Uma Revista que se pretende livre, tendo até a liberdade de o não ser. Livre na divisa, imprevisível na senha. Este "Estudo Geral", também virado à participação local, lembra a fundação do "Estudo Geral" em Portugal, lá longe no ido século XIII, por D. Dinis, "o plantador das naus a haver", como lhe chama Fernando Pessoa em "Mensagem". Coordenação de Edição: Luís Santos.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
d´Arte - Conversas na Galeria LXVII
Caldeira do Moinho Pequeno Autor António Tapadinhas
Acrílico sobre tela 80x100cm
Tenho mostrado algumas das muitas telas que pintei em que os Moinhos de Alburrica são a figura central do quadro. Há outros moinhos, os de maré, que funcionavam com os ritmos da subida ou descida das águas.
O esqueleto da casa, que aparece na parte esquerda do quadro, é onde funcionava o moinho de maré. Da língua de terra, em frente, vêem-se as entradas de água que faziam girar o sistema. Num dos meus passeios pela zona, apercebi-me das possibilidades pictóricas daquela casa e do seu moinho. Depois de estudar o horário das marés, e ver as condições do tempo, porque precisava de um céu sem nuvens para poder tirar o máximo partido dos surpreendentes e espectaculares reflexos dos tijolos na água, consegui realizar uma obra que me deu grande satisfação produzir.
O que eu não sabia é que, afinal, a história do moinho ainda não estava completa!
Um dia, fui ver uma exposição na escola Alfredo da Silva, que fica junto ao rio. Naturalmente, olhei para a caldeira e fiquei espantado com o grau de destruição atingido pela casa e moinho, em tão pouco tempo. E fiquei fascinado pelo esqueleto que parecia o resultado de um incêndio que tivesse atingido a construção.
Resolvi perpetuar na tela a destruição daquela casa que, ao contrário da adaptação cinematográfica do livro de Ray Bradbury, dirigida por François Truffaut, não precisou de nenhum bombeiro, Montag ou outro qualquer, para atingir um grau de destruição máximo (ver aqui). Esta obra é o resultado da falta de interesse pelo nosso património, não num futuro distante, não num regime totalitário, mas sim na actualidade e num regime democrático. Só falta, mesmo, dizer que a beleza faz as pessoas infelizes e improdutivas, como nesse livro/filme de culto.
Talvez seja a altura de lá voltar para ver o que aconteceu.
Os pintores consideram interessantes as coisas mais inesperadas, não acham?
Concluo dizendo que infelizmente por todo o lado há "Pombinhas"...
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2 comentários:
Tive o prazer de desfrutar desta tela no simpático espaço da "Casa do Vinho", na Moita e devo dizer que aqui fica menorizada, se bem que a luz se mantenha e se perceba, neste teu olhar sobre o ponto de partida do Barreiro, primitivamente terra de pescadores, tal qual o nome indica, que nos lembra como esta nossa Margem Sul se presta ou se dá a ser pintada, nas histórias que tem para que sejam contadas ou, tão simplesmente, nas nuances que tem para ornamentos dos nossos olhos.
No conjunto da tua obra, com o artifício das cores que recrias, tens sido um cronista desta zona tão peculiar.
Aquele abraço, companheiro
Luís
Luis: Poderia dizer, como Gabriel García Márquez, que é a crónica de uma morte anunciada...
Abraço,
António
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