos, são capazes de revelar alguns destes elementos aqui trazidos a lume – o seu castelo, materiais de construção, solidez militar e decoração -, contam-se Alcácer do Sal, Évora, Lisboa, Mértola, Santarém, Sesimbra, Óbidos, Palmela, Silves e Sintra, como as mais sintomáticas. Atendamos às suas muralhas e aos espaços da cidade.

Esta civilização caraterística do Sul da Europa e do Norte de África, nas zonas periféricas, teve uma extrema relevância na época. De uma importância no alargamento do saber, pelas tradições islâmicas - que não podemos considerar mais fechadas na sua evolução e áreas do que as cristãs, proibidas de serem explicadas e veiculadas para o Exterior, segundo regras rígidas da Igreja Católica -, temos o caso de Toledo, um brilhante centro cultural e intelectual, retirando-se ensinamentos no ensino do quadrivium, pondo em destaque a Álgebra e a Medicina, entre outras áreas do saber.

Ao nível da tipologia da cidade, a urbe ibérica recebeu influências diretas da tipologia urbana istâmica.

Ao nível linguístico, o contributo revelou-se interessante, na toponímia, nos vocábulos islamizados e em novos substantivos introduzidos no nosso léxico. Nos mais variados setores, a influência islâmica infiltrou-se, até na própria culinária. Contudo, alguns aspectos desta aculturação foram apagados por vários vectores, entre eles o militar e cultural tradicional, obra da “Reconquista” que fora, naturalmente a grande causadora da destruição da arquitetura religiosa islâmica.

Margarida Castro
19.06.11

Adaptado do estudo “Portugal e o Islão na Idade Média”, por João da Silva Sousa, in http://www.triplov.com/letras/Joao_Sousa/islao/index.htm

domingo, 19 de junho de 2011

Índia Antiga - Apontamentos

A Índia conheceu várias civilizações. Na Índia encontramos várias cosmogonias.

A Civilização do vale do Indo, a primeira grande civilização que surge na Índia à 6 mil anos atrás, situou-se na zona do NW da Índia e Paquistão. Atingiu o seu apogeu 2.500 anos antes de Cristo. Utilizavam uma escrita de muito difícil tradução que limita o seu conhecimento. São contemporâneos do Antigo Egipto e dos Sumérios.

Em 1500a.C., desenvolve-se a civilização Ariana no Vale do Ganges. Esta civilização floresce enquanto a do Vale do Indo desvanece. Não se sabe se constitui um prolongamento da primeira. Os povos de raiz indo-europeia descendem desta civilização. Vários autores desenvolvem o tema das culturas indo-europeias, como são o caso de Georges Dumézil, Émile Benveniste, Max Müller.

A Filosofia Clássica Indiana, em últimas instâncias, procura responder a duas questões: a natureza última da realidade e consequências sobre o nosso destino pessoal.

A cisão entre fé e razão que se deu no Ocidente não se encontra na Filosofia no Oriente.

Os Hinos Védicos, são os textos sagrados mais antigos da Índia. A palavra Vedas significa conhecimento, saber, passível de audição (que pode ser escutado). Em síntese, textos sagrados a serem escutados, apreendidos.

As Upanisads, são textos que refletem sobre a cultura védica, mas que, simultaneamente, assinalam uma rutura com o período anterior. As Upanisads dão-nos uma explicação sobre a origem das coisas, mas também sobre o que podemos realizar no interior de nós próprios. Atingem o seu momento pleno no século VI a.C.. Etimologicamente significa “estar sentado junto de” (do Mestre que explica os Vedas).

O Budismo, quando aparece pode considerar-se uma interpretação radical das Upanisads. Buda viveu no século VI ou V a.C.. As primeiras cinco Upanisads são prévias ao seu nascimento e as últimas sete são posteriores.

Sâncrito, Língua Sagrada da Índia.

Sociedade divida em castas distintas, Brãhmana, ksatriya, Vaisya.

Brâman, é a suprema divindade, o Absoluto, é incognoscível pelo homem. Princípio incondicional de criação de toda a realidade. A própria realidade. Um princípio supremo que está para lá dos próprios deuses.

Trimúrti, é a tripla parte manifesta da divindade suprema. Como um ser limitado, o ser humano somente percebe três aspectos de Brâman. A trimurti é composta pelos três principais deuses do hinduismo: Brama, Vixnu e Xiva, que simbolizam respectivamente a criação, a conservação e a destruição.

Atman, o sujeito interior de tudo o que um indivíduo faz. Um unificador interior de todos os nossos comportamentos. Agente interno que coincide com o próprio Absoluto e que se tiver “despojado” lhe pode aceder.

Carlos Rodrigues

sábado, 18 de junho de 2011

Fatos

Rarefeito em esperas
apresso o fato: pelas esquinas
ventiladores espalham efeitos
em papéis de balas


(descumpro a promessa do encontro
e me encastelo em nobre causa)


avanço o instante
e me deparo em retorno


fujo ao contato


(desarrumo os papéis sobre a mesa
e me instalo: a campainha
toca ao recado).


Pedro Du Bois, inédito
http://pedrodubois.blogspot.com

sexta-feira, 17 de junho de 2011

ENCONTROS COM AGOSTINHO

NAMORANDO O AMANHÃ




(2ª. Edição)


Agostinho da Silva

PREFÁCIO




1





Como tudo neste Universo físico em que vivemos, também os livros têm uma história e esta modesta brochura não pode ser excepção. Ao que parece, resistiu ao decurso da década e meia que nos separa do seu nascimento e, novamente por iniciativa da Cooperativa de Animação Cultural de Alhos Vedros, agora Círculo Cultural de Alhos Vedros (CACAV), a ele voltamos para lhe conferirmos a continuidade de uma segunda edição. Se, inicialmente, a ideia partiu da vontade de algumas pessoas publicarem uma palestra que o Professor Agostinho da Silva proferira alguns anos antes, naquela Vila, da qual existia uma gravação praticamente integral e em bom estado, foi agora a vez do vigésimo quinto aniversário daquela associação servir como um simpático pretexto para a reposição de uma publicação, entretanto esgotada. Temos pois que a história deste singelo livrinho tem assim continuação e em tal contexto será de bom tom que o mesmo possa crescer e amadurecer; partindo do ângulo do próprio objecto, será esse o resultado que justificará que mais uma vez sobre ele atentemos e aí usemos o escopro dos nossos parcos talentos. Se o alcançamos, competirá ao Leitor decidir. Seja esse o seu veredicto e daremos por saldados todos os esforços que desenvolvemos para o efeito.
Bem hajam todos aqueles que tenham a curiosidade de fazer a crítica do trabalho que lhes propomos como uma segunda fase da vida deste livro.





2





Em face da proposta de uma nova edição, a primeira pergunta teve tanto de imediata como natural. Repetir-se-ia o material existente sem alterações nem acréscimos, ou faria sentido o propósito de o melhorar, quer no plano da apresentação do discurso, bem como no âmbito de eventuais anotações susceptíveis de o enriquecer? Aquando o lançamento, na nota de abertura, deixara no ar a promessa de anotar “(…) diversos factos, povos e pessoas referidos na lição em causa.” (1) Para além do que seria elegante considerar os reparos que o produto final então suscitara. Em conformidade, a escolha recaiu sobre a segunda parte daquela interrogação.
Duas foram as objecções que logo me foram apresentadas. Considerando o conteúdo do texto que escrevera para introduzir a grafação, uma delas não ultrapassa a simples opinião, a mera opção de gosto. Pretender-se-ia que eu poderia –o imperativo é sempre delicado nestas circunstâncias- ter grafado a palestra de uma maneira mais leve, mesmo retocando aqui e ali a oratória e, com isso, criando um registo que afinal misturaria as palavras do conferencista com as minhas. Sim, poderia tê-lo feito. Há até casos semelhantes e o registo gráfico das conferências radiofónicas de Isaiah Berlin é disso um testemunho. (2) Mas a verdade é que eu confessara tanto o desconhecimento do Autor como da sua obra e, em tal estado, qualquer emenda, por pretensiosa, seria uma deselegância sem sentido. Depois havia o propósito implícito de criarmos um texto que passasse a fazer parte do conjunto da obra do Professor Agostinho da Silva o que seria desconcertante se, ao mesmo tempo, ali procurássemos misturar os nossos dotes criativos. Houve, no entanto, uma voz amiga que mereceu toda a atenção pela pertinência que em acto contínuo revelou. Situando-se do lado do ledor, o Senhor António Sardinha perguntou se não poderia ter havido alternativa para a forma como se incorporaram as sinalizações das falhas da grafação e do próprio teor da explanação na passagem a escrito que construíramos. Argumentou, com razão, devo reconhecê-lo, tais referências, com remissões para pés de página e vocábulos repetidos entre parênteses, por exemplo, quebravam o ritmo da leitura o que é inevitavelmente desagradável.
Ora se o bom senso mais elementar nos convidaria ao aproveitamento desta oportunidade para procurarmos limar arestas, tínhamos, desde a primeiríssima hora, estes dois motivos para o fazer e, com eles, o objecto do que seria a evolução do trabuco que realizamos em torno desta conferência de Agostinho da Silva.





3





Antes de mais é justo que se avisem os amigos mais apressados que podem muito bem saltar este item em que se dará conta da operação que levou ao aspecto literário desta nova edição. Não há qualquer mal que procedam deste jeito pois seria arrogância nossa sequer se sugeríssemos que a mensagem do Professor necessitaria desta leitura para ser entendível. Consequentemente, não tendo que ser lidas, estas são, no entanto, umas linhas que teriam que ser escritas.
É claro que houve permanências a ter em conta, a começar pelo desiderato prévio de manter por um lado as palavras ditas e, por outro lado, respeitar o estilo e o ritmo da oralidade que havíamos conseguido na primeira fórmula. Num reparo, seria agradável que permanecesse a ilusão de ouvirmos o Autor a falar. Quaisquer retoques, fossem eles a troca ou a introdução de palavreado ou tão simplesmente da ordem dos reajustes nos géneros dos substantivos ou nos tempos verbais, qualquer intervenção teria que ser cirúrgica e pontual, nunca deixando de respeitar o sumo e a entoação pairante no objecto já existente. Se, por exemplo, na página quarenta da primeira edição optamos por deixar ficar a parcela final tal como está, ainda que entendamos como muito discutível a proposição que aí se formula e isto por considerarmos que por aí penetraríamos numa correcção ao pensamento de Agostinho, já não deixamos de acrescentar ou suprimir palavras no decurso da palestra por se nos afigurar que estas melhoram a fluência discursiva e a inteligibilidade do texto.
A tarefa mais óbvia e simultaneamente mais fácil foi eliminar todas as notas e as repetições que, por aqui e ali, pululavam na versão inicial. Seria demasiado moroso identificá-las uma a uma e o Leitor mais interessado nestes pormenores e exigente quanto à sua avaliação, tem ao dispor, em anexo, o fac-simile da primeira edição. Também foi pacífica a aludida introdução de alguns vocábulos e até a redefinição de algumas frases. Limitamo-nos a respeitar o conjunto e, além disso, tomando em mão uma amostragem de umas poucas obras do Professor (3), procuramos que os nossos remendos saíssem de vocabulário que de modo algum pudesse correr o risco de ser estranho ao universo da sua linguagem oral e escrita. Com este critério agimos para omitirmos um à parte que da assistência partira e que provocara um pequeno diálogo entre o orador e essa pessoa e também em relação aos momentos em que o registo sonoro não foi audível e que assinaláramos como e enquanto cortes na primeira edição. E para respeitarmos o alcance da observação do Senhor António Sardinha, decidimos fazer esta explicação neste prefácio, evitando estar a assinalar ponto a ponto, ao longo do texto, as alterações introduzidas, poupando pois os incómodos que isso poderia provocar em termos de leitura.
Daqui resulta que a haver uma terceira edição, poderá ela consistir apenas nesta segunda versão, naturalmente com esta abertura da minha responsabilidade, pois será a forma canónica para a grafação desta palestra que, a partir daí, como um livro que é do Professor Agostinho da Silva, poderá sair à estampa sem qualquer artigo introdutório. Depois disso estaremos certamente num futuro que já não terá que nos pertencer pelo que daremos aqui por concluída a nossa colaboração neste acontecimento.
Ao querido Leitor competirá decidir se os nossos esforços valeram ou não a pena, com a certeza de, em tal condição, todo o mérito pertencer ao saudoso pensador e qualquer motivo de desagrado só poder ser atribuído às reduzidas capacidades deste vosso servidor.





4





Não nos podemos despedir sem questionarmos a pertinência deste nosso reencontro. Faz sentido esta segunda edição? Tem ela o interesse suficiente que justifique o trabalho? Novamente a resposta é positiva, melhor dizendo, continua a sê-lo. Primeiro que tudo pelas razões que apontámos há mais de um decénio, quer pelo exemplo de cidadania que a palestra em apreço é, por si, quer por a partir da mesma podermos reflectir sobre a vida que levamos neste planeta. Seriam contudo parcos os fundamentos se apenas nos limitássemos a repetições com quinze anos de idade e obviamente teriam que transcender tanto os esperados melhorismos que introduzimos na forma de apresentação do discurso, como as anunciadas anotações de eventos e personalidades que, nesta ocasião, ponderada melhor a ideia, declinamos por desnecessárias.
Sei agora quão vasta é a bibliografia que Agostinho nos deixou (4) e isto sem considerar os muitos e variados estudos que sobre o seu pensamento têm vindo a ser feitos e que vão das mais simples e despretensiosas comunicações (5) a tentativas mais aprofundadas de análise de certas vertentes da obra agostiniana. (6) Sem pretender elaborar qualquer estudo sobre a temática em alusão, mas simplesmente fazendo um recenseamento rápido de algumas das suas cartas (7) ou conversas (8), arrisco-me a acrescentar uma outra boa razão para esta recuperação de “Namorando O Amanhã”. Tenho para mim que, embora com a liberdade que uma exposição oral sempre deixa, de modo sucinto mas claro, o fundamental do que Agostinho pensava ultimamente a respeito dos portugueses está contido nesta lição. Daí que não andemos longe da verdade se avançarmos que esta até pode ser considerada uma espécie de propedêutico para aquele. Para os mais rigorosos para quem não bastassem as explicações para o empreendimento inicial, encontramos assim o principal fundamento para a reedição que nos ocupa. Seria de todo lamentável que um texto desta natureza não conhecesse a continuidade e dentro dela pudesse crescer tal como se verificou e seria uma falta de cortesia se o Círculo que detém os direitos da publicação, faltasse a essa responsabilidade.
Sem embargo e retomando aquilo em que esta oratória nos pode auxiliar a reflectir sobre o mundo contemporâneo, há por fim que ampliar e perder um pouco mais de tempo na dimensão nacionalista componente das ideografias histórico-filosóficas deste pensador.




5





Goste-se ou não, tenhamos ou não posição perante o mesmo, nos dias que correm, tanto por influência da implosão do bloco comunista e com ele de estados federados, como a União Soviética, a Checoslováquia ou a Jugoslávia que provocaram o aparecimento de novos países em que, por motivos óbvios, se assistiu à recuperação de um certo discurso baseado no sublinhar das culturas nacionais, mas também por força do fenómeno terrorista, como por via da imigração e até da globalização da economia que lhe subjaze, a verdade é que tais epifenómenos suscitaram reacções de pendor particularista que se em uns casos em mais se não traduzem do que na afirmação das singularidades –até por motivos de competitividade- de um determinado povo ou uma dada região, em outros, felizmente minoritários, pelo menos, por enquanto, recuperam mundivisões e cosmogonias vincadamente nacionalistas que partem da sublimação, mais que das particularidades que as motivam, dos direitos que pretendem estarem a elas inerentes. Por outras palavras, independentemente da nossa vontade e do que possamos pensar a esse respeito, as prelatórias nacionalistas voltaram, retomaram o lugar na praça e tudo indica que, de novo, com fóruns de cidade. Os sucessos eleitorais de Le Pen, em França, ou do partido de Haider, na Áustria, aí estiveram para o provar e o pior que em face destas investidas sempre pode acontecer é deixarmos que tais ocorrências e pretensões fiquem sem refutação. E não gostaríamos nada que as versões lusitanas destes projectos e personagens que as há e em plena azáfama de marcar presença, se fossem servir de pontas do ideário agostiniano como elemento cultural confluente para a susceptibilidade dos seus pontos de vista. Debrucemo-nos pois neste tema colateral a esta palestra mas que dela é decorrente.
Quanto a mim não há qualquer volta a dar-lhe e muito simplesmente devemos pôr o nacionalismo de lado, remetê-lo para a prateleira das ideologias e comportamentos com tal timbre que passaram a ser factos históricos. A natureza da mundividência em questão, a afirmação comparativa de dado povo e cultura e a amplitude que a mesma tem, abrindo a janela a qualquer elemento do todo que essa sociedade constitua, ambos os aspectos fazem com que aquela seja um corpo de ideias sem retorno e cujos limites não encontrarão barreiras até ao ponto em que se confrontem com outros seus semelhantes o que, em última instância, sempre terá a guerra como expressão derradeira. Será, por acaso, concebível um mundo ideal em que todos pudessem impor o predomínio em certas áreas sem que se dessem choques entre uns e outros?
Depois não há como argumentar que um certo tipo de nacionalismo é pernicioso e outro não; só conseguiremos identificar as consequências mais nefastas quando elas se materializem o que nos força a uma posição de reserva de não sabermos se, num momento considerado, a valoração em causa pode ou não chegar àquelas implicações mais negativas. Como sustenta Amin Maalouf (9) não há nacionalismos bons e como bem o ilustra a sua história desde a origem em moldes modernos, no século XIX, trazem sempre aqueles o germe belicista que na realidade provocou, desde então, alguns conflitos de máxima violência. Não sem motivo, ainda que a partir de outras referências elas próprias de natureza diferente, as primeiras teorias racistas apareceram no tempo em que medraram e se teorizaram os nacionalismos, vindo mais tarde a serem aplicadas por regimes com aquela matriz com o trágico desfecho que veio a ter lugar com o nazismo.
E no entanto ela move-se, não é? Querendo aqui isto dizer que o nacionalismo está aí e permanece mesmo que o abandonemos ou, dito de outra forma, não basta que o rejeitemos para que ele desapareça. Importa encontrar-lhe uma alternativa. Mais que negá-lo, temos que o combater por via de uma argumentação melhor.
Há quem àquele oponha o cosmopolitismo o que, convenhamos, é um erro de palmatória a evitar. Com efeito, não nos podemos esquecer que o nacionalismo consiste numa cosmovisão determinada e que o cosmopolitismo remete para o nível factológico da mistura cultural, âmbito em que podemos apresentá-lo, nada mais, nada menos, como um dos factores que viabilizam a superação do etnocentrismo enquanto causa inconsciente das teses racistas. (10) Mas ainda devemos ter presente que aquele contem em si as particularidades em que, precisamente, o outro se sustenta e das quais parte. Temos que ao opô-los entre si, equivale a pretender que um elemento de um conjunto não singular é o contrário desse mesmo conjunto o que matematicamente seria um absurdo.
Deste modo, se queremos encontrar algo que possamos propor em detrimento do nacionalismo, será mais em torno do universalismo que nos deveremos movimentar, entendendo-o não no sentido da demanda de quaisquer consensos universais, antes o definindo como o reconhecimento da universalidade da cultura humana cuja diversidade e respectivas singularidades e particularismos decorrem das respostas diferenciadas que as várias ecologias da Terra requerem por parte da nossa espécie.
Sem qualquer pretensão de fazer a hermenêutica do pensamento que Agostinho da Silva desenvolveu neste domínio, tenho para mim que é possível extrair daquele corpo teórico uma vertente universalista na medida em que aquilo que o Professor mais apreciou e sublinhou na sua interpretação da história cultural portuguesa foi, justamente, aquele aspecto que até considerou uma das suas características. Mais importante que retermos os ensinamentos do sábio será que a partir do que nos legou possamos evoluir para novas ideias que melhor respondam aos desafios da realidade coeva em que vivemos.
Eis um outro ponto que pode conferir a máxima relevância à leitura deste livrinho.
Sendo este prefácio um texto de despedida pois, como já expliquei, o meu trabalho à volta desta palestra terminará com esta segunda edição, resta-me expressar o meu agradecimento a todos aqueles que, desde a primeira hora, contribuíram para que este livro tenha conhecido a luz do dia. Correndo o risco de olvidar alguém, aqui deixo o meu voto de apreço para os Senhores Joaquim Raminhos, na sua qualidade de Presidente da CACAV e ainda a Luís Carlos Rodrigues dos Santos, Manuel João Feijão Croca, João Martinho Rocha, responsáveis pela ideia de publicar esta conferência e também colaboradores para que a noite da sua apresentação tenha sido então um serão agradável, no que é justo associar os nomes de Carlos Baptista e das Senhoras Gabriela Filipe e Maria do Céu e, por fim, mas não com menos importância, os Senhores José Pereira que concebeu a capa da primeira edição e José Miguel Oliveira que, para a mesma, gentilmente nos ofereceu a foto do Professor.
Todos eles também estão de parabéns desta vez.

Luís F. de A. Gomes
Porto, 24 de Abril de 2011
__________
(1) Gomes, Luís F. de A., p. 12
NOTA DE ABERTURA
In “Namorando O Amanhã”
(2) Berlin, Isaiah
ROSSEAU E OUTROS CINCO INIMIGOS DA LIBERDADE
(3) Além de algumas entrevistas que tive ensejo de rever, recapitulei a leitura de “Reflexão” e de “As Últimas Cartas De Agostinho”.
(4) Sousa, Zélia e Neto Monteiro, Nuno (sob coordenação de)
HOMENAGEM A AGOSTINHO DA SILVA – MOSTRA BIBLIOGRÁFICA
(5) Esteves Borges, Paulo Alexandre, p. 16
PARA A REALIZAÇÃO DO IMPOSSÍVEL – PENSANDO A PARTIR E EM HOMENAGEM A AGOSTINHO DA SILVA
(6) Briosa Mota, Helena M. e Larches S. Carvalho, Margarida
UMA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO DO PROFESSOR AGOSTINHO DA SILVA
(7) Silva, Agostinho da
AS ÚLTIMAS CARTAS DE AGOSTINHO
(8) Idem
AS ÚLTIMAS CARTAS DE AGOSTINHO
(9) Maalouf, Ami
IDENTIDADES ASSASSINAS
(10) Gomes, Luís F. de A.
AND US AND THEM (BREVES PALAVRAS SOBRE O RACISMO)





CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

Berlin, Isaiah- ROSSEAU E OUTRO CINCO INIMIGOS DA LIBERDADE
Nota à Segunda Edição e Prefácio de Henry Hardy
Tradução de Tiago Araújo
Gradiva (1ª. Edição), Lisboa, 2005
Briosa e Mota, Helena Maria e Larches Santos de Carvalho, Margarida
- UMA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO PENSAMENTO
PEDAGÓGICO DO PROFESSOR AGOSTINHO DA SILVA
Prefácio de Manuel Ferreira Patrício
Hugin Editores Ldª. (1ª. Edição), Lisboa, 1996
Esteves Borges, Paulo Alexandre- PARA A REALIZAÇÃO DO IMPOSSÍVEL –
PENSANDO A PARTIR DE E EM
HOMENAGEM A AGOSTINHO DA SILVA
In “A Phala”, nº. 38, Julho/Agosto de 1994
Gomes, Luís F. de A.- AND US AND TNHEM (BREVES PALAVRAS SOBRE O
RACISMO)
CACAV, Alhos Vedros, 1995
- NOTA DE ABERTURA
In “Namorando O Amanhã”
Agostinho da Silva
CACAV (1ª. Edição), Alhos Vedros, 1996
Maalouf, Amin- IDENTIDADES ASSASSINAS
Tradução de Susana Serras Pereira
Difel, Lisboa, 1999
Silva, Agostinho da- REFLEXÃO
Guimarães Editores (3ª. Edição), Lisboa, 1963
- AS ÚLTIMAS CARTAS DE AGOSTINHO
Prefácio de Luís C. R. Santos
CACAV, Alhos Vedros, 1995
- A ÚLTIMA CONVERSA DE AGOSTINHO
Entrevista de Luís Machado
Prefácio de Eduardo Lourenço
Editorial Notícias (8ª. Edição), Lisboa, 2001
Sousa, Zélia e Neto Monteiro, Nuno (sob coordenação de)
- HOMENAGEM A AGOSTINHO DA SILVA – MOSTRA BIBLIOGRÁFICA
Câmara Municipal de Palmela-Divisão de Património Cultural, Palmela




quarta-feira, 15 de junho de 2011

d´Arte - Conversas na Galeria XLII


Castelo de Palmela Fotografia de Aníbal G. Sousa
Esta fotografia foi tirada pelo meu amigo Aníbal, que é um fotógrafo e caminheiro emérito, conhecedor de todos os recantos da Serra do Louro, e que por isso obtém ângulos pouco habituais, mesmo para os que conhecem a região.

A vez de Palmela
Todos os anos tenho colaborado na festa da minha terra, Pinhal Novo, apresentando um pavilhão com as minhas obras, algumas delas executadas especialmente para a ocasião.
Pensei que seria interessante ir mostrando o desenvolvimento de um quadro até à sua conclusão. Mostrar a fotografia que serve de base para a composição, a selecção do tamanho, o seu desenho, a escolha das cores, a técnica utilizada, o estilo para tornar o tema mais sedutor.
O plano é, no fim de cada dia, ou depois dum avanço significativo, mostrar as diversas fases do processo da sua execução.
Se este convite resultar nuns momentos agradáveis de convívio, terei muito gosto em repeti-lo para uma outra exposição que tenho agendada para a rentrée.
Na abertura da festa, a Presidente da Câmara de Palmela, Ana Teresa Vicente, acompanhada do Presidente da Junta de Freguesia, Álvaro Amaro, passam por todos os stands, trocando algumas palavras com os feirantes. Tem acontecido, que eu exponho quadros com paisagens de diversas terras do distrito e, por acaso, a vila de Palmela não tem sido contemplada nessa mostra. Depois dos cumprimentos, tem surgido a pergunta: Para quando um quadro de Palmela?
A resposta está agora a ser construída...




Castelo de Palmela (em construção) Autor António Tapadinhas
Acrílico sobre tela 40x50cm

Utilizei este formato, tendo em atenção o espaço limitado de que disponho e as características populares da festa.
Depois destas primeiras horas de trabalho, ficou estabelecida a linha do horizonte, a localização de alguns pontos guia e o tom geral da obra. As cores do céu, já estão replicadas no acidentado terreno, para que a harmonia esteja presente desde o início. Estou a trabalhar com as cores puras directamente sobre a tela, para dar uma forte textura ao suporte do motivo principal da obra: o Castelo.
Amanhã, quando lhe voltar a pegar, a tinta acrílica já estará completamente seca. Qualquer correcção que eu queira fazer, tem de ser com uma navalha para a raspar. É esta a grande diferença para a tinta de óleo: ainda não estaria seca, o que permitiria a sua mistura com as tintas que quisesse utilizar no dia seguinte.
Então, até quinta-feira!

Observatório Astronómico explica eclipse de quarta-feira

(Condições meteorológicas podem condicionar observação)

A lua vai estar "escondida" quando nascer na quarta-feira devido a um eclipse total, o único visível em Portugal, dos seis previstos para 2011, e o Observatório Astronómico, em Lisboa, abrirá portas para o acompanhamento do fenómeno.

A partir das 20h30, numa acção pública de observação, os telescópios da entidade vão estar virados para a lua e os seus especialistas em astrofísica ficam disponíveis para explicar os detalhes sobre os eclipses, contou à agência Lusa o director do Observatório Astronómico de Lisboa.

Todos, principalmente os interessados em astronomia e os curiosos sobre estes assuntos, são convidados a deslocar-se ao Observatório e a levar os seus binóculos ou pequenos telescópios, já que o eclipse é visível, caso as condições meteorológicas o permitam.
Rui Agostinho referiu que o fenómeno é "um dos seis eclipses que ocorrem este ano. Este é um ano especial" já que por vezes só se registam quatro situações. Apesar daquele número, em Portugal, o eclipse do sol parcial em 4 de Janeiro, "teve uma visibilidade má" e agora resta a oportunidade de assistir ao fenómeno na quarta-feira, pois os restantes não serão visíveis nesta região do planeta.

O nascimento da lua em Lisboa será às 20h58, no Funchal às 21h13, na ilha Santa Maria às 20h55 e na ilha das Flores às 21h27, segundo uma informação do site do Observatório. "Em termos de visibilidade, este eclipse da lua não é mais do que a lua a entrar no cone de sombra do planeta Terra", como especificou Rui Agostinho, acrescentando que, "nesta altura, há cidades do planeta que irão ver [o fenómeno] no início, meio ou final da noite".

Para Portugal, tanto no continente como nas ilhas, este eclipse pode ser observado ao nascer da lua, ou seja, "quando nascer já vai estar totalmente eclipsada, por isso não vai ser vista", disse."Com o sol a desaparecer no outro horizonte, temos um céu azul claro ainda e o brilho da lua vai ser tão fraco que ficará escamoteado pelo céu azul. Com o passar das horas, teremos um céu azulado a perder brilho, a ficar cada vez mais escuro, a lua progride pelo céu, começa a sair do cone de sombra e começa a ver-se cada vez melhor", segundo a descrição do eclipse feita pelo presidente do Observatório.

O eclipse total da lua é um fenómeno astronómico em que a lua mergulha completamente na sombra da terra, o que sucede quando a lua cheia passa nos nodos da sua órbita ou na proximidade.

O Observatório Astronómico de Lisboa previne que as actividades programadas para quarta-feira dependem de "bom tempo atmosférico, pelo que serão canceladas em caso de ocorrência de chuva, mau tempo ou céu totalmente nublado".

(in, Ciência Hoje, 13/06/2011)

terça-feira, 14 de junho de 2011

O BARDO NA BRÊTEMA


Música e literatura

Por Rudesindo Soutelo(*)

As nove filhas de Zeus e de Mnemósine (deusa da memória), passaram de ser ninfas dos rios a integrar um coro feminino acompanhado pela lira de Apolo para deleite do divino Olimpo grego. Estas nove deusas foram chamadas de musas e daí procede a palavra ‘música’ (musiké téchno) que significa a arte das musas.

Mas as funções e atributos das nove musas eram muito diversificadas, assim, Calíope inspirava a eloquência; Clío tratava da história; Erato sugeria a poesia lírica; Euterpe insinuava o verso erótico; Melpômene inflamava a tragédia; Polímnia iluminava os hinos sacros; Tália ilustrava a comédia; Terpsícore adornava a dança; e Uránia derramava luz sobre a astronomia. Nas origens gregas a música seria, pois, muito próxima do que no século XIX Richard Wagner concebia como a obra de arte total. A música era, também, uma extensão dos sentidos no tempo e no espaço. Mas tudo isso não invalida a perspetiva semiótica, a que considera a música e as artes como sistemas de linguagem diferenciados.(1)

O som da palavra e o som da música podem ter um mesmo berço mas em todas as culturas se afirmaram como realidades separadas. Não há unanimidade em quanto a qual dessas duas realidades sonoras assumiu a função de modelador primário na história intelectual da humanidade. São muitos os autores que lhe pressupõem à linguagem verbal processos cognitivos mais apropriados para essa função mas não faltam os que acreditam ser a música a que melhor se adapta. Assim, o etnomusicólogo John Blacking, num artigo incluído no livro The Sign in Music and Literature, sustenta que ao tentar compreender as estruturas elementares do pensamento humano, conclui-se que a música é mais adequada que a linguagem verbal para revelar as exigências puramente estruturais de um sistema de símbolos.(2)

O livro O estilo e a ideia –uma compilação dos artigos que o compositor Arnold Schoenberg foi escrevendo ao longo da sua vida– abre com um texto publicado em 1912 onde afirma que são poucas as pessoas capazes de compreender, em termos puramente musicais, o que a música expressa. Supõem-se que uma peça musical deve conter imagens duma outra espécie e quando estas não se manifestam considera-se que a obra carece de valor. Schoenberg atribui esta fraca capacidade de compreensão a uma mediocridade intelectual.(3) Não obstante, no final do livro faz um esclarecimento sobre a interpretação de obras musicais com texto, no sentido de que a expressão de ambos –música e texto– devem sumar-se e não contradizer-se.(4) Mas a música e a literatura –seja esta em prosa ou poesia– podem expressar a mesma coisa? Não faço ideia como, utilizando a linguagem puramente musical, eu possa pedir um copo de água fresca.

O mais temido crítico musical do século XIX, Eduard Hanslick, na sua obra Do Belo Musical afirma, com argumentos científicos, que os sentimentos não são o conteúdo da música(5), e conclui que na música ‘conteúdo’ e ‘forma’ são a mesma coisa: os próprios sons.(6) Daí que para Hanslick as emoções na música sejam efeitos secundários da linguagem formalista.

Neste percurso pelos encontros e desencontros da música e a literatura, Ricardo Barbosa, num ensaio sobre Música, racionalidade e linguagem, esclarece que “Um ouvido musical –na sua forma ideal– seria um ouvido que ‘pensasse’ musicalmente”(7) , pois o que a música comunica é simplesmente música.

A música parte da abstração formal para construir uma narrativa simbólica. A literatura parte do concreto, da representação, para aventurar-se temporariamente na abstração. Ambas fazem percursos contrários mas no caminho cruzam-se e relacionam-se. Desse contacto artístico entre a música pura e a literatura, Calvin Brown reconhece três modalidades de expressão: a) a música na literatura; b) a literatura na música; e c) a literatura e a música.(8)

Os antigos gregos eram verdadeiramente sábios quando a tudo isso lhe chamaram simplesmente música.

(*) Compositor e Mestre em
Educação Artística.

© 2011 by Rudesindo Soutelo
(http://www.soutelo.eu)
(Vila Praia de Âncora: 27-V-2011

VER AQUI EM FICHEIRO PDF

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(1)Ribeiro de Oliveira, S. (2002). Literatura e música. S. Paulo (Brasil): Perspectiva, p. 28.
(2)Barbosa, R. (2007). Música, racionalidade e linguagem. In R. Duarte, & V. Safatle, Ensaios sobre música e filosofia (p. 336). São Paulo: Associação Editorial Humanitas, pp. 185-186.
(3)Schönberg, A. (1963). El estilo y la idea. Madrid: Taurus, p. 25.
(4)Ibid. pp. 278-280.
(5)Hanslick, E. (2002). Do belo musical. Lisboa: Edições 70, p. 23.
(6)Ibid. p. 101.
(7)Barbosa, R. op. cit. p. 17.
(8)Brown, C. S. (1948). Music and Literature. A Comparison of the Arts. Athens: University of Georgia Press.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Santo António de... Lisboa

Lisboa, 13 de Junho. Feriado Municipal.
Festa de Santo António... de Lisboa. O Casamenteiro.

Filho de Martinho de Bulhões e Maria Teresa Taveira, nasceu à volta de 1190, (15 de Agosto?) em Lisboa, um menino que foi batizado com o nome de um tio, cônego, Fernando, Fernando Martins Bolhão, ou Bulhões.
“Seus pais moravam à beira da Sé, e eram gente limpa e remediada”! Talvez o pai fosse ourives, uma vez que o nome Bolhão significava “barra de prata, com liga de outros metais, boa para bular, amoedar”. Bular acabou significando “colocar o selo” em documentos de grande importância, a bula!
Na Sé havia, ao tempo, aula de gramática e de artes, e, ali, Fernando, a partir dos sete anos, muito jovem, excepcional memória e invulgar inteligência, aprendeu as primeiras letras e os rudimentos de humanidades. Desde sempre mostrou uma profunda devoção e o começo de uma mística, profundas, apesar de andar com “amigos estróinas”, que o obrigaram a muito meditar sobre a sua vida.
Até aos 15 anos vive na casa dos pais, entra num período de vida libertina com os tais “amigos” e, para fugir aos chamados mundanos, decide entrar no mosteiro de São Vicente de Fora, dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, com a idade de 18 anos. Logo tomou o hábito da mão do Prior, e feito os votos possivelmente um ano depois. Aí fica dois anos na meditação e estudo e pede depois para ser transferido para o mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, onde ficaria longe dos amigos que o assediavam para o mau caminho.
Santa Cruz, em Coimbra, junto à Corte, tinha uma rica biblioteca e alguns mestres já formados em diversas cidades da Europa, o que o tornava “uma pequena academia de sábios”.
Em ambiente de estudo e oração permaneceu entre nove a onze anos. No entanto aquela vida de estudo e oração não o satisfaziam. Fernando impressionava-se com a visita dos frades menores de Santo Antão dos Olivais, que de vez em quando iam ao mosteiro de Santa Cruz pedir esmola. Por este mosteiro devem ter passado os cinco frades menores que em Marrocos deram a vida pela fé cristã, em 16 de Julho de 1220, e cujos restos mortais foram recolhidos por D. Pedro, irmão do rei Afonso II, e entregues ao mosteiro de Santa Cruz para aí serem depositados.
“O exemplo destes humildes, pobres, alegres e ardorosos pela causa de Deus, como se mostram os franciscanos de Coimbra e, sobretudo, o magnífico exemplo dos mártires, levam-no a trocar o nome de batismo por Frei António, e a cândida estamenha Agostinha pela estamenha parda dos frades menores, o rico e afamado mosteiro de Santa Cruz, pelo pobre e obscuro de Santo Antão dos Olivais, a vida sedentária de cônego, pela vida errante de frade mendicante e missionário.”


Santo António – pintura do séc. XIII, da Pinacoteca de Perugia

Entregue à pobreza e à missionação, Frei António decide partir para Marrocos, onde os cinco mártires tinham sido degolados pelo Emir, Amir al-Mu'minin, o Miramolim. Desta vez porém os muçulmanos deixam Frei António em paz, mas ao mesmo tempo uma doença pertinaz o obriga a voltar a Portugal.
O barco que havia de o levar sofre uma violenta tempestade, é desarvorado, e vai ter às costas da Sicilia, onde, nas imediações da cidade de Messina encontra abrigo num pequeno convento de Frades Menores.
E assim acaba a vida de Frei António em Portugal! E começa o Santo Antonio de Padua!
Num próximo texto continuaremos a seguir a sua vida. Hoje, deixamos um só dos seus sermões, que mesmo parecendo estranho pode ajudar muito a meditar:

Parábola do anel de Ouro

(Jesus tomou o saco das nossas misérias)

Lê-se no Passionário de São Sebastião que um rei possuia um anel de ouro ornado de uma jóia preciosa, que lhe era muito querido. Um dia caiu-lhe do dedo dentro de uma cloaca, o que muito o penalizou. E, não encontrando alguém que lhe pudesse tirar dali o anel, depondo os vestidos da dignidade real, desceu à cloaca vestido de saco, procurou o anel durante muito tempo, até que finalmente encontrou o que procurava e, alegre, trouxe para o palácio o achado. O Reino é o Filho de Deus; o anel, o género humano; a jóia do anel, a preciosa alma do homem. Este caiu no gozo do Paraíso, como do dedo de Deus, na cloaca do inferno. O Filho de Deus muito se doeu desta perda. Para recuperar o anel, procurou entre os anjos e os homens, e não o encontrou, porque ninguém foi capaz. Então, depôs os vestidos, aniquilou-se a si mesmo, tomou o saco da nossa miséria, procurou por trinta e três anos o anel; finalmente desceu aos infernos e aí encontrou Adão e toda a sua posteridade. Muito alegre, levou o achado consigo para a eternidade.”

N.- Voltaremos a Santo António, mas... de Padua!

Francisco Gomes Amorim
10/06/2011

sábado, 11 de junho de 2011

“Ontem E Hoje De Dia E À Noite”


Hoje matei um mosquito
Hoje sou um herói da existência
Hoje estou orgulhoso de minha valentia
Hoje provei que só o medo me amedronta
Hoje tornei-me superior à sombra do dia-a-dia

Amanhã esconder-me-ei num buraco sem fundo
Amanhã caminharei por um bêco sem saida
Amanhã voltarei a seguir o sentido da vida
Amanhã regressarei à essência das coisas
Amanhã procurarei ser modesto

Hoje mantenho-me erecto
Hoje dispo-me de remorsos
Hoje desligo-me de promessas vãs
Hoje penduro-me numa realidade virtual
Hoje engajo-me em usar máscaras paralelas

Amanhã talvez pense melhor do que ontem
Amanhã tentarei remoer o passado sim
Amanhã olharei para o vazio recente
Amanhã amansarei o coração
Amanhã dissiparei a névoa

Hoje ainda estou indeciso
Hoje há insegurança no que decido
Hoje está tudo tão semelhante ao habitual
Hoje irei imaginar a correnteza forte de um rio
Hoje meu pensamento desaguará num oceano imenso

Um dia tudo se resumirá num só ponto final
Um dia pararei de escrever no abstracto
Um dia acabará o papel do guião
Um dia o cenário findará
Um dia será noite...

Escrito em Luanda, Angola, a 09 de Junho de 2011, por manuel duarte de sousa, em Alusão ao passar dos tempos e da vida...

sexta-feira, 10 de junho de 2011

ENCONTROS COM AGOSTINHO



NOTA INTRODUTÓRIA

"Novamente se incomodaram muito os amigos por não ter aparecido assinatura no último artigo que me publicou este nosso jornal; acho, porém, que talvez estejam errados e que o acontecimento nos dá a ocasião a que outra vez reflictamos sobre o assunto.
A primeira nota que há a pôr é que, apesar de já ter defendido, neste mesmo lugar, que seria muito bom entrarmos todos no anonimato, apenas declarando o nome quando nos fossem exigidas responsabilidades por tal ou tal opinião expressa, lá fui assinando minha prosa, não sei se por hábito adquirido, se por supor que no jornal assim o prefeririam, se, como me inclino a crer, porque apesar da teoria, fazem costumes, solicitações e agrados que. muitas vezes, vezes demasiadas, nos demos mais à teoria do que à prática e, no fim de contas não pelas qualidades, mas pelos defeitos, sejamos levados a ter sempre gosto por encontrarmos em letra redonda nosso pequeno nome.
Hábito antigo o de nós todos, algum tempo perdido, readquirido depois. Sabe-se dos homens da antiguidade, e fora algumas dúvidas dos historiados, quem esculpiu tal estátua, modelou tal cerâmica, compôs tal tragédia ou simplesmente inventou em praça pública uma anedota célebre. Com a revolução cristã, correspondeu a um conceito novo da comunidade de irmãos reverentes, obedientes e de mente voltada para o seu Pai celeste, a forma cooperativa de propriedade, a educação mútua, o templo em que pintores, ecultores ou arquitectos trabalhavam com tal anonimato que só às vezes por um recibo de pagamento ou por um documento de contacto é possível descriminado os artistas, atribuir autores às obras.
Parece, no entanto, que não estavam os tempos maduros para o cristianismo que muitas conversões eram de interesse e não da mudança de espírito posta por Cristo como acto fundamental e que até entre pessoal da Igreja havia pagãos e se tendia de mais a ver Roma não como o altar de Deus, mas como o trono de César. Com o Renascimento, que foi muito mais de latinos que de gregos, triunfou o direito cesarista, julgou-se o homem centro do mundo, constitui-se a ciência como independente da moral, celebrou-se o triunfo da propriedade privada e libertou-se o juro, institui-se a escola como formadora das classes possidentes e dirigentes e, acompanhando o movimento, passaram os autores a assinar ciosamente as suas obras, que, além de tudo, se usaram já, não como instrumento de educação e como sinais de devoção, mas como penhores de uma valia e como adornos de um poder.
Não assinar é, portanto, em última análise repudiar tudo isso e considerar que o que vale é a obra em comum, sem o insignificante pormenor das nossas glórias vulgares e apenas com atenção ao avanço geral da Humanidade se formos bastante felizes para nele colaborar, e com humildade perante o Espírito que a todos nos pode iluminar e que a nehum de nós pertence. Tão convicto estou disto que espero poder um dia mostrá-lo na prática, agradecendo aos jornais em que colabore que me não ponham o nome em artigo nenhum.
(...)
Fica então assente que nunca mais assinarei coisa alguma que aqui se publicar; pôr o nome ou não pôr o nome ficará inteiramente a critério da Direcção; a mim me basta que as ideias expostas possam ser úteis a alguém, por acordo ou desacordo: ambos óptimos, se conscientes, críticos e em plena liberdade de quem o pense, lealdade consigo e lealdade com os outros."

Agostinho da Silva
“O Sesimbrense”, (05/12/1971)

quinta-feira, 9 de junho de 2011

d´Arte - Conversas na Galeria XLI



Convite para um Café Autor António Tapadinhas
Óleo sobre Tela 80x100cm

Esta tela está em Zambujeira do Mar, num monte alentejano que pertence a um grande amigo.
De vez em quando, passo uns dias no monte para fazermos grandes (ás vezes pequenas, mas não é o mais importante) pescarias na foz do rio Mira, ou nas praias da costa alentejana. No monte, sento-me numa cadeira com fundo de palha, semelhante à que tenho na tela, frente a frente, separados por uma mesa. Porque aquele lugar na cadeira, não está vazio: Vincent Van Gogh está lá sentado. Eu vejo-o, com os seus cabelos e barba vermelhos, o seu rosto anguloso com rugas bem vincadas e, sobretudo, os seus penetrantes olhos verdes a dizer-me ... não me atrevo a dizer o quê....
Faz agora um ano que estive em Amesterdão e passei um dia na casa do Mestre, no Van Gogh Museum. Esta obra foi feita em sua homenagem. Faço a todos um convite irrecusável:
Vamos beber um café com Vincent?

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Genealogia da região da vila de Alhos Vedros

Entre os temas preferenciais do espaço dialogos_lusofonos está a genealogia. Mas esta temática, como aliás outras, não pode ir muito adiante sem um esforço conjunto. A desejada troca de informação, no espaço dialogos_lusofonos, não é tão dinâmica como seria desejável ! Mas vamos em frente. Julgo importante o que fazemos. É positivo saber que o grupo dialogos_lusofonos já é referência para todos os que se interessam pelos objetivos do espaço de virtual.

Vamos hoje abordar a genealogia da região da vila de Alhos Vedros e porque “vedro”, do latim Vetulu, significa “antigo”, pode-se concluir da antiguidade daquela povoação do concelho de Moita, na margem sul do Tejo. Comecemos por lembrar que foram grandes as modificações introduzidas na " outra banda", por Dom Manuel I, nos século XV-XVI, que alterou as fontes do tempo de Dom João II, que praticamente não mais existem.

A importância de Alhos Vedros no contexto é confirmada em 1514, ao ser a terceira localidade da região (depois de Palmela e Almada) a receber o chamado Foral Novo, atribuído por D. Manuel. Segundo os registros históricos, Dom Manuel I fez desaparecer o antigo Concelho de “Riba Tejo” que incluía Alhos Vedros, Almada, Sesimbra e Palmela, criando então o concelho tardo medieval de Alhos Vedros, que era composto por varias freguesias - Palhais, Telha, Verderenas, Barreiro, Lavradio, Moita, Martim Afonso e Sarilhos- e duas Vilas sede de Concelho, em simultâneo. Estas eram São Lourenço de Alhos Vedros e Sabonha/Saboya.

Posteriormente, ainda no século XVI, Alhos Vedros foi desmembrada e viu duas de suas freguesias florescerem: Barreiro e Montijo(Aldeia Galega do Ribatejo) , reduzindo seu patrimônio. E devido a uma evolução demográfica desfavorável, a vila de Alhos Vedros perdeu influência a partir de meados do século XVI e do século XVII.
Na vila de Alhos Vedros permanecem vestígios de uma história de ilustres famílias. que encerram em si a dimensão de um passado Cito o moinho de maré do cais de Alhos Vedros, integrado no Palácio dos Condes de São Payo, que remonta aos inícios do século XVIII e foi propriedade da família Tristão Mendonça Furtado, os fidalgos da "Casa da Cova".Outros registros da importância do povoado, são a Igreja de S. Lourenço, a Igreja da Santa Casa da Misericórdia e o Pelourinho.
As genealogias da “outra banda”, uma região não muito "estimada pelos cultores da genealogia", não foi muito desenvolvida, porque poucos se interessaram em estudar as famílias e a sua importância histórica. O estudo da genealogia destas famílias não é talvez muito atraente! Até mesmo os descendentes de famílias da margem sul, não assumem grande orgulho, exceto em alguns casos geográficos, como Azeitão, Palmela, Setúbal e Alcochete.

Mas voltando à genealogia de Alhos Vedros e região, segundo um texto que lemos, o Afonso de Albuquerque tinha um Morgado em Alhos Vedros e em Azeitão, a sua ascendência varonil detinha o Senhorio da Vila de Alhos Vedros há gerações. Os Mendonças Furtado (Alhos Vedros e Lavradio), Matos de Cáceres, Matos Cabral, Pereiras Galvão, Carcome e Figueiroa, Figueira, Milheiro, Pizarro,Palmeiro, Correia Pato, Correia de Lacerda, Coelho de Melo, Gama e Meira, todos destas Vilas da outra banda,vários ramos de Sousas, os de Gaspar de Sousa (de Alhos Vedros), os Sousas (Araújo) Morgados do Montijo em Aldeia Galega do Ribatejo, os Sousa do Calhariz, os Sousa de Benavente, os Pimenteis e Pachecos de Aldeia Galega do Ribatejo, os Varela de Seabra, Perdigões, Leão de Pedrosa, Alcaides, todos da mesma Vila de Aldeia Galega do Ribatejo (atual Montijo), Lencastres, Quevedos e Vasconcelos, Mirandas Henriques, Cunhas, Farias, entre tantos outros de Palmela e Setúbal.

Esperamos que esta pequena conversa sobre famílias de Alhos Vedros, com múltiplas ligações ao Brasil dos Brasis, motive e desenvolva a cooperação e a troca de informação.

Fonte consultada: João Gaspar in http://www.geneall.net/P/forum_msg.php?id=224147

Margarida Castro
05.06.11

Exposição Os portugueses na Ilha de Santa Catarina

“Nem tudo o que se vê em Florianópolis é português, mas de quase tudo o que é português se veem e escutam traços e reminiscências na Ilha de Santa Catarina. Um exemplo está nas vivências religiosas: faltam algumas importantes devoções, mas duas das manifestações mais notáveis estão presentes: a Festa do Divino Espírito Santo e a Procissão do Senhor dos Passos. A fotografia de Joi Cletison exprime tão bem a presença portuguesa que parece falar e mover-se, e em poucas imagens evidencia até algumas diferenças: a arquitetura portuguesa comum das fortalezas, igrejas e prédios públicos, e a particularidade dos sinais açorianos, mais sutis, nas rendas, nas danças e nos ofícios manuais, culminando com as notas de atualidade que sobre esse fundo compõem esta pequena sinfonia luso-brasileira.”

João Lupi - Cônsul Honorário de Portugal em Florianópolis



Exposição “Fortalezas da Ilha de Santa Catarina”
Local: Museu Histórico de Santa Catarina
Período: 10/06 a 10/07/2009
Terça a Sexta das 10 as 18 e Sábados e Domingos das 10 às 16 horas.
Promoção: Universidade Federal de santa Catarina/SECARTE
Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esportes/FCC
Fundação Catarinense de Cultura
Realização: Núcleo de Estudos Açorianos
Museu Histórico de Santa Catarina
Exposição “Fortalezas da Ilha de Santa Catarina”
LOCAL: Palácio Cruz e Sousa – Museu Histórico de Santa Catarina.
Praça XV de Novembro – Florianópolis/SC
DATA: 10/06 a 10/07/2011(3ª a 6ª feiras das 10 às 18h e nos sábados e domingos das 10 às 16 horas)
Maiores Informações: telefone 48 3721.8302 c/ Joi ou 3028.8090
Fotos para divulgação: http://ftp.identidade.ufsc.br/Fortalezas.zip
Para conhecer mais sobre essas fortificações mantidas pela UFSC, acesse na Internet o endereço: www.fortalezas.ufsc.br
Para conhecer sobre essas fortalezas e todas as demais fortificações da Ilha de Santa Catarina acesse na Internet o endereço: www.fortalezasmultimidia.com.br/santa_catarina
Promoção:
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA/ Secretaria de Arte e Cultura
SECRETARIA DO ESTADO DE TURISMO, CULTUARA E ESPORTES
FUNDAÇÃO CATARINENSE DE CULTURA
Realização:
Projeto Fortalezas da Ilha de Santa Catarina/UFSC
Museu Histórico de Santa Catarina
Apoio:
Agência de Comunicação da UFSC – AGECOM

terça-feira, 7 de junho de 2011

PARA ESCONJURAR O MEDO

por Abdul Cadre
Junho 02, 2011

Unindo e, simultaneamente, dividindo os povos da Terra, muitas e diversificadas são as culturas, mas apesar de algumas serem tão diferentes que se chega a pensar serem inconciliáveis, há algo de comum a todos os homens e a todas as mulheres, qualquer que seja a cultura em que se insiram: o desejo profundo de amarem e serem amados.

É esta a raiz da nossa humanidade e é por ela que nos tornamos iguais, saciados e compassivos. Teremos muitas outras características e atributos comuns, que certamente definirão a nossa espécie — por exemplo, o medo —, mas que todavia não nos distinguirão tanto quanto se julgue dos animais que nos são próximos.

Descobrir isto na escola da vida, se mais ganho nos não der, dá-nos pelo menos serenidade, pacifica-nos por dentro, faz-nos desejar um mundo materialmente próspero, socialmente justo, humanamente digno; um mundo onde reconheçamos no outro a nossa própria humanidade. Não o conseguimos ainda, mas afinal é isto precisamente que procuramos há milhares de anos. Não o conseguimos porque nos metemos por caminhos e veredas que nos desviaram do destino. Por isso, desembarcámos neste mundo organizado por poucos e para poucos, permitido pela apatia e rendição generalizada, justificado e prometido como sendo para o bem de todos. E este «melhor dos mundos» em que nos desumanizamos quotidianamente não nos deixa ser quem somos, impele-nos ao desejo, não de amar e ser amados, mas de consumir e de lucrar. Trata-se de uma doença grave, de um cancro espiritual: consumir cada vez mais, lucrar cada vez mais, usar o prazer até à anestesia dos sentidos e exaltar os sentidos até à anulação do sentimento. Que lástima!

Há quem queira explicar tudo isto com a globalização, usando para tal aquele dialecto sombrio e alienante a que alguns chamam de «economês». Tudo é subsumido à economia e os dogmas desta astrologia sem astros substituíram os dogmas religiosos do passado. Agora há só uma religião, que é o mercado, e maldito seja quem dela não for crente. Há até quem ache que tudo estaria luminoso e ungido não fora a crise. Crise? Qual crise? Aquilo a que chamam crise é um processo de obtenção de lucro como qualquer outro. Como qualquer outro, não, porque este radica numa voragem financeira nunca antes vista. Aliás, só haverá crise se a galinha dos ovos de oiro, de tão depenada e espremida, morrer de exaustão. Aí, nem com uma canjinha podemos contar.

Embora verdadeiramente ninguém nos persiga, corremos de um lado para o outro como se fugíssemos. Ou será que é o tempo que nos foge?

No nosso morrer de cada minuto, alienamos doze ou mais horas por dia em tarefas que apenas visam a remuneração que nos permita pagar contas e contas e contas, numa rotina robótica que nos corrói a própria natureza e deixa a alma exangue.

O uso da violência nos meios de «excitação social» que são os media, medido pelo share e justificado pelo lucro — sempre o lucro! — embota-nos a sensibilidade, aliena-nos a compaixão. Já não somos capazes de sentir como nossas as dores alheias. Entre a crueldade e a apatia agiganta-se a nossa sombra. Não nos indignamos nem pomos objecções a que os nossos líderes promovam guerras para o saque dos recursos alheios. Sabemos que isso é errado, mas pode ser que ajude a pagar as nossas contas. Depois, sossegamos a nossa consciência com o que de conveniência se justifique; os milhares de mortos e estropiados são apenas danos colaterais, gente que estava no lugar errado do tempo certo.

Sentimo-nos em desconforto, mas o medo pode ainda muito. Medo de que tudo piore, medo de qualquer mudança, medo de que doa, medo do amanhã, medo do de aqui a instantes. Medo do medo.

Por mais que saibamos que não há dragões, o medo de dragões é sempre verdadeiro, não nos deixa caminhar, ata-nos ao chão.

(in, Declinações de Rosa - VER MAIS AQUI)