Uma Revista que se pretende livre, tendo até a liberdade de o não ser. Livre na divisa, imprevisível na senha. Este "Estudo Geral", também virado à participação local, lembra a fundação do "Estudo Geral" em Portugal, lá longe no ido século XIII, por D. Dinis, "o plantador das naus a haver", como lhe chama Fernando Pessoa em "Mensagem". Coordenação de Edição: Luís Santos.
segunda-feira, 31 de maio de 2010
Feira do Livro no Jardim Botânico Tropical
Preparámos para si uma excelente oportunidade que tem que aproveitar!
Durante quatro dias poderá adquirir as diversas publicações do IICT a preços promocionais, bem como finais de stock de várias coelcções da extinta Junta de Investigações do Ultramar: Estudos Ensaios e Documentos, Memórias da JIU, Estudos de Ciências Políticas e Sociais com preços simbólicos e até ofertas.
Além disso venha conhecer o Jardim Botânico Tropical, a profusão de espécies aí existentes e as exposições temporárias em exibição: Terra de Linces, Um Mundo de Insectos, Jorge Borges de Macedo Privado e Publicado.
Entre 16 e 18 de Junho das 10h às 17h30
Dia 19 de Junho entre as 11h e as 18h30.
No Jardim Botânico Tropical
Arcadas do Palácio Condes da Calheta
Largo dos Jerónimos - Belém
Cordialmente,
Carolina Bastos
IICT - Instituto de Investigação Científica Tropical
Núcleo de Divulgação Externa
Rua da Junqueira, n.º 86 – 1.º
1300-344 Lisboa
Telf. 213616340 - ex. 50 119
Fax: 213631460
sábado, 29 de maio de 2010
«Olivença recupera as suas ruas»
«A Câmara Municipal de Olivença começou a recuperar os antigos nomes em português das ruas da localidade. A iniciativa parte da associação cultural Além Guadiana, que há um ano apresentou à Câmara e aos diferentes representantes políticos de Olivença um projeto pormenorizado para a valorização da toponímia oliventina, com unânime aceitação.
O projeto contempla a adição dos antigos nomes das ruas aos atuais, mantendo a mesma tipologia e estética nas placas. Assim, resgatam-se as denominações das ruas, dos becos, das calçadas, etc., que configuram o extenso casco histórico encerrado nas muralhas abaluartadas, com um total de 73 localizações. Tudo irá acompanhado de um simbólico ato inaugural e da edição de brochuras turísticas bilingues.
A maior parte da toponímia urbana de Olivença foi substituída ou modificada na primeira metade do século XX, embora alguns dos nomes continuem a ser utilizados pela população apesar das alterações, como nos casos da rua da Rala, da rua da Pedra, da Carreira, etc.
Os antigos nomes das ruas falam-nos do passado português da “Vila”, como popularmente é conhecida a cidade, desvelando aspetos diversos, amiúde desconhecidos, da sua história. Estes remontam a séculos atrás, muitos deles à Idade Média, aludindo a pessoas ilustres da História, a antigos grémios de artesãos, a santos objeto da devoção popular ou à fisionomia das ruas, entre outros aspetos. A rua das Atafonas, a Calçada Velha, o Terreiro Salgado e o beco de João da Gama” são alguns exemplos.
Com esta iniciativa pretende-se, enfim, realçar um interessante componente da rica herança cultural oliventina, a toponímia, contribuindo para testemunhar a história partilhada deste concelho e para a tornar visível em cada recanto intramuros. Os nomes ancestrais dos espaços públicos conformam uma janela que convida a assomar-se e a explorar a apaixonante história de Olivença. Expressados na sua originária língua portuguesa, constituem o testemunho vivo de uma cidade onde se respiram duas culturas e são um veículo que encoraja os mais novos a manter a língua que ainda falam as pessoas mais velhas do município. Para a associação Além Guadiana, trata-se de uma iniciativa com fins didáticos, culturais e turísticos, com a qual se resgata para o presente uma parte do passado oliventino.»
A.M.
in, dialogos_lusofonos@yahoogrupos.com.br
quinta-feira, 27 de maio de 2010
terça-feira, 25 de maio de 2010
A canícula traduzida no cigarrar do mato. No imediato, o sobrepor das vozes da conversa.
-Something in me was born before the stars.
-Eu também conheço esse poema:
Something in me was born before the stars
And saw the sun begin from far away.
Our yellow, local day on is wont jars,
For it hath communed with an absolute day.
Lindo não é? Mas esse problema do Ser intemporal que existe para lá de tudo, é precisamente essa a vertente filosófica da sua poesia em que, se atentarmos com profundidade, estão lá colocados os grandes problemas da Filosofia. O que é o homem? A vida do homem tem sentido? Qual o sentido da vida do homem? Qual o papel do homem? Quais os seus limites? São, desde sempre, problemas recorrentes no pensamento de pendor filosófico.
-“O abismo é o muro que tenho, ser eu não tem tamanho.”
-Isso é do próprio Pessoa.
-Sim, da poesia que ele assinou com o seu próprio nome.
-Mas esse pequenino poema fala justamente da infinitude do ser. O homem contem em si a potencialidade do infinito. Ora não é isto um pensamento brilhante?
(…)
-Com certeza, apesar, deve dizer-se, de não deixar de ser uma ideia comum para a época.
-Como assim?
-Então, isso era basicamente aquilo que sustentava o Nietzsche. Aliás, foi em função disso que ele desenvolveu a ideia do super-homem no Zaratrusta.
-Super-homem que o Pessoa refere, ipsis verbis, precisamente no “Ultimatum”.
-E precisamente partindo desses mesmos pressupostos da infinitude do ser. O homem que em si contem o infinito em potência deverá, precisamente por isso, transformar-se num super-homem que ultrapasse a vulgaridade que caracteriza o homem perdido no quotidiano da sobrevivência. Ora isso é, mais palavra menos palavra, o que está contido em Nietzsche na sequência das ideias que apresentou a respeito da orfandade do homem perante a morte de Deus. Seria o super-homem capaz, ele próprio, de se agigantar às qualidades dos deuses e com isso conseguir suplantar a sua condição em que de modo algum se cumpre no seu destino último. Quer-me parecer que isto não é nada que possamos dizer que é novo em Pessoa. Digamos que não seria por aí que poderíamos distinguir o poeta que, na verdade, foi um grande poeta e merece até uma distinção maior que, pelo menos por enquanto e aqui nesta terra onde nasceu, ainda não tem.
-Mesmo assim não deixa de ser relevante que ele tenha conseguido expressar esses pensamentos através da poesia, servindo-se da poesia para os tratar.
-Sim, isso é verdade e provavelmente, quanto a esse aspecto, até nem deve ter sido assim tão vulgar como tudo isso.
-Bem, vamos lá e sejamos rigorosos. O que até nem tem que ter necessariamente ou apenas a ver com essa consequência niilista de o homem se ver a si próprio na obrigatoriedade de se transformar num super-homem .
-O que é que queres dizer com isso?
-Quero dizer que isso da infinitude do ser, do homem conter em potência o Infinito dentro de si, isso nada tem de especial. E mais; sejamos justos que isso muito menos tem que derivar na ou a partir da ideia do super-homem.
-Como?
-Não acha que está um tanto ou quanto a menosprezar o pensamento do homem?
-Não, não. Repare que para mim isso é evidente e nem é preciso ir muito longe. Se quer que lhe diga, isso limita-se a decorrer da educação, só isso.
-Isso o quê?
-Explique-nos lá isso.
-É simples, muito simples mesmo. Partindo do princípio que todos somos Seus filhos, então todos teremos que ter necessariamente o Infinito em potência dentro de nós, não? O que isso possa querer significar já será outra coisa. Seja lá como for e voltando à questão do super-homem, é verdade que isso revela que do ponto de vista das ideias que expressou, o Fernando Pessoa nada mais foi que um homem do seu tempo, não me parece que se possa dizer que foi além do tempo em que viveu. Todas as suas ideias estão bem enquadradas e partem de referências, quer filosóficas, quer estéticas, que então circulavam pela intelectualidade europeia. Europeia e não só, mas para o caso, com maior destaque para a elite pensante europeia.
-Pois era isso que eu estava a dizer. Até mesmo a proposta que ele faz do super-homem para Portugal mais não é que uma simples repetição das ideias que na época vieram a confluir nas ideologias dos regimes totalitários europeus da primeira metade do século vinte, especialmente os de direita que também os houve de sinal contrário, mas regimes esses que, no mesmo sentido, todos eles desprezaram a sociedade moderna…
-Os futuristas faziam a apologia da violência e da guerra e o Marineti que escreveu o manifesto futurista…
-Desculpa interromper-te, mas lá está aquela questão do Pessoa ser um homem do seu tempo. Esse manifesto teve ecos em muitos outros sítios, até na Rússia, onde o Malinovski se dizia poeta futurista, mas também aqui entre nós. Por exemplo, o “Manifesto Anti-Dantas” do Almada foi mais ou menos tirado desse texto do italiano e o próprio “Ultimatum” vem também nessa sequência; apesar de ter sido escrito bem mais tarde, acho que o original do Marineti data para aí de mil novecentos e dez e o texto do Almada de mil novecentos e dezassete, isto se a memória não me atraiçoa, apesar de ser mais tardio, o “Ultimatum” tem todas as características desses textos panfletários. Mas isto foi um aparte. Continua lá.
-Ia só acrescentar que o Marineti acabou inclusivamente por aderir ao fascismo de Mussolini.
-Pois, mas esse também fez a apologia da máquina e da velocidade o que são aquisições manifestamente modernas, não é assim?
-No entanto, não deixa de ser verdade que essas propostas do super-homem para Portugal estão muito bem enquadradas nas ideias da época e em muitas das que conduziram a essas ideologias totalitárias. Os nazis, por exemplo usaram-no no mesmo sentido em que o Fernando Pessoa o opõe ao cristianismo.
-Ressalve-se que sem com isso estar alguém aqui a pretender que o Pessoa fosse um simpatizante de tal causa ou regime. Isso que fique bem claro.
-Obviamente. Aliás, não podemos esquecer que ele até teve escreveu aquele poema a gozar com o Salazar na sequência daquela questão da maçonaria e aí ele revelou grande apego pela liberdade em geral e pelas liberdades de pensamento e expressão, em particular. Isso é um facto. Contudo, o que eu estava a dizer é que foi com base nesse pressuposto do super-homem que ele concebia a possibilidade de se pôr em prática a ideia do quinto império a que não deixou de dedicar uma boa dose das suas energias.
-Depois dos Vieiras, do padre António e do Afonso, talvez até tenha sido o Pessoa aquele que mais se dedicou a essa ideia do quinto império, não?
(continua)
segunda-feira, 24 de maio de 2010
O corpo
O manifesto da materialidade humana – o corpo – é a morada do Ser.
Movimentos regulares e irregulares, ritmos variados, um coração que bate no compasso dos sentimentos e emoções acompanhado de sorrisos ou de uma lágrima que teima em cair.
Percepções aguçadas pelos sentidos, expressões da própria sexualidade, vivenciada pelos cheiros gostosos dos alimentos, o beijo dos apaixonados, o perfume das flores e da grama verdinha, o olhar que se desvia ao luar.
O espaço e o tempo são movimentos do hoje, do ontem e do amanhã. Ontem, criança, hoje, jovem, e amanhã, não se sabe. A vida é movimento e o corpo baila sem cessar.
O caminhar, ir e vir, no cotidiano.
A respiração, contato, relações entre o mundo interno e externo.
O afeto que conduz ao encontro comigo mesmo e com o outro por meio do sorriso, do toque e do querer.
Busca do equilíbrio para viver, o corpo é isso, a manifestação do pensamento e dos sentimentos no comportamento.
Fernanda Leite Bião
Acadêmica de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
E-mail: fernandabiao9@hotmail.com.
domingo, 23 de maio de 2010
Revista de Banda Desenhada a lançar no Brasil
Aproveito para enviar o novo endereço da minha página na internet que engloba todas as outras e tem também uma Loja online para Portugal e também para Todo o Mundo, essa página terá lançamento oficial nos Arquivos Guerreiro em meados de Junho, ainda está em construção mas já pode vê-la aqui: http://azulejariaguerreiro.com/
Abraço,
--
Luís Cruz Guerreiro
sábado, 22 de maio de 2010
Do fundo primordial, ou "o nada que é tudo"
da mente inata fundamental da clara luz
do nosso património colectivo, absoluto:
o rosto fixa-se e as energias pulsam
os olhos brilham e iluminando-se tudo iluminam
as células acaloram-se e rejubilam
tudo está integralmente certo a cada instante
todo o ser é naturalmente compassivo
sendo um aparente vácuo tudo está cheio
os amigos que nos envolvem são todos um.
O coração aconchega-se e a mente acalma-se.
Como é bom andar ao Deus dará
no eterno agora
onde tudo o que acontece é perfeito.
Poema feito em final de aula sobre Dzogchen em estado de "consciência clara relativa…", porque poderia acontecer noutro lado, a partir de outras ocorrências que não necessariamente palavras.
Luis Santos
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Carta de Berlim
Cheguei vai fazer amanhã uma semana. Tenho andado a divertir-me imenso, já visitei grande parte da cidade, já fui a dois museus, a um teatro e esta semana vou ao jazz. Isto aqui tem muita história, faz relembrar a segunda guerra mundial, parece que estamos dentro de um filme (ehehehe). Já fui a discotecas em que também me diverti muito e ontem estive numa festa de "Erasmus", estou-me a dar com pessoas de todo o mundo o que ás vezes é difícil para mim pois falo pouco inglês. Mas tenho escrito, desde que estou aqui comecei a escrever um poema e só o vou terminar quando me for embora, vai ser longo este poema, todo ele é modernista com muitas onomatopeias e uma grande fusão de emoções, é a primeira vez que escrevo algo deste género vamos lá ver (ehehehehe).
Estou a amar estar aqui, é uma grande cidade artística, sinto que tem tudo a ver comigo, gostava de viver por aqui uns tempos, pena é o tempo o céu está sempre cinzento e chove muito. As pessoas aqui são muito acolhedoras e prestáveis, andam muito de bicicleta, mas também existe miséria pois esta é a cidade mais pobre da Alemanha.
Berlim preenche-me muito e faz-me feliz.
Um grande grande abraço cheio de açúcar das suas deliciosas bolas de berlim
DIOGO CORREIA
16/05/2010
«O SOL DO TAROT DE SINTRA», de Risoleta Pinto Pedro
A Câmara Municipal de Setúbal tem o prazer de convidá-l@ para a apresentação do mais recente romance da escritora Risoleta Pinto Pedro, por Miguel Real, no próximo sábado, 22 de Maio, pelas 17h, com encontro marcado na Casa Bocage, tendo continuação no Forte de S. Filipe - Arrábida, em Setúbal.
Aproveitando a ocasião, será feito um tributo à escritora para homenagear a sua obra literária e poética. Para o efeito, foi concebido o seguinte programa, com a colaboração da Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa de Lisboa (ESMTC):
17h00 - Encontro na Casa Bocage
- Visita acompanhada aos espaços museológicos
- Visita guiada pelo autor à exposição de desenho, pintura e escultura «Conexões», de João Lino
18h30 - Forte de S. Filipe
- Visita à fortificação de Setúbal do Séc. XVI, um projecto arquitectónico de Filippo Terzi, arquitecto de D. Sebastião e mestre de obras do Convento de Cristo de Tomar
- Sessão de Qigong (Chi Kung) no jardim, orientada por Deolinda Fernandes (Doutorada em Medicina Chinesa pela Universidade de Nanjing (China) e Directora da ESMTC)
- Performance de Dança e Canto Livre nas Catacumbas, por Pedro Paz (Bailarino e Coreógrafo, Professor e Coordenador da Plataforma das Actividades Abertas da ESMTC) e Patrícia Domingues (Performer)
- Apresentação do Livro «O Sol do Tarot de Sintra», de Risoleta Pinto Pedro, por Miguel Real (Professor de filosofia, Escritor, Ensaísta)
- Leitura de Textos, por Bruno Ferro (Coordenador da Casa Bocage (Divisão de Museus CMS) e estudante de Filosofia da Universidade de Lisboa)
- Conversa sobre a Autora e a sua Obra, moderada por Frederico Mira George (Artista Plástico, autor das lâminas do «Tarot de Sintra»)
Contactos informações
Casa Bocage
Rua Edmond Bartissol, 12
Setúbal
Telf.: 265 229 255
Bruno Ferro 965 414 504
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Aceitando a Felicidade
A maior parte de nós, devido a uma (des)cultura e (des)educação que se instalou lenta e progressivamente ao longo das últimas décadas (ou mais, talvez), tem grande dificuldade em aceitar a Felicidade. Da mesma forma, dificuldade em aceitar elogios, ou outra demonstração qualquer que implique amor, simpatia, generosidade.
Todos ambicionamos a ela, Felicidade, esse estado de bem-aventurança que nos faz sentir leves e mais perto da essência do Ser.
Mas, quelque part, instalou-se no nosso subconsciente um medo ou vergonha ou, pior ainda, sentimento de culpa em sermos felizes, em nos atrevermos a correr o risco de ser felizes. A juntar a isso, vem, frequentemente, a vergonha de exteriorizar os nossos sentimentos, sobretudo se forem positivos e saudáveis. Às vezes, parece que ninguém tem vergonha de mostrar as misérias, as desgraças e há pessoas mesmo que são peritas nas "choraminguices" e outras que se deleitam com a desgraça alheia; para provar tal, basta ver quantas pessoas se juntam, de imediato, ao redor de um acidente, mesmo que o espectáculo seja horrendo, ou como as pessoas adoram comentar as fragilidades dos outros: "coitado, está tão aflito, precisa tanto disto ou daquilo", etc..., e passam palavra, aumentam as histórias, alimentando-se dessa energia sofredora, como que para "lamberem as suas próprias feridas à custa das feridas dos outros"... usamos e abusamos da palavra "coitado" e alimentamo-nos do "sangue" da tragédia, da negatividade que nos rodeia. Basta ver o índice de audiência dos noticiários que, em mais de 90%, só divulgam desgraças e horrores....
Pelo contrário, se uma pessoa andar alegre e bem disposta, der um grito de felicidade, ou gritar aos quatro ventos "estou feliz!", provavelmente a maioria julgará de imediato "parece maluco"...., "ah! é um extrovertido exagerado!", ou ainda "que horror, mostrar aos outros o que se passa na sua vida privada", ou ainda (o que é quase hilariante!) "é um convencido, quem é que ele julga que é para estar assim quando andamos todos mal???" ....!!!!
Enfim, julgar é aquilo que nós mais gostamos de fazer.... esquecendo-nos sempre que, cada vez que apontamos um dedo para fora, temos quatro dedos apontados para nós próprios.
Ao longo da vida, todos nós estamos sujeitos a problemas, desgraças, imprevistos, perdas, contratempos, desgostos. O sofrimento é inerente à condição de estar vivo, encarnado nesta existência. Por vezes chego a pensar que o "inferno" é aqui e não "lá"! Todas essas fases da vida devem ser vivenciadas para que a dor, aceitada, possa ser transformada em apaziguamento, antes de mais, e posteriormente em alegria. Alegria de estar vivo, aconteça o que acontecer. O que se passa é que, na incapacidade de gerir os nossos próprios sentimentos, não sabendo transformar a negatividade em positividade, temos uma dificuldade enorme em aceitar que os outros estejam bem, saudáveis e felizes.
Lembro-me, desde miúda, de ouvir o meu pai dizer-me constantemente "não tenhas medo de dizer o que pensas, mostra o que sentes, não te importes nunca com o que os outros poderão pensar; ninguém pode controlar o que os outros pensam, mas tu podes e deves exteriorizar tudo aquilo que sentes, nunca tenhas vergonha da Verdade e de seres como és". Em adolescente, arquivei em mim uma frase atribuída a Anatole France (nascido a 16 de Abril de 1805) e que nunca mais esqueci: "Se exagerássemos as nossas razões de felicidade como exageramos os nossos cuidados, estes deixariam de ter qualquer importância".
Por isso, aceitar elogios, prendas, sorrisos e os momentos de felicidade com que a vida nos vai brindando de tempos a tempos, é saber aproveitar cada momento da existência tal como ela se nos apresenta (*). E ao sermos capazes de fazer isso, seremos automaticamente capazes de nos regozijar com a felicidade alheia. E ao regozijarmo-nos com a felicidade alheia, autêntica e singelamente de coração inteiro, estaremos a abrir caminho para que a Vida nos brinde com mais alegria e bem-aventurança.
Insistir, ficar preso na negatividade, invejarmos o que de bom acontece aos outros, é obstruir o processo criativo e o fluxo vital que pode transformar a nossa existência. Depende apenas de nós que a nossa vida seja "um muro de lamentações" ou um quadro vivo em que todas as estações do ano se vão desenrolando sucessivamente e enriquecendo as nossas almas. Para além disso, a minha alegria será a alegria do mundo e vice-versa, tudo está interligado e a influência de um átomo faz-se sentir em todos os outros.
Portanto, faça um favor a si próprio: seja feliz, por si e pelos outros, e seja sempre grato por tudo isso!
Que bom que era se o mundo todo amasse, sorrisse e cantasse! A guerra acabaria, com certeza.... tal era a energia que se implantava sobre o planeta!
(*) a propósito disto, aproveite para ver o último filme do Woody Allen, em exibição, "Whatever works" ("Tudo Pode Dar Certo"), genial e hilariante!
Paula Soveral, Lisboa, 25/2/2010
terça-feira, 18 de maio de 2010
-Anti-moderno no sentido de ser, não direi anti-científico, mas, pelo menos, ante-científico, se posso usar um neologismo, mas direi ante-científico na medida em que, por um lado acho que rejeitava o legado da cultura científica, no que não é um caso único, muito pelo contrário e, por outro lado, porque ele construía o seu pensamento como um antigo, tendo por base os pressupostos de que as ideias são puras e independentes do mundo dos sentidos…
-A alegoria da caverna, do Platão.
-Sim, isso mesmo.
-E isso é antigo? De certa forma não é o que se verifica até com muitas das explicações científicas na actualidade? Não é verdade que os cientistas intuem ideias, elaboram teorias, com as quais, depois, apresentam explicações para os fenómenos?
-É o pressuposto platónico das ideias inatas, tão simplesmente isso, não é?
-É, justamente. É o platonismo puro e simples. Mas isso que o senhor disse é uma outra coisa. Lá está, não se trata de partir do princípio que existem ideias inatas mas antes de admitir que a descoberta, neste particular a descoberta científica, é um acto de intuição de alguém, mas que acontece em função de uma série de informações, de conhecimentos anteriores a respeito desse determinada matéria. É fácil de perceber que ninguém que nada saiba a respeito do sistema solar, olhe para a Lua e o Sol e conclua, a partir da conjugação do movimento da Terra em torno do Sol e o da Lua à volta da Terra e enquanto isso sucede também em torno do Sol, ninguém que nada saiba a esse respeito olha para esses corpos celestes e diz ou prevê que venha a haver uma ocasião em que a Lua ocultará o Sol e provocará aquilo a que chamamos um eclipse. Parece-me que isso é evidente e neste exemplo, até se dá o caso de haver o chamado movimento diurno aparente do Sol, não é? O que se as ideias fossem de facto inatas, jamais em tempo algum teria sido visto como verdadeiro e sabemos que não foi assim. Mas voltando àquilo que nos ocupa, é pois neste sentido em que eu digo que o Fernando Pessoa foi, em certa medida, salvaguardo, mas dá para dizer que ele foi um anti-moderno.
-Sim, não deixas de ter razão nisso que dizes. Há até um texto em que isso é bastante claro.
-Qual?
-No “Ultimatum”. Deves conhecer.
-Sim, claro.
-E o senhor também.
-Sim, eu também li o “Ultimatum”. Na minha opinião, é até um texto bastante importante no conjunto da sua obra. É daqueles textos ao mesmo tempo panfletários e testamenteiros. Ali ele regista uma boa síntese da sua visão filosófica do mundo.
-Partilho essa opinião.
-É. Mas é o que ele escreveu. No “Ultimatum” ele mostra-se claramente contra a sociedade moderna e a racionalidade que lhe está subjacente.
-É um bom exemplo, sim senhor. E isso apesar de ele até falar na ciência moderna, se bem estão recordados…
(…)
(…)
-Creio que a propósito daquilo que ele definiu como a lei de Malthus da sensibilidade.
-Ah sim, a lei da Malthus da sensibilidade…
-Muitíssimo interessante, permitam-me que acrescente e ainda para os dias que correm.
-Sim, muito interessante e isso pelo facto de revelar uma enorme perspicácia e, tal como diz, ainda hoje cheia de sentido. Mais ou menos assim, não é?
Enquanto os estímulos para a sensibilidade aumentam em progressão geométrica, a sensibilidade, ela própria, apenas aumenta em progressão aritmética.
-Atenção aí à corroboração empírica do enunciado. Podemos incorrer naquilo a que eu particularmente costumo chamar como o defeito do olhómetro.
-Olha que expressão engraçada, o olhómetro.
-Quer dizer as observações feitas a olho nu, sem cuidados de medida, o que no caso da observação sociológica, por exemplo, significa as conclusões que se teriam com base em dados que sequer passaram pelo crivo da verificação se verdadeiros ou falsos. Os que foram tomados como bons sem uma análise cuidada e fundamentada dos mesmos.
-Dava para entender.
-Sim, mas na verdade é um pouco isso que se observa, não? Até nos dias de hoje. Mesmo admitindo que não temos como comensurar o aumento da sensibilidade. Seja como for, parece que é isso que se verifica de facto pelo que me parece uma observação muitíssimo pertinente. E actual.
-Mas voltando ao que eu estava a dizer. Esse texto é um bom exemplo da sua atitude anti-moderna, mesmo tendo ele usado a expressão, ciência moderna e tendo-se-lhe mostrado favorável, por exemplo a propósito dessa tal lei de Malthus da sensibilidade. Mas tenho para mim que por esse termo ele tomava mais a metafísica que a própria ciência em si. Acho que ele, quando usava essa expressão ciência moderna, ao que se estava a referir era ao legado filosófico em que se enquadrava e que tomava como uma das suas referências de pensamento.
-Bem, lembro-me que ele, às páginas tantas, escreveu que a ciência moderna contraria que nega os princípios do cristianismo e nesse âmbito já me quer parecer que estaria a pensar nas aquisições da ciência propriamente dita.
-De acordo, mas, mesmo aí, igualmente englobando a metafísica, acho eu.
-Nesse caso teria que ser a metafísica enquanto ciência do pensamento, não?
-Provavelmente. Mas se lermos o texto com atenção fica mesmo a impressão de é isso que faz. Se reparamos bem, o que depois ele vai desenvolver na intervenção cirúrgica anti-cristã…
-As expressões que ele arranjava.
-Mas o que ele defendeu depois nessa intervenção cirúrgica anti-cristã, limita-se a ter por base os pressupostos da metafísica, ele fica-se por aí, nada acrescenta que se possa apodar de científico no sentido que hoje damos à palavra, é claro.
-Ora meus amigos… Isso é assim porque se trata da tal vertente filosófica que trespassa e transparece na sua obra, em toda a sua poesia e que tal como você disse há pouco, é, a par da heteronímia, o que seguramente mais vinca a singularidade da obra dele, creio até que foram estas as suas palavras.
-Sim, acho que sim.
-E que para mim, se me permitem a opinião, é justamente o que faz dele um grande poeta, um filósofo que se expressa sob a forma da poesia e que a esse nível nos deixou um dos maiores legados de conhecimento, tanto pela análise que fez do ser, da existência, como pelas propostas que apresentou para a sociedade portuguesa e que, para mim, ainda hoje são válidas.
-Bem quanto a mim aceito que ele fez, de facto, filosofia e muito provavelmente se poderá dizer até que fez boa filosofia. Isso parece-me notório.
(continua)
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Interligação de Universos
- És a a individualidade do Ser feito Vida à imagem do Uno. Aquele que procura no Universo manifestado a Criação Una, a que tem por meta a viagem de regresso à Casa Mãe, através de muitas experiências vivenciadas na procura de identificação com o Uno.
Como devo ser?
-Apenas Ser. Permitindo a expressão interiorizada ,que leve à perfeição identificada com a imagem protótipa que existe em todo o ser.
Qual o papel da mente neste processo?
- Na religação com tudo o que É a mente ocupa um papel secundário, que gradualmente é substituída pela Intuição, já que aquela não tem acesso ao Imaterial. Não deve ser subestimada nem valorizada, mas identificada com o ciclo de vida correspondente à sua manifestação.
A Intuição é uma dádiva?
-É dada quando já permitimos a passagem, embora tênue, dos raios de luz que aguardam a sua manifestação exteriorizada.
antonio alfacinha
alfa2749@yahoo.com.br
domingo, 16 de maio de 2010
Festa do Espírito Santo
X X F E S T A D O E S P Í R I T O S A N T O
DOMINGO DE PENTECOSTES
23 DE MAIO DE 2010
ARRÁBIDA
11.00 h - Encontro junto ao Convento da Arrábida-Fundação Oriente
Subida ao Convento Velho (10 MINUTOS DE TOLERÂNCIA)
11.30 h - Capela da Memória de Nossa Senhora da Arrábida
Celebração
Saudação
O Culto do Espírito Santo, textos de: Agostinho da Silva,
António Quadros e Dalila Pereira da Costa;
participações de Paulo Borges e António Cândido Franco
“Cultura ENTRE Culturas”, o diálogo
“Uma Visão Armilar do Mundo”, por Paulo Borges
Coroação das Crianças
Evocação / Música - Cânticos
Trovas para o Menino Imperador, de António Quadros
Divino Espírito Santo, quadras de Agostinho da Silva
Bodo
13.30 h - Junto ao caminho de Alportuche. Será oferecido o bodo.
Durante a tarde - Confraternização
Convite à livre participação das pessoas presentes.
“Um testemunho recebido, a cumprir e a transmitir. Festas proféticas de uma Idade de Amor de Fraternidade Universais”. António Quadros, 1991
“Adeptos que tinham como ideal o cuidado da Criança, a vida gratuita e a inteira liberdade para a vida”. Agostinho da Silva, 1991
___________________________________________________
C O N V E N T O S O N H O / A S S O C I A Ç Ã O A G O S T I N H O DA S I L V A
Apoio: Convento da Arrábida - Fundação Oriente
sexta-feira, 14 de maio de 2010
"Língua e realidade", de Vilém Flusser. Reflexões sobre o pensador.
Vilém Flusser
A propósito do recente COLÓQUIO INTERNACIONAL: Do Diabólico ao Simbólico: A Filosofia de Vilém Flusser , no Anfiteatro IV, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa ,03 MAI - 04 MAI 2010 , partilho minha pesquisa, com algumas informações, sobre esta figura que por tantos anos viveu no Brasil. Certamente que o Chrys Chrystello, a respeito deste filósofo, se pode pronunciar também. Flusser tinha uma importante tese sobre as línguas e a tradução.
Vilém Flusser (Praga,1920 - 1991) foi um filósofo tcheco,de uma família de intelectuais judeus, naturalizado brasileiro, autodidata. Durante a Segunda Guerra, fugindo ao Nazismo, mudou-se para o Brasil, estabelecendo-se em São Paulo, onde atuou por cerca de 20 anos como professor de filosofia, jornalista, conferencista e escritor. Publicou, em S Paulo, seu primeiro livro - Língua e realidade em 1963.
Sobre este trabalho encontrei uma análise no artigo A REBELDIA POÉTICA DE VILÉM FLUSSER de Eva Batlicková , (Eva Batlicková graduou-se em Língua Portuguesa, em Brno, na República Tcheca, com um trabalho sobre a fase brasileira do filósofo tcheco-brasileiro Vilém Flusser). A autora descreve Vilém Flusser pela maneira extática e de cores vivas pela qual submeteu os seus pensamentos ao público, revelou-se este pensador antes de mais um filósofo-poeta.
Diz Batlicková que ele é uma das pessoas que, mediante teorias corajosas e acesso “fora dos conformes” aos problemas, indigna o mundo acadêmico e pela mesma razão arrebata a atenção de grande número de leitores. Língua apurada, construção dramática dos textos e imagens metafóricas empolgantes, estas são as armas principais de Vilém Flusser para a defesa das suas opiniões, muitas vezes controversas.
E sobre o livro Língua e realidade das palavras de Eva Batlicková destaco:
" Estudando a fundo quatro línguas (português, alemão, inglês e tcheco), concentra a sua atenção no modo pelo qual as respectivas línguas formam aqueles conceitos como categorias gramaticais. Por fim, ele substitui o significado gramatical das palavras auxiliares pelo seu significado lexical, considerando na base dele o espírito predominante de cada uma das línguas. Esta sua teoria se amplia ainda para outras famílias lingüísticas grandes (a isolante e a aglutinante), demonstrando a divergência básica entre as realidades delas, e portanto a dificuldade, mesmo a impossibilidade, da transmissão de valores entre as culturas ocidental e oriental.
Mas não só a realidade é determinada imediatamente na língua concreta, conforme Flusser. Do fundamento lingüístico cresce também o nosso intelecto – o intelecto sem a língua seria encerrado no caos solipsista, carente de qualquer significado. Portanto um intelecto nasce junto com palavras e naturalmente com uma gramática que se aprende na fase inicial do seu desenvolvimento.
No entanto, o intelecto não é mero produto da língua. Ele é, ao mesmo tempo, aquele que cria a língua. O intelecto cria a língua por intermédio da sua atividade poética, formando novas palavras que extrai do indizível e desta maneira divulga o império da língua e da própria realidade.
A língua nasce do império do nada e do caos; na sua evolução, retorna de volta ao indizível, um tanto paradoxal e autodestrutivamente. Flusser demonstra este fato apontando os silêncios, “ocidental” de Wittgenstein, “oriental” de Budha, como os limites mais avançados dos dois tipos de pensamento. Como podemos ver, a língua origina-se do nada, fala sobre o nada e volta ao nada, o que revela uma profunda relatividade da nossa realidade e todas as opiniões para ela. Deriva daí a crítica flusseriana ao caráter totalizante da civilização ocidental e sobretudo da sua ciência.
Mediante a sua análise, Flusser esforça-se por deslegitimar o empenho dessa cultura na nivelização de todos os diferentes modos de pensamento e diferentes tipos de cultura, bem como a tentativa de ela incorporá-los todos dentro da sua própria estrutura. Aqui podemos encontrar também as raízes da sua atitude perante os media, os quais constituíriam uma nova forma, mais avançada, da pressão exercida pela sociedade técnica sobre nós.
No entanto, não nos adiantemos, e voltemos à tese brasileira de Flusser sobre a dependência imediata da maneira de pensar e da percepção da realidade no caráter da língua dentro da qual nascemos.
Margarida Castro
dialogos_lusofonos@yahoogrupos.com.br
Fontes:
- www.dubitoergosum.xpg.com.br/convidado11.htm
- books.google.pt/books?id=dqMnVaF-GXEC&printsec=frontcover&dq=Vil%C3%A9m+Flusser&source=bl&ots=fHAjcihc51&sig=ZAmS8rJdh8lmrDRa0AC_emrQ4Do&hl=pt-PT&ei=ToTmS9izL8uBONzw3a4H&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=3&ved=0CCsQ6AEwAg#v=onepage&q&f=false
- www.artecapital.net/recomendacoes_ev.php?ref=84
- www.fotoplus.com/flusser/
- www.youtube.com/watch?v=i83Y05OdH0o
CAIXA PRETA - um documentário sobre Vilém Flusser (1920-1991)
- www.olavodecarvalho.org/convidados/flusser.htm
- textosdevilemflusser.blogspot.com/
Hoje encontrei o velho dos cestos...
...lá foi tentar fazer uns tostões ao mercado, porque a reforma é baixa e, às vezes, nem dá para comprar comida à cadela, quanto mais.
Luis Santos
P.S.: Pode ampliar a foto clicando em cima.
quinta-feira, 13 de maio de 2010
Convite da Casa Bocage - Setúbal
Gostaria de os convidar para participar na Noite dos Museus na Casa Bocage, já no próximo Sábado, 15 de Maio, às 21h00.
Para comemorar a Noite dos Museus, cujo tema deste ano é a «Harmonia Social», organizámos uma programação que dá ênfase à multiculturalidade e ao diálogo entre culturas:
- Visitas acompanhadas aos espaços museológicos (Exposição «As Sete Musas de Bocage», Centro de Documentação Bocagiano e Arquivo Fotográfico Américo Ribeiro);
- Apresentação da exposição de desenho e escultura «Conexões», por Rui Oliveira Lopes, com a presença do autor, João Lino;
- Lançamento em Setúbal do número 1 da revista «cultura ENTRE culturas», pelo seu Director, Paulo Borges;
- Canto livre e improvisado de Poesia de Bocage, por Patrícia Domingues;
- Apresentação da obra «Uma Visão Armilar do Mundo - A Vocação Universal de Portugal em Luís de Camões, Padre António Vieira, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva», de Paulo Borges, por Bruno Ferro;
- Fado à capela, por Pedro Paz;
Confraternização e partilha.
No Dia Internacional dos Museus, 18 de Maio, entre as 14h30 e as 17h30, João Lino estará presente na Casa Bocage, para conversar com os visitantes sobre o seu processo criativo na realização da exposição «Conexões».
Um abraço cordial,
Bruno Ferro
Casa Bocage
Arquivo Fotográfico Américo Ribeiro
Rua Edmond Bartissol, 12
Tel.: 265 229 255
Escritores Lusófonos - Miguel Real
Miguel Real é licenciado em Filosofia pela Universidade de Lisboa e Mestre em Estudos Portugueses, pela Universidade Aberta, com uma tese sobre o Professor Eduardo Lourenço. Especialista em cultura portuguesa é, actualmente, professor de Filosofia e colaborador do Jornal de Letras, onde faz crítica literária.
Da sua obra como escritor fazem parte o ensaio, o romance, o teatro e a filosofia.
Foi distinguido com o Prémio Revelação de Ficção em 1979, com o livro “O Outro e o Mesmo” e o Prémio Revelação de Ensaio Literário com o livro “Portugal – Ser e Representação” em 1995, ambos atribuídos pela Associação Portuguesa de Escritores e pelo Instituto Português do Livro e das Bibliotecas. Recebeu também o Prémio LER/Círculo de Leitores em 2000, com “A Visão de Túndalo por Eça de Queirós”. E, ainda, o Prémio Literário Fernando Namora em 2006, com a obra “A Voz da Terra”.
Para lá das obras premiadas, entre os muitos livros publicadas destacamos os seguintes:
- Narração, Maravilhoso, Trágico e Sagrado em Memorial do Convento, (ensaio, 1995)
- Introdução à Filosofia da Saudade no Século XX (ensaio, 1998)
- O Essencial sobre Eduardo Lourenço (ensaio, 2003)
- As Memórias de Branca Dias (ficção, 2003)
- O Último Eça (ensaio, 2006)
- Agostinho da Silva e a Cultura Portuguesa (ensaio, 2007)
- O Último Dia na Vida de S. (ficção, 2007)
- A Ministra (ficção, 2009)
No Teatro, em co-autoria com Filomena Oliveira assinou a adaptação dramatúrgica de Memorial do Convento que foi encenado pelas Companhias de Teatro de Almada e Sintra, 1999.
Escreveu também as peças: Os Patriotas, sobre a Geração de 70 (representado na Quinta da Regaleira, 2001). O Umbigo de Régio (que passou no Teatro da Trindade e na Barraca, 2003). Liberdade, Liberdade! (no Palácio Mantero, Sintra, 2004). E, recentemente, o Teatro Trindade encenou a peça O Grande Terramoto, peça igualmente escrita em parceria com Filomena Oliveira.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Mixórdia de Maio
maio
madres, Maria e mulheres
nubens, grinaldas de laranjeiras
bocas, primaveras de trópico:
olhos atônitos de cheiros
pele plena de luzes e cores
como pôr ordem na idéia
e dizer coisa com coisa
se maio me mixordia?
Abilio Pacheco
terça-feira, 11 de maio de 2010
-Bem, tem a ver com o que se passou comigo a propósito do meu contacto com a poesia dele. Na verdade eu sempre achei que ele, em muitos dos seus poemas, fazia uma leitura filosófica do Homem e da existência, quer dizer, apresentava uma determinada mundivisão filosófica a respeito do Homem e da existência. Eu devo aqui fazer um parênteses. Tenho que salvaguardar que li Pessoa há um bom número de anos. O grosso dessas leituras fi-las no ano lectivo em que decorreu o propedêutico, aí por volta dos meus dezanove anos de idade. Foi nessa altura que li aquelas compilações que o Professor Joel Serrão tez para a “Ática” e nessa ocasião li praticamente toda a poesia que ele nos deixou assinada pelo seu próprio nome…
-Toda aquela que estava publicada até essa data, quer o meu amigo dizer.
-Sim, sim. Toda aquela que estava publicada, claro. Fique a ressalva. Ora aí li o Caeiro, o Álvaro de Campos, o Ricardo Reis, mas também o que ele escreveu e assinou com o seu próprio nome, incluindo a “Mensagem” e posso mesmo acrescentar que li a maioria dos textos que saíram em volumes de textos filosóficos, sociológicos e de estética e crítica literária. Para falar com franqueza, até me parece que posso afirmar que li uma boa amostra da obra.
-Sem dúvida.
-Vá, mas conta lá o que se passou.
-O que se passou foi que eu fiz essas leituras, como já disse, fiquei com aquela impressão que ele tinha feito a tal leitura filosófica e como aquilo se tratou de leituras saídas do mero prazer, eu não tive qualquer obrigação de ler aquilo como, por exemplo, eram os casos dos livros obrigatórios no contexto da disciplina de Língua Portuguesa, como fiz aquilo por simples prazer de ler, quanto muito, por mera curiosidade intelectual, se é que assim posso falar, mas seja, o que é certo é que naturalmente por isso eu li aquilo e nunca mais pensei no assunto. Estava lido. A minha vida seguiu o seu rumo, não é? Ora como as minhas preocupações nada tinham a ver com poesia e muito menos com ele, aquilo ficou por ali e nunca mais voltei a pensar no assunto. Foi um caso encerrado.
Aconteceu que uns anos mais tarde, numa altura em que eu estive a trabalhar em investigação no domínio dos modelos de representação e de experimentação, aí ao redor dos meus vinte seis vinte e sete anos de idade, deu-se o caso curioso de um certo dia ter dado comigo a lembrar-me do Fernando Pessoa e recordo-me, desde então sempre achei que isso era mais ou menos assim, recordo-me que então até estabeleci um paralelo com o que estava a fazer e, no momento mais em género de graça, depois é que meditando melhor na ideia acabei por lhe atribuir algum significado, mas na altura em jeito de graça, pensei que aquilo que ele tinha conseguido fazer era mais ou menos um modelo, concretamente um modelo metafísico que ele aplicou a uma reflexão sobre a vida, sobre a existência e que lhe permitia, entre outras coisas, seguramente, um modelo que lhe permitia sustentar ideias a esse respeito.
-Tem a sua graça, lá isso tem. Mas veja bem, meu caro senhor, não é por ter graça que isso que diz se limita a ser uma mera história com piada. Fique sabendo que na minha opinião, se quiser na minha modesta opinião, olhe que eu diria que isso que diz tem muito de pertinente. Se calhar é uma maneira muito acertada de descrever o conteúdo da obra. Nunca tinha pensado nisso, quer dizer, nunca tinha visto o problema sob esse ângulo, mas olhe que tomo essa sua ideia por boa.
-É! Pode-se dizer que ele fez isso e concordo consigo. É bem capaz de ser uma forma eficaz para descrevermos a abordagem que ele levou a cabo.
-Mas é essa coisa engraçada, não acham? É que eu estava a trabalhar em modelos científicos e como devem calcular não se trata de uma pêra doce e digo-lhes, sem ponta de exagero, nem queiram imaginar o que andava então às voltas com o trabalho e no meio dessa lufa-lufa toda, assim de repente, dei comigo a pensar que afinal acabava por ter sido isso o que o Fernando Pessoa tinha feito ao nível da metafísica, andava eu ali tão às aranhas para conseguir algo de positivo e até o Pessoa o tinha conseguido, ao nível da metafísica, é certo e logo ele que, de certa maneira, até era anti-moderno.
-Explica lá o que é que queres dizer com isso do anti-moderno. Define lá isso.
(continua)
segunda-feira, 10 de maio de 2010
O DESAFIO DA MUDANÇA
É normal tudo isto escrito até agora. O que sai fora dessa crença, educação, poderá ser considerada incómoda, profana. Então entremos dentro do que poderá ser considerado " anormal ". Subtilmente, consideremo-lo apenas mais uma opinião.
Toda a vida é mudança, actividade, acção. Pode não ser visível, mas está sempre presente. O novo é actualização constante.
A mente existe, está lá, é para ser respeitada, mas não nos poderá ajudar na compreensão evolutiva cósmica. A dança entre dois bailarinos, prevê o desempenho individual, mas também o conhecimento dos passos do outro, para que o bailado seja harmonioso. A mente não aceita companheiro, crê-se auto-suficiente, mas move-se em áreas pré-estabelecidas, limitadas.Tem medo do desconhecido, do não analisado.
O novo, na sua infinita caminhada não tem limites. É criativo a todo o momento. Não pode ser questionado pela mente, pois sabe pertencer a uma área a que esta não tem acesso. Não tem passado, nem futuro, apenas presente, vive no Agora.
Permitamos então a nós próprios admitirmos que a mente pode apenas ser um instrumento na caminhada que todos fazemos, mas não o único, e que na espiral evolutiva em que estamos todos inseridos, outros nos poderão ser dados para adquirirmos uma consciência que nos levará a participar num bailado cósmico, sem limites, responsáveis e co-criadores.
antonio alfacinha
alfa2749@yahoo.com.br
Flores de Maio
sábado, 8 de maio de 2010
Língua na Galiza: Poder e Responsabilidade
À sua vez, falar de poder implica necessariamente falar de conhecimento, já que estes conceitos, tal e como Foucault afirma, são inseparáveis; portanto, não podemos falar de um sem falar do outro, e mesmo podemos dizer que um domínio de poder é um domínio de conhecimento e vice-versa.
Neste trabalho tratar-se-á de dar resposta a diversas perguntas sobre o tema da língua, quem tem o poder e quem a responsabilidade, e como se pode desde o reintegracionismo trabalhar para adquirir a cada vez maiores quotas de poder e portanto também assumir maiores quotas de responsabilidade.
Desde a criação em 2008 da Academia Galega da Língua Portuguesa, na Galiza tem-se produzido uma mudança na narrativa linguística; hoje em dia proliferam os discursos que contemplam a língua da Galiza como uma língua não diferente da língua portuguesa.
Os políticos, as personalidades sociais fazem afirmações que corroboram que a mudança, mesmo que lenta, estão a ter lugar.
Com estas mudanças o poder da nossa língua se incrementa, especialmente se incrementa o poder do modelo reintegracionista que desde a Academia Galega da Língua Portuguesa se defende.
A responsabilidade de incrementar o poder para a língua, é nossa; porque mesmo não sendo nós os culpados das nossas feridas linguísticas, nem tendo o poder para evitar que se produzam, seguimos a ter a responsabilidade de as curar, ou então convertermo-nos em vítimas crónicas incapazes de romper o círculo que perpetua a situação linguística na Galiza.
CONCHA ROUSIA
ACADEMIA GALEGA DA LINGUA PORTUGUESA
in, ATAS DO 13º COLÓQUIO DA LUSOFONIA, ABRIL/2010, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil
sexta-feira, 7 de maio de 2010
O VELHO QUE FAZIA CESTOS
O Homem que Fazia Cestos
Desenho Tinta da China sobre papel 32x24cm
Autor António Tapadinhas
Num dia igual a outros, dirigia-me para casa e, ao fazer a rotunda da Moita, olhei naturalmente para o terreno baldio que continua a existir, paredes-meias com a catedral de consumo ali implantada. E reparei nela.
Estava junto às cinzas das inúmeras fogueiras acesas durante o Inverno, no que me pareceu uma posição tranquila de descanso, indiferente a quem passava, um tímido raio do sol da manhã a acariciá-la.
Passados uns dias, não sei se muitos, porque à medida que envelheço, os dias ficam pequenos para fazer as coisas importantes que fui adiando, voltei a vê-la.
Passava, lentamente, em frente da taberna, sem olhar para nenhum lado, os olhos, melhor, todos os sentidos agarrados às pedras da calçada. Pareceu-me mais magra e suja.
Atravessou a rua com o seu passinho miúdo, não olhou sequer para dentro do quartel da GNR, seguiu em frente, fez a curva que a levou à ponte sobre o rio da Moita, deteve-se durante alguns segundos e continuou a caminhada até ao local onde, pela primeira vez, a tinha visto sem companhia.
Confesso que a sua imagem esguia, o seu andar algo incerto, ficaram gravados no meu espírito, traduzindo uma sensação amarga de esquecimento e abandono.
Passados mais alguns dias, voltei a encontrá-la. Estava sentada junto às palmeiras do largo da praça. Pareceu-me ainda mais magra, dando a sensação que só a pele segurava o seu frágil esqueleto. Mas estava vigilante: procurava com o olhar alguém que nunca mais aparecia. Quando se voltou para mim, nos seus olhos vi todo o desespero do mundo.
Esse olhar atingiu-me como se tivesse disparado um dardo que mais do que atingir o coração, me abriu a cabeça, numa súbita compreensão do drama.
"Morreu, ou está internado no hospital, ou, ainda pior, no asilo, esse arquivo de mortos adiados. Estará preso?"
Se morreu, só Deus pode ressuscitá-lo.
Senhor Doutor, senhor Guarda, senhor Juiz: "Soltem-no!".
Esse homem não é um vadio. Nem pode ser um criminoso: tem tanto amor para dar. Eu sei que veste roupas andrajosas, está sujo, cheira mal, a suor e a vinho. Mas não pedia esmola: vendia o produto do seu trabalho. Estou pronto a testemunhá-lo. Comprei-lhe muitos cestos de cana que tenho em casa, como prova do que afirmo.
Apreciei, algumas vezes, nas manhãs frias de Inverno, ele junto da fogueira, perto da barraca onde dormia, a cortar e a alisar as canas que utilizava no fabrico dos seus cestos, com os quais, julgava eu, conquistava a sua independência, o seu direito de viver em liberdade.
Posso testemunhar, também, senhor Doutor, senhor Guarda, senhor Juiz, que não sei se ele comia restos ou não, o que sei é que para a sua companheira, comprava o que de melhor havia no mercado. Foi ele que me pediu, à porta do supermercado:
-" A mim não me deixam entrar. Tem aqui cinco euros. Por favor, compre duas latas de Pedigree para a minha cadela."
Ouviram, senhores Médicos, Juízes, Guardas: Soltem-no!
Senhores da Liga dos Direitos dos Animais: a cadela ainda lá estava ontem, à espera. Recusa-se a comer.
Apressem-se! Temos pouco tempo para os salvar!
Texto de António Tapadinhas
quinta-feira, 6 de maio de 2010
No ir e vir do cotidiano
No ir e vir do cotidiano, somos convidados a participar da trama da vida. Em meio aos caminhos tortuosos, aos desafios constantes e aos campos floridos somos impelidos a construir a nossa própria história.
Marcados por mitos, cultura, condicionamentos, valores e crenças, seguimos como um lápis que realiza contornos, que modifica roteiros e transcende a percepção da vida, buscando o sagrado imerso no profano.
Muitas pessoas acreditam em Deus, falam em Deus e seguem a Deus. Outras buscam na natureza (sol, o verde, os animais) essa relação com o Ser Supremo. Não sei precisar o que é certo ou errado, mas, afinal, será que alguém sabe?
Às voltas com esses questionamentos sobre a presença do sagrado nas crenças e valores humanos, uma ideia se aconchega em mim.
Será que Deus não passeia por meio das pessoas, será que Sua manifestação não faz também parte de nossos comportamentos no dia a dia, juntos aos semelhantes, nos ambientes e instituições sociais (família, escola, trabalho, amigos).
Quando paramos para reparar todos os movimentos do nosso planeta, observamos que há no seu funcionamento uma harmonia que ora se encontra em descompasso. Hoje presenciamos certa fragmentação nesse equilíbrio. A Terra tem se manifestado bastante, entre sons e movimentos constantes, entre ruídos assustadores, águas avassaladoras, a batida do seu coração em desalinho.
Será que a Terra também não é uma entidade viva, que, assim como nós, precisa de afeto, de cuidado, para não adoecer?
Questões que sugerem reflexões a todos os habitantes, a todas as pessoas que se alimentam e se agregam a essa entidade viva planetária.
Se o sagrado pode estar na natureza, se o sagrado pode estar reagindo com fúria, ante o desrespeito e a violência praticados no Planeta, será que o sagrado, será que Deus não poderia se manifestar a nossos semelhantes, por intermédio de nós? Não só as visitações a templos sagrados, mas no recolhimento ao sacro templo do nosso coração. No diálogo fraterno ou mais sério com pessoas da própria convivência. No cuidado com a natureza (reciclar, não desperdiçar, não acumular para além das necessidades). Na ausência do respeito a si próprio, não permitindo manifestações dos sentimentos (alegria, medo, raiva, tristeza). Nos alertas do organismo humano para os comportamentos prejudiciais à saúde biopsicofísica (má alimentação, falta de descanso, desgaste físico, mental e emocional provocado por vícios e outras condutas patológicas).
A vontade de conhecer me impele a pensar e procurar respostas nas pessoas sobre elas mesmas e a presença do sagrado em suas vidas.
Como seres que vivem envoltos na matéria, precisamos de concretudes, de matérias palpáveis que nos reservem certa segurança, que nos permitam caminhar pela vida, desenvolver os projetos que temos a realizar, cultivar as crenças que queremos confirmar, passar pela morte que procuramos vencer ou transcender e pela vida que buscamos mudar todos os dias, todas as horas, no correr dos minutos e segundos.
Olhe ao seu redor. Você não está só. Existe uma diversidade que atravessa a sua vida. São corpos diferentes, são cores diferentes, são lugares diferentes, individualidades próprias dentro da pluralidade do todo. Você é muito diferente: apesar das semelhanças com seus pares, possui particularidades que o tornam singular e distinto dos demais.
Mesmo que façamos parte de uma classificação humana, devemos questionar a nossa humanidade (o quanto nossos comportamentos são saudáveis e assertivos ou o quanto são patológicos, violentos ou passivos em demasia), a presença do sagrado em nós, nos movimentos que fazemos e que alteram as nossas experiências, o nosso porvir e marcam os horizontes dos diferentes seres que habitam o mesmo lugar que habitamos. São eles pais, mães, irmãos, amigos, colegas, esposos, namorados, inimigos, desconhecidos.
Não espere uma manifestação milagrosa, para que você possa fazer modificações em sua vida. Comece agora, seja você também o sagrado presente na sua existência. Reavalie suas crenças e verdades, ouça o outro que está ao seu lado, perceba os sinais da vida nos pequenos detalhes, faça uma avaliação do seu dia, dos seus comportamentos, das suas reações e das reações das pessoas em sua volta. Se errar, não tenha medo de recomeçar. O recomeço é um convite a dar concretude a possibilidades e potenciais que poderão ser tornar realizações futuras e gerar crescimento a você e ao outro.
Deus nos deixou um legado – a vida! – que repousa ou floresce, a depender de um só movimento, um consentimento vindo de uma só pessoa – você!
Fernanda Leite Bião
Acadêmica de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
E-mail: fernandabiao9@hotmail.com.
quarta-feira, 5 de maio de 2010
AUDITÓRIO DO MUSEU DA MÚSICA, Alto dos Moinhos, Lisboa - 10H :: 20H
9H – ACREDITAÇÃO
10H – ABERTURA E BOAS VINDAS AOS COLÓQUIOS 2010 – LUIS RESINA
10H30 – 11h20 - PAULO BORGES – “Uma visão armilar do mundo: a vocação universal de Portugal e da Lusofonia “
11h20 - 12h10 - FERNANDO ALBUQUERQUE - “A Fundação do Reino” “suas implicações no Ciclo 1917 – 2012”
12h10 – 13h00 – MARIA FLÁVIA DE MONSARAZ- “ Portugal Astrológico-O Mito e o Destino “
13H30 – 15H – ALMOÇO
15H – 15H50 - JOSÉ MANUEL ANES – “ Portugal e o Império do Espírito Santo “
15H50 – 16H40 – MIGUEL REAL - Europa de Hoje e o Portugal de Amanhã “
16H40 – 17H20 – LUIS RESINA – “ Os Grandes Ciclos da Alma Portuguesa “
17H20 – 17H50 – COFFEE BREAK
17H50 – 18H40 – MARCO RODRIGUES – “ Movimento Evolucionário, Frente Evolucionária, Aglutinação dos potenciais evolucionistas e revolucionários da Alma Portuguesa”
18H50 – 19H20 – QUESTÕES EM PLENÁRIO (resposta a perguntas postas por escrito ao longo do dia e sorteadas )
19H20 FECHO COM CONCERTO DO CORO RICERCARE EM HOMENAGEM A PORTUGAL
Este programa é provisório, poderá sofrer alterações.
CAMPANHA ATÉ DIA 20 DE MAIO - INCRIÇÃO 35 EUROS
terça-feira, 4 de maio de 2010
A geometria de ângulos rectos de uma libélula que se imobilizou na antecâmara de uma queda, sem pré-aviso, até à tangente de que saiu uma circungiração de lupa. Da mola, os ziguezagues da continuidade de uma busca que só a ela diz respeito.
-Mas se me permite, quero aqui chamar-lhes a atenção para um outro aspecto. É que não será apenas por isso que a sua obra poética ganha uma enorme singularidade -e eu aqui arrisco-me mesmo a acrescentar a importância- não será só por isso que a sua obra adquire uma enorme singularidade não só ao nível aqui do burgo o que apesar de todo o provincianismo que por essa altura dominava o nosso país e até o universo das letras, mas até no plano mundial.
-Está a referir-se a quê?
-Eu estou a referir-me àquilo que podemos designar como a sua dimensão de poeta filósofo.
-Sim, sim, podemos dizer que ele acabou por estabelecer um pensamento metafísico sobre o Ser. Isso é mesmo uma constante nos heterónimos, mas também está muito presente na poesia que deixou assinada em nome próprio. Nós podemos falar do Pessoa nesse sentido de um poeta filósofo ou então de um filósofo que escolheu a poesia como a sua principal forma de expressão. Mas eu acho que se tratou mais de um caso de um poeta filósofo.
-Sem dúvida.
-E tu estás a ver como isso acaba igualmente por confluir para aquilo que defendi quanto à intencionalidade de construir uma obra literária? Consegues ver isso?
-Sim, já disse que sou levada a concordar contigo. Se virmos a coisa por esse prisma, foi, de facto, uma grande ousadia. Contudo, deixa que te diga que não me parece que seja isso que maior destaque merece naquela obra.
-Aliás, nem isso teve propriamente dito a ver com o conteúdo da mesma que, esse sim, é o que verdadeiramente nos deve interessar, não será assim?
-Sim, claro.
-Ora bem… E nesse sentido, isso que o senhor diz de ele ter feito filosofia isto é, o facto de na poesia dele ele ter conseguido elaborar um discurso metafísico sobre o Ser, o destino, as potencialidades do Ser, é precisamente isso que em conjunto com a construção heteronímica –salvo seja a expressão- é justamente isso que mais vinca a singularidade da sua obra e, sobretudo, aquilo que mais vai contribuir para lhe dar uma merecida relevância até ao patamar da literatura universal e de primeiríssimo plano, não tenho a menor dúvida sobre isso.
-Estou a entender onde queres chegar. Afinal isso é que é o conteúdo da obra…
-Naturalmente.
-Claro. Isso é evidente. Mas deves reparar que eu não falei que isso fosse, digamos assim, uma característica da sua obra. Aliás, por quem somos? Isso nem faria qualquer sentido; vendo bem, seria o equivalente a dizermos que um elemento exterior a um objecto seria a sua característica base. Num certo sentido, chega mesmo a lembrar um pouco aquela senhora muito perspicaz que estava a pensar a respeito do que significaria um determinado objecto na pintura que estava então a apreciar, sem dar conta que se estava a referir a um dos vasos da decoração da sala.
-“Este sim, este é um Picasso”, “não minha senhora, isso é um espelho.”
-Sim, tens razão, tens toda a razão. Não é preciso para nada toda essa ironia.
-Claro! Eu disse apenas que isso era o que mais me impressionou no homem, toda essa ousadia. Agora quanto àquilo que possa merecer destaque na sua obra, aí sou levado a concordar contigo e isto mesmo independentemente daquilo que depois possamos dizer a esse mesmo respeito.
-Que queres dizer com isso?
-Quero dizer que independentemente de podermos discutir as ideias que possam estar explícitas ou implícitas naquilo que escreveu e de nessa discussão concordarmos ou discordarmos das mesmas ou muito simplesmente de as acharmos mais ou menos inéditas ou inovadoras ou não, independentemente de tudo isso, a verdade é que não podemos deixar de concordar que no conjunto da sua obra, mesmo se nos restringirmos apenas à sua vertente poética, nesse conjunto ele desenvolveu e apresentou um discurso filosófico.
-Absolutamente de acordo com isso.
-Que até aplica na análise paralela que fez da História de Portugal e do papel de Portugal na História, salvo seja o trocadilho, pois não era essa a intenção.
-Sim, sim, sim, sim… Tal e qual. Com o que faz a sua leitura da História de Portugal e o que precisamente leva a que se trate de uma determinada maneira de ver que é, ela própria, construída a partir de uma concepção filosófica particular.
-Bem vistas as coisas, nem sei se não se poderia dizer que ele elaborou um certo sistema filosófico.
-Olhe lá bem que essa sua afirmação não andará muito longe da verdade.
-Sim, não tenhamos dúvidas. Num certo sentido sim. Sem querer estar a aborrecê-los, contaria até há uma coisa curiosa que se passou comigo.
-Partilha. Partilha.
-Não aborrece nada, certamente que não aborrecerá mesmo nada. Força.
(continua)
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Via Láctea
por
Abdul Cadre
O professor Agostinho da Silva, um homem que veio do futuro e possuía dupla nacionalidade (portuguesa e brasileira) COSTUMAVA DIZER que somos estrelas de incomparável brilho. Que pena, termos tanta dificuldade em acreditar nisto. E, no entanto, o brilho vê-se nos olhos quando o peito arde sem constrangimentos.
Mas eis que se torna uma necessidade permanente avivar a chama, visitar o interior, varrer as cinzas e encher o lugar de alegria.
É no mais profundo do peito que nascem e morrem todos os sentimentos. As lágrimas podem lavá-los, mas também molham os bagos de amor que são os carvões da fogueira que nos permite brilhar, prejudicam a combustão, enchem de fumo o nosso entendimento e a tristeza vem e ofusca-nos o olhar.
Ver no outro o brilho verdadeiro que em nós imaginamos chama-se EUCARISTIA – palavra derivada do grego, com o significado etimológico de «o bem do amor» –, sendo que o amor não é nem nunca foi o que o homem pós-moderno diz, mas aquilo em que ele não quer acreditar. É por isso que falar de fazer amor, como se amor fosse artesanato, confundindo apelos da alma (que traz amordaçada) com ânsias da carne (que traz à rédea solta); dar-se ao outro pelo outro é-lhe completamente incompreensível. O TER infectou-o tanto por dentro que o SER, cada vez mais angustiado, se afasta cabisbaixo pela estrada da mágoa e da tristeza.
O amor – não uma sua qualquer particular manifestação menor – é a negação da morte, como se diz com mestria no soneto de Antero de Quental intitulado «Mors – Amor», quando o corcel negro diz «eu sou a morte» e o cavaleiro lhe responde: «eu sou o amor».
É certo que no preciso momento em que nascemos começamos a morrer e que em todos os dias desta nossa peregrinação nascemos e morremos continuamente. Afinal, viver talvez seja matar a morte de cada dia.
Quando as estrelas, em vez de brilharem, se ofuscam, tendem a colapsar sobre si mesmas. É isto que acontece ao homem preocupado apenas com o seu umbigo. Ávido de prazer, ele desconhece a alegria e julga poder afastar a dor; não pode, a dor é uma inevitabilidade, o que é opcional é o sofrimento, que é o carrasco da alegria.
Como imagem para o nosso colapso de estrelas que não ousam sê-lo, olhemos algo que se pôs de moda, fazer implodir velhos edifícios para dar lugar a outros, presumidamente melhores. O colapso do homem velho seria, nesta condição, uma coisa boa, isto é, se melhor construção viesse, mas enquanto vivermos de fora para dentro, tenhamos a certeza que nem aos caboucos meteremos ferro, antes veremos embargada a construção do homem novo, tão desejada em tempos de exaltação, tão tumular em tempos de apatia. A construção do homem novo, daquele que há-de viver de propósito e brilhar por condição, que viverá de dentro para fora, com o peito a arder, é uma promessa de vida e de futuro.
Podemos antever isso, sempre que em noite amena e estrelada nos deitemos em chão despido, extasiados com a Via Láctea, a que pertencemos.