quinta-feira, 18 de agosto de 2011

d´Arte - Conversas na Galeria LI

Mercado Autor António Tapadinhas
Óleo sobre tela 50x40cm

O mercado que se realiza no segundo domingo de cada mês no Pinhal Novo, depois da construção da estação de caminho de ferro, tornou-se um dos maiores do país, um autêntico hipermercado ao ar livre, onde a população de toda a região compra e vende de tudo um pouco.
A partir duma fotografia histórica, datada de 1908, que mostra a zona fronteira à capela e a importância que já tinha nessa altura o mercado, fiz uma tela de grandes dimensões que foi comprada pela Junta de Freguesia de Pinhal Novo.
Foi nesse local que foi captada a imagem que serviu para a execução desta obra. Para não ferir susceptibilidades, ou levantar suspeitas sobre as minhas intenções, levei comigo o meu irmão que se colocava em locais estratégicos para eu fotografar aquilo que realmente me interessava. Os ciganos não sei porquê, não gostam muito de ser fotografados ou, ainda menos, que tirem fotografias às suas companheiras...
A pintura base aplicada é o cadmium yellow, para todas as cores terem o brilho do sol e a tela respirar Verão por todos os poros.
O céu, o sol, a saia da vendedora, os eucaliptos, garantiram-me os necessários contrastes com as cores primárias e complementares, para a cena ter a vivacidade electrizante que o local transmite ao mais indiferente.
Espero que o cheiro dos animais, das bifanas e dos couratos, misturados com a poeira que paira no ar, não afaste os menos sensíveis a estes prazeres típicos da região caramela.

4 comentários:

Diogo Correia disse...

Grande Tóó!!! Adoro esta tua tela. :)) Nunca fui ao mercado do pinhal novo agora estou curioso por ir um dia. eheheh


Um Abraço
Diogo

Luís F. de A. Gomes disse...

Os mercados são os não lugares onde nos podemos cruzar com os rostos e os falares das populações dos lugares onde se montam de tendas e ofertas que tanto decorrem da necessidade como da fantasia. Sempre gostei de mercados e sempre os incluí nos roteiros dos lugares a que chego pela primeira vez. Os mercados sempre foram laboratórios de quem queira pensar o homem em toda a profundidade da sua existência. Há muito que a pintura também os canta e esta tua peça inscreve-se em tão nobre tradição.

Pena que hajam outros mercados em que a ganância de acastela para nos sitiar a existência.

Digo então que a tua arte pode ser tomada como um bonito contributo para que nos lembremos que pouco é aquilo que temos feito para que assim não seja.

A modernidade construi-se em grande medida com a preponderância que o príncipe alcançou perante a Igreja Romana, o mesmo é dizer, o predomínio da política sobre a religião.
A contemporaneidade, trouxe, no Ocidente, o desenvolvimento que implicou o controle do estado de direito sobre a economia. É essa conquista civilizacional que agora está em retrocesso com a guerra social que se está abatendo sobre essas populações, de uma maneira geral.
Mas o futuro, a possibilidade de uma vida em sociedade segundo o princípio do rrespeito pela dignidade humana, esse terá que se escrever pelo trilho do controlo do poder político e dos estados sobre as ganâncias da especulação financeira.

Precisamos de pensamento novo, como resposta à miséria de pensamento em que se alicerça este caminhar anestesiado para a miséria.

Contudo, nem isso nos ofusca a experiência de belo que é o deixarmo-nos pairar nesta tua pintura.

Aquele abraço, companheiro
Luís

A.Tapadinhas disse...

Avisa-me quando fores, para eu ir contigo para comermos uma sandes de coirato acompanhada de um copo de tinto...
:)
Abraço,
António

A.Tapadinhas disse...

Luís: Tens toda a razão: os mercados de que falamos são sítios em que vivem pessoas de carne e osso e não umas entidades mais ou menos esotéricas, que existem para nos complicar a vida, como essas outras de que nuestros hermanos dão nota, com tanta graça: No creo en brujas, pero que las hay, las hay!

Ontem vi que num aeroporto francês, salvo erro de Orly, as instruções sobre os procedimentos de embarque são dadas por um holograma com pessoas, a que as pessoas reais, aquelas que pagam os bilhetes, obedecem depois de um sorriso mais ou menos contrafeito, mais ou menos receoso...

Primeiro estranha-se depois entranha-se...

Assim vai o mundo... E nós?

Aquele abraço,
António