quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

d´Arte - Conversas na Galeria LXVI

Lisboa, Tejo e Tudo Autor António Tapadinhas
Acrílico sobre tela 60x70cm

Era uma vez um sábado à tarde de um dia de Verão, com aquele céu azul de que só os pintores não gostam: sabem que, por muito que tentem, a realidade suplanta sempre a sua obra! Saímos de casa, eu, a minha mulher e as nossas duas filhas, Elsa de cinco anos e Dulce de seis anos, e atravessámos a ponte 25 de Abril, com destino ao Parque Eduardo VII, em Lisboa. A minha mulher tinha nessa tarde uma reunião. Ficou combinado que, enquanto ela ia cumprir uma árdua missão de trabalho, eu iria ficar com as crianças a brincar no parque! Mulher sofre! Como eu estava enganado...
Num primeiro momento, o Paraíso: crianças (eu incluído) a jogarem às escondidas, gargalhadas joviais, o prazer da descoberta em cada gesto, em cada corrida...
De repente, Elsa começa a chorar, a chorar, a chorar... Dulce, oferece-lhe tudo o que tem. O que não tem, inventa – um passarinho azul na mão, no jardim rouba flores de todas as cores... Eu faço o pino, subo às árvores, guincho como um macaco, grito como Tarzan... O choro sempre a aumentar! Dulce, a fazer beicinho, vai dizendo: “Bebé não chora, bebé não chora!”. Em três horas podemos ter uma boa noção do que é o Inferno!
O grande drama, sabem qual foi? Não havia telemóveis, porque quando a minha mulher chegou, Elsa calou-se!
Até hoje ainda não arranjámos explicação para o acontecido!
A minha filha mais nova formou-se em Marketing e Publicidade. Eu não tive nenhuma influência na sua opção: na altura, eu era Group Product Manager, no Marketing da Colgate-Palmolive Portuguesa. Pronto, se calhar tive um bocadinho de responsabilidade...
A minha filha mais velha, Dulce de seu nome (como era o da minha mãe), formou-se na Fundação Ricardo Espírito Santo e, no Instituto Piaget, tirou a licenciatura para Professora de Ensino Básico, variante de Educação Visual e Tecnológica, com a média de 17 valores, estágio 18 valores. Não é uma média fabulosa? Actualmente, está a dar aulas de EVT. Não tive nada a ver com essa opção: na altura ainda não pintava! Limitava-me a fazer uns bonecos para elas se rirem!

Esta minha filha já nasceu assim talentosa. No dia de dos meus anos, ofereceu-me este desenho como prenda. Aquele cabeludo, sou eu a treinar na mesa de bilhar que tinha em casa, porque jogava no Sport Lisboa e Benfica, e ela está a oferecer-me os chocolates de que eu tanto gosto. Na cabeceira da cama, tenho outro desenho lindo, que ela fez a partir duma fotografia, com o seu retrato e o da irmã.
E sabem uma coisa? Apesar de tudo o que está a acontecer com a Escola e o ensino em Portugal, ela não admite outra hipótese: quer ser professora!
O seu indomável espírito, foi buscá-lo, não tenho dúvida, aos genes da mãe.
Para o bem e para o mal, o seu gosto artístico e o masoquismo, só podem ser meus...
(Texto escrito em Outubro de 2008)

2 comentários:

Luís F. de A. Gomes disse...

Lisboa, com as suas colinas e o casario encavalitado, seus céus profundos e uma luz ímpar, é um cenário privilegiado de pintura.

Esta tua Lisboa, faz jus a essa condição.

Aquele abraço, companheiro
Luís

A.Tapadinhas disse...

Como diria Almada Negreiros, esta Lisboa tem Orfeu, Tejo e Tudo...

...Pessoa, Vieira da Silva...

Abraço,
António