sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O Largo da Graça


José Afonso

O Zeca Afonso não é da minha geração, nem é parte indispensável da minha cultura musical. O que não quer dizer que não tenha várias canções indispensáveis.

Mas, além de tudo, encontro nas minhas liberdades fundamentais uma dívida para os que como ele deram a vida pela liberdade, pelo fim da guerra colonial, contra a pobreza e a injustiça social, por uma maior dignidade da vida humana.

É boa a criação do símbolo que nos permite recordar que alguém teimou em ter-nos amarrados, mão-de-obra para uso privado e não nos queria a voar. Eram, mais ou menos, assim os fascistas do Estado Novo. Mas há muitos mais…

Creio igualmente que muitos há levantando o punho com ele, mas embora nem suspeitem, são parecidos com os outros.

Como conheço mais o ícone José Afonso do que a pessoa não vou duvidar da sua generosidade na partilha. Sei que naquele tempo, se confundiam facilmente intenções totalitárias com liberdade. De maneira alguma me atrevo a dizer que tenha sido o caso, bem pelo contrário. Mas não é que ainda hoje acontece com muito boa gente...

Luís Santos

2 comentários:

A.Tapadinhas disse...

Luís: Ontem estive na Academia na homenagem a Zeca Afonso. Naquela sala, de vez em quando, juntava-se lá o Aqueduto e ele cantava as nossas canções, como nós cantávamos as dele... Há 40 anos!!!!

...e falávamos, falávamos...

Estava lá, ontem, outro elemento do Aqueduto com a sua viola e que cantou algumas canções do Zeca.

Curiosamente, eu e ele éramos, melhor, somos os extremos do Aqueduto: ele o mais novo, eu o mais velho.

E mais uma vez chegámos à conclusão do que levou à extinção do Aqueduto: antes do 25 de Abril todos conhecíamos O INIMIGO. Depois, depois todos nós inventámos "inimigos"...

Abraço,
António

luis santos disse...

Bem sei que Alhos Vedros, e a Academia Recreativa e Musical 8 de Janeiro em particular, tiveram essa honra: a de ser visitada e saber acolher com muita dignidade o José Afonso. Consta-se que aqui se abrigou várias vezes "do frio e da fome". Muita coisa deu.
Aqui se formou um núcleo forte de resistência ao autoritarismo fascista do Estado Novo, em que alguns tiveram de pagar com a perca da liberdade, com a vida, nas prisões do Estado Novo. As maldades que os homens são capazes de fazer para impor a sua ideia, a sua vontade... De resto, é sabido que os tiques autoritários estão muito longe, infelizmente, de serem um adjetivo exclusivamente fascista.

Mas eu, nessas alturas do 25 de Abril, da Revolução dos Cravos, era muito jovem para ter inimigos. E diga-se que, a bem da verdade, ainda hoje temos essa dificuldade.

Abraço, pois claro!