Uma Revista que se pretende livre, tendo até a liberdade de o não ser. Livre na divisa, imprevisível na senha. Este "Estudo Geral", também virado à participação local, lembra a fundação do "Estudo Geral" em Portugal, lá longe no ido século XIII, por D. Dinis, "o plantador das naus a haver", como lhe chama Fernando Pessoa em "Mensagem". Coordenação de Edição: Luís Santos.
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
d´Arte - Conversas na Galeria LXXV
O Pêndulo e o Canário Autor António Tapadinhas
Óleo sobre Tela 29x35cm
Em mecânica, o pêndulo é um objecto que oscila em torno de um ponto fixo. A descoberta da periodicidade do movimento foi feita por Galileu Galilei, esse, o tal da frase “Epur si mueve!”, para se salvar da Inquisição.
Em, “O Pêndulo de Foucault”, de Umberto Eco, são as sociedades secretas que desenvolvem tramas para governar a humanidade, com referências à Kabbalah e a teorias conspiratórias.
“Estava exausto, mortalmente exausto com aquela longa agonia e, quando por fim me desamarraram e pude sentar-me, senti que perdia os sentidos. A sentença – a terrível sentença de morte – foi a última frase que chegou, claramente, aos meus ouvidos. Depois, o som das vozes dos inquisidores pareceu apagar-se naquele zumbido indefinido de sonho. O ruído despertava em minha alma a ideia de rotação, talvez devido à sua associação, em minha mente, com o ruído característico de uma roda de moinho. Mas isso durou pouco, pois, logo depois, nada mais ouvi.”
Este é um extracto do conto “O poço e o pêndulo”, de Edgar Allan Pöe, em que nos vemos dentro da mente de um homem, do qual nada sabemos, com uma excepção: dentro de momentos será condenado pela Santa (não é ironia) Inquisição, por actos de bruxaria.
Em todos estes casos (poderia citar mais) o pêndulo é o detonador de algo de trágico que irá acontecer, tão previsível como o seu movimento oscilatório.
Terá o pobre canário consciência do que lhe vai acontecer? Salvar-se-á?
E nós?
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5 comentários:
O canário, sim, com alguma facilidade. Basta-lhe um pequeno voo. Tem outros perigos que não o pêndulo: aqueles que lhe estão imediatamente acima na cadeia alimentar e o caçador, porque não há tanto céu por onde possa voar.
Claro que nós também nos salvaremos do pêndulo. Precisamos ter alguma habilidade para saltarmos ou nos desviarmos no tempo certo. Aprende-se a saltar à corda. Já quanto aos inquisidores, de ontem e de hoje, tenho algumas dúvidas. Falta-lhes tempo para treinar.
Com aquele abraço também vamos lá.
Gosto desta tua pintura, da dualidade do canário e do pêndulo que aqui é dado por uma rosca, como que a simbolizar uma outra, a da Natureza e da Cultura, precisamente no que poderia ser tomado por uma simbologia de como a segunda tem vindo a ser construída com base na delapidação da primeira, quando a inteligência nos diz que o caminho será -terá que ser, a menos que nos queiramos extinguir enquanto espécie- o da comunhão entre ambas.
Mas, se aplicarmos aqui uma certa velha sabedoria Oriental, poderíamos ainda ver neste pêndulo apontado à beleza, aqui representada pelo canário em toda a sua fragilidade e encanto, uma metáfora dos tempos que passam em que a liberdade e, com ela, a dignidade dos homens, está a ser esmagada pela ganância -incontrolada- de interesses mesquinhos de uns poucos, muito poucos, os quais se estão apropriando da riqueza produzida e susceptível de ser distribuída. Depois de décadas em que uma parte da Humanidade foi conseguindo conquistar degraus nos padrões da justiça social, estamos agora no tempo em que a injustiça começa a prevalecer nas relações entre os seres humanos.
Nós, temos pois a obrigação de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que esse tempo seja curto. O canário que parece estar a falar, estará certamente a alertar-nos para isso.
O contraste das cores, por sua vez, deixa-nos ver a janela da esperança pela qual podemo-nos lembrar que a luz pode muito bem prevalecer sobre as trevas.
Aquele abraço, companheiro
Luís
Luís Santos: Se há tanto mar, também haverá céu para que os canários de todas as cores e raças possam salvar-se, apesar dos inquisidores. Eles estão no Inferno? Ou não?
Abraço,
António
Luís: O canário está a gritar o seu desespero perante o perigo aue se aproxima...
...espero que não se deixe ficar a gritar e faça qualquer coisa...
Abraço,
António
Acho que não. Segundo o senhor que tudo sabe (via Google), embora nem sempre bem, "Inferno é um termo usado por diferentes religiões, mitologias e filosofias, representando a morada dos mortos, ou lugar de grande sofrimento e de condenação. A origem do termo é latina: infernum, que significa "as profundezas" ou o "mundo inferior"." Ou será que tens definição melhor?
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