sexta-feira, 26 de agosto de 2011

ENCONTROS COM AGOSTINHO

NAMORANDO O AMANHÃ
(2ª. Edição)
7. RECADINHOS PARA OS PORTUGESES

       É preciso que antes de tudo, Portugal cuide de si próprio; que não se ponha com ideias de passar para aqui e acolá, sem cuidar primeiro da sua terra. Que tomemos, todos nós, o exemplo que tiveram aqueles que construíram Portugal. Assim como eles tiveram que construir Portugal como se fosse um cais à beira da Europa, donde podiam partir os navios, assim nós agora temos que reconstruir Portugal para que os novos navios, desta vez aviões, ou desta vez nós nem voamos, apenas o nosso sonho e a nossa vontade possa levar a navegações muito mais importantes do que aquelas que se fizeram no passado, muitíssimo mais importantes. As outras foram apenas para descobrir novas culturas e foram para descobrir novas terras. Nós agora, as navegações que vamos fazer serão para levar a todo o mundo aquilo que é fundamental na cultura portuguesa.

         É preciso que a economia não seja mais o que tem sido até agora, uma economia de caça e uma economia de guerra. É preciso que seja uma economia de convivência.

         E é preciso que os governos não sejam para mandar às populações fazer aquilo que lhes agrada a eles mas, pelo contrário, para perguntarem às populações de que coisas é que eles têm mais vontade, mais desejo, e conseguir harmonizar todas as vontades de tal maneira que tenham recursos suficientes para que isso realmente possa existir, possa realizar-se no mundo.

         E finalmente que as crianças se possam educar em liberdade na vida, correndo àquilo que gostam e aprendendo aquilo que prefiram.

         E ainda mais uma coisa que para os portugueses foi fundamental que é o de poder olhar a vida, não com a ideia que já viveram todos aqueles dias, como hoje sucede a tanta gente que se levanta da cama para fazer nesse dia que alvorece a mesma coisa que fizeram na véspera e já estão achando que a coisa é realmente insuportável, já estão tendo aquilo que eu chamo que é o destino da Europa e Portugal, com todo o cuidado, não caia na mesma coisa; porque o destino de todo o europeu que se mete na cama é de acordar na véspera, não é no dia seguinte, ele acorda na véspera para fazer de novo aquilo que já tinha feito anteriormente.

         E é preciso que não vamos cair disso. É preciso que nós, pouco a pouco, com vontade, com atenção a tudo quanto há, vamos tentando modificar a cada passo as coisas.

         E ao que parece, não é legislando para todo o país que nós conseguimos resolver o problema.

         Deixemos os governos legislarem para todo o país. Provavelmente, estão fazendo, no meio de tudo, alguma coisa de bom.

         Mas é preciso que nós vamos em pequenos grupos, como estamos aqui, organizando a vida naquilo que podermos na nossa própria terra, limando aquilo que seja mais áspero, tentando realizar uma vida que se não totalmente para nós, pelo menos sirva para os mais novos.

         Viemos à bocado, durante a viagem, conversando sobre o que é terrível haver tanta criança que, porque os pais têm que trabalhar deste ou daquele modo, estão como que abandonadas na vida.


         Eles não tiveram e não têm aquilo que é importante para a criança ter que é a experiência dos mais velhos e a companhia, nos momentos difíceis da sua vida, como é, por exemplo, a ida para a escola. A quase toda a criança custa muito passar a ir à escola e quando mudam de escola, exactamente a mesma coisa. E ao passo que dantes, por condições de vida, elas tinham sempre algum apoio em casa, hoje, na maior parte das vezes, elas estão como que sozinhas na vida, só raramente vendo os pais.

         E vendo nas terras como é que nós, a pouco e pouco, poderemos ir mudando esse ambiente e levando até aqueles que têm o poder a fazerem alguma coisa que vá nesse sentido e que ajude, por que entenderam o que é preciso, aquilo que as populações querem.

         Neste momento, eu não estou nadinha interessado, vamos dizer, no geral de Portugal, ou no geral da cultura portuguesa. Estou interessado a ver o que se pode fazer em cada momento.

         E nem imaginam o gosto que foi para mim receber o vosso convite. Que não viria por minha iniciativa a Alhos Vedros, coisa nenhuma, deixaria, como nas outras coisas que a vida desse o seu sinal. Ela deu o sinal.

         E aqui estou pronto a voltar aqui, muitas vezes, para vos dizer o que se vai fazendo nesse adiantar e na tal fundação “Mensagem”.

         Que não creio que ela possa resolver os problemas sozinha. Claro está, são muito mais graves e poderosos do que quaisquer recursos que nós possamos conseguir.

         Tenho uma outra ambição.

         Há outras fundações já em Portugal. Vamos a ver se é possível um dia coordenar o trabalho dessas fundações todas de maneira que não se gaste o dinheiro todo numa só coisa que está toda velha, ficando outras coisas sem recursos, mas sim repartindo as possibilidades que houver pelas necessidades que vierem a surgir.

         E talvez uma outra coisa ainda.

         Eu digo que há uma fundação muito mais importante do que aquelas todas a que nós conhecemos o nome, a Fundação Gulbenkian, ou a Fundação Oriente, a Fundação António Almeida, no Porto, ou a Fundação Eugénio de Almeida, de Évora.

         Sabeis qual é essa fundação?

         É aquela que foi criada por Afonso Henriques.

         Portugal, para mim, é ao mesmo tempo e sobretudo, a Fundação Afonso Henriques.

         Não quero saber, de maneira nenhuma, de que política é ou não é determinado governo, exactamente como quando vou à Gulbenkian, ou a outra fundação para apresentar um projecto e para ver se eles dão os meios necessários para o realizar, eu não pergunto a quem me atende se ele é deste partido ou de outro partido. Eu apenas quero que ele estude o projecto que lhe dei e que me diga, se segundo os regulamentos internos da fundação que eu não quero, de maneira nenhuma, alterar, a coisa pode ser satisfeita ou não.

         Eu então quando vejo projectos destes, vossos ou de qualquer outra localidade, para que nós não tenhamos recursos, tenha que procurar recursos, depois de procurar nas outras fundações que existem, estou pronto a dirigir-me à tal Fundação Afonso Henriques a apresentar o projecto e ver se aquele conselho de administração que politicamente é o Governo, está ou não está disposto a conceder um recurso e a facilidade suficiente para que essa coisa se realize.
(continua)

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