por Maurícia da Conceição
De
memórias ancestrais da tradição histórico-cultural portuguesa, passando por
reminiscências de Prisciliano (séc. IV), confluíram no séc. XIII, influências vindas
da Calábria, na teologia do cisterciense Joaquim de Flora (ou, de
Fiore). O abade teorizou a história humana em três fases: Idade do Pai, do
Filho e a terceira Idade, do Espírito Santo, que consumaria a fraternidade
entre todos os povos, conforme o significado Pentecostal expresso no Evangelho
de S. João.
Estas ideias expandiram-se para a
Península Ibérica, veiculadas pelos Franciscanos
Espirituais, em Aragão,
encontraram eco na obra e acção do médico, estudioso de alquimia, Arnaldo
de Vilanova, seguido por discípulos, como Ramon Lull, também ligado aos franciscanos. As tendências
difundidas na época, em Portugal tiveram concretização no Culto do
Espírito Santo imaginado e instituído pela Rainha Santa Isabel, coadjuvada
pelos Franciscanos espirituais e o apoio do Rei D. Dinis.
Agostinho da Silva realçou que,
desde séc. XIII, “Na sua forma mais perfeita, consistia a
Festa, celebrada por altura do Pentecostes, na coroação de um imperador do
Império do Espírito Santo, geralmente uma criança, na celebração de um banquete
ritual, gratuito para todos que o quisessem, e no libertar-se presos da cadeia
local”.
Com os Descobrimentos, este culto
genuinamente português, estendeu-se aos Açores, Brasil, América, tendo sido
silenciado em Portugal continental a partir do séc. XVI, pela Contra- Reforma. Resistiu
ainda no séc. XX, em algumas localidades como
Tomar, ou Sintra onde foi interrompido.
Na Serra da Arrábida, retomámos esta
tradição transmitida pelo Pensamento de Agostinho da Silva, no encontro
organizado pelo Império de S. Filipe do Espírito
Santo. a 19 de
Maio 1991, domingo de Pentecostes; com a presença de António Quadros
dedicando “Trovas para o Menino Imperador - no Dia de Pentecostes”, ao ritual
de Coroação das Crianças. Também, Dalila Pereira da Costa se uniu a esta
celebração, como António Cândido Franco, Paulo Borges, Eduarda Rosa e outros amigos,
António Telmo colaborava, então, connosco no projecto da Casa
de Estudos Universo, em
Setúbal.
Este encontro pentecostal tem sido
continuado pelo Convento Sonho e Associação Agostinho da Silva, com o apoio do
Convento da Arrábida - Fundação Oriente.
Enaltecendo a íntima harmonia com a
Natureza, reiniciou-se o ciclo do Culto do Espírito Santo, preservando na
essência: a Coroação da Criança, símbolo da inocência a imperar no mundo;
a Liberdade de ser, e a Paz, simbolizadas na Pomba; a partilha do pão para todos,
concretizada no Bodo; a exaltação do ideário de Fraternidade no convívio
ecuménico, em diversidade de crenças, religiões e culturas.
Afirmou Agostinho da Silva, acerca
desta celebração e relativamente às Trovas para o
Menino Imperador, de António
Quadros: “poema extraordinário, marcado a um tempo pela atenção ao Povo de
Portugal e pela compreensão do que há de fundamental em sua cultura, em seu
Amor da Terra e do Céu, e do Menino, como símbolo da perfeição que pode atingir
em ambos seus campos, se realizou, íamos dizendo, a Festa do Espírito Santo na
Serra da Arrábida, festa que foi de todo Portugal no século XIII, reinado de Dom Dinis e Santa
Isabel, festa não apenas comemorativa, o que já seria muito, mas prospectiva e
programática, o que é o supremo do pensamento e da acção. [...] Creio que o da Arrábida foi o
ressurgir dele, a Grande Festa Portuguesa, o seu ressurgir para o País e para o
Mundo” (George
Agostinho, Uma Folhinha de Quando em
Quando – Junho 91, Império do Espírito Santo).
Sem comentários:
Enviar um comentário