O Emigrante, Malhoa, 1918 Óleo sobre Tela, 57x49 cm |
Uma Revista que se pretende livre, tendo até a liberdade de o não ser. Livre na divisa, imprevisível na senha. Este "Estudo Geral", também virado à participação local, lembra a fundação do "Estudo Geral" em Portugal, lá longe no ido século XIII, por D. Dinis, "o plantador das naus a haver", como lhe chama Fernando Pessoa em "Mensagem". Coordenação de Edição: Luís Santos.
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
domingo, 29 de setembro de 2013
sábado, 28 de setembro de 2013
ESTUDO DO RIO E DO CÉU E DAS OUTRAS COISAS GERAIS QUE ENTRE ELES SE ENCONTRAM
IV
Os começos e os fins ou nem por isso
“(...)
A ideia de dia conseguido é, por conseguinte, para ti e por agora, válida enquanto quarto poder, após as ideias de instante conseguido, de vida eterna ou vida única conseguidas? E há algo que te impele a atribuir ao dia conseguido um perfume que não se evapore mas que, independentemente do que possa acontecer amanhã, permanece sob esta ou aquela forma? E é outra vez o momento de perguntar: Como é que imaginas em pormenor um tal dia?
(...)”
A ideia de dia conseguido é, por conseguinte, para ti e por agora, válida enquanto quarto poder, após as ideias de instante conseguido, de vida eterna ou vida única conseguidas? E há algo que te impele a atribuir ao dia conseguido um perfume que não se evapore mas que, independentemente do que possa acontecer amanhã, permanece sob esta ou aquela forma? E é outra vez o momento de perguntar: Como é que imaginas em pormenor um tal dia?
(...)”
HANDKE, Peter. Ensaio sobre o dia conseguido
Comecemos
pelos princípios. E estes podem estar no fim. Tal como os últimos são os
primeiros. Diz-se. Vale o que vale. Também se repete. Avancemos. Ou recuemos.
Até aos fins. Aos princípios. Há um livro extraordinário do Peter Handke que se
chama Ensaio sobre o dia conseguido. Peter Handke é também o autor dos
diálogos do filme Asas do Desejo. Eu adoro este autor, este filme e
adoro este livro, Ensaio sobre o dia conseguido. Para além de que é um
tema que toca a todos. Quem não teve já repetidamente a sensação de ter falhado
completamente o dia? De o seu dia ter sido uma sucessão de fracassos, fraquezas
e falhas irreparáveis cuja única solução só poderia ser o suicídio? E de onde
vem esse desespero, essa crença no irremediável? Vem de outra crença de que o
dia começa quando nos levantamos e termina quando nos deitamos. Ora tal não tem
de ser assim. Eu posso
Re
começar
o
parágrafo é propositado, senhores puristas J
o
meu dia a qualquer momento, as vezes que eu quiser. Não gostei disto que fiz,
disto que me aconteceu? Muito bem, faço de conta que foi um sonho,
na
verdade foi um sonho,
começo
agora o dia. As vezes que forem precisas. Posso ter de recomeçar muitas vezes,
mas depois os recomeços tornam-se mais espaçados.
-
Oh! Que pena! É tão divertido recomeçar!
Então,
recomecemos. Também este é um bom pretexto para começar o dia muitas vezes.
Assim se multiplica um dia em muitos dias, assim se transforma o tempo em
eternidade, assim me transformo realmente em criadora dos meus dias.
E
os fins? Que têm a ver com os princípios?
Por
causa dos meios.
Conto-vos
uma história real. Verdadeiramente Real, passe a aparente redundância.
Aqui
há tempos
existe
um vídeo na internet…
numa
corrida de atletismo, um dos atletas estava quase a cortar a meta, mas ia,
creio, em segundo lugar. Quando, o que ia à frente dele, caiu.
É
aqui que se coloca a questão da meta. Onde fica a meta, para este homem quase a
cortar a meta, não fosse o seu colega caído? Para ele foi claro que a meta era
ali. Parou, socorreu. Os fins, por muito sonhados, desejados e até justos,
podem não justificar os meios. Antes, ao lado, ou depois de uma meta visível
existem várias metas que apenas cada um consegue ver. Chegar à meta, custe o
que custar, contra tudo e contra todos, pode ser uma forma de a perder. Mesmo
que os louros dos homens nos coroem, mesmo que ninguém se aperceba. Mas
renunciar à meta em favor de uma meta maior que só eu vejo é ser coroado pelos
deuses. Com um louro invisível mas indelevelmente perfumado como aqueles
dispensadores de aromas que de vez em quando libertam um perfume de felicidade.
É
muito importante saber reconhecer onde está nossa meta. Mesmo que todos nos
apontem para um único ou diversificados lugares, só nós poderemos encontrá-la,
porque ela apenas se mostra aos olhos de cada um. Para os que queiram ver.
Risoleta Pinto Pedro
sexta-feira, 27 de setembro de 2013
Livros d'África
INÁCIO REBELO DE ANDRADE
Nasceu no Huambo,
Angola, em 1935. Em 1950 parte para Portugal para terminar o Curso de Regentes
Agrícolas, em Santarém. Regressa a Angola em 1956 para trabalhar na Junta de
Exportação de Cereais e posteriormente no Instituto de Investigação Agronómica da
Chianga, Huambo. Retoma os estudos em 1965 e licencia-se em Agronomia iniciando
a carreira docente na Universidade de Luanda. Viria a doutorar-se em Engenharia
Agronómica, já em Lisboa, prosseguindo a carreira na Universidade de Évora onde
atinge o topo da carreira como Presidente do Conselho Científico da
Universidade a partir de 1993.
Com Ernesto Lara Filho,
irmão da poetisa Alda Lara, fundou no Huambo a “Colecção Bailundo”, no rasto e
à imagem do que faziam já Leonel Cosme e Garibaldino de Andrade com a “Colecção
Imbondeiro”, no Lubango.
Da sua amizade com o cronista
e poeta Ernesto Lara Filho nasceu uma das mais belas obras que tenho lido sobre
a saudade: “SAUDADES DO HUAMBO”, publicado pela Pendor em 1994.
“Dói mexer no passado.
Mas dói não apenas por se sentir saudades e guardar lembranças (umas boas,
outras más), mas sobretudo por se não estar realmente lá, por se não se poderem
aproveitar as oportunidades perdidas, por se não ter já a ingenuidade de
acreditar no que não haveria de vir.
A obra é um relato
emotivo sobre as peripécias e dificuldades (financeiras e políticas) dos
primeiros lançamentos das obras de autores como Alda Lara, o próprio Ernesto
Lara Filho ou o poeta cabo-verdiano Onésimo da Silveira. Mas é sobretudo sobre
a personalidade de Ernesto Lara Filho, cujo génio rimava com boémio, simbiose
que o transformou no maior cronista angolano de sempre, é em nome de uma
profunda e recíproca amizade que o Autor se debruça.
No final, para além da
pungente saudade expressa em todo o livro, fica, talvez, o mais belo epitáfio
que a um amigo se pode dedicar:
“Como gostava de poder
contar com pormenor como o meu Amigo passou os últimos anos da sua existência,
como vibrou com a independência da sua Pátria, que sentimentos de exaltação
(ou, se calhar, de desilusão) experimentou no seu coração, que madrugadas de
esperanças esperou ver surgir um dia. Como gostava de poder contar tudo isso!
Mas não posso, porque eu não estive lá, porque quis mesmo não estar lá, porque
não voltei para tirar tudo a limpo…
Soube por alguém que o
fim chegou numa noite de 1977, na Avenida da Granja, em Nova Lisboa: não quando
o catuítuí cantava nas pitangueiras, nas mangueiras ou nas papaeiras, mas
quando a má sina o vitimou, lhe cortou o bico e lhe quebrou as asas. Foi então
que a ave ferida deixou de voar e se enrolou a “morrer de dor”.
No seu enterro não
tocou o N’Gola Ritmos; o seu caixão não foi levado no maximbombo da linha do
Cemitério; ninguém tocou a Cidralha nem convidou a Marcha dos Invejados;
ninguém declamou versos até enrouquecer – e tudo isso talvez porque a guerra
rondava perto e a morte de um poeta era igual a tantas outras…”
E não há maneira de não
me comover quando releio isto, porque o poeta “deixou de voar”…
Catuituí – pequena ave canora
N’Gola Ritmos – grupo musical angolano em voga nos
anos 50/60
Machimbombo – autocarro
Cidralha – canção carnavalesca
Marcha dos Invejados – grupo carnavalesco de Luanda
Tomás Lima Coelho
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
POEMA DA SEMANA
VAIDADE
É um simplicíssimo poema que versa sobre um comportamento humano
que infelizmente ainda se faz notar nas nossas sociedades.
Veja-o aqui neste link:
http://www.euclidescavaco.com/Poemas_Ilustrados/Vaidade/index.htm
Euclides Cavaco
cavaco@sympatico.ca
Venha tomar comigo um cálice de poesia.
Entre por aqui na minha sala de visitas e saboreie da que mais gostar...
www.euclidescavaco.com
terça-feira, 24 de setembro de 2013
A COMUNIDADE DO VALE DA ESPERANÇA - UMA CRÓNICA
Estamos a viver os dias de graça deste novo poder, como se estivéssemos a assistir a uma lua-de-mel entre os portugueses e a vivência em democracia. Como é bom de ver, o povo, esse, continua alegre e sorridente e pela primeira vez na minha vida, coisa impensável há um mês atrás, vejo o lugar que o futebol sempre ocupou à mesa do café ser substituído pelos temas mais improváveis do que tem a ver com a organização da vida em sociedade. É incrível mas é verdade, neste últimos dias, quando entro no café ou no bar da associação, o que vejo e ouço são as pessoas a discutirem ideias sobre tudo e mais alguma coisa e da mesma maneira que antes era vulgar qualquer homem ter opinião sobre os lances, os golos, o desenrolar e o desfecho de um jogo da bola, todos têm agora a sua própria leitura e as mais variadas propostas a respeito dos mais intrincados problemas que afectam o país. Por sua vez, a política estatelou-se pelas praças e açambarcou o centro de todas as atenções. É certo e sabido que há nuvens negras no nosso horizonte e nas montanhas que teremos que escalar e vencer adivinham-se longos e espinhosos caminhos que deveremos ultrapassar para nos desenvencilharmos dos piores obstáculos a uma vida livre e começarmos a consolidar os alicerces da democracia, mas até isso conflui para que eu ache tudo isto um espectáculo maravilhoso e tenho a certeza de como os meus queridos pais se alegrariam com a oportunidade de assistirem a tamanha ventura. Os partidos políticos começam a organizar-se, uns surgindo da noite da clandestinidade, outros recentemente fundados nas possibilidades que esta abertura deu aos cidadãos e os militares, de acordo com o previsto, através da Junta de Salvação Nacional, decidiram entregar a chefia do governo a um civil, o Professor Adelino da Palma Carlos, conhecida figura das lutas da oposição ao salazarismo que, na qualidade de Primeiro-Ministro, constituiu uma equipa que reúne representantes dos vários quadrantes e sensibilidades que, pelo menos por enquanto, manifestaram maior expressão e visibilidade no panorama nacional e dentro de dias tomará posse para dar início à estabilidade governativa que garantirá a consolidação da legalidade e, com ela, do novo regime que se pretende democrático. A ser cumprido o programa do Movimento das Forças Armadas, dentro de alguns meses teremos eleições livres para uma assembleia que irá elaborar e aprovar uma nova constituição, a partir da qual os portugueses passarão a escolher aqueles que querem ter por governantes e, dessa forma, a viverem aquilo que poderemos designar pela normalidade de um regime democrático. Para já, toda a gente sabe o que é pior ou melhor para Portugal e não há cão nem gato que não esteja seguro que um certo nome seja preferível numa determinada pasta. A dar ouvidos às vozes que se vão fazendo escutar e avaliando apenas pela pequena amostra que decorre do quotidiano das minhas relações, os problemas são mais que muitos, às vezes até parece que está tudo por fazer o que também não é bem assim e vão desde aqueles que se queixam porque a electricidade ainda não chegou às suas ruas e casas ou que lhes faltam os esgotos devidos e apropriados a uma habitação saudável, até às lonjuras de escolas para os mais novinhos e a miséria de salários que só o rol dos merceeiros impede muitas e muitas famílias de terminarem o mês sem comida no prato. E tudo leva a crer que todos se sentem como que na obrigação de dizer qualquer coisa e tantas são as opiniões que quase se poderia afirmar ser esta uma daquelas situações em que temos tantas sentenças quantas as cabeças. Felizmente, aqui, nesta nossa comunidade que já conta perto de duas centenas de habitantes pois, enquanto povoado, já não podemos contabilizar apenas os núcleos familiares dos membros da cooperativa, seja como for, ainda bem que aqui no Vale da Esperança, todos os adultos são alfabetizados e, na sua larguíssima maioria, por via do trabalho que tanto a escola como a associação cultural desenvolveram, quer em conjunto e coordenadamente, quer cada uma por si, devido a isso temos homens e mulheres que não só sabem ler e escrever, como igualmente estão capacitados para lerem e compreenderem os textos mais diversos. Talvez por isso a consciência do que importa aprender seja mais aguçada e não espanta que tenham surgido pedidos e sugestões para que através da associação se organizem cursos de iniciação à política para quem queira conhecer mais de perto essas matérias, coisa que a comissão cultural começou já a tratar e que na direcção da nossa escola, por simpatia, gerou a ideia de, no próximo ano lectivo, transformar a disciplina de organização política e administrativa da nação, dos cursos complementares, num verdadeiro curriculum de introdução aos conhecimentos e teorias políticas, bem como do funcionamento e características dos diversos tipos de regimes políticos e sociais. É a gestação da vida democrática e, tal como em todos os períodos em que a gravidez é desejada, é um real encanto de se ver. Mas como é de se esperar em cada parto, é natural que venha a dar dores que só não sabemos quão fortes poderão ser. Há pois um vulcão que se alimenta desta sede de expor e participar, há toda uma caldeira que vai inchando e pressionando a chaminé e certamente explodirá e dessa corrente de lava sairá muito do que poderá vir a influenciar os contornos de um amanhã que, pessoalmente, é o meu mais profundo desejo, espero venha a ser o mais justo possível, o mesmo é dizer, onde os filhos dos mais pobres, pelo mérito do seu esforço de aprendizagem e empreendimento, possam aspirar a algo mais que a repetição da pobreza que tiveram nas casas em que foram criados.
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
REAL... IRREAL... SURREAL... (47)
Jardim com Girassóis, Gustav Klimt,1906
Óleo sobre tela, 110 × 110 cm |
Tenho umas flores no meu jardim, das quais não sei o nome, que se abrem logo que o sol desaparece. Ao observá-las, cheguei à conclusão que elas abrem as pétalas para recolher a humidade da noite, e a guardam ciosamente, em pequenas gotas de vida, protegidas dos raios solares, durante o dia. Fazem o contrário do girassol que volta o pescoço olhando sempre o sol de frente!
Concluo:
Cada um tem a sua fórmula para chegar ao Criador...
domingo, 22 de setembro de 2013
Pintura de Luís Delgado (óleo sobre tela)
PELO
SONHO QUE FICOU, VOU.
No
sonho tinha tudo do que precisava. Tudo tão deslumbrante e intenso que acordado
o sonhado ainda lembrava. Não lembrava de tudo mas tudo o que precisava estaria
lá já que o estado de felicidade era total.
Havia
uma fogueira e tinha uma roda de gente que cantava e dançava. O riso brincava nos
rostos e os olhares encontravam-se. Iluminavam-se em milagres de luz de espelhos
frente a espelhos. No sonho, o projectado misturava-se com o vivenciado. O
sonho tornava-se real e o real tornava-se sonho.
Foi
assim que se entoou em coro a ária popular que escutara no Alvito e que, por
sobre o dedilhar das violas campaniças, cantava assim.
“Venho
da ilha dos vidros
da
praia dos diamantes
ando
no mundo perdido
pelos
teus olhos brilhantes
pelos
teus olhos brilhantes
pelo
teu rosto de prata
ter
amores não me custa
deixá-los
é que me mata.
Quero
cantar ser alegre
que
a tristeza nada tem
ainda
não vi a tristeza
dar
de comer a ninguém.
O
sol é que alegra o dia
pela
manhã quando nasce
ai
de nós o que seria
se
o sol um dia faltasse.
Venho
da ilha dos vidros
da
praia dos diamantes
ando
no mundo perdido
pelos
teus olhos brilhantes
pelos
teus olhos brilhantes
pelo
teu rosto de prata
ter
amores não me custa
deixá-los
é que me mata.“(*)
(*) – do cancioneiro popular.
Não
havia medos. Isso sentia-se. Nos olhares serenos, nos gestos confiantes. E a
paisagem,… Deus meu. Havia planícies que se elevavam até formarem montanhas,
que a seguir desciam para sombras frescas de vales. Ouviam-se sons de água
correndo. E por todos esses caminhos pessoas caminhavam. Em grupo ou sozinhas. Havia
muita cor. Havia paz, harmonia e de toda essa (i) realidade os propósitos
nasciam.
Não
sei, ou não consigo contar, tudo o que ali havia, o que sei e pretendo
partilhar é que nada está perdido e, acredito, caminhamos, mesmo se através da
noite, para ver nascer esse dia.
Manuel João Croca
Foto: Edgar Cantante
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
Agostinho da Silva no Brasil
Agostinho da Silva
passou 25 anos no Brasil num auto exílio forçado pelo governo de Salazar. Foi
para o Brasil em 1944 com 38 anos de idade. Ali ganhou dupla nacionalidade, ali
construiu parte da imensa obra que nos legou.
Agostinho foi Professor em várias Faculdades do Brasil, de norte a sul do país (Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraíba, Bahia, Brasília...), participou na fundação de várias Universidades (Universidade da Paraíba, de Santa Catarina e de Brasília) e criou alguns Centros de Estudos (Centro de Estudos Afro Orientais, na Universidade Federal da Bahia, o Centro Brasileiro de Estudos Portugueses, na Universidade de Brasília, e o Centro de Estudos Brasileiros, na Universidade de Goiás...); e foi até assessor do Presidente da República do Brasil Jânio Quadros, na altura em que estava na Bahia.
Agostinho foi Professor em várias Faculdades do Brasil, de norte a sul do país (Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraíba, Bahia, Brasília...), participou na fundação de várias Universidades (Universidade da Paraíba, de Santa Catarina e de Brasília) e criou alguns Centros de Estudos (Centro de Estudos Afro Orientais, na Universidade Federal da Bahia, o Centro Brasileiro de Estudos Portugueses, na Universidade de Brasília, e o Centro de Estudos Brasileiros, na Universidade de Goiás...); e foi até assessor do Presidente da República do Brasil Jânio Quadros, na altura em que estava na Bahia.
Em
livro de António Risério, intitulado “Avant Garde na Bahia”, uma tese de Mestrado em Sociologia que fala da intensa dinâmica cultural que se viveu ao redor da Universidade Federal da Bahia na transição da década de 50 para a década de 60 do século passado, justamente no período em que Agostinho esteve nesta Universidade, onde muito se fala do reconhecido magnífico Reitor Edgard Santos, como uma pessoa de vistas largas que soube juntar um grupo de intelectuais que transformaram de forma radical o panorama educativo e cultural da Bahia e do Brasil. Agostinho da Silva ali esteve, com outros, no fervilhar desse caldeirão cultural
que acabariam por dar lugar, por exemplo, ao Tropicalismo (de Caetano Veloso,
Gilberto Gil...), ao Cinema Novo (Glauber Rocha), mas como também a uma imensa
criação artística em várias área como a arquitetura, a antropologia, o teatro, a música, a
fotografia...
Neste livro, há um interessante depoimento de Caetano Veloso que diz assim: "Certa vez, tive uma conversa fascinante sobre a canção Tropicália, num castelo medieval em Sesimbra, com Roberto Pinho e um senhor português que era tido como alquimista. O ponto de ligação entre eles era o professor Agostinho da Silva, um intelectual português que foi perseguido por Salazar e veio para o Brasil (...) Em Salvador disseminou uma forma de sebastianismo erudito de inspiração pessoana que atraiu algumas pessoas que me pareciam atraentes. Não foi sem pensar neles que eu incluí a declamação de um poema de Mensagem, de Fernando Pessoa, no happening que foi a apresentação da canção É Proibido Proibir num concurso de música popular na televisão em 1968. Mas eu não tinha embarcado na viagem desses sebastianistas nem como estudioso nem como militante. Apenas me parecera interessante que houvesse gente falando no Reino do Espírito Santo e numa futura civilização do Atlântico Sul, numa época em que todo mundo falava em mais-valia e nas teses científicas de transformar o mundo através da classe operária. E, sobretudo, foi por causa disso que eu entrei em contacto com o livro Mensagem, que revelou para mim a grandeza da poesia de Fernando Pessoa. Não me parecia possível que se demonstrasse mais fundo conhecimento do ser da língua portuguesa do que nesses poemas, por causa de cada sílaba, cada som, cada sugestão de idéia como se aqueles poemas fossem fundadores da língua ou sua justificação final. O fato de Mensagem ter como tema o mito da volta de Dom Sebastião e da grandiosidade de uma adiado destino português, enobrecia, a meus olhos, os interesses daquele grupo de pessoas que cultivavam tais mitos. De modo que, em Sesimbra, comecei a ver Tropicália - e a pensar o tropicalismo - também à luz do sebastianismo, que consistia em adivinhações do que fosse o sebastianismo deles. Eu, no entanto, sempre fui muito cético". E continua o autor do livro, António Risério, "Mais nitidamente, o sebastianismo esteve sempre entre as preocupações de Glauber Rocha, artista-ideólogo marcadamente messiânico. E Agostinho deixou ao menos um discípulo brilhante no Brasil, o antropólogo Roberto Pinho." (António Risério, avant-garde na bahia, Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, Brasil, pp.82-83)
Luís Santos
quinta-feira, 19 de setembro de 2013
quarta-feira, 18 de setembro de 2013
M.F.I. (MOVIMENTO DAS FORÇAS INTERROGATIVAS)
Por PEDRO VARGAS
Para que serve o Estado?
Antes de responder, convém
responder à pergunta original: o que é o Estado? O Estado é o conjunto das
Instituições que “servem” (e o termo é mesmo este #) os cidadãos (sociedade
civil), em troca de impostos e/ou taxas. As Escolas, os Hospitais, os Tribunais
e outros serviços que existem para o bem comum, constituem o Estado.
Se o Estado não serve para servir
os cidadãos, para que pode servir?
No tempo da primeira democracia,
Platão escreveu na República (obra conceituada) que os Guardiões do Estado
(vulgo, Governantes e Militares) deveriam ser formados ao longo da vida para
que aos cinquenta anos de idade (idade madura e sem necessidades materiais)
pudessem assumir a governação. Depois de uma formação em música, matemática,
filosofia e educação física, estariam aptos a governar. Apenas os melhores
poderiam governar.
Estava assim lançada a matriz da
democracia moderna. Cabia ao governante zelar, proteger, organizar e acompanhar
a vida na “cidade” (sociedade). Cada cidadão seria da sua responsabilidade.
Reuniam no monte mais alto de Atenas e em Assembleia decidiam o que fazer para
garantir a boa organização da vida social, económica e política. O Estado tinha
a missão de proteger o cidadão.
Como conceber um Estado que está
longe (cada vez mais afastado) e em rota de colisão com o cidadão? Como aceitar
um Estado que “enfrenta o cidadão”, que “se pensa” à parte “que o ataca”, como
se as Instituições não tivessem o dever de o proteger?
Para mim, é difícil pensar que o
Estado esteja contra mim, quando eu sou parte do Estado.
Porque é que as Instituições
parecem estar em confronto com a cidadania?
Afinal para que serve o Estado?
E para que pago Impostos, se o
Estado não assegura o funcionamento gratuito e de qualidade dos serviços
públicos?
Caminharemos para uma sociedade
sem Estado?
Ironicamente, o socialismo
científico doutrinado pelo marxismo (de Marx do Século XIX) prognosticava uma
sociedade sem Estado depois do processo de proletarização (ditadura do
proletariado) parece, agora, plasmado e/ ou replicado numa sociedade
capitalista sujeita a um processo de mercado livre, sem Estado, “à solta”.
Onde está a “res publica”? Que
lugar terá se é que tem a República que Platão antecipou?
Fará sentido hoje em dia?
Para onde caminharemos?
Se a “coisa pública” (República)
não faz sentido, o Estado também não. Sendo assim caminharemos para uma
sociedade sem impostos nem taxas. Porque as taxas e impostos fazem sentido para
manter a vida pública. Caso contrário, que sociedade e Estado queremos? E para
que serve o Estado?
(o MFI pergunta. Responda quem
souber)
# As Intuições existem para
servir a Sociedade Civil e não o contrário.
Etiquetas:
MFI,
Movimento das Forças Interrogativas,
Pedro Vargas
terça-feira, 17 de setembro de 2013
A COMUNIDADE DO VALE DA ESPERANÇA - UMA CRÓNICA
Portugal saiu literalmente à rua como nunca antes se viu, pelo menos, como não há memória que alguma vez assim o tenha feito. A verdade é que tanto quanto se pode avaliar pela leitura dos jornais e as notícias da rádio bem como pelas imagens que a televisão mostrou, de Caminha a Vila Real de Santo António, por todas essas cidades e vilas mais importantes, o povo veio para a luz do dia e inundou as praças e entupiu as vias, entre casarios, simplesmente para mostrar a alegria que se lhe colou na alma pela mera possibilidade de finalmente poder gozar em paz um feriado que celebra o trabalho e, com isso, a força criativa e criadora que é a sua. E cantou-se, cantou-se o hino nacional e cantaram-se hinos a todos os que não viraram a cara e mantiveram acesa a chama da liberdade que hoje, com um civismo que dá grande lição ao mundo, consagra com a exemplaridade de um gesto que por isso se afirma como a determinação de não mais querer permitir que a mesma se apague nas múltiplas veredas do quotidiano. E as pessoas passearam-se, entre umas e as outras, sorridentes, dando largas ao gozo de não terem que esconder a incrível felicidade por já não terem de se preocupar com os ouvidos das paredes e os olhos nas sombras esconsas, cumprimentando-se e felicitando-se pela taluda de serem testemunhas de um momento único e inolvidável, abraçando-se e dançando sobre o asfalto, cravos vermelhos na lapela e vivas aos libertadores nas gargantas com que, no apoio às oratórias de ocasião e das que rompiam feitas papoilas nos campos, entoaram slogans de incentivo à estrada que agora se abriu plena de possibilidades que ainda haveremos de descobrir. Foi lindo, lindo de se ver, maravilhoso de se viver e foi tão bom cruzarmo-nos com os outros rostos e ao fazê-lo passarmos por um sentimento de orgulho num país que as tragédias das injustiças pintaram de cinzento e esta primavera de esperança alindou com as cores, as lindas cores de quem acredita num futuro melhor, de quem finalmente pode acreditar num futuro melhor. Nesta última semana tenho reparado que as gentes caminham com outra leveza, se expressam com outra confiança e até me parece que mais respeitosamente, mais amistosas para o semelhante, como que a provar que os portugueses estão prontos para viverem numa sociedade livre, onde os mais simples escolhem aqueles que tomam por mais capazes para tratarem de assuntos que dizem respeito à vida colectiva e ao bem comum. É tão curioso ver como os cumprimentos fluem entre os desconhecidos e todos querem manifestar ao outro a consciência de cada lugar. É uma espécie de inebriamento geral, chegando a parecer que há um qualquer vírus no ar a que ninguém escapa e a qualquer um induz este estado de euforia. No entanto, nada disso se pode comparar com a explosão deste dia em que os portugueses vieram para a rua cantar e dançar, só para mostrar que é possível viver em liberdade e em paz e, com a vontade de cada um de nós, construir uma sociedade mais justa, onde ninguém venha a ser impedido de encontrar um caminho só pela fatalidade de ter nascido pobre. Portugal está nas capas e noticiários do planeta e os portugueses, feitos aqueles que há séculos uniram as rotas marítimas e interligaram os diversos continentes, mais uma vez souberam dar um exemplo de grandeza até aí inalcançada, desta vez ensinando como a tirania pode ser derrubada sem guerra e sem que o caos se instale sobre as ruínas e as cinzas da ditadura que caiu. E foi desse modo que esta nação se sentiu, valente e imortal, por novamente ter levantado o esplendor de quem fala e sonha na língua portuguesa. Por mil anos que vivesse, jamais esqueceria a festa deste dia e o orgulho que sinto pela minha nacionalidade. Como seria de esperar, nós decidimos comemorar na Vila em cuja praça principal, a partir da varanda da sociedade filarmónica, estavam previstas algumas comunicações de personalidades envolvidas na resistência ao salazarismo e, entre elas, a do nosso representante que, por motivos óbvios pois até é o presidente da cooperativa, todos decidimos fosse o José Pedro. Gostei bastante do seu discurso de apelo à responsabilidade individual em que, para ser natural e viva, a liberdade se fundamenta. Mas daqui haveria sempre de partir uma comitiva do lugar pois, através do passa a palavra, os habitantes decidiram concentrar-se na praça do casarão pela manhã e munidos de algumas bandeiras vermelhas e muitas nacionais que nem sei de onde possam ter surgido e de dísticos com vivas ao vinte e cinco de Abril e ao movimento das forças armadas, em manifestação a pé, velhos, adultos e crianças, cantando em uníssono “Grândola Vila Morena” de José Afonso que foi a senha do golpe e a população elegeu tacitamente como o hino do movimento e que aqui e ali intercalaram com a “Portuguesa” e outras canções, estas de protesto a que os mais novos deram as letras que os outros se limitavam a trautear, lá foram todos por essa estrada fora, acenando a quem estava e a quem ia passando, com os dedos no v da vitória, vitória, vitória com que todos se saudaram, fazendo da entrada na Vila um acontecimento notado justamente pela multidão que ia desfilando pelas ruas em direcção ao epicentro dos festejos. Eu fui com eles, uma vez que o Manuel teve que seguir mais cedo para ajudar na organização do comício que ali ocorreu. Como poderia eu alguma vez imaginar que um dia haveria de caminhar naquelas ruelas estreitas sob os aplausos e vivas dos passeios e janelas? Mas foi isso que aconteceu e quando no regresso que fiz antes de todos, aproveitando uma boleia da Graziela que se esqueceu de levar uns medicamentos que não pode deixar de tomar, tive oportunidade de ver que o Vale da Esperança ficou deserto, completamente deserto, entregue ao silêncio do vento e das aves, pois nem os cães sentiram que tivessem alguma coisa para dizer perante a ausência dos donos e o sossego de ninguém passar por ali. Ainda nunca tinha visto o povoado em tão absorta quietude e com as portas todas fechadas, incluindo as do café e da papelaria e as da loja de electrodomésticos que se avistam da minha casa. E foi aí que percebi que certas mães mais novas levaram os filhos nos carrinhos, porque não houve quem quisesse perder a oportunidade de dizer estou aqui, para mais tarde ter como dizer, estive lá, naquele dia em que importou deixar clara a mensagem de não querermos voltar ao antigamente.
Tenho pena que os meus filhos e netos não estejam aqui para partilharmos esta alegria tão grande e tão intensa.
segunda-feira, 16 de setembro de 2013
REAL... IRREAL... SURREAL... (46)
Sunset at Montmajour, Vincent van Gogh,1888,Óleo sobre Tela, 73,3 x 93,3cm |
O
Museu Van Gogh, em Amesterdão, reconheceu um novo quadro do meu pintor
preferido, depois de um trabalho de identificação que durou dois anos e em que
foram utilizadas as mais modernas técnicas de pesquisa.
Na
investigação efectuada sobre o quadro, os peritos confirmaram a similitude dos
pigmentos com os que foram utilizados pelo pintor noutras pinturas da mesma
época feitas em Arles.
Escrevendo
em The Burlington Magazine, o perito, Meedendorp disse que quase todos os
pigmentos usados na obra foram os que " habitualmente tinha em sua paleta
na altura", incluindo um azul-cobalto que ele começou a usar a partir do
Verão de 1887.
A
peça pode ser datada para o dia exato em que foi pintada porque o artista, numa
carta para seu irmão, Theo, diz que a pintou no dia anterior - em 4 de Julho
1888, descrevendo-a pormenorizadamente. Os detalhes da carta já haviam sido
atribuídos erradamente a outra obra de Van Gogh, intitulada The Rocks, apesar
de faltar ao trabalho alguns dos elementos que ele descreve.
O
quadro representa uma paisagem de carvalhos nos arredores da cidade de Arles,
no sul de França, e a descoberta é “um acontecimento único na história do Museu
Van Gogh”, congratulou-se Rueger, o director do Museu, citado pela agência
France Presse.
Comprado
em 1908 por um colecionador privado, a pintura estava há anos no seu sótão,
porque o proprietário pensava que se tratava de uma cópia.
Pôr-do-sol
em Mont Majour vai agora ser
mostrado ao público a partir de 24 de Setembro, integrado na exposição Van
Gogh at Work, que o Museu de Amesterdão tem patente ao público até
12 de Janeiro de 2014.
Boa
viagem!
domingo, 15 de setembro de 2013
Fim-de-semana
de vindimas.
O
despertar bem cedo, a azáfama do dia, o calor intenso, chega-se à noite com o
corpo um pouco amassado e cansado.
Um
ciclo aproxima-se do fim e, a seu tempo, merecerá ser celebrado com o néctar que
se serve à mesa.
Depois
do podar, do adubar, do sulfatar, do vindimar chega a altura do fermentar.
Quando
o processo se concluir e o vinho “estiver cozido”, virá o disfrutar.
Lá
para meados de Novembro.
Na
natureza é quase sempre assim.
Para
se colher é preciso semear, cuidar, acompanhar, desvelar, …
Há
os que sabem cuidar melhor e colhem mais, há os que sabem cuidar menos bem e colhem
menos.
Depois,
recomeça o ciclo outra vez.
E
pronto.
Pintura de Luís Delgado; Texto: M.J.Croca
sábado, 14 de setembro de 2013
Clínica para Mulheres mutiladas no Sexo
Uma Esperança no Desespero
António
Justo
Foi
inaugurada em Berlim (dia12.09) uma clínica para mulheres genitalmente
mutiladas. É o primeiro hospital na Europa dedicado a mulheres a quem foi
decepado o clítoris (ablação).
Na Europa há
milhares de mulheres vítimas desta conduta desumana. São mulheres oriundas de
África e de países islâmicos. A criação da clínica deve-se à iniciativa “Desert
Flower Center” da activista dos direitos humanos Waris Dirie, a quem, aos cinco
anos, extirpam o clitóris e os pequenos lábios da vagina. Waris Dirie ficou
internacionalmente conhecida devido ao seu famoso livro “Flor do Deserto”.
Foi nomeada
Embaixadora da ONU contra a mutilação genital feminina. Já conseguiu que 15
países africanos penalizassem a mutilação feminina.
Waris
Dirie sente-se a “defensora das seis mil meninas que, dia a dia são mutiladas.
Nada é pior que urinar e menstruar por uma abertura do tamanho de uma ervilha.” Oriunda da Somália, com 13 anos
fugiu através do deserto para escapar ao casamento com um homem de 60 anos, com
quem o pai a queria obrigar a casar como quarta esposa, em troca de 5
camelos.
Em nome dos
costumes culturais, a opressão da mulher continua a ser aceite. Os homens querem-na submissa e pura!
Costumes, como o da ablação, são usados como preventivo contra qualquer
possível tentação. Opta-se por ter sexo com mulheres a sofrer do que lhes
permitir a liberdade do gozo. As mulheres são transformadas em terra cativa à
disposição do homem, preparadas para serem vitimadas no altar da liberdade
masculina. Parece poder constatar-se que na barbaridade sadista a honra do
homem brilha mais quando polida pela dor da mulher.
O desamparo a
que o mundo secular e religioso continua a votar a mulher conduz todo o ser
consciente ao abandono, a um estado de angústia. Necessitamos uma ética
humanista que coloque a mulher e o homem no centro do humano sem privilegiar
nenhum dos seus polos.
António da
Cunha Duarte Justo
sexta-feira, 13 de setembro de 2013
TOMÁS JORGE (Tomás Jorge Vieira da Cruz) (1928, Luanda – 2009,
Lisboa)
“Filho de peixe sabe
nadar…”. Provérbio apropriado não só porque o
seu pai foi Tomaz Vieira da Cruz, mas também. Dedicado ao pai poeta, o filho escreveu
assim: “Na posteridade basta que digam / Autor de…
/ Sem mais qualquer fantasia. / Depois quem quiser / que procure a Obra e leia
e releia. / Esta maneira simples / é a homenagem maior / por não haver maior.”.
Luandense, nascido em
1928, Tomás Jorge dividiu o seu tempo entre Angola e Portugal desde 1970.
Integrou em 1950 o movimento literário lançado por Viriato da Cruz “Vamos
Descobrir Angola!” motivo pelo qual foi detido várias vezes pela PIDE. É membro
fundador da UEA/União de Escritores Angolanos. Tendo publicado apenas um livro
de poesia (“Areal”, 1961) foi juntando o que escrevia ao longo dos anos. É
assim que aparece uma segunda obra: “TALAMUNGONGO!... “OLHA O MUNDO!...” – 50
ANOS DE POESIA (ANTOLOGIA)”, publicado pela editora angolana Kilombelombe, numa
edição comemorativa do 30º aniversário da República Popular de Angola, com
belíssimas ilustrações de Carlos Ferreira.
Das dezenas de poemas
que constituem este livro retive um que me parece muito belo e evocativo para
todos os que amam Angola e, muito particularmente, Luanda. Foi publicado em
1953 no jornal “Diário de Luanda”.
GAJAJA
Fruto pálido,
empaludado…
Cereja dos trópicos
de cor desmaiada.
Luanda:
- onde estão as tuas
gajajeiras
que a troco dos seus
frutos
pedradas eu lançava,
pedradas que magoavam
- pedradas de criança!
Por certo que foram
destroçadas,
sepultadas
em teus alicerces
da Brito Godins
e de todas as
Ingombotas,
tal como os frondosos
cajueiros.
Vi hoje uma gajajeira
já quase morta.
Havia pedras a seu
lado,
areia e cimento
e um buraco longo,
rodopiando,
fazendo quadrados,
rectângulos, quadrados…
Se a minha fortuna não
fosse feita de sonhos,
compraria aquele
terreno.
A copa da gajajeira
seria o meu chapéu,
a umbela dos dias
quentes
e das noites de luar e
de cacimbo.
Luanda:
- onde é que estão as
nossas gajajeiras?
Essas gajajeiras que me
davam
as gajajas da minha
infância
os frutos da minha
vadiagem!
Eu atirei pedradas!
Mas tu, Luanda,
o que fizeste delas?
Tomás Lima Coelho
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quinta-feira, 12 de setembro de 2013
quarta-feira, 11 de setembro de 2013
PRIMEIRA VIAGEM
Faço as malas: papéis amassados
papéis rasgados
cópia autenticada
da certidão de ir embora
atestado de carreira
contra recaídas
tampões de orelhas
tesoura de unhas
o bigode raspado
no disfarce
estrago o papel da bala no fazer
o desenho inimaginável do barco
embarco e saio
atrás de mim
as malas estalam
em primeira viagem.
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