quarta-feira, 24 de agosto de 2011

... Tudo isto é Fado

DO ESTADO DE GRAÇA
AO ESTADO SEM GRAÇA NENHUMA

DIZ-SE que o governo que o povo que nele votou quis se encontra ainda no chamado estado de graça, que é um tempo, uma espécie de interregno na capacidade de estar de olho aberto. Pelo menos será uma boa desculpa para os oficiais da opinião publicada abanarem as orelhas e dizerem de ar seráfico-desportivo: «lo que pasa es que no pasa nada». Isto, em castelhano, porque os moços ainda não aprenderam mandarim.
A cumplicidade dos meios de comunicação social com o governo que temos é evidente que não advém duma angelical responsabilidade perante os perigos da «crise», porque a sê-lo teríamos visto a mesma cumplicidade com o governo anterior o panorama era exactamente o mesmo e tínhamos poupado uma data de massa; também, que se saiba, não faz parte das medidas da celestial troika. Pode é fazer parte da moral do tempo que passa, porque isto, meus amigos, lá dizia aquele nosso vate que via apenas de um olho: «mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança…» E ele não dizia, mas digo eu: isto está pela hora da morte e o melhor é fazer pela vidinha.
Tempos houve em que se olhava para os meios de comunicação social como pilares fundamentais da democracia, nelas assentava a essência da liberdade de expressão. Aos jornalistas, por isso mesmo, chamou-se-lhes cães de guarda, pois guardavam o tesouro que era a liberdade daqueles que em tudo vêem um pote de que querem servir-se e lambuzar-se. Mas veio Serge Halimi, nos finais dos anos 90, com o seu brilhante ensaio Os Novos Cães de Guarda, dizer-nos que o Pai Natal não existe. Com Citizen Kane já tínhamos visto os perigos dos magnatas do jornalismo, mas isso era lá com os camones; com Halimi vimos os jornalistas, as suas sombras e os seus armários.
Com uma pequena réstia de espírito crítico e uma ideia mesmo que difusa do dever de informar teríamos tanto ácido sobre as acções destes governantes que o governo seria olhado como se fosse uma daquelas frigideiras onde se confeccionam farturas nos arraiais populares, isto falando dum grupo de rapazes de que já deveríamos estar fartos, que ao povo nenhuma fartura deixam e para os amigos toda a fartura guardam.
As luminárias do palavreado mostram-se agora surpreendidas com o regresso do TGV, que andaram a combater por encomenda partidária durante anos. Actualizem-se meninos, actualizem-se. Vão ter de fazer a mesma campanha, mas agora a favor. Sabem? Do meu ponto de vista, se o TGV não for feito, Portugal será reduzido à mais insignificante das excrescências. Aproveitem agora para falar verdade e verão que não custa nada. Vocês sempre souberam e o lobby dos transporte rodoviários também que o TGV é um projecto que ligará Lisboa à Sibéria e à China, fazendo baixar os gastos de combustível e os custos dos transportes de mercadorias.
Ó Amorim, deixa-te de birras. Afinal estavas à espera de quê? 

Vendas Novas, 21 de Agosto de 2011
Abdul Cadre

Sem comentários: