Os Açores e a Madeira foram arquipélagos descobertos na primeira metade do século XV, e como os portugueses precisavam ocupar essas terras periféricas, para manter o domínio sobre elas, mandaram para lá gente do Continente e de países que tinham relações com a Coroa Portuguesa. Os escravos foram, como no Brasil, mãos de obra doméstica e agrícola quando tentaram implantar o cultivo da cana-de-açúcar nas ilhas. Na Madeira, por uns tempos deu certo, até que a produção brasileira, concorrente, prejudicou o seu comércio. Nos Açores o projeto pouco durou, tanto que a população africana muito cedo se extinguiu. Sobraram os colonos estrangeiros que mantiveram com os portugueses da metrópole, pelos séculos seguintes, miscigenações que deram origem ao povo açoriano. O relativo isolamento a que ficaram por muitos anos submetidos facilitou a pesquisa das origens. Hoje com a arribada dos portugueses de procedência africana, e a presença de alguns estrangeiros, descendentes ou não de emigrados açorianos, o quadro genético paulatinamente se modifica.
Até a algumas décadas atrás, o arquipélago dos Açores era uma terra de emigrantes. Os vulcões e a pouca disponibilidade de terras inviabilizava uma população crescente. Quando as famílias tornavam-se numerosas ou um desastre natural fazia faltar o pão, a solução era e emigração, espontânea ou promovida pelo Estado, como aconteceu em Santa Catarina (Florianópolis, e cidades costeiras) no século XVIII, com a chegada dos açorianos. Muitas familiais conhecidas, no Brasil, tiveram raízes nos Açores. De lá vieram emigrados como colonos, militares, padres ou aventureiros, todos procurando uma nova vida.
No inicio da ocupação do Faial (Açores), minha terra natal, a população era quase inteiramente flamenga, tanto que o primeiro governador, Joss Hurtter ( de Bruges), deu origem ao nome da cidade principal da ilha, Horta, por deturpação portuguesa da língua flamenga.´ Os açorianos de origem flamenga são os Dutra descendentes de Joss Hurtter e do seu irmão Balduino Utra, os Silveira (descendentes de Willen Van der Haagen), os Grota (descendentes de Job Groot), os Rosa (descendentes de Pieter Roose) os Arnequin (descendentes de Herrn Jannequin), os Bulcão (descendentes de Buscamp) os Cornélio (descendentes de Cornelius), os Vernes (descendentes de Tristão Vernes), os Terra (descendentes de Joss Van Aertrijcke ou Aard), os Brum (descendentes de Guilherme Brum), dos quais tenho como ascendente uma trisavó pela linha materna.
Há também familiais açorianas de origem biscaia, os Arriaga, de onde provém o primeiro presidente da República portuguesa, o faialense Manuel José d'Arriaga Brum da Silveira; os Berquó de Mont-de-Marsan (França), os Bettencourt, Bitencourt, Betencourt ou Bethencourt (oriundos da Normandia),os Labat (de Arrochela, França), os Bom Dia (da Espanha), os Curry, os Whyton, os Street (da Inglaterra), os Garcia (da Galiza), e outros mais que não têm origem comprovada, como os Gutierrez e os Gondinho.
Vindos de reino, os Baleeiros, os Ávila (das Astúrias para Portugal no século XV), os Taveira, os Cunha, os Andrade, os Farias, os Mendonça, os Nunes, os Fagundes, os Pereira, os Pimentel, os Avelar, os Pamplona (de Navarra a Portugal), ...e muitos outros que tomariam aqui todo o espaço, mostrando que, na maioria e no sangue, somos acima de tudo de origem portuguesa, ou ibérica, se assim quiserem.
Como açorianos, portugueses da periferia, fomos um povo sofrido, amante de suas raízes, sujeito aos desígnios de Deus e do Estado, impotente e submisso às forças da natureza. Para sobreviver, ou para desvendar os mistérios de uma terra desconhecida, arriscamos a vida nas mudanças e travessias, anulamos o passado, nos consumimos para fazer um futuro. Herdeiros do novo mundo, muitos são, sem saber, fruto de uma epopeia ilhoa.
Maria Eduarda Fagundes (faialense)
Uberaba, 22/07/11
MG, Brasil
Dados: Anais do Municipio da Horta ( Marcelino Lima)
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