quinta-feira, 7 de julho de 2011

d´Arte - Conversas na Galeria XLV


Castelo de Palmela Autor António Tapadinhas
Acrílico sobre tela 40x50cm

Já assinei a obra! Quer dizer que a considero acabada! Algumas vezes, não assino imediatamente, porque não estou totalmente seguro de que o quadro esteja acabado. Deixo-o pendurado no estúdio para que a comunicação se mantenha, até que a tela me diga o que lhe falta. É um processo que tem resultado. Neste caso, tenho a sensação nítida que a obra está acabada: tudo o que fizer a seguir está a alterar a integridade que sinto nela. Às vezes basta um pequeno traço, uma pequena mancha de cor, para alterar substancialmente uma harmonia... Pensemos no que aconteceria se alterássemos as quatro primeiras notas da Quinta Sinfonia de Beethoven! Já foi dito que seria como anular a peça inteira!
Como puderam observar, utilizei inicialmente uma pincelada espessa, carregada de matéria, para se tornar mais expressiva e talvez despertar mais emoções. Tentei encontrar no final um compromisso entre essa pincelada emotiva, e outra mais objectiva, tendo em atenção tanto a construção das formas como a descrição do motivo: Queria que fosse facilmente identificável a Serra do Louro e o Castelo de Palmela.
Deu-me muito prazer fazer esta obra e partilhá-la com os meus amigos, à medida que ia crescendo. Não foram muitos os que comentaram as diversas fases do processo, mas sei que não deixaram de o acompanhar. Talvez noutra altura, se sintam mais à vontade para fazê-lo, pois eu sei que não são precisos especiais conhecimentos técnicos – a vossa sensibilidade chega e sobra!
A todos, o meu muito obrigado!

2 comentários:

Luís F. de A. Gomes disse...

Disse de Palmela o poeta, o comboio descendente até à Cruz Quebrada e aqui vimos do pintor, o castelo ascendente para a alma encantada.

Ver crescer uma pintura é como ver o fluir da vida. No futuro estão combinações que materializam a inevitabilidade da(s) nossa(s) incertezas.

Aquele abraço, companheiro
Luís

A.Tapadinhas disse...

Luís F. de A. Gomes:

No comboio descendente
Vinha tudo à gargalhada.
Uns por verem rir os outros
E outros sem ser por nada

Com o poema e e o poeta/cantor que lembraste, tenho vivências quase místicas: com o Poeta porque de tanto o ler e o dizer em público, parece-me que o conheço pessoalmente (o que quer dizer à propria pessoa:), e com o poeta/cantor de intervenção, porque o conheci pessoalmente e disse Pessoa em três actuações do Aqueduto, com a presença do Zeca. Numa delas, em 18.12.71, no Pinhal Novo, só a presença, porque os esbirros da PIDE não o deixaram cantar...

Este discurso entaramelado, sei que podia ser mais claro mas não estou com paciência para o rever, serve para dizer que estes dois poetas são da família e, para mim, continuam vivos...

...como são vivas as palavras com que me honras nestas minhas, por enquanto, postagens semanais...

O meu obrigado. Abraço,
António