MIRADOURO 46/2014
Aptidão
militar de um palhaço sem rumo
Muitas das coisas
que aconteceram num momento em que o dia
se afundava sobre a outra face da terra, eram de enaltecer a quem,
naquela situação se encontrava.
António Cosme 1º Tenente da 2ª divisão do
Exército, escriturário por natureza e trapezista de circo por qualidade inata,
recebia das mãos do famoso Coronel Monforte uma medalha de mérito.
- Concedo a Medalha de Mérito a António Marco
de Sousa Cosme por serviços prestados ao país.
Mulheres e crianças
que assistiam á cena comendo pipocas e algodão doce outras ainda churros ou
cachorros quentes batiam palmas euforicamente.
Monforte, Monforte de botas altas o coronel,
estendia o braço com a medalha entre os dedos aterrando sem corda de segurança
na farda de Cosme, trapezista de circo por qualidade inata.
Depois da cerimónia entre os dois caminhando,
entretanto, encaminhando as pessoas que
os seguiam para o beberete de jantar a seguir, avistaram em simultâneo o
soldado, porteiro do salão de arma marchando. Ritmo 3, 2, 1, ação!! com o passo
certo pela melodia que, ia gritando dentro da farda militar marchando:
“ENTRAI MENINOS E
MENINAS, TERNURAS E TERNOS SENHORES E SENHORAS”
As crianças animadas
com os pais e familiares de Cosme tinham entrado no salão, soldados com narizes
de palhaço, soldados com tutu de bailarina e divisas coloridas, soldados fardados
a lentejoulas militares e etc, etc, etc…
deslocavam-se de um lado para o outro compondo os últimos retoques para os
convidados que já tinham entrado e começaram a comer e começaram a falar e
começaram a beber e pararam comprando bandeirinhas ás cores com palhaços na
imagem para completar de alegria a cerimónia militar.
O Coronel e o
Tenente, Cosme e Monforte falavam, as pessoas sentaram-se, Coronel e Tenente
continuaram a falar, as pessoas comeram o prato de peixe, Cosme e Monforte
sentaram-se, as pessoas comeram o prato de carne, Coronel e Tenente comeram o
peixe, as pessoas a sobremesa, Cosme e Monforte a carne, as pessoas
levantaram-se e começaram a dançar.
Um 1º cabo mandava 5
bolas ao ar com precisão e um Sargento cuspia fogo da boca em cima de uma bola
de gigante militar. Mas todos comiam gomas, chupas, gelados enquanto dançavam ao
som da banda do Exército que na reserva dos seus instrumentos também tinham
gomas, chupas e gelados.
Cosme e Monforte não quiseram sobremesa e
falavam, depois fumavam, depois continuaram falando, depois fumando falavam,
depois beberam, depois cantaram.
O Coronel José Maria
Monforte é chamado ao púlpito para fazer
discurso com o Tenente António Marco de Sousa Cosme acabado de ser
premiado com medalha de mérito pelos bons serviços prestados ao país.
José Maria está no
púlpito e começa o discurso enquanto António Marco está no palco onde está o
púlpito, as pessoas param e os músicos param, parou tudo no salão menos o
Sargento faquir que cuspia fogo e agora come facas.
Tenha a bondade Coronel, ouviu-se uma voz.
batalhão
de maior virtude
de
um país, felicita um homem.
criança
de homem alegre nascido
inocente,
infalível, persistente.
Cosme salta para o
trapézio por cima do palco preso ao teto e balança…
militar
campanha ingénua,
tuas
armas de paz, amor alegre,
teu
sorriso terno, granada pura
teus
olhos piedade num soldado rindo
Cosme faz o pino em
cima do trapézio em movimento e o Sargento faquir come vidros…
tenente
da fortuna pela aura
bela
num exército falido,
audácia
de um cosmos
num
exército que nunca foi.
Cosme da um salto
mortal no ar agarrando-se ao trapézio de seguida, o Sargento faquir faz
malabarismo com três brasas …
trincheira
daquela
luta sem armas
que
todos os exércitos sonham,
liberdade,
liberdade, liberdade…
Silêncio… Onda geral
de aplausos…
Quando o Coronel
termina, o Tenente cai do trapézio e o Sargento faz um corte sangrando do
braço.
António Marco no chão e um fio de sangue
escorre-lhe pela boca. Monforte chama o médico de serviço no quartel e
debruça-se sobre o outro e uma lagrima debruça-se sobre na sua face.
Humano
homem, Humano sim, Olha bem José, repara como o mundo está cheio de homens e
tão poucos seres humanos.
Diogo Correia
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