A zona turística no Vietname central é uma cidadezinha próxima de Danang chamada Hoi An e é ali que os hotéis se estendem ao longo da costa marítima com uma notável concentração de qualidade, todos de 5 estrelas e de luxo e com praias privativas (a praia do nosso tinha sido levada por um tufão e as ondas quase rebentavam dentro da piscina ultrapassando uma primeira linha de big bags protectores e vindo morrer na segunda barreira); os de 4 estrelas não têm acesso directo à praia. Não descortinei nenhum que pudesse adivinhar de capitais portugueses. Porquê, se por ali escorre tanto dinheiro?
De Danang rumámos por estrada a Hué passando por montanhas imponentes e muito penhascosas em que eu me afastava da janela do autocarro com medo dos precipícios que insistem em me incomodar. Mas esse tormento de quem padeça do mesmo mal (não chega a ser atracção do abismo mas...) está por pouco pois estão em construção os túneis por onde passará uma auto-estrada que ligará as duas cidades. Também aqui não vi empresas de obras públicas que eu pudesse adivinhar de capitais portugueses. Porquê, se Portugal parou com esse tipo de trabalhos e o Vietname parece apostado neles? Eu já me contentaria se soubesse que alguns gabinetes de engenharia portugueses andavam por aquelas bandas mas temo que também isso não aconteça. Por onde anda a nossa diplomacia económica?
Nas montanhas vê-se uma importante acção florestal que dá a matéria-prima necessária à indústria papeleira (no que o Vietname se tornou auto-suficiente) e regressados às planícies, intensa actividade agrícola com arrozais a perder de vista.
Hué, antiga cidade real, é historicamente interessante mas foi nas suas cercanias que comecei a ficar um pouco farto de pagodes e templos... Em compensação, deliciei-me com as escolas um pouco por toda a parte cheias de crianças e jovens.
A propósito de Hué ter sido cidade real, notei um pouco por todo o país um à-vontade enorme no hastear da bandeira monárquica. Não se colocando a questão do Regime, os vietnamitas não apagaram a História mas nos idos belicosos passaram as bainhas das espadas republicanas pelas gargantas dos monárquicos, o que nós, muito bem, não fizemos. Não se pode ter tudo...
O nosso guia no Vietname central dizia chamar-se Óscar mas não explicou por que motivo tem nome cristão. Também ele aprendeu espanhol em Cuba onde se licenciou em engenharia civil, está reformado mas a pensão é pequena e vê-se na necessidade de continuar a trabalhar. E foi precisamente a propósito dessa necessidade que referiu o baixo nível salarial dos professores primários e secundários que dão aulas suplementares aos alunos cujos pais paguem por fora esse esforço extra. Assim se acentuam as desigualdades sociais pela via da educação. E isto acontece num país que se diz socialista. De qualquer modo, fiquei com a ideia de que a escolarização faz o pleno não só naquela região mas talvez mesmo em todo o país.
Ainda não foi desta vez que levantei a questão sindical. Pareceu-me que o guia não era suficientemente isento para me poder dar uma resposta aceitável, sem propaganda partidária.
Foi de Hué que voámos para sul rumo a Ho Chi Minh City, a metrópole composta por cerca de 50 municípios que engoliu Saigão. Esta, bem orgulhosa dos seus pergaminhos europeizados, é uma cidade de grande qualidade urbanística de que contarei mais à frente...
Lisboa, 10 de Dezembro de 2014
Num Estado «socialista», o único tipo de transporte público que vi consiste num triciclo de propriedade do cidadão que o empurra à força de pedal
Henrique Salles da Fonseca
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