Ouro Preto, Fonte: Wikipédia.
Contam as lendas e histórias de Minas Gerais, do tempo do Brasil Colônia, que quando o ouro foi achado naquelas paragens por uma expedição oficial do castelhano Francisco Bruza de Espinosa, conhecedor de minas auríferas, os interesses dos colonizadores e da Coroa voltaram-se para a procura do reluzente metal. Os trabalhos de busca eram executados a céu aberto, na garimpagem de córregos e rios, e na escavação subterrânea de morros e montanhas, onde supunham estar as jazidas. Sem mão de obra especializada e suficiente, mais uma vez os colonos e a Coroa portuguesa recorreram à compra de escravos africanos, como já haviam feito os plantadores de cana e senhores de engenho. A maioria dos negros vinha de Angola e de São Jorge da Mina, na África. No porto de Paraty, no Rio de Janeiro, os sobreviventes à desumana travessia marítima eram comprados e levados, escoltados, pelos tropeiros. Amarrados, descalços, adultos e crianças, maltrapilhos, seguiam a pé pela Estrada Real até a região aurífera (principalmente Vila Rica, Mariana, Sabará, São João Del Rei. e Tijuco). O caminho seguido pelos escravos era outra epopéia, desta vez terrestre, até chegarem ao seu triste destino.
Rugendas(Mineradores), Fonte: Enciclopédia Itau cultural
Naquela região mineira os africanos eram escolhidos para os serviços de mineração, gerais, ou domésticos, de acordo com a aptidão física. Os de compleição longilínea e forte iam para o transporte das sinhás, eram os carregadores de liteiras, usados também nos serviços para toda a obra. Os de porte baixo e atarracado, em geral da região da Mina, eram mais procurados para os trabalhos de exploração nas minas.
A busca subterrânea do ouro era feita de maneira rudimentar. As escavações e retirada do material rochoso parava quando atingiam o lençol freático e se formavam poços alagados nos fundos dos buracos. Lavrava-se apenas o ouro encontrado na jacutinga, salbanda e nos itabiritos. No auge do ciclo do ouro mineiro ( 1695 a 1800), quando chegaram a resgatar só em Vila Rica e Mariana cerca de 700 toneladas de ouro, eram tantos os escravos que numericamente chegavam quase à metade da população da Capitania.
Mal alimentado, vivendo em senzalas úmidas e atulhadas, trabalhando de sol a sol em ambiente insalubre, mal iluminado por tochas de sebo, com pouca aeração e arriscado, o negro minerador não durava muito tempo. Os jovens raramente passavam dos vinte e um anos. Após um curto período de trabalhos de 5 a 7 anos, se não pereciam antes em acidentes e soterramentos, nas minas, morriam de doenças cardiorrespiratórias (tuberculose, silicose, pneumonias) e anemias.
Nos poços verticais furados na rocha, por serem lugares exíguos e estreitos, de difícil acesso, utilizavam crianças pequenas (mais de 7 anos) para atingir a salbanda, camada intermediária da rocha, facilmente escavável, naquela região rica em ouro. Os negrinhos desciam os estreitos e íngremes degraus, escavados na própria rocha, para retirar o material que colocavam numa bolsa de couro. Na subida de volta, se resvalavam, caiam arrastando consigo os outros que vinham atrás. Muitos morriam sufocados ou feridos, abandonados na escuridão do fundo do poço. Dizem os moradores da região, os mais antigos, que ainda pode-se encontrar ossos dessas crianças da salbanda, que ficaram esquecidos dentro de buracos, nas minas.
Apesar das condições miseráveis em que viviam, era permitido aos escravos garimparem por conta própria aos domingos e dias santos. O ouro que arrebanhavam dessa maneira e de forma ludibriosa (engoliam ou escondiam pepitas na carapinha, e até enterravam com os defuntos ouro, em covas rasas, no cemitério de escravos...) era utilizado para comprarem a alforria e para fundarem Irmandades negras (Nossa Senhora do Rosário) que ajudavam outros escravos.
À custa de grandes sacrifícios e sofrimentos, o ouro que os negros africanos tiraram das terras mineiras alucinou a imaginação de Senhores, atiçou a cobiça de aventureiros, provocou muitas mortes e brigas, engrandeceu a imagem arquitetônica da Igreja, construiu e embelezou palácios, abriu caminhos, fez surgir cidades, criou em Minas Gerais uma cultura barroca específica, ajudou a reconstruir cidades na Europa, enriqueceu os cofres de Estados estrangeiros e , após tantos anos, ainda alavanca a economia do país e desperta a curiosidade histórica.
Maria Eduarda Fagundes
Uberaba, 30 de junho de 2011
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