A DANÇA DE UM LOUCO
Todos os dias, um homem sério e responsável, de emprego estável, família perfeita, casa grande e carro novo, se levantava cedo. Fazia trinta minutos de passadeira, seguidos de um banho rápido, um copo de água natural e um prato composto de modo exemplar por cereais e fruta fresca.
Todos os dias os seus pais estavam ainda vivos e moravam perto. De caminho para o emprego, a pé, parava e dava um beijo à sua mãe antes de cumprimentar educadamente o dono da papelaria onde comprava o jornal. Aí, olhava com interesse a prateleira dos cigarros e quase hesitava um sorriso por se ter conseguido livrar finalmente daquele vício.
Todos os dias sorria serenamente enquanto continuava o seu caminho até chegar a uma porta onde se lia «HOSPITAL PSIQUIÁTRICO»
Todos os dias um homem completamente louco dançava com um cisne.
Lá fora, a vida fazia-se outra vez enquanto um líquido transparente lhe percorria as veias e lhe fechava os dias num quarto que partilhava com outros doentes. No hospital, uma pena completamente branca era recolhida, já sem surpresa, pelo enfermeiro de serviço e ele adormecia serenamente.
Todos os dias.
Maria Teresa Bondoso
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