terça-feira, 9 de dezembro de 2014

FANTASIANA E OUTROS LUGARES

MAR DA COSTA


É engraçado estar aqui, na Costa de Santo André, com um mar de uma cor verde-água ou azul-céu, com um mar calmo e tumultuoso, que se faz sentir pela calada da noite, que impõe sempre a sua presença, mas eu não o sinto! 
Os pinheiros atrás da casa lançam, para o ar, quentes e finos sons: são as agulhas secas, ou as pinhas, que se tocam e caem. 
Apesar de tudo isto, que até acho aprazível, não sei descrever este lugar, este mar que não é meu e o seu areal imenso que me desfoca o olhar. 
Oiço a voz dessas ondas rebentando na praia, de forma cadenciada e, talvez, pensativa. Oiço esta massa líquida como um som que se alonga, se estica nas cordas de uma harpa, mas sempre sozinho, sem ninguém para comunicar, para o ouvir, o compreender e dizer: “este mar é meu”. 
Sinto-o como um mar sem dono, sem ser o mar, apenas um mar – é o contrário da flor do Principezinho, a sua flor, a mais bela, a mais amada e sentida, a mais... não era apenas uma flor, era a sua flor -. 
E aqui, este mar imenso é belo como todos os mares, mas, decididamente, não é o meu mar. 

Ana Santos 
21/08/99

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