domingo, 7 de dezembro de 2014



MIRADOURO 46/2014
 
Aptidão militar de um palhaço sem rumo
Muitas das coisas que aconteceram num momento em que o dia  se afundava sobre a outra face da terra, eram de enaltecer a quem, naquela situação se encontrava.
António Cosme 1º Tenente da 2ª divisão do Exército, escriturário por natureza e trapezista de circo por qualidade inata, recebia das mãos do famoso Coronel Monforte uma medalha de mérito. 
- Concedo a Medalha de Mérito a António Marco de Sousa Cosme por serviços prestados ao país.
Mulheres e crianças que assistiam á cena comendo pipocas e algodão doce outras ainda churros ou cachorros quentes batiam palmas euforicamente.
Monforte, Monforte de botas altas o coronel, estendia o braço com a medalha entre os dedos aterrando sem corda de segurança na farda de Cosme, trapezista de circo por qualidade inata.
Depois da cerimónia entre os dois caminhando,  entretanto, encaminhando as pessoas que os seguiam para o beberete de jantar a seguir, avistaram em simultâneo o soldado, porteiro do salão de arma marchando. Ritmo 3, 2, 1, ação!! com o passo certo pela melodia que, ia gritando dentro da farda militar marchando:
 
“ENTRAI MENINOS E MENINAS, TERNURAS E TERNOS SENHORES E SENHORAS”
As crianças animadas com os pais e familiares de Cosme tinham entrado no salão, soldados com narizes de palhaço, soldados com tutu de bailarina e divisas coloridas, soldados fardados a lentejoulas militares e  etc, etc, etc… deslocavam-se de um lado para o outro compondo os últimos retoques para os convidados que já tinham entrado e começaram a comer e começaram a falar e começaram a beber e pararam comprando bandeirinhas ás cores com palhaços na imagem para completar de alegria a cerimónia militar.
O Coronel e o Tenente, Cosme e Monforte falavam, as pessoas sentaram-se, Coronel e Tenente continuaram a falar, as pessoas comeram o prato de peixe, Cosme e Monforte sentaram-se, as pessoas comeram o prato de carne, Coronel e Tenente comeram o peixe, as pessoas a sobremesa, Cosme e Monforte a carne, as pessoas levantaram-se e começaram a dançar.
Um 1º cabo mandava 5 bolas ao ar com precisão e um Sargento cuspia fogo da boca em cima de uma bola de gigante militar. Mas todos comiam gomas, chupas, gelados enquanto dançavam ao som da banda do Exército que na reserva dos seus instrumentos também tinham gomas, chupas e gelados.
Cosme e Monforte não quiseram sobremesa e falavam, depois fumavam, depois continuaram falando, depois fumando falavam, depois beberam, depois cantaram.
O Coronel José Maria Monforte é chamado ao púlpito para fazer  discurso com o Tenente António Marco de Sousa Cosme acabado de ser premiado com medalha de mérito pelos bons serviços prestados ao país.
José Maria está no púlpito e começa o discurso enquanto António Marco está no palco onde está o púlpito, as pessoas param e os músicos param, parou tudo no salão menos o Sargento faquir que cuspia fogo e agora come facas.
 Tenha a bondade Coronel, ouviu-se uma voz.
batalhão de maior virtude
de um país, felicita um homem.
criança de homem alegre nascido
inocente, infalível, persistente.
Cosme salta para o trapézio por cima do palco preso ao teto e balança…
militar campanha ingénua,
tuas armas de paz, amor alegre,
teu sorriso terno, granada pura
teus olhos piedade num soldado rindo
Cosme faz o pino em cima do trapézio em movimento e o Sargento faquir come vidros…
tenente da fortuna pela aura
bela num exército falido,
audácia de um cosmos
num exército que nunca foi.
Cosme da um salto mortal no ar agarrando-se ao trapézio de seguida, o Sargento faquir faz malabarismo com três brasas …
 
trincheira
daquela luta sem armas
que todos os exércitos sonham,
liberdade, liberdade, liberdade…
Silêncio… Onda geral de aplausos…
Quando o Coronel termina, o Tenente cai do trapézio e o Sargento faz um corte sangrando do braço.
António Marco no chão e um fio de sangue escorre-lhe pela boca. Monforte chama o médico de serviço no quartel e debruça-se sobre o outro e uma lagrima debruça-se sobre na sua face.
Humano homem, Humano sim, Olha bem José, repara como o mundo está cheio de homens e tão poucos seres humanos.
 
                                                          Diogo Correia
 
 
 

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