domingo, 31 de outubro de 2010

Après Moi, le Déluge!


Movendo-o a consciência da gravidade dos problemas e o sentido de responsabilidade, o Grande Aníbal sentiu o chamamento pátrio e o consequente dever de se recandidatar, anunciando aos portugueses a sua decisão na exactidão do dia, hora e local, segundo a “Anunciação” do Arcanjo Marcelo.

O Grande Aníbal, o presidente dos portugueses que acham que a sua (deles próprios) Política é o Trabalho e que a Política é para os políticos, usando a velha mas ainda resistente receita ideológica herdada do fantasma de Santa Comba, apresenta-se aos portugueses que sabem bem distinguir aqueles que falam verdade e aqueles que semeiam ilusões e utopias, com o já esperado exercício de narcisismo saloio, rodeado de bajuladores e assessores sem carácter e sem pingo de vergonha que se vendem por um “tachinho” para eles e para a família, evidenciando a sua experiência e os seus conhecimentos, o elevado grau de exigência ética que sempre caracterizou a sua vida (claro está que se refere ao modo como conduziu os desvarios e escândalos em que estiveram envolvidos alguns dos seus ministros, enquanto chefe de governo no Cavaquistão, nomeadamente uma sua actual Conselheira de Estado, ex-ministra da saúde, ou à forma como estavam a ser desbaratados (e desviados) os fundos estruturais que entravam todos os dias durante o seu consulado?), mais-valias que ajudarão o País a encontrar o Rumo, perguntando à plateia em que situação se encontraria o País sem a acção intensa e ponderada (como foi a novela das escutas…), muitas vezes discreta que desenvolveu ao longo do seu mandato?

O que teria acontecido sem os alertas e apelos que lançou na devida altura? Sem os compromissos que estimulou, sem os caminhos de futuro que apontou (bem, espero que não se estivesse a referir à Política Agrícola Comum da qual foi um grande defensor e impulsionador no passado, vindo agora há pouco tempo dizer que “A PAC deve ser encarada como uma prioridade e discutida com profundidade e participação activa de todos os interessados”, ou seja, como o eleitorado não tem memória, “vou fazer de conta que não tive nada com isto e que este é um assunto que muito me preocupa”), sem a defesa dos interesses nacionais que tem incansavelmente promovido junto de entidades estrangeiras (aqui não tenho qualquer dúvida de que se está a referir ao encontro com Václav Klaus)?

Mas se bem que a sua magistratura de influência tenha produzido resultados positivos, podia ter sido mais bem aproveitada pelos diferentes poderes do Estado (Ah! Lá está! Tal como Luís XV, os causadores dos problemas são sempre os outros e nunca ele – ele é a solução, o Messias, pois claro!...)

Com a tranquilidade de quem já tem a vitória “no papo”, sabendo que, embora uma pequena parcela da direita mais beata se vá abster por vias do não-veto à Lei do Casamento Gay, grande parte da base eleitoral do PS votará nele, pois muito pior que Aníbal em Belém, seria uma forte votação em Alegre, que poderia conduzir a um despertar de consciências com movimentações internas, fazendo regressar os “exilados de esquerda” no Bloco e pondo em risco de morte toda a hegemonia ultra-liberal (estou a utilizar o termo “ultra-liberal” eufemisticamente, de forma a evitar uma forma linguística indecorosa, mais exacta na definição desse grupo) Socrática, lá vai o Grande Aníbal fazendo ao longo do seu discurso, o auto-elogio perante os portugueses que sabem distinguir a verdade da ilusão…

Como desejável e expectável, não se viu na plateia o seu grande (ex?) amigo Dias Loureiro, que tantos embaraços lhe causou, enterrado até ao pescoço nas trafulhices do BPN (por triste infortúnio, vá lá saber-se porquê, o mesmo banco onde o Grande Aníbal e a sua filha tinham umas parcas poupanças amealhadas à custa de tanto sacrifício…), a tratar da sua vidinha em Cabo Verde e a gozar um merecido descanso e um não menos merecido rendimento por serviços inestimáveis à Pátria.

“Não colocarei um único cartaz!” – diz Ele. Convenhamos: Ele é feio que se farta e ainda por cima sempre com aquele ar sinistro, de gato pingado, pespegado em grandes “outdoors”, mete medo às crianças e é mau para o negócio. Penso que deverá ter sido aconselhado pelo “staff” o qual, sendo esse o caso, terá tido uma ideia brilhante. Eu estou totalmente de acordo - deixemos que a obra fale pelo Homem! Decididamente a fotogenia não é um dos seus melhores atributos. Haverá alguém que já se tenha esquecido daquele ar "monga" e das bochechas a rebentar de bolo-rei na época do “tabu”? Ninguém, certamente.

“Um Presidente deve actuar com discrição e reserva” – Outra grande ideia… Para quem não tem dotes oratórios, nem nunca sabe o que dizer, nada melhor do que deixar que os outros falem por nós. Presumo que será uma campanha marcada por elogios dos “yes men” (e “yes women”) à sua Obra.
E diz mais adiante:
“Centenas de militares portugueses cumprem missões no exterior do território de Portugal em zonas de conflito situadas em 3 continentes.” Ora aí está mais uma página triste da nossa História actual. Andamos a enviar mercenários para defender os interesses dos Senhores do Ópio e do Petróleo, aliciando jovens com salários chorudos, eles próprios pressionados pelas famílias na mira de um rendimento que permita algum desafogo financeiro, criando uma ideia fantasiosa de guerra a brincar, do género daquilo que eram as nossas brincadeiras de infância, aos cowboys e aos índios – os cowboys ganhavam sempre porque eram os bons e os índios perdiam sempre, porque eram os maus. Mas na vida real, às vezes os índios ganham e matam os cowboys; outras vezes, não conseguimos distinguir uns dos outros…

Para concluir: Temos Homem! Que mais necessitará de provar à Nação alguém que em nome da Coisa Pública e da Honra está disposto a abdicar da defesa das suas alfarrobeiras no Boliqueime, numa altura em que as máfias de leste lançam olhares de cobiça aos seus frutos? Alguém que poderá dizer com propriedade: Depois de mim, o Dilúvio!...

Raul Costa

Alhos Vedros, 31 de Outubro de 2010

1 comentário:

MJC disse...

Pois é Raul, talvez sem querer acabaste por dar uma ideia para uma saída de cena airosa para o Cavaco (pra mim Aníbal é aquele general que estudei em história). Ir tomar conta das alfarrobeiras para Boliqueime já que, ao que me constou, estão a ser rapinadas pelos emigrantes de leste (o que sempre será preferível a ficarem por colher nas árvores como é frequentemente o caso). Defende o seu (dele) património e nem sequer precisa de falar muito já que, comprovadamente, não é a sua especialidade.
E se, ainda por cima, quiser convidar alguns dos seus amigos será um grande serviço que presta à comunidade.

Se não fosse por coisas, até me atrevia a sugerir um abaixo assinado nesse sentido.

abraço,

mj