quinta-feira, 8 de março de 2012

d´Arte - Conversas na Galeria LXXIX


Afrodite, Feiticeira do Amor Autor António Tapadinhas
Óleo sobre tela 120x120cm

Escrevi as seguintes palavras para apresentação da minha exposição no dia Internacional da Mulher :
Mães, anjos, mártires, deusas, rainhas, é infindável a galeria de mulheres que seduziram e inspiraram os artistas ao longo dos tempos.
As dez obras desta exposição, com diversas técnicas e suportes, têm em comum um audacioso cromatismo, vivo e sensual, pleno de exuberância: um hino à alegria de viver.
Os modelos são banhados por uma luz forte, com cores vivas e quentes, que, se em alguns casos, quase os ocultam, serve sempre para evidenciar a sua beleza e sensualidade.
Com o pincel ou com a espátula, os traços vigorosos, plenos de matéria, afagam os corpos nus numa carícia que se transmite em reflexos de luz que traduzem os sentimentos poéticos do seu criador e nos fazem sonhar com um mundo melhor, mais harmonioso, mais sedutor.
Afrodite era uma das dez obras da exposição.
Esta é talvez a deusa mais representada pela arte, quer sob o seu nome grego, quer sob o romano, Vénus. Para além dos nomes, também o seu nascimento causa alguma confusão: para uns, é uma deusa ancestral que nasceu da espuma do mar fertilizado por Urano, o deus do grego do céu. Digamos que esta é a versão softcore. O quadro mais conhecido é “O Nascimento de Vénus”, pintado por Sandro Botticelli em 1482, que se encontra exposto na Galeria dos Uffizi em Florença, em que se vê Vénus emergindo de uma concha, nua, como se impõe, para simbolizar o nascimento da beleza. Noutra versão, ela é a jovem filha de Zeus e Dione, fruto dum amor terreno, com paixão e sexo, ou seja, a versão hardcore. Diz-se que o seu pai, irritado com a sua beleza e a sua vida de prazeres carnais, a casou com Hefesto para ver se ela ganhava juízo. Mal avisado, o marido ainda a tornou mais irresistível, quando lhe ofereceu as mais belas jóias, de tal maneira que a nossa deusa teve filhos de Ares, Dionísio, Hermes e um etc bastante grande que inclui alguns felizes mortais, como o belo Adónis.
Eu não tive nada a ver com o assunto: meu nome é António!

4 comentários:

luis santos disse...

Folhas e folhos
entre flores
perfumes vários
belíssimas cores
que põem nos olhos,
um aviso de Primavera.

Afrodite.

Luís F. de A. Gomes disse...

Mas olha que ela, Afrodite, aquela que na romana versão respondia pelo nome de Vénus, no tal “Concílio dos Deuses”, em oposição ao invejoso Baco, tomou partido por aqueles a quem Neptuno e Marte obedeceram. A mesma que a ter um n a mais, poderia dar nuvens que é do que eu sempre me lembro quando vejo as pinturas desta tua fase – creio que mesmo aqui já apresentaste outras, nesta mesma linha, em que consegues uma espécie de mistura entre o vitral e outros princípios – pois fazem-me lembrar aqueles jogos que naquelas podemos fazer, quando nos deixamos dar à brincadeira de aí ver imagens que, de facto, só a nossa imaginação consegue aí ver. Tal como nas outras peças, também nesta podemos ver, neste caso, partes do corpo e até os seios dessa libidinosa a quem o Olimpo, reconheceu o ministério dos mistérios do amor, plano em que justamente se adequa a uma homenagem que se articula de um hino cromático à alegria de viver. Titulaste “Afrodite, Feiticeira do Amor”, mas poderias ter escolhido “O Beijo de Afrodite”, pelo efeito dúbio que somos capazes de imaginar nos lábios que aí identificamos.

O “Dia da Mulher” deveria coincidir com a simultânea comemoração do “Dia da Humanidade”, pois enquanto as mulheres não adquirirem a absoluta paridade com os homens, jamais conseguiremos ultrapassar um mundo em que todos estejamos condenados a viver da exploração uns dos outros, afinal o mesmo do sermão que o Vieira fez Santo António dizer aos peixes.

Aquele abraço, companheiro
Luís

A.Tapadinhas disse...

Aviso de Primavera
Ou Verão sem aviso?
A seca é muito severa
De muita água preciso!

Abraço,
António

A.Tapadinhas disse...

Luís F. de A. Gomes:
O vidro tem a propriedade de poder facetar a luz o que serve para enganar a visão dos menos atentos...

...o que não é o teu caso!

Consegues descobrir nas dobras que o autor criou na tela, os mais recônditos pensamentos do seu criador, mais os que a tua fértil imaginação lhes acrescenta...

E estimular a imaginação é uma empresa digna de qualquer obra...

ou artista que se preze!

Até quando teremos de continuar a falar de géneros, raças ou mesmo de homens e animais e plantas?

Não somos todos filhos da mesma poeira de estrelas?

Abraço,
António