Nobreza de espírito é a realização da verdadeira liberdade, é a busca permanente da verdade e do bem, a encarnação da dignidade humana.
Não pode haver democracia nem sequer mundo livre sem este alicerce moral.
A verdadeira liberdade é aquela que permite seguir na busca do padrão absoluto pelo qual o nível da dignidade humana deve ser medido.
Eis o grande ideal!
***
Quem preza a civilização e a vida intelectual olha para a história do século XX com verdadeira perplexidade. Quase diria, com estupefacção. Quantos eruditos – académicos, artistas e cientistas – puseram de lado a vida civilizada optando pelo triunfo da mentira, da ditadura, daviolência? Quantos deles colocaram as suas potencialidades às ordens do terror? O rol é certamente incontável.
Mas também, quantos os que se recusaram a abandonar a integridade e por isso morreram às mãos dos algozes da Civilização? Eis outro rol interminável que nos deixa atónitos…
E olhando em redor, o que vemos? Vemos exércitos de eruditos queconsideram mais importante alcançar a resposta final política do que dizer a verdade e pensar sem preconceitos.
Foi depois da guerra de 1939-45 que Hannah Arendt concluiu que a crise só se transforma em drama quando lhe respondemos com preconceitos. E estes mais não são do que as ideias politicamente formatadas. Em vez de recorrerem à liberdade, recorrem às «cartilhas». Ironicamente, fazem-no em nome da liberdade que, desse modo, nãopraticam nem sequer, afinal, admitem.
A traição de parte significativa da intelectualidade está na razão directa da falta de capacidade para assumpção das responsabilidadesintelectuais. É para esses mais cómodo responderem às questões com soluções politicamente formatadas do que assumirem a integridade que deles seria legítimo esperar. Não passam daquilo a que Thomas Mann ironicamente apelidava de «literatos da Civilização», os que sabem tudo relativamente ao que os outros pensam mas pouco ou nada acrescentam da sua própria autoria. Para estes, a felicidade não é uma questão metafísica ou religiosa mas sim e apenas um problema político.
Logicamente, arriscam-se a propor soluções baseadas em ideias geradas em contextos completamente diferentes dos que estão na circunstância em observação. É que, se existe algum lugar onde a submissão reina, é seguramente entre os intelectuais politizados.
Cúmulo da ironia, bradam as receitas encartilhadas à mistura com VIVAS à liberdade.
Porquê tanta traição à nobreza de espírito?
Sedução do poder, influência, inchaço por ser ouvido e quiçá admirado. Numa palavra, vaidade.
O significado de conceitos imortais como o do bem, do mal, dacompaixão, da sabedoria, da justiça, da virtude, raramente é aflorado porque a linguagem actual preza a objectividade dos factos que se analisam em função de objectivos que visam o progresso material.
A busca da verdade só pode seguir a via dos valores perenes dedistinção entre útil e inútil, bem e mal, relevante e insignificante.
Assim, em nome da liberdade, se mata a verdadeira liberdade e seabandona a procura da verdade.
17 de Julho de 2011
Henrique Salles da Fonseca
BIBLIOGRAFIA:
Riemen, Rob – NOBREZA DE ESPÍRITO, UM IDEAL ESQUECIDO, Ed. Bizâncio, Lisboa, Abril de 2011
Sem comentários:
Enviar um comentário