Na próxima 2ª feira, 15 de Dezembro, fará 500 anos que o Rei D. Manuel I atribuiu Carta de Foral a Alhos Vedros, dia em que também chegará ao fim o Programa das Comemorações que foi decorrendo ao longo de todo o ano. Entre os vários Encontros que integraram as Comemorações, deixo aqui as conclusões da conferência que proferi. O texto integral será publicado depois, conjuntamente com as atas de todas as Conferências, pela Comissão Executiva das Comemorações do Foral.
Cruz de Cristo, símbolo que identificou, entre outros, as naus
portuguesas durante os descobrimentos.
Conclusão
1. A História de Alhos Vedros
estende-se até às origens do país e desenvolve-se com ele. Note-se que quando
estamos a falar de Alhos Vedros no século XIII, estamos necessariamente a falar
de uma região que se alarga aos concelhos atuais de Alcochete, Montijo, Moita e
Barreiro, pois que todos eles integravam o velho concelho do Ribatejo, do qual
Alhos Vedros constituía com Santa Maria de Sabonha (atual S. Francisco) as duas
sedes principais desse concelho.
Para que se possa avançar mais no
conhecimento das origens de Alhos Vedros e região, caberá aos nossos
arqueólogos um papel fundamental, já que a escassez de documentos escritos,
muito provavelmente, não permitirá aos historiadores recuar muito mais para trás
no tempo do que aquilo que já se conseguiu. Existe um hiato enorme entre o
tempo que nos é dado pela história local sobre as origens de Alhos Vedros e o
povoamento da região assinalado pelos estudos arqueológicos que remontam, pelo
menos, ao Neolítico (30 mil anos atrás), o qual nos é absolutamente
desconhecido.
Por agora, apenas se pode dizer
que o documento escrito mais antigo que se conhece sobre Alhos Vedros data de
meados do século XIII e o documento mais antigo sobre a Igreja Matriz data de
1298 e que, portanto, antes desse tempo não é possível comprovar a existência
de Alhos Vedros.
2. No século XIV Alhos Vedros
ganha autonomia face ao velho Concelho do Ribatejo e constitui um concelho
próprio. Os limites desse concelho situam-se entre a Aldeia Galega, Palmela e Coina
Antiga.
3. Podem-se estabelecer um
conjunto de fortes relações do concelho de Alhos Vedros com a Expansão
Ultramarina Portuguesa, quer a partir de importantes figuras históricas que por
ele passaram ou habitaram, tal como a partir de alguns núcleos de relevante importância
económica, como eram os fornos os biscoitos em Vale de Zebro, o estaleiro naval
da Telha da Ribeira das Naus, ou os fornos de cerâmica da Mata da Machada,
todos com relação intrínseca aos Descobrimentos Portugueses.
4. É verdadeiramente impressionante
a lista de figuras de relevo da história de Portugal que se podem relacionar
com Alhos Vedros:
- D. Dinis, rei de Portugal, e a
indústria naval
- Gonçalo Lourenço de Gomide,
“escrivão da puridade” (equivalente a um 1º ministro dos tempos atuais), avô de
Afonso de Albuquerque governador e vice-rei da Índia
- D. João I, o Mestre de Avis,
rei de Portugal
- A Ínclita Geração: D. Duarte,
futuro rei de Portugal; Infante D. Henrique, Grão-Mestre da Ordem de Cristo e
figura de proa da Expansão Ultramarina, etc. (filhos de D. João I)
- D. Afonso, Conde de Barcelos,
filho bastardo de D. João I (que sabemos estava com o Rei em Alhos Vedros
quando do luto da Rainha Filipa de Lencastre…), casado com D. Beatriz, a filha
do Condestável do Reino D. Nuno Álvares Pereira que, por via disso, também
talvez tenha por cá andado.
- Álvaro Velho, o provável
cronista da Viagem de Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia por Vasco da
Gama
- D. Manuel, Rei de Portugal, o
outorgante da Carta de Foral que sabemos esteve por cá através de carta de Gil
Vicente, o pai do Teatro em Portugal
- Afonso de Albuquerque,
governador e vice-rei da Índia, neto de Gonçalo Lourenço de Gomide, um dos
grandes senhores de Alhos Vedros.
- Luís de Camões e as suas
referências a Alhos Vedros na sua farsa “El-Rei Seleuco”.
5. Pode, pois, concluir-se
dizendo que muita coisa já se conhece sobre a história de Alhos Vedros e da
região, mas que muito ainda estará por descobrir, muito também carecendo de
confirmação científica.
Parece-nos inegável o relevante
valor da nossa história e o potencial desenvolvimento social e económico que
daí poderá advir. Neste sentido, precisamos de avançar o mais possível para a
conservação do património que ainda resta, cuidar da preservação da memória,
mais descobrir para mais acrescentar, afinal, tratar da história do futuro que
é o que mais interessa.
Assim, aproveitamos a presença do
Sr. Vice-Presidente da Câmara Daniel Figueiredo para lhe sugerir o quão seria
importante conseguirmos recuperar O Palacete dos Condes de São Paio, um testemunho
patrimonial de primeira água da nossa história local, lugar onde com elevada
probabilidade ficou D. João I e onde, conjuntamente com seus filhos, a célebre
“Ínclita Geração”, terão decidido partir à conquista de Ceuta, naquela que é
considerada a primeira etapa da Expansão Ultramarina Portuguesa, uma das
grandes realizações de Portugal no mundo.
Nov. 2014
Luís Carlos Santos
8 comentários:
Bom dia, Luís!
Significativo resumo da tua Comunicação! Os mais 'descrentes' na importância de Alhos Vedros podem aqui vir beber conhecimento'!
Aquele abraço.
Francisco
Obrigado Francisco. Já seria bom que buscassem inspiração...
Aquele Abraço.
Luís Carlos, novo Bom Dia para ti, neste Sábado molhado!
Concordo, evidentemente, com o que dizes no teu 'comentário', mas... a INSPIRAÇÃO não é uma consequência do CONHECIMENTO?
Se não estiver correcto este meu 'raciocínio'... releva cá o 'cota', pois devem-me ter caído pingos na moleirinha quando fui ao meu quintal...
Outro abraço.
Francisco
Bom Dia Francisco!
Acho que sim, é como dizes. Por sua vez, a inspiração também produz e gera conhecimento. Um pouco como a pescadinha de rabo na boca.
Por outro lado, é como aprender e ensinar: aprende-se muito ensinando e os professores, como é o nosso caso, sabem isso muito bem.
Eu fico até com a sensação que seria bom que os políticos dessem mais atenção aos que gostam de aprender... mas o "orçamento participativo" tarda em chegar.
Mais Abraços.
Bom Dia, Luís! E Bom Domingo!
À hora a que te escrevo, está um Sol agradável, pelo menos em luminosidade, apesar da 'frescura'.
Partilho da "pescadinha de rabo na boca"!
Quanto aos 'políticos'(a muitos pelo menos), muito têm ainda a APRENDER!
Mais outro abraço.
Francisco
O Sol agradável, com essa luminosidade, é o momento em Deus sorri, não é? O que também acontece em dias de frescura, pois claro. Maravilhoso o Sol de inverno!
até jazz.
Luís Carlos, uma óptima Segunda-feira para ti e para os teus!
Quão bonita a tua referência ao 'sorriso de Deus'!
Aquele abraço.
Francisco
"...O momento em que Deus sorri", era isso. Muitos anos bons para todos nós. Viva a Vida. Abraço.
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