30 / 2014
O ESTADO DO TEMPO:
- VIDA NO CAMPO
Agora
em Vale de Touros, acoitado das erupções da tarde, aguardo que o calor amanse
para ir regar.
Árvores,
arbustos e flores sedentas aguardam a frescura da água.
Quase
clamam.
Se
estivermos com atenção quase podemos ouvir.
É
o que me parece agora escutar.
Um
pedido de água.
Deve-se
dar água a quem tem sede.
Por
isso, suspendo a redacção destas linhas e apresto-me a obedecer.
Até
já.
O
chão é areia.
Aqui
chamam-lhe terreno-roto por não reter a água.
A
areia escalda.
O
mundo vegetal não se manifesta de uma única maneira.
Assim
como nos humanos varia de espécie para espécie.
Algumas
das árvores ficam com as folhas encarquilhadas às primeiras sedes, já outras,
revelam outro estoicismo.
Também
com as flores acontece o mesmo.
Umas
desfalecem e soçobram como que desmaiadas, outras resistem por mais tempo.
O
Sol, entretanto, abalou.
Dizem
que é ao início da noite que se deve regar.
Com
o chegar da noite conserva-se por mais tempo a humidade e frescura na terra.
Acho
que faz todo o sentido.
Para
além de lógico a Ciência comprova-o e, a partir desse momento, deixa de ser uma
mera possibilidade.
Acabei
de regar e vou jantar.
Jantei.
Depois
do jantar e antes de subir ao 1º andar para acabar esta “crónica” para o EG, vou
ao quintal fumar um cigarro.
A
noite já caíu e o efeito da rega resplandece no quintal.
As
árvores abanam-se na brisa, as flores espargem-se em aromas pelo quintal.
Na
natureza, e desde que cada um cumpra o seu papel, os contractos não são
atraiçoados.
A
Vida, ensina-nos.
Eu
esforço-me para te alimentar e proporcionar condições propícias ao bem-estar,
tu verdejas e floresces no tempo devido.
E
assim é, não há tergiversões nem renegociações de última hora.
As
aves pousam nos ramos.
De
há muitos anos as andorinhas fazem o ninho na arrecadação do ferrementário de
jardim.
Por
isso, aquela porta há muitos anos não se fecha.
Nem
de noite nem de dia.
Como
um compromisso, uma espécie de contracto mesmo que não escrito ou não falado.
Talvez
porque não pensado.
Acabei
o cigarro e subi ao 1º andar.
Subo
as escadas, impregnado num sentir de harmonia e aroma adocicado, e peno:
A
cada pergunta uma resposta (mesmo que se dúvida);
a
cada promessa um firme propósito;
a
cada conquista um novo sonho;
e
a cada amor uma entrega.
A
Vida mostra, a Natureza ensina que a complementariadade só é possível na
reciprocidade.
Naturalmente
e sem ser necessária qualquer filosofia.
Sem
pensar.
E
eu, pensando, pensava se não seria o pensamento a fonte de toda a hesitação, angústia
e …, pronto ok não sei…
Pratico
o exercício de me pensar.
A
mim, ao meu Mundo e a mim no e com o meu Mundo.
O
meu Mundo, aquele que eu conheço.
MJC
Foto: Olga Pereira
2 comentários:
Um texto que eu tenho escrito muitas vezes, quando penso, fazendo os trabalhos simples que descreves.
Só que... assim como um pintor faz de cada imagem, real ou mental, um objecto de prazer para si ou para outros, tu e as tuas palavras conduzem-nos a esse mundo que fazes o favor de partilhar connosco.
(Apenas critico o início de um parágrafo que sei não ser metafórico! Não digo qual, porque acho que vais adivinhar qual é!)
Grande abraço,
António
Pois é Amigo António, quando o visível e o induzido se aliam e complementam contam-nos histórias que nos humanizam e enriquecem. Por vezes, andamos a correr, não damos oportunidade a nós próprios de as escutar e com elas aprender mas, outras vezes, ouvimos e o sortilégio acontece.
Quanto ao parágrafo que referes é algo que vou acabar por ter de resolver.
Abraço.
MJC
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